quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Balanço desta aventura

Este espaço onde escrevo regularmente foi uma importante conquista que fiz no ano de 2010.

A história começou a ser desenhada em Março. Há já algum tempo que pensava organizar qualquer coisa onde pudesse falar dos livros que leio, publicar poemas que encontro, emoções ligadas ao meu trabalho... Aventuras e desventuras!

Tudo começou na rede social Facebook. Criei um grupo chamado 'livreiro no facebook' (actual 'livros no facebook').

Inicialmente o objectivo era prestar assistência a quem precisasse de informações acerca de livros. Rapidamente difundi o projecto entre os amigos, procurando fazer cartões de cliente da livraria onde trabalhava - Almedina na Rua de Ceuta.

A necessidade aguçava o engenho. Como era difícil conseguir que me fossem visitar a uma loja de rua, comecei a propor fazer o inverso: eu levo os livros ao cliente. Nada mais simples que uma conta bancária ou, então, dar-me o dinheiro em mão.

O negócio teve um impacto imediato e muito positivo. Entre alguns clientes, enviei livros para Ílhavo, Açores, Chaves...

Ganhei clientes 'adeptos'. Invoco a minha amiga Isa, a Constança e a Carla que escrevem neste blogue, o meu amigo Manel, entre muitos outros que me entusiasmaram com elogios e força.

Pessoas que se lembram de comprar um livro e recorrem a mim. Seja uma mensagem, um telefonema, um e-mail.

Tem sido muito gratificante. Não encontro palavras para descrever o prazer que isso me dá.


Voltando à história... Cedo me apercebi que era necessário apoio de um blogue para o grupo no Facebook. Este cresceu inesperadamente entre os amigos. O 'grande' problema foi quando os amigos dos amigos começaram a chegar. As editoras, livrarias, outros blogues, gente que eu não conheço...

Aí as coisas começaram a ser mais sérias. Não podia ter medo da plateia, tinha é que inventar maneira de continuar. O blogue nasce em Maio, poucos dias depois de mudar-me para outra loja: Almedina Arrábida, Vila Nova de Gaia.

Escrever sobre os livros que lia podia ser um pouco tendencioso. Não queria que fosse um espaço de um orador. Aliás, não leio assim tanto para publicar quase todos os dias um texto.

A solução chegou com um clube de leitores virtual. A ideia é discutir-se um livro todos os meses. Mas também aí quis inovar, transformar o blogue em algo diferente. Todos os meses convido uma pessoa para escolher um livro e falarmos dele. E assim apareceram outros escritores.

A ideia é chegarmos aos 12, celebrarmos um ano de escolhas. Depois voltamos a escolher no mês que nos calhou.

Além de amigos que fiz e que são, neste momento, virtuais; convidei pessoas que conheço bem. O grupo não podia ser mais interessante, porque tem escritores, livreiros, juristas, estudantes...

Hoje celebro igualmente os números que esta 'brincadeira' alcançou. O mês de Dezembro teve novo recorde: com mais de 100 pessoas todos os dias a abrirem páginas. Foram mais de 3 mil as visualizações neste mês - o dobro de Julho.

Tenho gente que deixa comentários regularmente, uma em especial (Isabel Vaz), escreveu-me para o mail. Pessoas em vários cantos do Mundo.

Quero deixar um abraço a todos. Feliz 2011!
A vossa força é a minha. Obrigado por tudo.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

SMS

Hoje, a segunda tirada das minhas descobertas pelo mundo desconhecido dos autores sem livro. Invoco o meu irmão (mesmo não sendo filho dos meus pais).

"Caminho é o destino, caminhar é a procura, com a certeza que enquanto caminhamos, felizes, assim a vivemos. Viva a vida. Abraço"

Daniel da Silva e Melo


15 de Março 2010, às 09.41.01h (hora portuguesa).

Primo Levi, o nosso livro em Dezembro

A leitura do livro 'Se isto é um Homem' de Primo Levi prossegue a bom ritmo. O novo ano trará uma análise mais profunda. Para já, devo confessar que estou impressionado.

Este não é nem pretende ser mais um relato. É um testemunho muito triste do que foi escapar a um campo de concentração. Tão triste, que fico espantado com o que leio. Prefiro não acreditar que foi possível...

Deixo-vos o texto da página 7.


Se isto é um Homem

'Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.'

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Tenho tanto sentimento

Não param de me enviar poemas de Fernando Pessoa...
E eu não me canso de os publicar!


'Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

E enquanto a vamos pensando
Enquanto a vamos vivendo
Divididos entre errada e verdadeira
O tempo vai passando.
E os anos vão roubando
Tanto tempo sem viver
Que a vida que a gente tem
Se é a que tem que pensar
Nem sempre é a que quer ter.'

O sangue dos Outros, Simone de Beauvoir

Cenário de Guerra. Da resistência. De quem não desiste de lutar contra a ocupação.

Os grandes dilemas existencialistas da liberdade. A necessidade de sobreviver, o ódio, a mentira.

'Todos somos responsáveis por tudo perante todos', a frase escolhida para abrir o livro. Uma frase de Dostoievski.

Confesso que foi complicado ler este romance. Simone de Beauvoir tem uma escrita densa, muito existencialista. É fácil perdermo-nos nesta história. Tive que voltar atrás, ler repetido, pousar o livro por uns tempos.

A trama é completamente secundária. Aliás, é o que menos interessa. São as profundas reflexões da autora que fazem o livro.


'Simone de Beauvoir (1908-1986) nasceu em Paris. Companheira de Sartre e amiga de Camus, esteve ligada desde muito cedo ao movimento existencialista. Autora de numerosos ensaios e romances, recebeu em 1954 o prémio Goncourt.'

Não aconselho esta leitura à maioria das pessoas. Nada neste romance é alegre e deu-me vontade, por vezes, de o largar. No entanto, quem gostar de ler devagar e pensar um pouco poderá encontrar aqui matéria...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Recado aos Amigos Distantes


Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.