sábado, 8 de agosto de 2015

Fernando Pessoa, neve

As noivas do Sultão - o livro de Raquel Ochoa

Em 1793, Marrocos encontrava-se em guerra. Abdessalam, o filho designado pelo imperador para o suceder, pediu à sua mulher, à família real e às concubinas que saíssem de Casablanca. A viagem até Rabat não deveria demorar mais do que dois ou três dias, mas uma tempestade arrastou as embarcações para o Atlântico.
Depois de quase perecer num naufrágio, a comitiva marroquina chegou à ilha da Madeira e depois aos Açores. Ali, foi obrigada a aceitar a ajuda de experientes marinheiros portugueses que a guiou até Lisboa, onde chegou bastante debilitada.
Na capital do reino, mandatado pela rainha D. Maria I, Frei João de Sousa, um prestigiado arabista membro da Academia das Ciências, mediou os encontros diplomáticos, tornando-se o homem que mais privou com as princesas marroquinas. Mas a presença da inusitada comitiva estendeu-se por mais tempo do que o esperado e dentro do grupo de concubinas nem todas pareciam querer, afinal, voltar a Marrocos.
Baseado em factos reais e alicerçado numa profunda investigação histórica.


A vida é tão bela e tão estúpida.
Agrupando tudo o que de valor possuía, Moulay Abdessalam, um dos filhos do rei Mohamed III e o escolhido em 1790 para suceder ao pai, fez entrar em dois barcos a sua mulher, concubinas e mais família real directa. As mulheres são o valor mais precioso de uma sociedade. Tentava pô-las a salvo da guerra que alastrava no território embora as lançasse na imprevisível viagem de Casablanca para Rabat.
Antes de ingressar a luta ditou uma carta deixando recomendada a condução destas - juntamente com uma larga comitiva e valiosos pertences - a um só homem.
“Nunca se pode ter medo, escreveu-lhe, porque estaria a dar força àquilo que temo, além de que ficaria como um cobarde para a história”.
Abdessalam tinha desistido do seu direito à sucessão por causa dos seus olhos. A cegueira chegara gradualmente e sem cura. 
Já quase sem visão partiu ao encontro do irmão Moulay Slimane, levando consigo dois mil guerreiros da Província de Sus que o seguiam sem questionar. Juntos defrontariam o irmão Moulay Haxem. Percorreu fiadas ascendentes de colinas douradas, pontuadas por oliveiras e acenando aos pastores mantidos quentes pelas suas mantas de lã. Propunha-se a atravessar os desertos de Tiflet originando uma longa marcha com o objectivo de evitar as rotas conhecidas e não ser sentido pelo inimigo.
A 12 de Abril de 1793 os barcos largaram amarras de Casablanca.
*in "As Noivas do Sultão" - Raquel Ochoa

Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres - a opinião de Carla Sá

Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres
Clarice Lispector Ulisses e Lóri. Apesar de estarem os dois apaixonados, Ulisses age com cautela, perante a perspetiva de um envolvimento amoroso. O que ele pretende, na verdade, é que ambos possam aprender, previamente, o significado verdadeiro do amor e a capacidade de ultrapassar silêncios e ausências. Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres é a narração dessa aprendizagem, que decorre mais no espaço interior das personagens, (essencialmente, no que diz respeito à transformação de Lóri ) do que na “vida real”. Com a esperança de que essa evolução ocorra, de facto, Ulisses, professor de filosofia, revela a Lóri onde ela pode encontrar os perigos e qual o caminho que a levará à aprendizagem do amor e da vida. Para quem pensa que amar não se ensina, os dois personagens, provam que sim, que é possível aprender a amar. Toda a obra de Clarice Lispector é profundamente complexa e ambígua. O próprio título deste livro, “Uma Aprendizagem” ou “O Livro dos Prazeres”, confirma esse traço da escritora, pois parece propor ao leitor uma escolha.No entanto, e apesar de toda a complexidade, consegue transmitir com precisão, toda a confusão e perplexidade do ser humano. Segundo a teórica francesa Hélène Cixous, Clarice não faz literatura, mas sim filosofia. Já o mineiro Otto Lara Resende acha que “não se trata de literatura, mas de bruxaria”. E porque não estar de acordo em ambos os casos?
Excerto:
Por um instante então desprezava o próprio humano e experimentava a silenciosa alma da vida animal. E era bom. "Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender — entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simpies de espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma bênção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez. Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro — preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana.
*por Carla Sá

