sábado, 10 de novembro de 2012

Cronicando pela Ásia... Floating Market (Capítulo II)

Floating Market, 17 de Abril 2009
Capítulo 2


Sabia que ia ver um mercado na água. Mas não imaginava o exotismo que me convidavam experimentar. Pura e simplesmente fui largado numa canoa em pleno canal de água, conduzida por uma senhora. E este levou-me em curvas e esquinas a uma Veneza dos pobres. Num sítio mágico.

Cada canoa levava umas cinco pessoas. A Sra. que nos conduzia parava nos sítios que nós pedíamos. Atracamos numa vendedora que tinha o seu barquinho estacionado na margem a vender chapéus. Alguém comprou alguma coisa. Depois continuamos por ali fora, a ver tudo o que possam imaginar: venda de bebidas, comida, fruta, colares e pulseiras, vestidos e roupa... E, claro está, sempre a regatear preços. É normal e cultural que assim seja.

O passeio vai até ao fim daquela rua de água cheia de barcos a irem de encontro uns aos outros, de estrangeiros sedentos de levar uma recordação para casa. Somos deixados, por fim, no mesmo sítio onde iniciamos. E vamos ver os pavilhões de coisas que existem nas margens. É difícil não levar nada. Mas eu resisto.

Fica um vídeo. Deliciem-se...



Rodrigo Ferrão

Hoje há Bairro dos Livros no Porto! O tema é «Ler é um vaivém..."


PROGRAMA:

* UNICEPE * 15h00-17h00
Pr. Carlos Alberto, 128
OFICINA INFANTIL Aventuras Urbanas
Construção de “Vai e Vens”

* UNICEPE * 16h00-16h30
Rua Cândido dos Reis, 115
HORA DO CONTO por Rita Pinto
“A Onda” de Suzy Lee

* INCM * 16h00-16h30
Pr. Gomes Teixeira, 1 a 7
ENTRE VISTAS
por Bernardino Guimarães
CHE GUEVARA E FERNANDO PESSOA
(A. Pedro Ribeiro + Nuno Meireles)

* ELÉCTRICO VAI E VEM * 17h30-19h00
Pr.dosLeões-Batalha-Pr.dosLeões
“TRANS-” performance poética
por Grupo de Teatro da Faculdade de Letras da UP num percurso de eléctrico pela baixa do Porto.

* JANTAR DOS BAIRRISTAS * 20h00-21h30
Restaurantes da Cordoaria

* GATO VÁDIO * 21h30-22h30
Rua do Rosário, 281
Apresentação “Círculo Rimbaldiano”
Curso livre online na plataforma “moodle”
por Associação Cultural Sapato 43

* Coffe House MOUSTACHE * 22h00-24h00
Pr. Carlos Alberto, 104
CINEMA “VAI E VEM”
de João César Monteiro
por Cineclube do Porto

a-ver-livros: ao pé de Peder Jacob Marius Knudsen

Não te distraias
que a chinela cai-te do pé

e pode o coração cair-te com ela
que é onde o coração mora
quando vivemos com os pés
e nos distraímos a ler

* para conhecer mais do pintor dinamarquês Peder Jacob Marius Knudsen (1868-1944)
siga o link /www.eclecticartgallery.com/artists/19thcentury/knudsen


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Das Utopias e das suas Histórias


"A História das Utopias", escrito e editado em 1922, é uma obra na qual Lewis Mumford faz a análise das utopias históricas, partindo da distinção entre utopias de escape e utopias de reconstrução, nestas incluindo a maioria das utopias literárias clássicas - de Platão a Edward Bellamy, passando por Thomas More, Bacon, Campanella e outros. Inspirado nos valores humanistas, Mumford adverte-nos das derivas autoritárias susceptíveis de desfigurarem na prática os ideais mais sublimes.

Lewis Mumford nasceu em Nova York. Estudou no City College nova-iorquino e na New School for Social Research. Colaborou em publicações, e seus primeiros textos publicados tanto em jornais como em livros, firmaram a sua reputação como escritor interessado pelas questões urbanas.

No modo de vida utopiano, cada homem goza da possibilidade de ser um homem porque ninguém tem a possibilidade de ser um monstro. O principal objectivo do homem é crescer até atingir o limite da estatura da sua espécie.

