sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

É do borogodó: Tamym Maulén

Porque morir es fácil
Aguantarse la vida, el dolor
Amar es lo difícil, hermano
Algún día todos nos vamos a vivir
La muerte no existe no es más
Que una bella y sonora palavra
Pan, Dios, Verdad, Menntira
Todas caretas para mostrar
Aquello que no ven los ojos
Y yo la verdad de las cosas
Sólo te vengo a decir que
Aunque fui el peor hermano
Te amo más que la cresta
Gabriel, cómo podrá decirse eso
Con lindas y sabias palabras
Me pregunto ahora mientras
Miro un dibujo tuyo en la pared
(un arcoiris blanco y negro)
Morirnos es fácil, hermano
Vivir una vida es lo difícil
Reír es lo más complicado
Qué bueno saber que
Aunque no nos vivimos
!Quisimos vivirmos!
Estamos muertos

Yo te sonrío

2015-11-23 10.32.58.png
– fotografia e selecção: Penélope Martins –
  • poema extraído do livro PAF (Puro Amor Familiar), de Tamym Maulén, editora Pornos da Argentina.

ondear


era como se o teu rosto ondeasse
o mar na profundidade a que a água
luz o naufrágio das estrelas à pele

choves-me num remoinho coração.

Helder Magalhães

"november rain" - Ines Rehberger Photography

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

«Todos os tempos verbais», a vez de Guimarães



 

A poesia saiu à rua e eu vesti-me de versos só para a ver passar. Ela desfilava pura, sem grandes truques ou artimanhas. Limpa, ao seu ritmo, carregada de geometria e sentido próprio. 

A poesia sou eu, sem saber muito bem que EU sou. Procura duvidar sobre o mundo particular, de um corpo que pensa e reflecte. Procura enquadrar o espaço da alma que não tem resposta. Procura um sentido, como qualquer homem ou mulher que explore esta forma de ser.

Não há acto mais livre do que o poema. Mesmo que ele nos prenda à fatalidade de um certo ritmo, o poema floresce como uma ideia cristalina e bela. O pensamento encontra a palavra e a emoção. E depois carrega tristeza, saudade, amor, morte. E desagua, por fim, numa forma, sem caminhos certos ou direcções pré-estabelecidas.

Deixei-me apanhar pela escrita, sem saber bem porquê. Acto espontâneo de um leitor experiente, talvez. A verdade é que vivo ainda a surpresa máxima de perceber que a minha palavra é também a expressão de um sentimento de alguém. Isso é o meu super poder, estou certo que é um segredo bem próprio e guardado a sete chaves dentro de mim. 

Nunca percebi bem isso de dar categorias às emoções. O ser humano emociona-se porque sim. Porque precisa, ponto. Porque tem que ser. E dar espaço ao sentimento exprime-se de diversas maneiras. 

Eu encontrei na poesia a minha voz, mesmo que a minha voz não soe bem a muita gente. Não escrevi para ninguém em particular, o poema é um acto egoísta de gritar ao mundo bem alto aquilo que me vai. Mesmo que ficcionado, mesmo que forçado… o que escrevo tem o seu quê de vivido. 

Mas quando leio o que fiz, surpreendo-me. O meu livro é também um acto de descoberta muito própria daquilo que carrego e por vezes desconheço. Tantas vezes me questiono sobre quem é aquele actor que mora em mim? Não tenho resposta para isso!

Passo por este livro e encontro tanta coisa que desconheço. Leio e identifico claramente aquilo que é meu. E leio tudo o que não sou, de todo. No processo de me ler, não sei bem o que pensar. Cada vez que passo os olhos pelo livro que fiz, fico confuso. Tudo isto é uma leitura diferente, cada vez é uma nova aventura.

 foto: André Gomes

Guimarães foi um dos berços da minha infância. Creixomil é o lugar que sempre me pareceu o mundo. Pelo menos o mundo enquanto fui criança. 

Foi bom sentir o campo a espreitar pelo fundo da janela. Foi sempre bom escutar o sino da Igreja, a recordar-nos de hora-a-hora que a vida é um ápice. E nesse ápice, queimamos tempo.

A infância é o lugar mais bonito onde mora o coração. Quando somos crianças, os sonhos moram todos connosco. Lá habitam também as pessoas que nos fazem falta, todos aqueles que construíram o nosso presente. 