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

a-ver-livros: rol



Rosas amarelas
e figos
as tuas pegadas quentes
no sabor da meloa doce
brincos de cerejas
e papel de escrever
o barulho da chuva miúda
e pêssegos maduros

um rol improvável
na probabilidade
dos nossos dias

Ana Almeida


foto de Paulette Tavormina

Snobidando: Bill Watterson

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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Carregar a bateria

Encontrado na página For Reading Addicts

Ana Hatherly (1929-2015)

Morreu Ana Hatherly, a pintora da palavra

A escrita, o acto de escrever e as possibilidades visuais da palavra e da caligrafia estiveram ao centro da sua obra plástica
Tinha "uma criança muito viva no lugar do coração e punha-se traquinas", escreveu um dia Valter Hugo Mãe. A artista plástica, poeta, romancista, ensaísta e tradutora Ana Hatherly morreu esta manhã em Lisboa. Tinha 85 anos.
Com uma formação ecléctica, teve um percurso igualmente multifacetado. Licenciada em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fez estudos cinematográficos na London Film School e doutorou-se em Literaturas Hispânicas na Universidade de Berkeley.
Foi professora na escola de artes visuais Ar.Co, na Escola Superior de Cinema e no departamento de Literatura Portuguesa da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Mas foi como artista plástica que se destacou.
Em 1958, com Um Ritmo Perdido iniciou a sua carreira literária, começando no ano seguinte as suas pesquisas no âmbito da poesia concreta e experimental. Em 1969 fez na Galeria Quadrante a exposição que marcou o início do seu percurso nas artes plásticas. Desde então, a escrita, o acto de escrever e as possibilidades visuais da palavra e da caligrafia estiveram ao centro da sua obra.
Nascida no Porto em 1929 e participante da edição de 1976 da Bienal de Veneza, a mais importante bienal de arte do mundo, Ana Hatherly está representada nas mais relevantes colecções de arte portuguesas, entre as quais a da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu de Serralves e da Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento.   
Foto: http://www.casadellapoesia.org/poeti/hatherly-ana/biografia

terça-feira, 4 de agosto de 2015

É do borogodó: o azul de Rimbaud

II

– Eis que então se percebe uma pequena tira
De azul escuro, em meio à ramaria franca,
Picotada por uma estrela má, que expira
Em doce tremular, muito pequena e branca.

Noite estival! A idade! – A gente se inebria;
A seiva sobe em nós como um champanhe inquieto…
Divaga-se; e no lábio um beijo se anuncia,
A palpitar ali como um pequeno inseto…

– Rimbaud, Romance.
(escolhido por Penélope Martins, a nossa ponte para o Brasil)

pulso


escrever nas folhas caídas
cartas de palavras-raiz
da incandescência do voo
pétalas dentro do peito
 
que o tronco da árvore
mede-se a pulso.


Helder Magalhães

Dirk Wüstenhagen Imagery

800.000!

E ultrapassámos as 800.000 visitas no blog! Felizes!
Obrigada a todos quantos nos acompanham!
Somar e seguir!


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domingo, 2 de agosto de 2015

O mundo mágico de Daniel Maia-Pinto Rodrigues

O Brilho dos Teus Olhos

I
Decerto que já te falei da contemporaneidade
e mesmo do brilho dos teus olhos. 

 Hoje talvez estivesse mais inclinado
exactamente
a falar do brilho dos teus olhos

na vulgar distância
entre o teu queixo e os teus seios
no traço oscilante e perfumado das clavículas
na claridade envergonhada das omoplatas.

II

Da contemporaneidade tu já sabes o que penso
agora talvez comesse qualquer coisa. 

Perdão, querida, tens anchovas no armário?
yes!? com alcaparra... it's wonderful!
vinho, meu amor vinho pelas gargantas de veludo.

III

Não adormeças logo agora
que eu estava mais fluente e disposto
a falar-te, ainda que de novo, na contemporaneidade

ou não adormeça eu
logo agora
que o teu cabelo se encosta
à suavidade da almofada
animando o amor do Donald e da Daisy
que, entretanto, já transpuseram
a barreira lisa do pano e do desenho
e se encaminham já para o quarto ao lado.

*Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in O Valete do Sétimo Naipe 

Todos os tempos verbais - o marcador

Têm sido dias fantásticos! Apesar de muitos leitores estarem de férias, a compra do meu livro segue a bom ritmo entre a família e amigos.
 
E na última sexta chegou a minha casa mais um mimo - o marcador do livro!
 
O que acham? Está bonito?
 
Um abraço a todos os novos leitores do meu livro.
 
Rodrigo
 

Estantes de sonho: aproveitando o espaço

Da cama contemplo a vida condensada nas estantes.
 
Encontrado na página For Reading Addicts