De olhos bem abertos, o livro "História das Utopias" é uma reflexão sobre as utopias históricas e sobre o seu papel enquanto objecto literário e projecto social, não descurando o autor uma análise ao perigo dos seus desvios político-sociais. O percurso de vida e o olhar lúcido do escritor norte-americano foram um contributo positivo e humanista para várias áreas como o urbanismo, a filosofia, a antropologia, a arquitectura e a ciência política, e ,talvez por isso, Mumford, no primeiro livro que publicou, não se limite a descrever as utopias como ideias puras – da República de Platão à Utopia de More, da Cidade Sol de Campanella ao Falanstério de Fourier –mas problematize a utopia como projecto de intervenção, nomeadamente na criação das cidades e no planeamento urbanístico.


E serve a obra e o exemplo de Munford para nos interrogarmos se hoje não estaremos docilmente a fazer parte dessa mal-dita última utopia: não só transformar cada ser humano numa máquina de produzir e consumir mas, mais perverso e subtil, transformar cada homem num anti-utópico?

Órfãos ou não das grandes e pequenas utopias – para o bem e para o mal – é difícil prever a criação de um mundo mais humano se cada indivíduo perder a capacidade de imaginar a utopia.

Em Portugal está editado, desde 2007, pela Antígona numa edição muito bem conseguida quer na tradução, quer no arranjo gráfico. Disponível com facilidade nas livrarias aguardamos que um dia nos cheguem outros títulos seus, dos quais se destacam "The Culture of Cities" (1938), "The Condition of Man" (1944), "Art and Technics" (1952) e "The City in History" (1961).


1º Parágrafo: O Amor nos Anos de Chumbo


No dia em que Rafael Leocádio se apaixonou, teve um sonho premonitório. Eram três da manhã quando acordou, atordoado por um sobressalto súbito. O primeiro gesto que fés e foi deitar a mão à espingarda, que descansava encostada à divisória gradeada do estábulo, com a coronha enterrada na palha seca onde se deitara. Com a estafa da longa jornada, que já ia em cinco dias, aquelas poucas horas de descanso, que o brigadeiro José de Sousa Reis autorizara à guerrilha, tinham passado numa fracção de segundos. A mesma fracção de segundos que o levou a armar o cão bacamarte, que fora de seu pai e, antes dele, de seu avô, o coronel Ramiro Leocádio.


* E.S. Tagino é o pseudónimo de António José da Costa Neves.
* Este livro ganhou o prémio Poesia e Ficção de Almada de 2008.

a-ver-livros: a morte e JoJo (Joe Christopher)

Quero só dizer 
que não morri
Tenho apenas um livro novo
para ler

e acho que perdi noção do tempo

* para conhecer mais das ilustrações de JoJo (Joe Christopher)
basta seguir o link jojosartworks.com

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

desenhOS cegOS


- Desenhos cegos.
Se me fizessem perguntas, sobre ela, sobre a forma como levava a sua vida.
Como se as vidas fossem malas de mão, coisas de levar e trazer, de pôr e tirar.
Acho que seria essa a minha resposta.
- Desenhos cegos.
Sim, eu explico, são desenhos que resultam de se olhar o tempo inteiro para o objecto em reprodução e nunca para o papel.
Ela era assim, nunca olhava para o papel, eram-lhe indiferentes os resultados dos gestos.
E não era egoísmo.
Não era egoísta.
Talvez uma mistura de ingenuidade e transparência, talvez de boa vontade e urgência.
Tinha:
A ingenuidade dos crédulos.
A transparência dos puros.
A boa vontade dos condescendentes.
A urgência dos que perceberam prematuramente da brevidade da vida.
Assim, levava a vida a correr, um cavalo de corrida, ansioso, não pela meta mas pela próxima volta, como se a próxima volta a última volta.
Motivo porque lhe chamavam leviana.

Leviana... leve... leva... ligeira… corria... voava…ávida… alvoraçada… ansiosa...

