sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Breve Apontamento










Amigos,

Quanto mais avanço na história do nosso livro do mês - Crítica da Razão Criminosa - mais me convenço que foi uma excelente escolha.

A história adquire contornos de mistério e suspense, sem perder de vista o objectivo principal que, no meu entender, é mostrar a importância das várias formas de compreender a realidade.

A investigação dos vários crimes que retiram a paz à cidade de Konigsberg, aparece enquadrada num período da história muito conturbado - invasões napoleónicas - sendo que, a razão para tais horrendos crimes está, à primeira vista, intimamente ligada a questões políticas.

No entanto, o que torna mais interessante a leitura deste triller, não são propriamente os crimes, mas a decomposição das várias personagens que directa ou indirectamente, investigam os mesmos.

Desde um procurador jovem, ambicioso, cuja missão é devolver a harmonia à cidade, descobrindo o(os) assassino(s), mas que é sistematicamente confrontado com os fantasmas do passado; um médico alucinado que se considera detentor de poderes especiais: qual espírita em contacto com os mortos; passando por Emmanuel Kant, filósofo em reclusão e angústia intelectual... enfim um universo de histórias, dentro da própria história!

Tal como nos diz Kant, numa passagem do livro: "Arranque a máscara do rosto de qualquer homem e o que encontramos? Um coração sombrio por trás de um rosto sorridente, a madeira retrocida da Humanidade!"

Quanto mais leio, mais gosto! Espero que vos suceda o mesmo!

Um abraço na companhia de boas leituras.

Até breve,
EME

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Uma Nova Etapa na Vida a partir da Leitura de um Livro

"Somos subeducados, atrasados e analfabetos; e neste particular confesso que não faço grande distinção entre a ignorância do meu concidadão que não sabe absolutamente ler nada, e a ignorância do que apenas aprendeu a ler o que se destina a crianças e inteligências medíocres. Deveríamos estar à altura dos grandes da Antiguidade, mas em parte por saber primacialmente quão grandes eles foram. Somos uma raça de homens-passarinhos; nos nossos voos intelectuais mal nos alçamos um pouco acima das colunas do jornal.

Nem todos os livros são tão insípidos como os seus leitores. É provável que haja palavras endereçadas exactamente à nossa condição, as quais, se de facto pudéssemos ouvi-las e entendê-las, seriam mais salutares às nossas vidas que a própria manhã ou a Primavera, revelando-nos talvez uma face inédita das coisas.

Quantos homens não inauguraram uma nova etapa na vida a partir da leitura de um livro! Deve existir para nós o livro capaz de explicar os nossos mistérios e de revelar outros insuspeitados. As coisas que ora nos parecem inexprimíveis, podemos encontrá-las expressas algures.


As mesmas questões que nos inquietam, intrigam e confundem, foram postas por sua vez a todos os homens sábios; nenhuma foi omitida, e cada um deles respondeu de acordo com a sua capacidade, por meio de palavras ou da própria vida. De mais a mais, juntamente com a sabedoria aprendemos a liberalidade."

Henry David Thoreau, in 'Walden ou a vida nos bosques'

De Thoreau tenho 'a desobediência civil'. Já estive com Walden na mão. Depois do meu amigo Manel ter partilhado este pensamento, provavelmente Walden será meu amigo também.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O cliente...

O que é atender em Portugal? Nos livros...

Se dissesse que atender em livrarias deve ser dos trabalhos mais complicados de atendimento, provavelmente não acreditariam. É sempre uma opinião pessoal, já atendi noutros registos. No entanto, esta é uma profissão exigente a nível físico e cultural.

A maior parte dos clientes são indiferentes. Porém, mais de noventa por cento não diz 'olá' ou 'bom dia'. Utiliza-se muito o 'faz favor', o que não é sinónimo de educação porque é utilizado para se fazer notar.

Nos livros há duas razões que levam os funcionários tirar do sério: pedir desconto e queixarem-se de determinado livro não existir em parte nenhuma.

Para os descontos existe um cartão cliente em todos os sítios por onde passei. Não adianta fazer comparações entre as empresas, porque, em princípio, todas dão 10% de desconto em livros. Se as pessoas se queixarem que viram mais barato, é óbvio que eu não vou dizer "então porque não comprou lá?". Mas dava vontade, não dava?

A questão dos descontos existirem é uma moda errada que pegou quando algumas empresas estrangeiras entraram no mercado. Não são as editoras que comportam os descontos que se fazem nas livrarias. Depois, há muito a tónica do discurso de que os livros são caros. Eu sei que são, mas o problema está nas editoras, nunca nas livrarias.

Quanto aos livros não existirem em parte nenhuma, dirijo-me àqueles que resolvem procurar na véspera de entrega de um trabalho, exame, apresentação... Não me refiro àqueles que tentam encontrar um livro que sabem estar esgotado. A esses aplaudo o facto de terem esperança. Queixo-me, apenas, dos que de antemão sabem que precisam de um livro e depois descarregam a sua frustração quando não o arranjam.

É preciso dizer isto em letras grandes: conseguir livros em Portugal é muito difícil.

Fisicamente a maioria dos clientes não sabe o que é estar todo o dia de pé, carregar livros, desmontar caixas, expor, arrumar reposições de livros - um por um. Acredito muito nesta premissa: a minha profissão já foi prestigiante, hoje é vista da mesma maneira do que um emprego noutro tipo de atendimento qualquer.

