sábado, 4 de maio de 2013

Amanhã é dia da Mãe... Dois poemas: Eugénio e Torga - para apreciar.

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


*Eugénio de Andrade, in Os Amantes Sem Dinheiro


Mãe

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!


*Miguel Torga, in Diário IV

Cronicando pela Ásia... Phi-Phi: muitas ilhas para descobrir.

Ko Phi-Phi, 
26 de Abril 2009

Após a visita às escarpas que se erguem do mar e onde foi filmado o filme A praia, com o bem hollywoodesco Leonardo DiCaprio, os nossos amigos tailandeses do Chao Koh (nome da tripulação), guiam-nos agora à praia dos bambus.

Pelo caminho, um da tripulação pega no microfone e anuncia: If you want to take a picture, you can. Traduzindo à letra: "se quiserem tirar uma foto, podem". Os tailandeses falam um inglês muito rudimentar, apesar de se safarem com o mínimo.

A certa altura surge a pergunta - Do you have anything more than chips? - a resposta do rapaz era invariavelmente - Chips! Yes, chips - e apontava para as batatas fritas. Foram precisos alguns gestos e lá se conseguiu. O miúdo passou logo a ser conhecido como o Chips Boy. E sorria sempre que passava pelos estrangeiros, dizendo alto: Chips, chips, chips!!! 



Deixem-me fazer aqui um parêntesis: o povo tailandês sabe receber muito bem, apesar de termos que nos socorrer da imaginação e gestos para nos fazermos entender. Compensam com um bom serviço: nesta viagem deram-nos almoço, várias bebidas (para nos irmos refrescando) e um lanche. Ali só se pagavam mesmo as batatas fritas e a cerveja.

A ilha dos bambus era uma língua de areia paradisíaca. O mar cristalino voltava a pôr à vista as dezenas de milhar de peixes de todas as cores. Os mais "simpáticos", por assim dizer, eram os das riscas verdes. Vinham comer pão à mão e rodopiavam no cardume pelo melhor pedaço - tipo piranhas.



A água quente convidava a vários mergulhos. Decidi nadar até à costa, mas não avaliei bem a distância. Demorei uns vinte minutos a lá chegar. Pelo caminho apanhei uns corais que estive mesmo para trazer para Portugal. Tinham encrostados fósseis de velhas conchas ou algas.

Ficou a memória. Deixei os corais para trás.

Ao regresso para o barco, decidi partilhar canoa. Obviamente que aquilo precisa de alguma perícia e eu não tenho nenhuma. E então... aquilo lá virou. Tive que mergulhar em busca do remo. Não o podíamos perder senão tínhamos que o pagar. Felizmente o pequeno bote lá voltou ao sítio e, com a ajuda de um amigo e leal tailandês, embarquei para a próxima aventura...


Rodrigo Ferrão

David pinta... Roberto Bolaño

David pinta... Roberto Bolaño

*ilustrado por David Pintor


*in A Literatura Nazi nas Américas, Roberto Bolaño, ed. Quetzal.

Simone e Ary. João Vilhena põe a "Desfolhada" no Clube de Leitores.

6.Simone de Oliveira, "Desfolhada", Ary dos Santos


Desfolhada 

Música de Nuno Nazareth Fernandes. Escrita em 1968. Foi inicialmente patenteada com o título Desfolhada Portuguesa, modificado pelo autor em 1969 para Desfolhada. Interpretada por Simone de Oliveira, concorreu ao Festival da RTP em 1969, obtendo o 1º lugar. Interpretada por Simone de Oliveira no disco Valentim de Carvalho PEP 1276.


Corpo de linho 
lábios de mosto 
meu corpo lindo 
meu fogo posto. 

Eira de milho 
luar de Agosto 
quem faz um filho 
fá-lo por gosto. 

É milho-rei 
milho vermelho 
cravo de carne 
bago de amor 
 filho de um rei 
que sendo velho 
volta a nascer quando há calor. 

Minha palavra dita à luz do sol nascente 
meu madrigal de madrugada 
amor amor amor amor amor presente 
em cada espiga desfolhada. 