Mesmo motivo porque, para mim, foi a pessoa mais consciente de si e de tudo o que fazia que conheci.
Era exemplar.
Põe quanto és no mínimo que fazes, quando escreveu isto, sem saber, sequer suspeitar, Ricardo Reis, escreveu sobre ela.
O verso assenta-lhe como uma luva.
Nunca a vi de luvas.
Apesar das mãos, sempre frias.
Talvez, o Poeta, talvez?, de certeza!, tivesse gostado de a conhecer.
Não é difícil imaginá-los, um fim de noite de Verão, um amanhecer, um passeio à beira mar numa qualquer praia do tal país abençoado por Deus e bonito por natureza, o Dr. Ricardo Reis de smoking, o laço já desfeito, dois botões desapertados, ela de vestido de noite, as costas nuas, perfeitas, tudo nela merece um poema, o vestido obviamente verde, escuro, a sua cor preferida, abusava do verde, abusava de tudo o que gostava, os sapatos de salto a baloiçar de forma negligente presos por um dedo da mão direita, e os dois leves, levianos, trôpegos, vagamente ébrios, felizes, a discutir efeitos e consequências da luz da lua sobre os movimentos circulares entre aurículas e ventrículos, sustentando a tese, por analogia, com os demonstrados efeitos da lua sobre as marés.
Como se a lua uma estrela.
Como se não um planeta.
Como se não fosse suficiente a poesia.
 
Raquel Serejo Martins




Quem está hoje na página do Google?


O irlandês Bram Stocker! Quem já leu?

1º Parágrafo: O Rei dos Álamos


3 de Janeiro de 1938. – És um ogre – dizia-me Raquel de vez em quando. Um Ogre? um daqueles monstros feéricos vindos da noite dos tempos? Creio, de facto, na minha natureza feérica, ou seja, na conivência, secreta e profunda, que liga a minha aventura pessoal ao curso das coisas e lhe permite inflecti-lo a seu favor.


* Tradução de Joana Morais Varela
* Michel Tournier nasceu em Paris, em 1924. Escritor de tendência simbolista, recebeu, em 1967, o Grande Prémio de Romance da Academia Francesa.

a-ver-livros: depois de James Bentley

Depois das primeiras linhas 
jamais voltará a ver o mundo
com os mesmos olhos

Depois do primeiro beijo
jamais voltará a sentir 
as mesmas borboletas

Depois da primeira morte 
jamais os seus sorrisos
virão do mesmo sítio

* para conhecer mais da pintura do canadiano James Bentley
basta seguir o link www.jamesbentley.com

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Os Dias do Arco-Íris de Antonio Skarmeta, em Novembro a leitura do mês


Chile, 1988. O país vive a repressão da ditadura de Pinochet desde o golpe de 11 de Setembro de 1973.

Os tempos são de luta mas também de alegria. Nada mais apropriado do que este livro para leitura do mês. Obviamente incomparável pela dureza das situações mas talvez uma boa reflexão sobre as repetições históricas dos erros históricos dos povos, dos seus erros, dos seus políticos e da capacidade de superação das situações.

A geração da liberdade de Allende desiludida e pouco esperançada e a geração conformada mas em busca da alegria que vai ser essencial na vitória do Não no referendo de 1988. Pais e filhos em busca de uma solução.

Em Portugal foi publicado em 2011 pela Teodolito, chancela das Edições Afrontamento, coordenada pelo editor Carlos da Veiga Ferreira. "Os Dias do Arco-Íris", é a nossa leitura para Novembro.


Pelas mãos de Antonio Skarmeta, multi premiado e mundialmente conhecido pela obra O Carteiro de Pablo Neruda, mais tarde adaptada a cinema. Foi membro do Movimento de Acção Popular e Unitária (MAPU). No ano de 1973 era professor de literatura da Universidade do Chile, e diretor teatral. Já havia produzido um filme sobre a Unidade Popular com o director alemão Peter Lilienthal, no qual publicou mais tarde (1982) a novela "La Insurrección". Devido ao golpe militar em Chile teve que sair do país em companhia do cineasta Raúl Ruiz. A primeira escala foi Argentina, onde residiu durante um ano. Em 1989 regressou ao Chile após o longo exílio de 16 anos. Criou um programa de televisão chamado "O show dos livros".

Da literatura chilena dos exilados ainda temos muito para ler e ainda há muito para escrever. 