Só se dá valor à saudade de ser criança quando se cresce. Tenho a certeza que não há saudade mais profunda do que essa de ter o mundo à nossa frente, pelo canto da janela. E o mundo pode ser o caminho que nos leva aos campos do milho e à ribeira. Ou aquela rã que encontramos no charco. Ou a promessa tão simples do pôr-do-sol.

Fui tão feliz aqui em Guimarães. A cidade cresceu em mim como uma promessa de regresso. E não há nada mais bom do que voltar aos sítios onde mora a felicidade, onde os sorrisos dos encontros se desfazem em abraços sentidos. Acredito puramente na filosofia do abraço. E quando o dou, acho sempre que a energia dessa pessoa me está a ser transferida. 

Lembro-me desses verões onde descia a rampa da casa a correr. Ou quando me esfarrapava todo ao cair da bicicleta. O almoço e o jantar eram os pontos altos das minhas preocupações, e os únicos horários a cumprir. Tudo o resto era apenas a liberdade de ser, de existir só porque fui feito para viver neste mundo. 

Tenho tantas saudades das pessoas da minha infância. Daquelas que partiram, daquelas que estão ainda comigo. Crescer é talvez o pior crime da existência. Devia existir uma cláusula contra tudo isso, crescer podia perfeitamente ser uma escolha. Se pudesse lá voltar, não hesitava um segundo. Não sendo possível, encontro e refugio-me na palavra. Só a palavra me salva dessa ideia macabra de um dia virar pó, lançado ao vento.

A memória vive comigo, como uma recordação dos sítios por onde passo. E por mais que a vida passe, os lugares nunca deixam de viver em mim. Assim como as pessoas, todos os momentos tristes e alegres.

Guimarães é também o berço de grandes amizades. E esta livraria condensou sempre as pessoas mais importantes desta minha cidade. O meu livro também são estes amigos, também são estes momentos, também é este espaço. E hoje celebro-o, sem qualquer medo da emoção de dizer a toda esta gente que amo verdadeiramente cada um em si, com todas as pequenas singularidades que compõem um corpo. Um corpo onde gasto e deixo morar os abraços, sentindo o peso de cada amigo, de cada momento, de cada sorriso rasgado... na certeza do encontro.

Agradeço genuinamente a todos os que construíram o livro comigo. Sem eles, eu não acharia possível criar o objecto. É profundamente uma honra contar com pessoas como a Ana Paula Oliveira no processo de criação. Escrever pode ser um acto solitário, mas construir um livro nunca o é. E a Ana Paula sabe bem o valor do que é publicar. Essa, por si só, seria a razão mais válida para a convidar a estar hoje comigo. Mas não é a principal razão. A verdade, é que eu precisava de mais uma amiga a quem abraçar, pura e simplesmente. E para estar aqui presente na discussão pública da minha felicidade. Obrigado por estares comigo, pelo teu apoio. 

Não posso deixar de homenagear o meu avô, a quem dedico este livro. Senti sempre que a força de o fazer vem dele e da felicidade de o ter comigo na infância e adolescência. Se pudesse resgatar pessoas à morte, convidava-o a voltar. De qualquer forma, ele viverá sempre em mim. Eu também sou ele, de múltiplas e variadas formas.

A minha família, meu rumo e prioridade máxima, ajudou-me sempre a ser genuíno. Não podia ter mais sorte em ter os pais que tenho, as irmãs que tenho, avó, os tios e primos que vivem comigo. Eles são a força que me inspirou a escrever, o meu livro é o espelho de muitas memórias passadas com todos eles.

Por último, quero agradecer a todos vós por este instante. Acreditem que bastaria uma pessoa apenas para me fazer sentir bem, mas fico muito contente por contar com muitos amigos na plateia.

Aventurem-se a descobrir este livro, terei todo o prazer de o discutir convosco. Muito obrigado a todos.

  foto: André Gomes

*Rodrigo Ferrão, no dia da apresentação de «Todos os tempos verbais», na Livraria Snob, Guimarães 

Agradecimentos: David Pintor | Ana Almeida | Ana Paula Oliveira | Helder Magalhães | Clara Amorim | Sara Costa Leite | Daniel Gonçalves | Emília Araújo | Duarte Pereira | Eduardo Fernandes | Livraria Snob | RealBase