Minha raiz de pinho verde 
meu céu azul tocando a serra 
oh minha água e minha sede 
oh mar ao sul da minha terra. 

É trigo loiro é além tejo 
o meu país neste momento 
o sol o queima o vento o beija 
seara louca em movimento. 

Minha palavra dita à luz 
do sol nascente meu madrigal de madrugada 
amor amor amor amor amor presente 
em cada espiga desfolhada. 

Olhos de amêndoa cisterna escura 
onde se alpendra a desventura. 
Moira escondida moira encantada 
lenda perdida lenda encontrada. 

Oh minha terra minha aventura 
casca de noz desamparada. 
 Oh minha terra minha lonjura 
por mim perdida por mim achada.

*in SANTOS, Ary dos; As Palavras das Cantigas (organização, coordenação e notas de Ruben de Carvalho), Lisboa, Edições Avante, 1995.

João Vilhena em:


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Poema à noitinha... Mia Couto

Fui Sabendo de Mim

Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia

fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi
a árvore morta
e soube que mentia

*Mia Couto, in Raiz de Orvalho e Outros Poemas - Caminho.


João Vilhena vai hoje até Billie Holiday.

5. Billie Holiday _ Strange Fruit, 1939

"Strange Fruit" é uma canção escrita pelo professor Aber Meeropol e tornada particularmente famosa na interpretação de Billie Holiday, que a cantou e gravou pela primeira vez em 1939. O poema expôs o racismo norte-americano, especialmente o linchamento de afro-americanos. Tais linchamentos ocorreram principalmente no Sul, mas também em todas as outras regiões dos Estados Unidos. 

"Strange Fruit" é um poema escrito por Abel Meeropol, um branco, um professor do ensino médio judeu do Bronx e membro do Partido Comunista, como um protesto contra os linchamentos.  
As letras estão sob direitos autorais, mas foram publicados na íntegra em uma revista académica, com permissão. No poema, Meeropol expressou seu horror em linchamentos. Ele tinha visto a fotografia de Lawrence Beitler de 1930: linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith em Marion, Indiana. Ele publicou o poema com o título "Bitter Fruit" em 1937, no "The New York Teacher", uma revista sindical.
Rare Live Footage of one of the first anti rascism songs ever.
João Vilhena em:
Blog: http://joaovilhena.carbonmade.com/
Facebook: https://www.facebook.com/artistjoaovilhena

1º Parágrafo: Clube da Sorte e da Alegria


O meu pai pediu-me que fosse a quarta parceira no Clube da Sorte e da Alegria. Vou substituir a minha mãe, cujo lugar à mesa do mah jong está vago desde há dois meses, quando ela morreu. O meu pai acha que foram os seus próprios pensamentos que a mataram.



* Tradução de Ana Maria Chaves, Ana Gabriela Macedo, e Maria da Graça Alves Pereira
* Amy Tan nasceu, dois anos depois dos seus pais, de origem chinesa, terem emigrado para os Estados Unidos, em Oakland, Califórnia. Quando visitou a China pela primeira vez, com 35 anos, descobriu que era tal e qual lhe contara a mãe: “Assim que pus os pés na China, tornei-me chinesa.”

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: Mark Twain

Outro dia dei de caras com um site / blog muito interessante. Entre várias coisas que podem encontrar, existe uma parte dedicada a manuscritos de escritores dos grandes clássicos. Não resisto a ir-vos trazendo alguns deles.

E arranco com Mark Twain. Começamos muito bem, com As Aventuras de Huckleberry Finn. Não acham que Twain era um pouco trapalhão?

Visite o site http://flavorwire.com para encontrar mais. 
Siga o link directo. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Em Maio, Histórias de Amor

 Capa original de 1952 - autoria Victor Palla

A primeira edição deste livro foi publicada em Julho de 1952, pela Editorial Gleba, numa colecção de bolso intitulada "Os Livros das Três Abelhas", dirigida por Victor Palla e Aurélio Cruz. Foi retirado do mercado pela Censura em 26 de Agosto de 1952.