1º Parágrafo: O Homem Que Via Passar Comboios


No que toca pessoalmente a Kees Popinga, temos de admitir que às oito horas da noite ainda era tempo, pois que, assim como assim, o seu destino não estava fixado. Mas tempo de quê? E podia ele fazer outra coisa além do que ia fazer, persuadido aliás de que os seus gestos não tinham mais importância do que durante os milhares e milhares de dias anteriormente decorridos?


* Tradução de Germeniano Cascais Franco
* Georges Simenon de origem belga, é o quarto autor de língua francesa mais traduzido no mundo
* O Comissário Maigret é o seu personagem mais popular

a-ver-livros: de viagem com Nathalie Boissonnault

Há uma princesa num livro de contos
e há sol na minha memória
e há a tua presença tão perto
dos meus pés descalços

Adivinho o teu respirar por entre
o cheiro suave dos brincos de princesa
e sei de cor os sorrisos que já não tenho

* para conhecer mais do trabalho da pintora canadiana Nathalie Boissonnault
siga o link www.boissonnault.com

terça-feira, 6 de novembro de 2012

What I should read next? O que devo ler ler a seguir?


Uma das coisas que mais impacientam leitores vorazes de livros, é o facto de quando terminam de ler um livro que gostaram muito, e não conseguem encontrar nada parecido ou semelhante para lerem de seguida. Vocês bem tentam, pesquisam, conversam com um e com outro e nenhuma destas buscas vos leva a encontrar algo equivalente para continuar a desfrutar da sensação de prazer que a última leitura vos proporcionou.

Problema mais ou menos resolvido! Com o site é o "What Should I Read Next?"
Escrevam no campo de busca o nome do livro ou do autor, e o banco de dados do site analisa a informação e gera uma relação de recomendações de obras semelhantes àquela que você acabou de ler.

Ponto negativo da ferramenta é que só procura livros em inglês, portanto, a dica é: pesquise qual é o título original em inglês, do livro, e faça a busca. Depois de gerada a lista, seleccione o nome do autor e pesquise a relação dos seus livros na livraria mais próxima.

A página permite registo de utilizador para melhor trabalhar as suas buscas e está disponivel com partilha de informação numa série das mais importantes redes sociais.

Clique na imagem para aceder ao site.

1º Parágrafo: O Agente da Catalunha


O som do tiro ecoou por cima dos telhado e projectou-se rua abaixo no momento em que Rafael Alabaça espreitava à janela de um segundo andar da Rua Direita. Intrigado sob a origem do disparo, suspende no ar a mão direita onde segura a navalha de barba ainda branca de espuma, esquecendo por momentos o sangue de um corte feio que lhe escorre pela face, como uma grossa lágrima vermelha. Pouco antes, os sinos pequenos da igreja paroquial tinham entoado as duas badaladas das seis e meia da manhã.




a-ver-livros: pois perante GretelGirl

Pois, livros.
Pois, em pilha.
Pois, o traço.
Pois, o aniversário.
Pois.

Mas o meu olhar não consegue separar-se do interruptor.

* para conhecer mais do trabalho da jovem australiana Tracy Chaplin,
que dá pelo nome de GretelGirl siga o link www.gretelgirl.com

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Poema à noitinha... Halldór Laxness (in «Gente Independente»)

Não tenho por hábito sublinhar tantas ideias num livro. Nem forçar as pessoas a ler as coisas que gosto. Por isso, qualquer repetição de autor e livro neste blog... é mera coincidência desprovida de sentido!

Não é só prosa que encontramos em Laxness. A narrativa vai sendo cortada com poesia. E se muita dela tem a ver com antigas canções Islandesas ou lendas, há também matéria que extravasa a ilha e conquista um mundo mais vasto.

É assim que nos chega este pedaço. Com um título condicente com o blog. Um tema universal (talvez «o tema»)... e que certamente cumpre a mais básica função da poesia: a emoção!


Literatura

«Recordo uma rapariga de tenros sentimentos
as suas palavras doces eram,
tinha a testa nítida envolta em cabelos louros,
meus braços refúgio lhe deram.

Seus olhos afectuosos e vivos
nas suas órbitas vagavam
de faíscas de luz envoltos
como o Sol brilhavam.

O nariz envolto na pele branca
tudo na sua perfeição
bem assente a pequena narina
tudo com a máxima afinação.

