sexta-feira, 7 de maio de 2010

GREEN GOD, Eugénio de Andrade

Constança Barras Romana publicou este poema no grupo do facebook. E por lá anda à mercê de alguns comentários...

GREEN GOD

Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era um corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce. .
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar. .
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar. .
E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.

Eugénio de Andrade.

Respondo-lhe:

eu - GÉNIO de Andrade. O nome não é ao acaso!

Pergunta Constança: 'Meu caro José Fontainhas, porque terás renascido em Eu-Génio? Deambulações para o próximo post!!'





O cão e os caluandas, Pepetela

Uma boa frase para ilustrar o 25 de Abril é de Pepetela: "A sinceridade é o primeiro princípio do marxismo e informar com verdade é fazer a Revolução". Virando radicalmente de assunto, mas mantendo-nos no mesmo livro, retirei esta frase singular: "Quando um casal começa a cansar-se de o ser, tem de aparecer o terceiro elemento, ou para rebentar de vez com a ligação errada, ou para a renovar. Geralmente é um filho ou um amante". O cão e os Caluandas é um livro perfeito. Vários contos acerca de um cão que anda por Angola e que retrata esplendorosamente este país. De Pepetela conheço este e mais um, apesar de ter comprado mais uns quantos (a aguardar leitura). Este é realmente um prazer. Até hoje tinha lido um livro dele que me tinha deixado extremamente desapontado - o terrorista de Berkeley, Califórnia. Mas este redimiu. E de que maneira!

Maria Isabel Matos Pereira, responde a este comentário:

'Rodrigo, esta obra de Pepetela é para mim uma dos melhores que ele escreveu: de facto o livro encerra uma crítica feroz à governação de Angola nos anos oitenta simbolizada [a governação/o poder] pela buganvília [uma planta cujas raizes quando se instalam em qualquer sítio não "largam" a terra e vão fundo "sem olhar a consequências", rebentam com muros, com alicerces de casas, enfim...] É um livro totalmente metafórico e excepcionalmente bem escrito porque premonitório do que acontece hoje no país.
E já agora, permita-me que lhe recomende aquilo que eu considero a leitura sequencial da obra de Pepetela - claro que é uma apreciação pessoal que o Rodrigo pode alterar:"A geração da utopia"[sobre o sonho de uma geração/ões de lutar contra o colonialismo/fascismo e o desencanto dessas mesmas gerações alguns meses após a declaração de independência do país. Alguns dos melhores abandonaram/outros se suicidaram] , "Maiombe" [sobre a luta de libertação nacional], " Yaka", " A gloriosa família" [para mim a obra prima de Pepetela de leitura quase obrigatória de um escritor que ganhou o prémio Camões.]Tendo já lido "O cão e os caluandas"- que eu situaria entre "Maiombe" e "Yaka" - pode ler todo o resto da obra que ele escreveu - algumas coisas muito menos boas - que já não constrói uma imagem decepcionante deste escritor.'

Retiro mais uma frase: Ainda deste livro, anotem: "a verdade é como um diamante, reflecte a luz do sol de mil maneiras, depende da faceta virada para nós"

Maria Isabel volta a publicar: 'A verdade e a justiça são SEMPRE um produto de correlação de forças em presença: o que é verdade e justo para mim pode não o ser para outrém...e como o direito REGULAMENTA relações de produção [no sentido marxista dos termos] a frase do livro ganha uma nova visibilidade/luminosidade.'





Uma antologia, W. B. Yeats

Poesia...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Orgulho e Preconceito e Zombies, de Jane Austen e Seth Grahame - Smith


Jane Austen está na moda... Mas por motivos bem diferentes dos que a consagraram com Orgulho e Preconceito, Emma ou Sensibilidade e bom senso... Agora a Jane Austen vira-se para os Zombies! Sim, leu bem - ZOMBIES! Seth Grahame-Smith é o responsável por esta mudança e promete criar alguma polémica... Algo me diz que o mercado dos adolescentes vai aderir em massa, fazendo deste livro um dos maiores sucessos de 2010. Não sou 'futurolista', a ver vamos...

