Chamo-me Charles Highway, embora ninguém pensasse tal coisa ao olhar para
mim. É um nome muito escorreito, bem viajado, caralhudo, e, olhando-se para
mim, eu não sou nada disso. Para começar uso óculos, e desde os nove anos. e a
minha figura de estatura mediana, sem traseiro, sem peito, o tronco enfezado e
as pernas arqueadas conjugam-se de maneira a afastar qualquer sugestão de
aprumo. (De modo algum, já agora, se deverá confundir este modelo particular
com as elásticas compleições tão populares entre os meus contemporâneos. São
muito diferentes. Lembro-me que costumava dobrar quase duas vezes as bainhas
das minhas calças, e inchar o traseiro com camisas destinadas a homens
crescidos. Agora, porém, visto-me mais conscienciosamente, não tanto com gosto
mas com intuição.) Mas possuo uma daquelas vozes estridentes que estão na moda,
das que têm uma habitual ressonância irónica, excelentes para promover
inquietação entre os velhotes. E imagino que haja também algo de estranhamente
desencorajador no meu rosto. É anguloso, porém delicado; nariz fino e comprido,
boca larga e estreita – e os olhos: ricamente pestanudos, de tom ocre-escuro
com um leve matiz de castanho-avermelhado… ah, como estas palavras parecem
desadequadas.
* Tradução de
Jorge Pereirinha Pires
* Revisão de
Pedro Ernesto Ferreira
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