Tendo sido possível utilizar o exemplar onde estão sublinhadas a lápis azul as partes do texto que motivaram a apreensão, indicam-se na edição de 2008 das
Edições Nelson de Matos, esses sublinhados mediante a sobreposição de uma rede de cinzento sobre o texto original, mantido sem cortes.

José Cardoso Pires nunca mais o publicou na sua versão inicial, embora tenha mantido sempre o título na lista das suas obras completas. Nessa mesma edição das
Edições Nelson de Matos, publicam-se todos os contos dessa sua primeira edição. À época, com 27 anos, José Cardoso Pires, decidiu reclamar da apreensão do livro junto dos Seviços de Censura. Primeiro pessoalmente, tendo conseguido manter em seu poder o exemplar com a indicação dos cortes de censura que serviu de base à edição posterior. Depois em 26 de Outubro de 1952 através da carta que é entre outros documentos reproduzida e conservada como anexos nessa mesma edição mais recente.

Tanto no original, como em outras obras posteriores e assim também reproduzido nas
Edições Nelson de Matos aparece um logótipo "José Cardoso Pires". Da autoria do designer Sebastião Rodrigues (1929-1997) foi inicialmente utilizado na edição das obras do autor publicadas pela Livraria Moraes Editores, no decorrer dos anos 70.

Capa  Edições Nelson de Matos (2008)
Design de Paulo Condez
Ilustração de Sónia Oliveira


Ballad of Hollis Brown, Escrita por Bob Dylan, 1964. A história deixada aqui pelo João Vilhena

4.Ballad of Hollis Brown, Escrita por Bob Dylan, 1964
Interpretada aqui por Nina Simone em 1965

"Ballad Of Hollis Brown"

Hollis Brown
He lived on the outside of town
Hollis Brown
He lived on the outside of town
With his wife and five children
And his cabin brokin' down.

You looked for work and money
And you walked a rugged mile
You looked for work and money
And you walked a rugged mile
Your children are so hungry
That they don't know how to smile.

Your baby's eyes look crazy
They're a-tuggin' at your sleeve
Your baby's eyes look crazy
They're a-tuggin' at your sleeve
You walk the floor and wonder why
With every breath you breathe.

The rats have got your flour
Bad blood it got your mare
The rats have got your flour
Bad blood it got your mare
If there's anyone that knows
Is there anyone that cares ?

You prayed to the Lord above
Oh please send you a friend
You prayed to the Lord above
Oh please send you a friend
Your empty pocket tell you
That you ain't a-got no friend.

Your babies are crying louder now
It's pounding on your brain
Your babies are crying louder now
It's pounding on your brain
Your wife's screams are stabbin' you
Like the dirty drivin' rain.

Your grass is turning black
There's no water in your well
Your grass is turning black
There's no water in your well
Your spent your last lone dollar
On seven shotgun shels.

Way out in the wilderness
A cold coyote calls
Way out in the wilderness
A cold coyote calls
Your eyes fix on the shortgun
That's hangin' on the wall.

Your brain is a-bleedin'
And your legs can't seem to stand
Your brain is a-bleedin'
And your legs can't seem to stand
Your eyes fix on the shortgun
That you're holdin' in your hand.

There's seven breezes a-blowin'
All around the cabin door
There's seven breezes a-blowin'
All around the cabin door
Seven shots ring out
Like the ocean's pounding roar.

There's seven people dead
On a south Dakota farm
There's seven people dead
On a south Dakota farm
Somewhere in the distance
There's seven new people born.

A canção "Ballad of Hollis Brown" é um "blues" que conta a história de um agricultor de South Dakota, que assoberbado pelo desespero da pobreza, mata a sua esposa, filhos e a si.