A propósito deste tópico, Pedro Nora disse:

'Que espectáculo, isto vai sair em português? Confesso que ainda não li (porque também deve ter mais piada para quem conhece o original) mas acho uma piada à ideia (só o titulo faz-me rir).

Também já há uma parodia do Sensibilidade e Bom-Senso, intitulada "Sense and Sensibility and Sea Monsters". E também as obras portuguesas não escapam desta moda (já anda por aí o "Viagens na Minha Terra com Vampiros").'

Rematei a conversa...

'O sense and sensibility and sea monsters vai ser um dos próximos da série! Vão ser três, julgo eu. E este livro vai dar origem a um filme, que deve estrear no próximo ano'

As cidades Invisíveis, Italo Calvino


Lido em Maio do ano passado, não esqueço as importantes lições que este livro me trouxe. Quero aconselhá-lo a todos os que gostam de viajar. Junto o conselho aos que sonham, aos que acreditam na utopia, e, por fim, aos que lêem sentindo que estão no lugar descrito pelo autor...

Nascido em Cuba, mas criado em Itália, Calvino deixou-me estes dois pensamentos:

"Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos."

"Chega-se a um momento na vida em que da gente que se conhecem são mais os mortos do que os vivos. E a mente recusa-se a aceitar outras fisionomias, outras expressões: em todos os rostos novos que encontra, grava as velhas feições, para cada um arranja a máscara que melhor se adapta."

Adoecer, Hélia Correia


«Havia nela como que uma falha que provinha talvez da exaustão e da deficiência alimentar, dando-lhe um ar furtivo, de gazela, que fez cair as apresentações.Lizzie passou para detrás da porta abandonada que servia de biombo e regressou vestida de rapaz. Apanhara o cabelo sobre a nuca. Mostrava as pernas e isso produzia um curioso efeito assexuado. Gabriel adiantou-se e começou a ocupar-se da figura que faltava, não nos papéis de esboço, mas na tela. As personagens masculinas já se achavam muito avançadas. Ele posara para bobo. Os pré-rafaelitas provocavam situações de enteajuda em que existia, a par de exibição, sinceridade.Deverell e Millais arrefeciam, de pé, imóveis e a perder entusiasmo. Viam em Lizzie a rapariga magra e de feições irregulares que até então não tinham visto. A narrativa de Walter, que avassalara o próprio narrador, deixava de exercer influência e a temperatura dos seus corpos ressentia-se. Esfregavam os braços, percebendo toda a impiedade do Inverno. Observavam Rossetti e Miss Sid que estavam sós, naquilo que talvez fosse o encontro do pintor com o modelo. Porém sentiam desconforto, como se presenciassem uma cena íntima. Lizzie, que mantivera a posição sem vacilar nos dias anteriores, vergava as costas, inclinada para o chão. Era um abatimento poderoso sob o qual circulava alguma glória. John Everett Millais compreendeu a origem do fascínio de Miss Sid. Tinha um corpo selado na tragédia, um apetite sacrificial. "Hei-de pintar esta mulher", pensou. Imaginava-a num cenário de narcisos. Não sabia que estava a vê-la morta.»

Os melhores do ano

Suspeitos, como sempre, os conselhos de quem vive dos livros. No entanto, são sempre uma opinião válida nas nossas escolhas e não nos são indiferentes.

O blogue da feira do livro em Lisboa publicou a lista dos melhores do ano para cinco pessoas intimamente ligadas aos livros

José Mário Silva, Jaime Bulhosa, João Morales, Isabel Lucas e Rui Lagartinho nomearam uma série de bons títulos.

Dentro da subjectividade das escolhas, o grande consenso parece ser 'Disse-me um adivinho' de Tiziano Terzani, publicado pela mão da Tinta da China. Editora responsável pelo lançamento de uma série de testemunhos de literatura de viagens.

