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sábado, 6 de junho de 2015
Estantes de sonho: a parede laranja
O laranja contrasta com o meu espaço ordenado ao milímetro.
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sexta-feira, 5 de junho de 2015
Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações
Meu caro José
Escrevo-lhe mais tarde, nesta Sexta-feira de
madrugada pois passou-se um episódio caricato durante esta semana que daria
para um boa narrativa de mistério e de loucura!
Andava eu e Efraim passeando pelo Jardim
Botânico, isto na Quarta-feira pretérita, quando uma velha toda vestida de
negro vem ter connosco. Era uma velha enrugada, com a pele da cor das coisas
solares e ao mesmo tempo líquidas, daquelas peles que sofreram imenso, e em
silêncio. As roupas negras eram elegantes e sóbrias, e usava um perfume que
fazia lembrar as janelas dos quartos das minhas temporadas na Provence.
Usava uma bengala para se apoiar, e óculos de
aros dourados e redondos. O cabelo apanhado em cachos que outrora seriam a
perdição de quantos poetas e folhetinistas houvesse.
Os senhores não viram por aí nesses bancos um
livro de capa grossa?
Efraim havia, minutos antes, avistado uma
primeira edição da Demoiselle aux
Camelias do Dumas filho num banco da alameda das Tílias, tendo-o guardado
na sua sacola de passeio. (Sempre achei aquela sacola de um mau-gosto tremendo
e desnecessário, mas como sabe, Efraim é de vontade férrea quando se fala
daquela sacola que lhe foi ofertada pela princesa da Jordânia.
Minha senhorra, é este aqui?, pergunta-lhe o
nosso semita. É esse mesmo, cavalheiro. Muito obrigado pela sua gentileza e
generosidade. A velhinha estava radiante, os seus olhos faiscavam de
felicidade. E tudo isto por conta de um livro, já viu? Continuo a dizer-lhe que
os livros irão continuar por cá durante muitos séculos, pois tudo há-de
perecer, as loucuras virtuais, as sociedades de plástico, tudo! E o livro
permanecerá grande, glorioso, altivo, nas estantes das livrarias, das
bibliotecas, dos leitores e da eternidade!
Bom, a senhora agradeceu-nos imenso e continuou
no seu passo regrado, lento, firme e determinado. Caminhava como se fosse ao
encontro da eternidade.
Continuámos o nosso passeio higiénico, fazendo o trottoir necessário. Voltámos a casa.
Nessa mesma noite, decidi pegar na minha edição de A Dama das Camélias,
também uma primeira edição, oferecida pelo próprio Dumas à minha família. (Já
não sei se a meu bisavô Marco António, ou a seu irmão, Luís Filipe). Qual o meu
espanto quando noto que o livro havia desaparecido, assim como alguns outros
livros que agora não interessam para aqui.
Perguntei ao Efraim se tinha pegado no livro para
viajar pelo mundo de Margarida Gautier, mas o nosso semita respondeu
negativamente.
Depois de ter vasculhado toda a biblioteca,
sentei-me na secretária onde tenho por hábito escrevinhar e eis que me deparo
com um envelope lacrado com selo vermelho em forma de uma flor que me aterrou.
As lacrimosas camélias!
Um delicado perfume de lavanda e alfazema
perfumava o papel. Como na Provence.
Bom, fiquei estupefacto quando abri o envelope e
li a missiva. Era Margarida Gautier quem me escrevia, agradecendo-me, e a
Efraim, pelo delicado acto daquela tarde na Alameda das Tílias! Deixou uma
morada, pois esperava uma visita, ao som do gás e do Cancan, enquanto o sorvete era derramado em longos e festivos flutes de champagne.
Chamei Efraim que também leu a missiva.
Inacrreditável!, dizia o formidável semita. Que vais fazerrr, Viana de Sousa?
Vou escrever-lhe, ora pois!, respondi com a maior das simplicidades.
Lá comecei a escrever uma missiva, admirando-lhe
os gestos e as atitudes, a sua beleza, e a desse Paris tão chic e tão exemplo sumo e ultra da civilização. Escrevi uma longa
carta, entre o flirt e o galanteio,
com toques de ironia e de estética.