Do ponto de vista técnico, "Hollis Brown" é um" tour de force". Porque uma balada é normalmente uma forma que coloca o sujeito a uma distância do seu conto. Esta balada, no entanto, é contada na segunda pessoa, tempo presente, de modo que não só é um vínculo forjado imediatamente entre o ouvinte e a figura do conto, mas é um  facto irónico que os únicos que sabem da situação de Hollis Brown , os únicos que se importam, são os ouvintes que são impotentes para ajudar, afastados dele, assim como nós numa sociedade de massas somos cortados do outro... Na verdade, a própria perspectiva do "blues", intransigente, isolado e sarcástico, está adaptado para expressar a realidade miserável da América contemporânea (hoje no mundo). E que uma expressão poderosa pode ser, uma vez que tenha sido libertada (como nas mãos de Dylan) da escravidão egocêntrica. Um exemplo flagrante das difíceis, irónicas visões se associa com o blues (e também do poder de eufemismo que Dylan aprendeu com Guthrie) é para ser encontrado nas linhas finais de Hollis Brown:

Há sete pessoas mortas numa fazenda do Dakota do Sul,
Há sete pessoas mortas numa fazenda do Dakota do Sul,
Em algum lugar distante há sete novas pessoas nascidas.


João Vilhena em:
Blog: http://joaovilhena.carbonmade.com/
Facebook: https://www.facebook.com/artistjoaovilhena

1º Parágrafo: Para lá da Terra do Fogo


No Inverno desciam até ao mar. Chegavam esfomeados da montanha e durante um bom momento antes de transpor as últimas árvores os seus olhos brilhantes contemplavam a escuridão da costa. A praia estava invariavelmente vazia, mas os guanacos tinham boa memoria e não davam um passo na areia até o sol despontar por completo dissipando o nevoeiro.


* Tradução de Miguel de Castro Henriques

a-ver-livros: querer e Francine Van Hove

Não me crucifiques por te querer
ler a pele
a carne
as entranhas
por te querer cozer a alma
com as linhas que escreves
por te querer assim 
por te querer

* para conhecer mais sobre a pintora francesa Francine Van Hove
siga o link www.francinevanhove.com

quarta-feira, 1 de maio de 2013

MEC fala de "Como é linda a puta da vida" à SIC

Miguel Esteves Cardoso e a mulher, Maria João, visitaram a gráfica do Grupo Porto Editora com a SIC, para contactarem com o novo livro "Como é linda a puta da vida" e ainda com as novas edições "A causa das coisas", "O amor é fodido", "Os meus problemas" e "Explicações de português explicadas outra vez".

João Vilhena recorda Ian Curtis e os Joy Division

3. Joy Division- Love Will Tear Us Apart

«LOVE WILL TEAR US APART

 Fica aqui perto. Da esquerda para a direita, a imagem, sem legenda, lê-se. Perto, lê-se demorada, e intima; é a figura de um amante. Banham os dedos das mãos quatrocentas mil silabas, e em tudo tocam, agora que o corpo se deixou de encontrar, se deixou procurar. Procura. As noites nunca são tão escuras quando os homens conseguem esquecer tudo o que aprenderam, faltar a tudo o que prometeram, trair tudo quanto acreditaram, só pelo primeiro cetim de um beijo, nesse sabor doido de boca. Depois, os amantes partem sempre, deixando, sem vida, tudo aquilo que amaram. Partem sempre. E o que fica, fica perto, dói, não se separa ou atenua - adoece simplesmente, ensinando a quem sente, o prazer terrível da mágoa, a ininterrupta saudade do que nem sequer foi alegria - uma espécie, enfim, de amor. Numa espécie de corpo que ficou sozinho.» 

*Miguel Esteves Cardoso «Escritica Pop», excerto da crónica «Joy Division: Alguns Lugares»

"Love Will Tear Us Apart" is a song by the British post-punk band Joy Division. It was written in August 1979, and debuted when the band supported Buzzcocks on their UK tour in September and October 1979. It is one of the few songs in which singer Ian Curtis played guitar (albeit somewhat minimally). The lyrics ostensibly reflect the problems in Ian Curtis's marriage to Deborah Curtis, as well as his general frame of mind in the time leading up to his suicide in May 1980.[citation needed] The title is an ironic reference to "Love Will Keep Us Together". 

Deborah Curtis had the phrase "Love Will Tear Us Apart" inscribed on Ian Curtis's memorial stone.

Love Will Tear Us Apart

When routine bites hard,
And ambitions are low,
And resentment rides high,
But emotions won't grow,
And we're changing our ways,
Taking different roads.

Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side.
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry.
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives.

But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

You cry out in your sleep,
All my failings exposed.
And there's a taste in my mouth,
As desperation takes hold.
Just that something so good
Just can't function no more.

But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.


João Vilhena em:
Blog: http://joaovilhena.carbonmade.com/
Facebook: https://www.facebook.com/artistjoaovilhena

1º Parágrafo: Se isto é um homem


Fui capturado pela Milícia fascista a 13 de Dezembro de 1943. Tinha vinte e quatro anos, pouco bom senso, nenhuma experiência e uma acentuada inclinação, favorecida pelo regime de segregação ao qual desde há quatro anos fora obrigado pelas leis marciais, para viver num mundo só meu, pouco real, povoado por civilizados fantasmas cartesianos, por sinceras amizades masculinas e por amizades femininas evanescentes. Cultivava um moderado e abstracto sentido de rebelião.


* Tradução de Simonetta Cabrita Neto

Ricardo Menéndez Salmón vai para a Assírio & Alvim e leva o seu «A luz é mais antiga que o amor»

A Assírio & Alvim decidiu refundar a colecção Peninsulares. Enrique Vila-Matas, com «História Abreviada da Literatura Portátil», e Ricardo Menéndez Salmón, com «A Luz é Mais Antiga que o Amor», são os dois primeiros nomes a sair desta refundação, dois nomes de peso que coloca a Peninsulares na ordem do dia neste momento.

*in Diário Digital. 

Numa segunda-feira de 1350, quando a Europa recupera da Peste Negra, o futuro papa Gregório XI visita o pintor toscano Adriano de Robertis para destruir a sua última obra, a blasfema Virgem Barbuda. A 25 de fevereiro de 1970, o pintor norte-americano Mark Rothko corta as veias no seu estúdio de Nova Iorque. A 11 de setembro de 2001, enquanto o mundo penetra na Era do Desconsolo, o pintor russo Vsévolod Semiasin redige uma carta onde revela as razões da sua loucura.

A história destes três mestres, baseada num enigma (o destino insuspeito da Virgem Barbuda de Adriano de Robertis) e gravitando em torno de uma ideia central (o compromisso do pintor com a sua arte face ao poder encarnado pela Igreja, Mercado ou Estado), é o eixo condutor de A Luz é mais Antiga que o Amor, livro de que um romancista chamado Bocanegra nos fala durante três momentos cruciais da sua vida: o nascimento da sua vocação, a morte da mulher e a sua consagração em 2040 como glória da literatura universal.

Depois da aplaudida Trilogia do Mal, Ricardo Menéndez Salmón regressa com um texto audacioso que pode ser lido como um ensaio sobre o génio artístico, como um romance de aprendizagem e até como uma obra de mistério.

a-ver-livros: a fineza e Jean-Pierre Henaut

É assim que gosto das manhãs
suspensas da tua respiração
bailando sobre a almofada
As sombras ainda só projecto
e, nas ruas, todas as possibilidades

Faça-me a fineza de me amar
devagar,
como quem teme acordar monstros.
Há um avião que passa no silêncio

* para saber mais sobre o pintor francês Jean-Pierre Henaut
siga o link www.galeriehenot.com/Jean-Pierre-Henaut

terça-feira, 30 de abril de 2013

Meet the Writers: George R.R. Martin

Meet the Writers é um programa conduzido por Steve Bertrand e que entrevista diversos autores. Patrocinado pelo site Barnes&Nobleaqui está uma boa forma de vender livros e dar a conhecer os escritores.

Continuamos a saga com George R.R. Martin. Stay tuned! 

Hoje João Vilhena chama por Jim Morrison

2.Jim Morrison (Lament - An American Prayer)

"An American Prayer" é o nono álbum de estúdio e último dos The Doors.

Em 1978, sete anos depois da morte do vocalista Jim Morrison e cinco anos após os restantes membros da banda se separarem, Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore reuniram-se e gravaram faixas de apoio sobre a poesia de Morrison (originalmente gravada em 1969 e 1970).


