sábado, 27 de novembro de 2010

O estranho caso de Benjamin Button, F. Scott Fitzgerald


Fitzgerald é um escritor com uma imaginação fora do comum. Este conto nasce de trás para a frente. Na origem está 'uma observação de Mark Twain em que o escritor lamentava que a melhor parte da vida fosse ao início e o pior ao fim.'

É precisamente essa a ironia de Benjamin Button, a personagem que vem ao mundo como velho. A vida é vista ao contrário, tendo o pequeno (velho) Benjamin que aprender a rejuvenescer.

Como lida a família adoptiva e a sociedade com isto? Esta é a história que põe a nu preconceitos e que acusa todos os desvios às normas e condutas - nos seus padrões de "normalidade".

Curiosamente li este livro depois de ver o filme. Na tela do grande ecrã, a história estica. Aliás, este é um pequeno conto - uma manhã ou tarde chega para o lermos. Boas memórias traz-me este filme. Vi-o num avião que me levou a Hong Kong, em 2009.

Pedaço de Mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu


Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Procura-se escritor de blogue...

As aventuras pelas leituras, a descoberta de mais uma obra... Escrever sobre livros, publicar poesia, apresentar novidades, debater questões do mundo livreiro.

É este o nosso blogue. Já conta com alguns participantes. Em muito honraram as suas escolhas de leitura conjunta. Consegui ler tudo aquilo que propuseram e entusiasmar-me com o aceso debate.

Continuo a acreditar plenamente na máxima de conhecer as pessoas pelos livros que escolhem. O livro marca, definitivamente, um estilo próprio, um modo de estar, um sentimento.


Hoje lanço um desafio: alguém quer escolher um livro de leitura conjunta? Começa já no próximo mês. O contrato é válido quando a proposta chegar. Basta entrar neste espírito. Deixem sugestões aqui no blogue ou no grupo: 'livros no facebook'. Qualquer meio serve para alargar esta equipa!

Até qualquer livro...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ferreira Gullar

Muito pouco se falou de Ferreira Gullar, prémio Camões em 2010. Aliás, quando saiu o veredicto, correu um certo espanto no mundo livreiro: o que havia deste autor brasileiro para mostrar?

Estranho - para um poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta. Que conta com uma vasta obra e 80 anos de vida. Será que as pontes entre nós e o povo brasileiro não andam, ainda, um pouco desligadas?

Pergunto, como pode este nome ganhar o maior prémio da Lusofonia e tanta gente o desconhecer? Ou não haver nada disponível para ler neste país? Só muito recentemente se começa a ver alguma coisa...

Hoje deixo um pouco dele, num poema oferecido por uma amiga. Lamentavelmente, também pouco sei de Ferreira Gullar. Recentemente, saiu 'Rabo de Foguete - Os Anos de Exílio' e 'Poema Sujo' - um dos grandes poemas deste autor.

Venham conhecê-lo comigo. Em breve discutimos um pouco a sua obra...


Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Obra Poética, Sophia de Mello Breyner Andresen

Ora aqui está a prenda que vou pedir ao Pai Natal. Um grande investimento na minha biblioteca, 920 páginas.

É caso para dizer: finalmente! Já há alguns anos que não se faz uma grande homenagem a um dos maiores vultos da poética portuguesa. Por momentos cheguei a pensar que estava esquecida. Que só se resumia às histórias que os miúdos lêem na escola.

Cheguei a temer o definitivo enterro da Poeta. Acho muito cara a presente edição, mas é mais forte do que eu. Não resisto a tê-la perto de mim.


"A presente edição, agrupando pela primeira vez num único tomo a obra poética da autora, segue e actualiza os critérios de fixação de texto adoptados na segunda das referidas séries, a série das edições «revistas». Publica-se igualmente, neste volume, um conjunto de poemas dispersos em revistas, em livros colectivos, em jornais e num cartaz, desde textos que remontam à primeira fase da produção de Sophia, dos anos 1940, até aos últimos poemas escritos em 2001. Alguns destes textos já foram dados a conhecer na antologia Mar, a partir da 5.a edição, saída em 2004 (selecção e organização de Maria Andresen de Sousa Tavares).
Não se inclui no presente volume um número considerável de poemas inéditos, que integram o espólio da autora, e que aguardam publicação em futura edição crítica."

Manual de prestidigitação, Mário Cesariny

É um ilusionista das palavras, Mário Cesariny...

Constrói textos como quer, sem regras. Não escreve para que o entendam. Apenas escreve. Não escreve para ser comentado. Isso é impossível.

Em 2008 peguei neste livro. Voltei a ele há pouco tempo. Para absorver cada sentido. Para pensar mais um pouco.


alquimia do verbo

agora fiquei triste, realmente,
emudeci!

o que esta boca sente
quando sorri!

o jardim está sem gente
e anda um vago sonho por aí

quando voltar a minha força ausente
hei-de pensar neste alibi

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os livros com extras...

Um livro que oferece uma colher de pau, um que traz um ursinho de peluche, outro que tem uma renda, um que está com uma flor que é um gancho para o cabelo... O que é que andamos a fazer aos livros?

Outro dia debatia o facto dos livros serem caros, hoje pergunto: não pagamos também estes adereços? Se pagamos, porque é que compramos?

Qual é a motivação inerente a estes fenómenos? Constituir uma prenda válida? É mesmo isto que me vai convencer a comprar um livro?


Decerto não imaginam estes fenómenos com o Saramago, Lobo Antunes ou outros escritores de nomeada...

Eu dou a minha opinião mais sincera: sou incapaz de confiar num livro que me ofereça um extra. Os livros não são para decorar estantes, são para ler. Valem pelo conteúdo, mais nada.

Continuarmos a dar azo a estas coisas é condenarmos o livro. Ele que está, cada vez mais, em vias de extinção...