Assim que termino a carta e escrevo num envelope
timbrado a sua morada, acordo com o Rufus
a lamber-me as mãos que se estendiam pelos braços do sofá largo e castanho!
Co’a breca, jovem das românticas alturas! Tive um
sonho literário!
Termino por aqui a missiva, e julgo mais que
justificada esta minha ausência de ontem, pois ainda ando em busca de algum
sentido para este sonho rocambolesco.
Efrraim mandou abrrrraços e saúde.
Eu envio-lhe estas palavras, o convite que segue
abaixo e o fraterno abraço deste sempre
Seu
Gonçalo
V. de Sousa.
P.S. Com tudo isto, peço-lhe que volte a adiar a impressão de Nicosia.
A verdade é que não sei onde raio foi parar a minha primeira
edição de A Dama das Camélias! E o
mistério continua!
O Clube entrevista os leitores - Carla Sá
Carla Sá - Descobri o Clube de leitores a pesquisar, aqui mesmo, no Facebook. Gosto muito de literatura, de livros e com palavras "chave" cheguei ao Clube de leitores. E ainda bem!
- O que te chamou mais a atenção nesta comunidade?
- Bons textos, boa seleção e uma boa organização também. Não é fácil pôr um blog a funcionar. Deu logo para perceber que era um blog diferente, ativo e com qualidade.
- O facto de todos os bloggers serem também escritores é algo que te entusiasma?
- Sim, claro. É sempre bom estar num grupo em que o objetivo é comum. Sentimo-nos "em casa". Sentimo-nos mais compreendidos...
- Este blog veio mudar alguma coisa na tua vida de leitora? Recordas-te de alguém que tenhas conhecido e que tenha valido a pena?
- Claro que sim. O Clube de leitores, é um blog com qualidade e diversidade. Encontramos sempre um autor interessante, um livro que lemos há uns anos e de que já não nos lembrávamos..... um novo autor.....
- Como foi passar do mundo virtual ao mundo pessoal com algumas pessoas que conheceste através do Clube de Leitores?
- Ainda não tive o prazer de passar do mundo virtual para o pessoal, mas vai haver tempo, com certeza....
- Tens alguma história que te tenha marcado – quer através de um post no blog ou de alguma pessoa envolvida na sua dinamização?
- Gostei de ver a minha coleção divulgada no Clube. Foi importante para mim.
- Com que frequência visitas este espaço?
- Como vês este projecto dentro de alguns anos? Sentes que ainda existe muito para se discutir?
- O Clube de Leitores já é um grande clube, com muitos seguidores, mas sinto que ainda tem muito para crescer e que muitos seguidores virão, ainda.
- Numa frase: O Clube é…
- Ao fim de um dia "stressante" O Clube de Leitores é a literatura a salvar-nos. E, como disse Fernando Pessoa: " a Literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida". :)
*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto.
Carla Sá é autora da colecção «Detetive Psíquico»
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Correndo o Brasil: Lapa é festa!
Rio de Janeiro
8 e 9 de Agosto de 2014
O Rio é festa e a primeira que tive levou o meu grupo ao Rio Scenarium, na Lapa - um bairro boémio, cheio de restaurantes, pubs, discotecas e bares. É um espaço carregado de curiosas antiguidades e obras de arte nas paredes (de dia é uma galeria). Pelo meio duas grandes pistas de concerto - uma logo no rés-do-chão e outra recolhida no edifício do lado. É o sítio perfeito para a melhor noite carioca.
A entrada foi curiosa, porque no Brasil é importante andar com identificação e eu não levei a minha. Fiquei um pouco apreensivo, porque não sabia bem o que ia acontecer. Mas o cartão só servia para dar o nome logo à entrada. Apenas tive que dizer que não o tinha e como me chamo. E lá me aceitaram.
A noite era uma criança e ainda não tínhamos jantado. Os que chegaram primeiro foram pedindo umas bebidas enquanto passavam os olhos pelo menu (o cardápio, falando em português com açúcar). Lá acabei por apostar na primeira picanha desde que aterrei, procurando descobrir a sua fama!