E não pode ser. Não é justo para nós. Principalmente para alguns que procuram pôr o cliente acima de tudo, muito mais a que seria obrigado.

Muitos clientes também abusam do "Dr." ou outro título, não entendendo que, nos dias que corre, não faz sentido. Na minha loja trabalham, por exemplo, dois juristas, uma designer ou uma arquitecta.

Saber ou perceber de livros também não é fácil. Muitas vezes falam para nós do estilo, "tem o último cimi?". Confesso que, quando ouvi esta pergunta pela primeira vez, fiquei chocado. Não é a questão que preocupa, é a descontracção com que é feita. Quem atende em livros precisa de ter cultura: inevitável. Mas não pode dominar milhares de referências.

Obviamente que, por vezes, é impossível não sermos considerados ignorantes. Seremos sempre ignorantes enquanto alguém especializado falar connosco como um igual.

Fazendo uma limpeza a tudo isto, os bons clientes são poucos. Mas também são aqueles que nos dá prazer cumprimentar. Com alguns já fiz amizade. Outros confiam totalmente em nós e só a nós se dirigem. São esses que compensam a grande maioria que passa indiferente. E que me fazem gostar do que faço.

Nota: é completamente diferente trabalhar num centro comercial ou numa loja de rua. Talvez um dia escreva sobre isso...

Alguém quer dar opinião?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A. M. Pires Cabral

Dois poemas vos deixo:

A andorinha ou Tudo é relativo

'Da andorinha dificilmente se dirá
que é um animal feroz. Pelo contrário,
convém-lhe adjectivos como grácil.

Mas a grácil andorinha abre
para o mosquito uma boca aterradora.'


Velha entrevada

'Aquele que não conhece a doença
nem o progresso nem o desfecho dela
mal saberá que mal alumiado
poço de angústias é uma velha entrevada
disposta em cama de palha
que não lhe retarda - antes fomenta -
a podridão,

na esperança e no terror
de que tudo acabe em breve.'

A mulher de Porto Pim, Antonio Tabucchi

Este livro é um hino aos Açores. Mais etnográfico do que romanceado (a meu ver), 'A mulher de Porto Pim' acompanha a vida dos últimos baleeiros e de todas as tradições ligadas à caça da Baleia: fonte de subsistência, motor de economia local e motivo de procissão.

É uma história de corajosos aventureiros no mar e de tradições. Tabucchi tem o condão de nos encantar com descrições bem detalhadas do esforço destes homens numa pesca cruel.


Deixo-vos umas palavras que transcrevo. Boas leituras!

Uma baleia vê os homens

"Sempre tão atarefados, e com longas barbatanas que agitam com frequência. E como são pouco redondos, sem a majestosidade das formas acabadas e suficientes, mas com uma pequena cabeça móvel onde parece concentrar-se toda a sua estranha vida. Chegam deslizando sobre o mar mas não nadam, quase como se fossem pássaros, e infligem a morte com fragilidade e graciosa ferocidade. Permanecem longo tempo em silêncio, mas depois entre eles gritam com fúria repentina, com um amontoado de sons que quase não varia e aos quais falta a perfeição dos nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto."

Obras completas, Manuel Teixeira Gomes


Rodrigo Ferrão: E um breve comentário?

Fernanda Farrajota: Comecei hoje e estou encantada.

Rodrigo Ferrão: Confesso que não sabia que um dos nossos presidentes da República tinha sido autor. Total ignorância. Tenho que ir à INCM, julgo nunca ter visto a obra dele numa livraria comercialmente 'agressiva'!

Fernanda Farrajota: Penso que a maioria dos portugueses não conhece. Já há anos que andava com intenção de o ler. Aproveitei este ano que se comemora os 150 anos do seu nascimento para conhecer a sua escrita e como já referi estou encantada.

domingo, 12 de setembro de 2010

Livro, José Luís Peixoto

Julgo que não há 'livro' tão aguardado como este no que toca a autores portugueses no ano que corre.

Considero o título muito bem escolhido e original. Não sei bem o que esperar desta história, mas deixo-vos a sinopse. Acredito que José Luís Peixoto é, a par de Valter Hugo Mae e Gonçalo M. Tavares; um talento com créditos firmados. Faz parte de uma belíssima geração que tem - assim esperamos - muitos anos de escrita pela frente.



"Este livro elege como cenário a extraordinária saga da emigração portuguesa para França, contada através de uma galeria de personagens inesquecíveis e da escrita luminosa de José Luís Peixoto. Entre uma vila do interior de Portugal e Paris, entre a cultura popular e as mais altas referências da literatura universal, revelam-se os sinais de um passado que levou milhares de portugueses à procura de melhores condições e de um futuro com dupla nacionalidade. Avassalador e marcante, Livro expõe a poderosa magnitude do sonho e a crueza, irónica, terna ou grotesca, da realidade. Através de histórias de vida, encontros e despedidas, os leitores de Livro são conduzidos a um final desconcertante onde se ultrapassam fronteiras da literatura. Livro confirma José Luís Peixoto como um dos principais romancistas portugueses contemporâneos e, também, como um autor de crescente importância no panorama literário internacional."

Chamada de atenção!

Neste blogue escrevem dois autores de livros! Hoje a publicidade fica por minha conta...