sábado, 25 de julho de 2015

Sharish


Onde nada se faz com pressa

os dias são de sol e sopa de tomate,

(que cozinhar também é arte!),

as searas ondulam entre o verde e o amarelo,

as sombras são feitas do verde escuro de azinheiras e oliveiras,

e as sestas, ou os sonhos, de cardos, papoilas, esteva, trigo e pouco joio.

Onde nada se faz com pressa

há canto de pássaros a acordar as manhãs de madrugada,

sinfonias crepusculares de cigarras,

e na boca dos homens um cante arcaico

em lento andamento a embalar a lavoura dos dias,

o pastoreio do ócio.

Onde nada se faz com pressa

faz-se um gin sem Adão nem Eva mas pecado puro,

um gin com a presença singular de uma singular maçã,

Bravo-de-Esmolfe a macerar com zimbro,

sementes de coentros, citrinos, lúcia-lima,

quase a dançar depois da alegria da espera no lento destilar.

Onde nada se faz com pressa

ou simplesmente no Alentejo.


Raquel Serejo Martins


Todos os tempos verbais - a aventura prossegue

 
Nunca pensei que desse tanto gozo escrever dedicatórias e assinar uma obra escrita por mim. Isto de ser escritor ainda é algo que estou a aprender. Mas está a ser uma excelente aventura! Obrigado a todos e todas que estão a contribuir para a minha felicidade.
 
Podem encomendar-me através de mensagem privada no meu facebook ou pelo meu endereço de email: rod.ferrao@gmail.com
 
Fiquem atentos, vou fazer apresentações no Porto, Guimarães, Coimbra e Lisboa. Mas só depois do verão!
 
Um abraço,
Rodrigo

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Djerbahood, Djerba, Tunísia — com Tinho (a.k.a. Walter Nomura)


Visite o artista Tinho (a.k.a. Walter Nomura) https://www.facebook.com/tinho23sp/timeline

Maria Carla voltei a falhar

Prometi-te aqui há uns meses que havias de deixar de ser a mulher mais feia mais infeliz e mais ignorante do mundo, prometi-te que te havia de levar ao teatro e ao cinema e a ver os monumentos e prometi que te havia de levar às compras e ter paciência e elogiar-te o vestido e os sapatos, prometi que passaria todos os Sábados e todos os Domingos acompanhando-te nas compras. Falhei em tudo, mais me preocupei com os livros mas afinal nenhum livro tão complexo como tu, mais me preocupei com contos da carochinha mas afinal agora não tenho nada que contar

Maria Carla voltei a falhar, afinal de contas nunca nada fiz que não falhar

Por ti continuo a guardar a admiração de sempre, do teu jeito curtinho e amoroso, da leveza com que te via assentar os pés no chão que pensei ser nosso e das vezes em que partilhámos as mesmas palavras que espero não deites fora. Sempre esteve presente essa admiração em tudo o que escrevi, porque, como sabes, várias vezes te disse que é necessário ler o que as palavras não dizem e escutar o que da voz não se ouve, só assim se pode chegar a algum lugar. Poucas coisas sobre ti escrevi, não tenho jeito para escrever sobre pessoas, ainda assim tudo o que em mim teve origem e passou para o papel, teve, também, origem em ti

Maria Carla a razão de ter falhado é a de que para mim sempre o tempo foi infinito

Maria Carla a cada dia te eternizas mais um pouco. Receio que deixe de saber escrever a partir de agora (aliás o que já se nota neste textozito demasiado básico) que já não tenho ninguém com quem partilhe isto, isto que nome não tem, isto que durante todo este tempo teve origem em ti. Todos os elogios que aos meus escritos fizeram reencaminho-os para ti, a outro lugar não pertencem. Sei que não são o bastante para que fiques de coração cheio, nem eu próprio fui, mas é como te digo, mais vale tarde que nunca e mais vale pouco que nada

Maria Carla sempre fiz pontaria ao céu e às estrelas, à Lua e a tudo o que não podia tocar