O grupo foi-se compondo com a chegada de mais amigos. Percorria-me a sensação incrível de ver muita gente ter-se feito à viagem até este lado do atlântico. E como é fantástico ver as pessoas surgir de vários pontos da Europa até ao novo continente. Ali estamos todos, na maior das festas.
A música ao vivo é muito boa. O samba rola e a balada agita as mãos no ar, cantando tudo de cor. De caipirinha em caipirinha lá vamos gastando o tempo, entre fotografias, abraços, cantorias desafinadas e desejos de noites sem fim.
O grupo espera-me lá baixo para regressar a casa. Deixei-me envolver pelo povo brasileiro e fiquei para trás a contemplar o espaço em volta. Felizmente não me deixaram só, foi só o compasso de espera para pagar. As filas são como em Portugal - longas, longas, longas.
O meu táxi percorre a cidade à noite. O Cristo espreita lá do alto iluminado e não vejo trânsito, pela primeira vez. Afinal parece que há um tempo para o Rio estar sossegado, as altas horas da madrugada.
Rodrigo Ferrão
8 e 9 de Agosto de 2014
O Rio é festa e a primeira que tive levou o meu grupo ao Rio Scenarium, na Lapa - um bairro boémio, cheio de restaurantes, pubs, discotecas e bares. É um espaço carregado de curiosas antiguidades e obras de arte nas paredes (de dia é uma galeria). Pelo meio duas grandes pistas de concerto - uma logo no rés-do-chão e outra recolhida no edifício do lado. É o sítio perfeito para a melhor noite carioca.
A entrada foi curiosa, porque no Brasil é importante andar com identificação e eu não levei a minha. Fiquei um pouco apreensivo, porque não sabia bem o que ia acontecer. Mas o cartão só servia para dar o nome logo à entrada. Apenas tive que dizer que não o tinha e como me chamo. E lá me aceitaram.
A noite era uma criança e ainda não tínhamos jantado. Os que chegaram primeiro foram pedindo umas bebidas enquanto passavam os olhos pelo menu (o cardápio, falando em português com açúcar). Lá acabei por apostar na primeira picanha desde que aterrei, procurando descobrir a sua fama!
O grupo foi-se compondo com a chegada de mais amigos. Percorria-me a sensação incrível de ver muita gente ter-se feito à viagem até este lado do atlântico. E como é fantástico ver as pessoas surgir de vários pontos da Europa até ao novo continente. Ali estamos todos, na maior das festas.
A música ao vivo é muito boa. O samba rola e a balada agita as mãos no ar, cantando tudo de cor. De caipirinha em caipirinha lá vamos gastando o tempo, entre fotografias, abraços, cantorias desafinadas e desejos de noites sem fim.
O grupo espera-me lá baixo para regressar a casa. Deixei-me envolver pelo povo brasileiro e fiquei para trás a contemplar o espaço em volta. Felizmente não me deixaram só, foi só o compasso de espera para pagar. As filas são como em Portugal - longas, longas, longas.
O meu táxi percorre a cidade à noite. O Cristo espreita lá do alto iluminado e não vejo trânsito, pela primeira vez. Afinal parece que há um tempo para o Rio estar sossegado, as altas horas da madrugada.
Rodrigo Ferrão
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Pó buracos e cabisbaixos
Os livros quase ninguém os traz. Desculpam-se uns com
o esquecimento, deixaram-nos outros na casa da tia, da avó, dizem os mais
imaginativos que foram vítimas de furto no portão da entrada, roubaram-me a
mochila stôra, tinha lá o livros, o bandido fugiu. Quando é para analisar uma
obra é um caso sério, três ou quatro livros para quase trinta alunos, a
professora tristíssima leva a mão à cara, abana a cabeça, ai que desgraça, o
que é que eu vou fazer, juntem-se aí todos numa mesa, desenrasquem-se. Bem sabemos
nós o porquê da ausência das obras, pesa a verdade mas tem que ser conhecida,
não estica o dinheiro e não encolhem as despesas, entre os livros e o pão a
escolha é fácil.