Nomeio os que comprei, tendo apenas lido um (à data) e digo, desde já, o encanto que foi descobri-lo: 'A ilha' de Gianni Stuparich. Em breve falarei dele.

:: Adoecer, de Hélia Correia (Relógio d'Água);
:: A Música da Fome, de JMG Le Clézio (Dom Quixote);
:: A Montanha Mágica, Thomas Mann (Dom Quixote)
:: Derrocada, de Ricardo Menéndez Salmón (Porto Editora);
:: Ó, de Nuno Ramos (Cotovia).





Livro de Maio - O grande retrato, Dino Buzzati



Este é o primeiro livro do clube de leitores, para discussão. Vou começar a lê-lo amanhã e pretendo fazer um texto de opinião (neste fim de semana) acerca das primeiras 50 páginas. Vou lançando metas de discussão para as semanas seguintes e definindo o ritmo de leitura - tanto aqui como no grupo do facebook.

Deixo o texto que me motivou a criar esta iniciativa e uma breve descrição do tema. Fica para aguçar o apetite e ganhar adeptos para esta acção!

Sugiro algo inovador: discutirmos um livro na última semana de cada mês. As três primeiras ficam para comprar e ler o livro que for seleccionado. A primeira escolha caberá a mim, mas, nas seguintes, indicarei alguém para sugerir um. Para Maio será 'O Grande Retrato' de Dino Buzzati, publicado pela Cavalo de Ferro. Já sabem a quem comprar?

'«O grande retrato» marca o início da incursão de Buzzati num novo tema, o da feminilidade, até aqui quase ausente da obra do autor de «O deserto dos tártaros». O professor Ermanno Ismani chega com a sua mulher Elisa à Zona Militar 36 para aí participar num projecto científico secreto do governo, que reúne, em total isolamento, uma equipa com as melhores mentes do país. O projecto, que envolve a delicadíssima construção de uma gigantesca máquina, é liderado pelo misterioso professor Endriade, ainda perturbado pela perda recente da sua mulher, Laura, morta num acidente de viação. Este, a pouco e pouco, vai desvendando o produto final no qual todos trabalham, que se revela uma louca utopia com consequências morais devastadoras.'

As termas, Manuel Vázquez Montalbán


Li este livro há mais de um ano, mas ainda hoje me recordo das aventuras de Pepe Carvalho nestas termas em Espanha e na espantosa novela policial que Montalbán montou. Este é daqueles livros que só tropeçando nele. Foi o meu caso! Fica uma frase para os fãs de 'coleccionismo literário': "A morte é a única coisa que não tem conserto e que atinge por igual o famoso e o anónimo."

Sidereus nuncius, o mensageiro das estrelas. Galileu Galilei


Portugal esperou 400 anos pela tradução de uma obra de Galileu. Eu esperei bem menos... Ainda não o comprei, mas está para breve. Tenho que agradecer à Ana Rodrigues por ter começado um blogue e o seu primeiro texto ser acerca deste Senhor...

Os crimes da rua morgue e outras histórias, Edgar Allan Poe



"Assim como o homem forte exulta com a sua capacidade física, deliciando-se em exercícios que exigem a intervenção dos músculos, também o analista rejubila com a actividade espiritual que liberta"



quarta-feira, 5 de maio de 2010

Início de mais uma aventura


Este blogue nasce com o intuito de dar sentido ao grupo que criei no Facebook: livros no facebook.

Como existem dificuldades em discutir os temas deste grupo no mural e na criação de textos extensos, julgo ser imperativo o suporte deste blogue que, com certeza, trará mais visibilidade e maior interesse ao que se vai publicando.

São os livros e o vosso contributo que me fazem mover. Não sei se serei livreiro toda a vida, mas de livros falarei sempre. E este é o espaço certo para o fazer.

Obrigado a todos!