Meu caro José
Escrevo-lhe umas linhas breves, pois acredito que
o tempo aí pelas maravilhosas terras do Tâmega e do Douro seja bem necessário
para assuntos graves e belos.
Um pequeno poema ou esboço disso e umas poucas
palavras.
Abraços do Efraim, com saudades e sequiosos de
verde branco refrescante.
Um abraço, sempre sequioso, deste
Seu
Gonçalo
V. de Sousa.
O céu encobrirá as hostes
Do cavaleiro de azul,
O escolhido da tormenta.
E ele virá sob um manto escarlate,
Com as insígnias de seu pai e da sua casa.
O seu cavalo será branco como a neve
Das montanhas a norte do reino.
Ela estará tecendo, pacientemente.
Tecendo, pacientemente.
Tecendo, pacientemente.
Haverá uma fortaleza inexpugnável,
Haverá uma ponte insegura,
Haverá um dragão mítico.
Haverá mil e uma cantigas para esta
aventura.
Ele cavalgando corajosamente.
Os seus longos cabelos castanhos
Parecem o acabamento da crina
Do real animal que cavalga com a fúria de
mil histórias.
A sua espada é faiscante e terrível,
Brilhante e afiada.
A sua armadura é leve e fina,
O seu elmo brilhante.
O dragão, enorme, negro e cuspidor de fogo,
De nome Tog, o Terrível,
Guarda a fortaleza abandonada, a torre
Onde se encontra a princesa dos cabelos
dourados,
Tecendo pacientemente.
Tecendo pacientemente.
O cavaleiro avista o dragão.
O seu cavalo relincha,
Fazendo uma monumental acrobacia com as
patas dianteiras.
O dragão cospe fogo, violentamente.
O cavaleiro defende-se com o seu escudo
Prateado.
O dragão investe sobre o cavaleiro dos
cabelos castanhos.
O Céu é negro e nebuloso.
Os olhos do dragão são da cor do fogo.
O cavaleiro sucumbe aos dentes invernais
de Tog.
A sua fama prevalece intacta.
O cavaleiro jaz estraçalhado ao meio.
O cavalo foge. O dragão sobrevoa a
fortaleza em ruínas e a
Donzela, loira, elegante, bela,
Tece, impávida.
Tece, pacientemente.