Os professores, esses, coitados, muito fazem. Nunca vi
uma classe tão desmotivada. Quase vinte anos de estudos e no final do mês pouco
mais de mil euros, bem disfarçam a raiva com o gosto por ensinar, bem que
tentam mascarar o tormento para não darem os alunos conta da tristeza. Merecem,
alguns, palmas. O pior é que o pessoal não é burro, sabe da história, muitos de
professores são filhos, poucos são os que na família não têm um professor, mãe
tia ou avó. E por esta razão também os alunos desmotivados, estes, nós, mais
que todos. Pela escola se arrastam, assinaturas impercetíveis nas paredes dos
balneários, ofensas às contínuas, murros e empurrões nos professores, sabemos
nós que pouco mais somos que o meio em que estamos.
Também as matérias ensinadas pouco ajudam. Ninguém tem
bem noção daquilo que está a aprender. Quer dizer, não é bem assim, o pessoal
percebe o que está a aprender, não é disso que se trata, sabe as coisas, até
estuda de vez em quando, uns abençoados com maior entendimento que outros,
compensam os menos sortudos no maior esforço, até há algum empenho, o problema
é que são raras as vezes que compreendemos onde e quando hão-de esses
ensinamentos ter utilidade. O chegar à sala é sinónimo de descansar o traseiro,
já as cadeiras à espera, ao menos há cadeiras, a professora quase enterrada em
todos os tormentos que esconde, na cara vincada a noite mal dormida a corrigir
os pontos (os pontos sempre tão maus). Ouvimos tudo o que diz, apontamos esse
tudo no caderno (muitos nem cadernos, de nada vale o quase invisível lápis, vá
lá que o pessoal é amigo e partilha as folhas, o lápis a desaparecer), nada
dizemos, nada questionamos, caladinhos que assim é que é bom. Não há tempo para
perguntas meninos, o programa é grande e tenho que o cumprir, tenho que prestar
contas no final do ano, tem que ficar tudo dado até ao exame.
E depois os tacos de madeira das salas mais parecem
uma pasta de mil fios podres que insistem em mudar de cor com o desenvolver das
estações. Apesar de alguns ainda se aguentarem, mais são os que são subtraídos
pelo correr do tempo. Nunca são substituídos, tem a escola o que a construção
de origem lhe deu, mais que isso não merece, ao abandono está entregue, todos
os dias morre um bocadinho.
No Inverno é um frio de gelo, trinta pessoas a
congelarem, aquecedor só há um em todo o piso e é velhíssimo, pequeníssimo, uma
camada de ferrugem de cima a baixo. Grandes discussões acontecem no corredor, a
professora de Matemática a guerrear com o de Física, dá cá isso pá tou cheia de
frio, nisto junta-se a de História a de Desenho e a de Biologia, ganha sempre
esta última, todos sabem que acordou às cinco da manhã derivado a viver a duas
horas de caminho e ter três filhos. Lá com grande sacrifício lhe dão o
aquecedor e voltam para a sala cabisbaixos, a tristeza multiplicada pela
ausência de tinta que insiste em fugir das paredes, já o tijolo praticamente a
descoberto. Entre os dentes cerrados ofensas e lamentos ao próprio dirigidos,
toma que é bem feita Maria, não tinhas nada que ir para professora, a tua prima
foi para as engenharias e está bem melhor.
Pode ser que um dia, a tempo distante, a moçada acorde
e saia de casa contente. Pode ser que um dia vivam os professores e os alunos em comunhão no mesmo espaço. Pode ser que nesse dia seja a escola um lugar
sagrado, onde se aprende e se ensina, onde se educa e se é educado. Até lá, resta
esperar que alguém transforme promessas em atos, sabendo nós que de promessas
está o Inferno cheio e de atos está o céu vazio.
Gonçalo Naves
Foto tirada daqui:https: //avozcalada.wordpress.com/2014/07/21/meu-surto-humilhacao-publica/
O jogo do Tsundoku
O Clube entrevista os leitores - Penélope Martins
Rodrigo - Como descobriste o Clube de Leitores?
Penélope - Descobri o Clube com a camarada Ana Almeida.
- O que te chamou mais à atenção nesta comunidade?
O que me chamou (e chama atenção) foi a diversidade de excelentes postagens sobre literatura e leitura de mundo.
- O facto de todos os bloggers serem também escritores é algo que te entusiasma?