Lament (The poem)

Lament for my cock
Sore and crucified
I seek to know you
Acquiring soulful wisdom
You can open walls of mystery
Stripshow

How to acquire death in the morning show
TV death which the child absorbs
Death well mystery which makes me write
Slow train, the death of my cock gives life

Forgive the poor old people who gave us entry
Taught us god in the child's prayer in the night

Guitar player
Ancient wise satyr
Sing your ode to my cock

Caress it's lament
Stiffen and guide us, we frozen
Lost cells
The knowledge of cancer
To speak to the heart
And give the great gift
Words Power Trance

this stable friend and the beast of his zoo
Wild haired chicks
Women flowering in their summit
Monsters of skin
Each color connects
to create the boat
which rocks the race
Could any hell be more horrible
than now
and real?

I pressed her thigh and death smiled

Death, old friend
Death and my cock are the world
I can forgive my injuries in the name of
Wisdom Luxury Romance

Sentence upon sentence
Words are the healing lament
For the death of my cock's spirit
Has no meaning in the soft fire
Words got me the wound and will get me well
If you believe it

All join now and lament the death of my cock
A tonge of knowledge in the feathered night
Boys get crazy in the head and suffer
I sacrifice my cock on the alter of silence


João Vilhena em:
Blog: http://joaovilhena.carbonmade.com/
Facebook: https://www.facebook.com/artistjoaovilhena

1º Parágrafo: Os Peixes Também Sabem Cantar


Um sábio disse uma vez que, para além de perder a mãe não há nada mais saudável para uma criança do que perder o pai. Embora, com toda a franqueza, eu jamais pudesse subscrever semelhante afirmação, seria a última pessoa a rejeitá-la liminarmente. Naquilo que me diz respeito, se enunciasse uma doutrina do género, esta não detonaria qualquer vestígio de amargura em relação ao mundo, ou, melhor dito, não traria consigo a mágoa que implica o mero som destas palavras.


* Tradução de Mário Cruz e João Cruz

a-ver-livros: morte e Cristina Núñez

A morte chegou de boca aberta
e partiu-te pelo meio 
como o pão de cada dia

Os pesadelos andaram pela noite
a bater a portas fechadas 
incendiando os olhos molhados
de quem não queria ver

* para conhecer mais sobre a pintora venezuelana Cristina Núñez
siga os links www.nunezcristina.com ou www.nunezcristina.blogspot.pt


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Banda desenhada: da Margarida que há em mim

Hoje é dia de confissão. E revelo sem pudor que, na mais precoce adolescência, quando dei por mim, andava a juntar os trocos que mal sobravam da semanada para coleccionar as “Margaridas”. Sim, era tempo em que cada personagem Disney ainda tinha direito à sua própria revista, em vez de andarem todas ao molho e fé nos “Comix”. 

E, se há coisa que aprendi de então para cá, é que essas escolhas em termos de banda desenhada, apesar de influenciadas pelas escolhas dos progenitores ou pelo título da moda, tende a ser sintomática de quem somos. No meu caso, revelo já, adorava principalmente as histórias em que Margarida, pata namoradeira mas super independente, vivia alguma aventura enquanto jornalista da “Patada”. Se isso influenciou a minha escolha profissional? Dah!



Isto tudo para vos dizer que, lá para o lado das Américas, celebra-se no primeiro sábado de Maio, o Free Comic Book Day. Criado em 2002 pela indústria editorial de banda desenhada, tendia a estar associado também ao lançamento de um novo filme baseado na BD, com a polémica que podem imaginar, mas a verdade é que sobreviveu a tudo isso. E, este ano, segundo o site Unleash The Fan    boy, traduz-se em mais de duas mil lojas a oferecer completamente de borla mais de três milhões de livros de banda desenhada. 

A questão que se coloca é simples: a banda desenhada tem assim tanto mérito enquanto estilo literário que mereça tal investimento? Por lá acredita-se que sim. E explica-se porquê. 


- As crianças que lêem banda desenhada acabam por vir a ler também outras coisas. A BD entranha-se-lhes no rol dos prazeres e, quando dão por isso, estão a ler sobre ciência, sobre história, a ler os clássicos. Um estudo concluiu que, havendo banda desenhada numa biblioteca, as visitas dos alunos aumentavam em 82% e o ‘consumo’ de outros materiais de leitura em 30 por cento.