E tu sempre apontaste à vida, à Terra, às pessoas de todos os dias, bastava-te um dia frio mas de Sol brilhando, bastava-te o que tinhas e o pouco que te dava e eu sempre preocupado com o que não tinha e com o pouco que não me davas. Continuo a ser muito mais pequeno que tu, sempre saberás mais que eu e sempre continuarás sem o querer revelar. Agora entendo que nunca precisaste que fizesse de ti a mulher mais bonita e mais inteligente do mundo, sempre o foste sempre o serás, e eu hei de para aqui ficar, recordando-me dos tempos em que construímos o mesmo silêncio e em que corremos juntos mais rápido que o mundo e por isso quase nos tornámos infinitos

Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: http://activa.sapo.pt/vida/lazer/2014-06-09-A-Bela-e-o-Monstro-vai-ter-versao-com-atores-de-carne-e-osso

As discussões modernas

Encontrado na página For Reading Addicts

quinta-feira, 23 de julho de 2015

a-ver-livros: Saramago em azulejos

«Talvez este silêncio seja o esforço abrindo os foles do pulmão
prosaicamente abrindo ó sem poesia abrindo. Para começar
o outra vez doloroso nascimento duma primeira palavra.
»
 
                                                                 José Saramago

Uma citação do Nobel português que fui encontrar num blog sobre azulejaria, junto com as fotos e a informação que tomo a liberdade de partilhar também. A frase encontra-se no livro 'O ano de 1993' e foi parar a este painel elaborado pelos alunos da Escola Secundária de Monserrate, em Viana do Castelo. Uma forma diferente de ver livros.

Ana Almeida




Imagens trazidas do blog Azulejos da Minha Terra
http://azulejosnaminhaterra.blogs.sapo.pt/505393.html



Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações



Meu caro José

Escrevo-lhe umas linhas breves, pois acredito que o tempo aí pelas maravilhosas terras do Tâmega e do Douro seja bem necessário para assuntos graves e belos.
Um pequeno poema ou esboço disso e umas poucas palavras.
Abraços do Efraim, com saudades e sequiosos de verde branco refrescante.
Um abraço, sempre sequioso, deste
Seu

Gonçalo V. de Sousa.


O céu encobrirá as hostes
Do cavaleiro de azul,
O escolhido da tormenta.

E ele virá sob um manto escarlate,
Com as insígnias de seu pai e da sua casa.
O seu cavalo será branco como a neve
Das montanhas a norte do reino.

Ela estará tecendo, pacientemente.
Tecendo, pacientemente.
Tecendo, pacientemente.

Haverá uma fortaleza inexpugnável,
Haverá uma ponte insegura,
Haverá um dragão mítico.

Haverá mil e uma cantigas para esta aventura.

Ele cavalgando corajosamente.
Os seus longos cabelos castanhos
Parecem o acabamento da crina
Do real animal que cavalga com a fúria de mil histórias.

A sua espada é faiscante e terrível,
Brilhante e afiada.
A sua armadura é leve e fina,
O seu elmo brilhante.

O dragão, enorme, negro e cuspidor de fogo,
De nome Tog, o Terrível,
Guarda a fortaleza abandonada, a torre
Onde se encontra a princesa dos cabelos dourados,
Tecendo pacientemente.
Tecendo pacientemente.

O cavaleiro avista o dragão.
O seu cavalo relincha,
Fazendo uma monumental acrobacia com as patas dianteiras.
O dragão cospe fogo, violentamente.
O cavaleiro defende-se com o seu escudo
Prateado.
O dragão investe sobre o cavaleiro dos cabelos castanhos.
O Céu é negro e nebuloso.
Os olhos do dragão são da cor do fogo.

O cavaleiro sucumbe aos dentes invernais de Tog.
A sua fama prevalece intacta.
O cavaleiro jaz estraçalhado ao meio.
O cavalo foge. O dragão sobrevoa a fortaleza em ruínas e a
Donzela, loira, elegante, bela,
Tece, impávida.
Tece, pacientemente.



Passatempo «Um anjo pela metade»

Passatempo «Um anjo pela metade», um livro de Humberto Duarte (formato e-book).

Para se habilitarem a ganhar um livro, basta fazerem like (ou já terem feito) na página do blogue no Facebook. Devem também identificar o nome de dois amigos (que possam querer ganhar o livro) na caixa de comentários. As restantes regras são as seguintes:

- O passatempo termina às 23h59 do dia 30 de Julho
- Só é aceite uma participação por pessoa
- Só serão aceites participações de Portugal

O vencedor é escolhido através do random.org e será contactado via mensagem.