A sua face era branca e rosada
e as maçãs do rosto coradas,
pareciam as duas bochechas
sangue de neve derramada.

Moça de requisitos únicos
como nas aventuras se encontravam
os seus lábios carnudos
na sua beleza bem assentavam.

As brancas bochechas coradas
a alegria das suas palavras,
tempos antigos me saúdam
em imagens na memória guardadas.

O silêncio arrebatou, a terra absorveu
a minha beldade tão querida,
não pude mais viver neste mundo
a minha paixão estava perdida.»

*In «Gente Independente», Halldór Laxness. Editado pela Cavalo de Ferro. 

1º Parágrafo: Pulp


Estava sentado no meu escritório, o contrato de arrendamento tinha chegado ao fim e o McKelvey tinha dado início ao processo de despejo. Estava um dia de calor infernal e o ar condicionado estava avariado, uma mosca arrastava-se pelo tampo da secretária. Estiquei a palma da mão e mandei-a para o galheiro. Limpava a mão à perna direita das calças quando o telefone tocou.


* Tradução de Vasco Rato
* Revisão de Manuel Eugénio Fernandes
* Pulp foi o seu último romance.

a-ver-livros: dias e Peter Worsley

Há dias assim, em que não sobram palavras nem poesia
nem sequer vontade de respirar.

Há que procurar o mar e um bom livro.
E há hipótese de sobreviver.
* para saber mais sobre o pintor britânico Peter Worsley
siga o link www.peterworsley.com

200.000 - A viagem continua!

"Visita-me enquanto não envelheço", escreveu Al Berto. 




O mundo das palavras não envelhece. Nem o Clube de Leitores. E adora visitas, a toda a hora. Por isso não estranhem que, por aqui, estejamos felizes por ultrapassar a fasquia das 200 mil visitas.

São sinais de que não estamos sós neste amor pelos livros, pela literatura, pela leitura. Sinal de que o trabalho que vamos desenvolvendo tem eco no vosso coração. 

Obrigada, muito obrigada por estarem connosco. 
A viagem continua.



domingo, 4 de novembro de 2012

Poema à noitinha... José Miguel Silva

A caminho do Fogão

«Adoro essa paixão absurda que tens por Hitchcock,
o ar despenteado com que chegas a casa e me dizes:
outra vez sopa de nabos; adoro a impaciência com
que me arrancas aos diálogos com o nada, quando
me contas os teus feitos na república do frio; adoro
a tua insónia, os teus escrúpulos morais, a tua esponja
de banho, o teu espírito lavado por agudos desenganos;
outrossim acompanhar-te nas perguntas sublinhadas
pelo tempo, e o teu corpo possuído pela mágica
da música amorosa, quando dança seminu à minha
frente e eu só penso: que bem feito está o mundo.»


*Sérem, 24 de Março; Averno, 2011.
  

Cronicando pela Ásia... Floating Market (Capítulo I)

Floating Market, 17 de Abril 2009
Capítulo 1

Saio de Banguecoque às seis da manhã. Nem dá para acreditar que tenho que sair da cama. Se estivesse em Portugal era provável que atirasse o despertador pela janela fora.

Preparo-me para ver o "floating market". Traduzindo o conceito, é literalmente o "mercado flutuante". E se é flutuante, as pessoas vão às compras em barcos. Neste caso, em canoas!


Antes de partir, ainda deu tempo para ir ao "seven-eleven". É o supermercado que se vê um pouco por toda a parte e que está aberto 24 horas por dia. É lá que tomo o pequeno almoço. Existem imensos refrescos de fruta, "ice-coffes" de meio litro, bolos e snacks.

De barriga cheia, saímos e vamos ter com a agência que nos vem buscar. Uma mini van está a caminho para recolher os estrangeiros. O destino promete e vai meter muita água.

Ficam duas imagens daquilo que vamos encontrar... Na próxima crónica conto esta experiência única.


Rodrigo Ferrão

a-ver-livros: alinho com Penelope Dullaghan

Uma linha de domingo 
enleia-se no meu olhar
de outono

alinho a ficar entre o linho
há uma almofada e um livro

* para conhecer mais do trabalho da ilustradora americana Penelope Dullaghan
siga o link penelopeillustration.com