É muito bom que escritores sejam blogueiros. Isso dá pessoalidade para o objeto livro, centro das nossas conversas.
- Este blog veio mudar alguma coisa na tua vida de leitora? Recordas-te de alguém que tenhas conhecido e que tenha valido a pena?
Mudou minha vida como leitora a quantidade de escritores e poetas portugueses que passei a ler. Acho grande pena duas pátrias que falam a mesma língua saberem tão pouco uma da outra.
- Tens alguma história que te tenha marcado – quer através de um post no blog ou de alguma pessoa envolvida na sua dinamização?
Minha história se mistura ao Clube. Passamos a publicar post de cá e de lá, com meu Blog Toda Hora Tem História e, meus leitores brasileiros também passaram a ser leitores do Clube.
- Com que frequência visitas este espaço?
- Como vês este projecto dentro de alguns anos? Sentes que ainda existe muito para se discutir?
Pra mim, o blog tem muito assunto ainda a tratar e outras possibilidades de posts...
- Numa frase: O Clube é…
O clube é brutal! (Para usar gíria portuguesa. Se eu souber usar...)
Brasileiramente, o clube tem borogodó sem faltar!
*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto.
Penélope Martins é, além de uma seguidora assídua, colaboradora às terças-feiras, do espaço "É do borogodó"
*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto.
Penélope Martins é, além de uma seguidora assídua, colaboradora às terças-feiras, do espaço "É do borogodó"
terça-feira, 2 de junho de 2015
horizonte
de quantos olhares caídos
se faz a distância
quis um parapeito
e uma nesga de maresia
a ampararem o corpo
da orquídea
que no seio do vaso
crescia
de quantas madeixas ao vento
se descarna o coração
a boca do céu
muda de ausência
a língua da rua
nós de saudade.
Helder Magalhães
![]() |
'afternoon"- Marta Bevacqua Photography |
É do borogodó: Balõezinhos, de Manuel Bandeira
Na feira do arrabaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.
No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.
Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.
Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.
Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.
O vendedor infatigável apregoa:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.
* escolhido por Penélope Martins
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.
No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.
Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.
Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.
Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.
O vendedor infatigável apregoa:
— “O melhor divertimento para as crianças!”
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.
* escolhido por Penélope Martins
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Dinis Machado está de volta
Com o romance O Que Diz Molero, Dinis Machado mudou de forma permanente o panorama literário português. Corriam os anos 70, e o 25 de Abril ainda não tinha acontecido. Mais de quarenta anos volvidos, este objecto raro das nossas letras mantém a sua imensa originalidade e frescura. Dinis Machado não publicou outros romances (a não ser os policiais que escreveu com o pseudónimo Denis McShade), mas continuou a escrever regularmente, durante mais de três décadas, em jornais e revistas sobre os mais variados temas, de entre eles duas das suas grandes paixões: futebol e cinema. Depois de Reduto Quase Final, seguido de Discurso de Alfredo Marceneiro a Gabriel García Márquez e de Gráfico de Vendas com Orquídea, a Quetzal dá continuidade à recolha dos melhores textos dispersos de Dinis Machado em livro.
Leiam o destaque da Visão:
Leiam o destaque da Visão:
a-ver-livros: reconhecimento
Reconhecerei
a magnólia se não
a vir em flor?
Reconhecerei o amor
se nunca
o disseste?
Viverei o outono
com a alegria da primavera,
essa é a minha raiz
Ana Almeida
a magnólia se não
a vir em flor?
Reconhecerei o amor
se nunca
o disseste?
Viverei o outono
com a alegria da primavera,
essa é a minha raiz
Ana Almeida
domingo, 31 de maio de 2015
Poema à Noitinha... Daniel Faria
Amo o Caminho que Estendes
Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões.
Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo
Se se recorda dos movimentos migratórios
E das estações.
Mas não me importo de adoecer no teu colo
De dormir ao relento entre as tuas mãos.
*Daniel Faria, in Dos Líquidos
Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões.
Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo
Se se recorda dos movimentos migratórios
E das estações.
Mas não me importo de adoecer no teu colo
De dormir ao relento entre as tuas mãos.
*Daniel Faria, in Dos Líquidos
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