Boa sorte!



Sinopse
Será a memória a matriz aglutinadora de uma vida?
E quem não a tiver? Será que viveu de verdade ou limitou-se a passar por entre as nuvens que tudo envolvem e tudo apagam?


Tomé é um ex-estudante português de História da Arte a viver em Paris as remanescências de um sonho desfeito. Longe das suas raízes e de referências afetivas, dá por si encarcerado nos meandros obscuros do álcool, da amnésia e da solidão, e a levar uma existência dupla, repartida entre a crítica musical para um jornal francês e o envolvimento numa estranha organização de assassinos contratados.
Confrontado com uma sequência de eventos inesperados, vê-se arrastado na demanda do seu passado esquecido, de um amor improvável, da redenção, mas sobretudo de si próprio.

itsliza pinta Samuel Beckett



Instante

Que faria eu sem este mundo sem rosto sem perguntas
Onde o ser só dura um instante e onde cada instante
Transborda para o vazio o esquecimento de ter existido
Sem esta onda onde por fim
Corpo e sombra juntos se anulam
Que faria eu sem este silêncio poço fundo de murmúrios
Curvando-se a pedir socorro pedir amor
Sem este céu posto de pé
Sobre o pó do seu lastro

Que faria eu eu faria como ontem e como hoje
Olhando para a minha janela vendo se não estou sozinho
A errar e a mudar distante de toda a vida
preso num espaço incontrolável
Sem voz no meio das vozes
Que se fecham comigo.

*Samuel Beckett
(tradução, Mário Carvalheira)


Acompanhe o trabalho de Lisa Bellicini em: https://instagram.com/itsliza90/
Pode também encomendar os seus trabalhos: https://www.facebook.com/lisaunderscore ou por email: lisaunderscore@hotmail.it

terça-feira, 21 de julho de 2015

Todos os tempos verbais - 1ª Edição: Junho 2015

Título: Todos os tempos verbais
Autor: Rodrigo Ferrão
Capa: David Pintor
Tipo: Monografia
1ª Edição: Junho 2015
Tiragem: 300 exemplares
ISBN: 978-989-20-5765-1


O que amanhã não sabe,

o ontem não soube.

Nada que não seja o hoje

jamais houve.

Paulo Leminski

fôlego


as flores de plástico caíram do vaso
e pela água o teu rosto brotou

os olhos foram remoinhos
a puxar-nos para dentro da corrente

ficámos náufragos um do outro
e as mãos enraizaram-se na fundura

que só o fôlego pode forjar.


Helder Magalhães


Laura Zalenga Photography

É do borogodó: a roda

A roda se afortuna de nossa sorte. Se um dia somos reis, noutro somos banquete da morte.



- Penélope Martins -

domingo, 19 de julho de 2015

Opihr Oriental Spiced


Bagas de cubeba de Malaca,
pimenta preta de Kerala,
cominhos da península arábica,
zimbro veneziano,
coentros frescos de Marrocos,
mais cedro, sândalo, canela,
esmeraldas verdes de espanto,
um elefante para fazer sonhar
e um casal de pavões pelas plumas de encantar.
Uma babel de cores e de cheiros,
um mapa-múndi dentro do porão
e a empreitada do regresso a casa.
Um dia ainda vão fazer disto uma canção!
A história de um capitão,
obstinado como um caranguejo,
só por isto já merece um beijo,
e da sua tripulação,
marinheiros velhos, velhos mercadores,
lobos do mar aposentados sem amores,
que nas noites de frio e chuva,
não dispensam na genebra
memórias do sol das viagens,
enquanto dentro do peito tatuado,
o coração em ebulição
e como se cada sorvo um som,
ouvem o vento nas velas,
ouvem gritos de gaivotas,
palmas de palmeiras,
palavras estranhas estrangeiras,
melodias de cítaras e guitarras,
orações a deuses desconhecidos,
suspiros de prazer de mulheres,
mãos em despedida no cais,
e a sentir no peito aquele sufoco
a que os portugueses chamam saudade,
ou será apenas a idade,
à la recherche du temps perdu,
enchem o copo de gin,
com muito gelo e sem mais.


Raquel Serejo Martins