- A banda desenhada aumenta o vocabulário das crianças. Dois outros estudos independentes confirmam que os livros de banda desenhada ensinam o dobro de palavras novas do que os livros especificamente destinados aos mais pequenos e cinco vezes mais do que as que os mais pequenos ouvem nas conversas diárias da maioria dos adultos que os rodeiam.



- A banda desenhada incentiva à criação das nossas próprias histórias, o que implica entender coisinhas interessantes como a estrutura da narração, os pontos de vista e até a diferença entre discurso directo e indirecto (ainda se chama assim?)

- Por fim, defende-se que os heróis (mais ou menos falíveis) que protagonizam os livros de banda desenhada acabam por dar aos miúdos uma noção de ética e valores, ajudam-nos a distinguir o Bem do Mal. 


Qual é a sua opinião – e a sua experiência? A caixa de comentários está aberta.

João Vilhena e «Back to Black»

1.Amy Winehouse ‐ Back to Black (Live Acoustic ‐ SXSW)

"Back to Black" é uma canção de Amy Winehouse. Foi lançada em 30 de abril de 2007, como a faixa-título e terceiro single de seu segundo álbum de estúdio de mesmo nome. Foi escrita por Winehouse e produzida por Ronson. Winehouse "Back to Black" foi inspirada na sua relação com Blake Fielder­‐Civil. Fielder­‐Civil havia deixado Winehouse para uma ex­‐namorada, "back to black" com álcool e uma depressão.

Se a natureza do poeta é ser um fingidor, para um performer a realidade é a sua autenticidade. Amy faleceu com 27 anos em 23 de Julho de 2011.


Back to Black

Back to Black
He left no time to regret 
Kept his dick wet 
With his same old safe bet 
Me and my head high 
And my tears dry 
Get on without my guy 
You went back to what you knew 
So far removed from all that we went through 
And I tread a troubled track 
My odds are stacked 
I'll go back to black 

We only said good-bye with words 
I died a hundred times 
You go back to her 
And I go back to..... 

I go back to us 

I love you much 
It's not enough 
You love 
BLOOOWWW!
And I love puff 
And life is like a pipe 
And I'm a tiny penny rolling up the walls inside 

We only said goodbye with words 
I died a hundred times 
You go back to her 
And I go back to 

Black, black, black, black, black, black, black, 
I go back to 
I go back to 

We only said good-bye with words 
I died a hundred times 
You go back to her 
And I go back to 

We only said good-bye with words 
I died a hundred times 
You go back to her 
And I go back to black


João Vilhena em:
Blog
http://joaovilhena.carbonmade.com/
Facebook
https://www.facebook.com/artistjoaovilhena

1º Parágrafo: Gente Independente


Crónicas islandesas contam que em tempos viviam neste país homens vindos do oeste, que deixaram para trás crucifixos, sinos e outros artigos que tais, utilizados em práticas de feitiçaria. Em fontes latinas estão registados os nomes daqueles homens que das ilhas a Oeste navegaram até cá nos primórdios do papado. O seu líder chamava-se Kólumkilli, o irlandês, um conhecido feiticeiro. Naquela altura a terra na Islândia era extremamente fértil. Mas quando os noruegueses se instalaram aqui, os feiticeiros do Oeste deixaram o país, e registos antigos dizem que, para se vingar, Kólumkilli amaldiçoou os novos habitantes, rogando que eles nunca ali gozassem de prosperidade, o que mais tarde veio a tornar-se realidade. Muito mais tarde, os noruegueses, na Islândia deixaram a sua fé para se entregarem aos cultos de povos estranhos. Nessa altura tudo ficou às avessas, os deuses noruegueses eram escarnecidos e outros deuses e santos foram adoptados, alguns do Leste, outros do Oeste.


* Tradução de Guõlaug Rún Margeirsdóttir

a-ver-livros: a entrega e Andrej Mashkovtsev

Não sabia de ti, encontrei-te
quando fugias devagar
da tentação
Entregámo-nos depressa 
ao inimigo 


* para conhecer melhor o pintor russo Andrej Mashkovtsev
basta seguir o link www.artlondon.com

domingo, 28 de abril de 2013

Para que serve a história? A novidade de Diogo Ramada Curto.

Recentemente cruzei-me com este livro e despertou a minha curiosidade. Publicado recentemente pela Tinta da China, vou estar atento às opiniões para ver se compro. 

O livro apresenta-se assim:

Este livro inspira-se na obra de Marc Bloch, talvez o maior historiador do século xx. «Papá, explica-me para que serve a história?» — com esta simples pergunta, Bloch abria um dos mais belos livros de história de todos os tempos, Apologie pour l’histoire ou Métier d’historien (1949). Colocada com a ingenuidade dramática de uma criança, a questão merece uma série de respostas subtis, que também Diogo Ramada Curto procura fornecer: a curiosidade por todo o tipo de actividades humanas; a vontade de conhecer a sociedade no seu todo e nos seus tempos múltiplos; sobretudo, o desejo de compreender a vida real, no seu quotidiano e nas suas práticas mais repetitivas, por oposição a uma concepção morta do passado, enterrado em museus, monumentos e manuais.

Mais importante ainda, o estudo da história faz parte das necessidades de formação de cidadãos politicamente conscientes, capazes de se baterem pelos seus ideais democráticos. Afinal de contas, como salientava Bloch, o regime nazi pôs a descoberto a irresponsabilidade de muitos intelectuais. A sua passividade e até o seu colaboracionismo frente a um regime feroz — fundado em interpretações históricas míticas ou totalmente falaciosas — traduziram-se numa incapacidade gritante para se dedicarem ao estudo da história e para se libertarem do peso do passado.

Para Que Serve a História? relança este debate cívico e intelectual e ao mesmo tempo questiona, sem complacências, os vícios e a pobreza que, segundo o autor, imperam hoje nas universidades portuguesas.



Diogo Ramada Curto

Historiador, ensina desde 1981 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi professor visitante nas universidades de Brown, Yale e no King’s College de Londres. Entre 2000 e 2008, foi professor da Cátedra Vasco da Gama em História da Expansão Europeia no Instituto Universitário Europeu (Florença). Em 1988, colaborou na fundação da colecção «Memória e Sociedade» (Editorial Difel) que dirigiu sozinho entre 1995 e 2005, e onde fez publicar 35 títulos de história e ciências sociais. Em 2010, participou na criação da nova colecção «História e Sociedade» (Edições 70), que conta já com 10 títulos publicados. É bibliotecário da Casa Cadaval. Escreve regularmente no jornal Público. O seu último livro intitula-se Cultura Política no Tempo dos Filipes (1580-1640) (Lisboa: Edições 70, colecção «Lugar da História», 2011).

Clube de Leitores COM_vida... João Vilhena. Não percam uma semana com 7 momentos para ver e ouvir.

Intro JV_:

De acordo com a minha biografia não-autorizada, terei nascido em 1978. E serei um artista plástico. Também de acordo com a mesma, terei falecido em 2005. Não se prova com isto que existe vida depois da morte, apenas que nada é o que parece e que irei continuar uns bons anos a celebrar os meus 27 anos até as peles não mais esticarem.

Considero-me um ilusionista acima de tudo e com imenso prazer vim a conhecer este canto no cyber-espaço chamado Livros no Facebook, pela mão da querida Ana Almeida. E o Rodrigo Ferrão que mantém a ferro e fogo o Blog "Clube de Leitores" desafiou‐me a intervir neste espaço.

Como encontro exemplos de notável poesia contemporânea em música/letras, proponho 7 momentos para ver e ouvir.

"O Dicionário de Inglês Oxford define "lírico" como "de ou pertencente à lira; adaptado à lira; feito para ser cantado". Também cita a máxima de Ruskin "a poesia lírica é a expressão do poeta de seus próprios sentimentos".

Audrey Hepburn Stripe Walk, 2012
Painting and collage over Cardboard and Wood. 
70cm x 110cm