sábado, 1 de fevereiro de 2014

Snobidando: T S Elliot

The Naming of Cats by T S Elliot

The Naming of Cats is a difficult matter,
It isn't just one of your holiday games;
You may think at first I'm as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there's the name that the family use daily,
Such as Peter, Augustus, Alonzo or James,
Such as Victor or Jonathan, George or Bill Bailey—
All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
Some for the gentlemen, some for the dames:
Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter—
But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that's particular,
A name that's peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat,
Such as Bombalurina, or else Jellylorum-
Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there's still one name left over,
And that is the name that you never will guess;
The name that no human research can discover—
But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
The reason, I tell you, is always the same:
His mind is engaged in a rapt contemplation
Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
His ineffable effable
Effanineffable
Deep and inscrutable singular Name.



Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Abre brevemente, em Guimarães. Pode lá encontrar este e muitos outros textos.

A biblioteca provável: Lori Nix

Adrien Remy nous dit:

«Lori Nix est une photographe new-yorkaise nourrie aux films de science-fiction. Pour une série de clichés, elle a créé un monde post-apocalyptique sous forme de dioramas, des scènes miniatures mises en places un peu comme un décor de théâtre. J'aime beaucoup cette bibliothèque "probable".»

Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder por nada! 

Carla Sá sobre «O senhor Pina» de Álvaro Magalhães


O senhor Pina
“O senhor Pina”, de Álvaro Magalhães é um livro-homenagem em que o seu autor ergue um retrato sensível e bem humorado do amigo, recentemente falecido, grande poeta (Prémio Camões 2011) e autor infanto-juvenil fundamental. 
Ao longo de 16 episódios, Álvaro Magalhães entretece o registo real com o ficcional para chegar a um sentimento de verdade, pois a verdade em literatura, como disse Manuel António Pina, é sentimento. Não admira, portanto, que o livro acabe com o seguinte diálogo entre o senhor Pina e o urso Puff (personagem de A.A. Milne que era uma referência dos dois autores, Álvaro Magalhães e Pina): “Parece que o livro acabou. Mas, afinal, isto é verdade, ou não? Ou é tudo imaginação? “, pergunta Puff; e o o senhor Pina responde: “Isto é verdade e não. E é tudo imaginação”.
É pois através de Puff, o urso com poucos miolos que empurra o senhor Pina, para deliciosas expedições em busca da “poesia fora dos poemas”, que se vai revelando o modo peculiar como aquele autor olhava a vida e a literatura.
Assim, tanto deparamos com episódios sobre a génese criativa de poemas e histórias, como sobre o seu lado mais humano e risonho (o Pina cheio de graça), com as suas idiossincrasias aqui, perfeitamente assinaladas: a falta de pontualidade, a procrastinação, o apego ao bigode, o gosto pelos advérbios, a arte de inventar desculpas, etc. Isto porque, como muito bem anuncia a epígrafe do livro: “As coisas sérias que cómicas que são”.
Um livro para crianças? Claro que não, embora, pela sua singularidade, elevação e acerto, escape aos protocolos mais imediatos da recepção. Livros assim servem para nos lembrar que não há géneros literários, apenas literatura. Ou, como diz, a certa altura o senhor Pina, quando ele for lido por uma criança é um livro para crianças, quando for lido por um adulto é um livro para adultos. Os livros não são “para”, os livros são.
*uma opinião de Carla Sá, seguidora do blog.

Foto frase do dia: James Joyce


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Isto é um post institucional: Clube de Leitores quebra recorde de audiência

Fica assinalado.
Obrigado.


Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

*Atribuído erradamente a Garcia Marquez. O texto é de autor desconhecido. Ver aqui.

Vencedores do passatempo «A rapariga que roubava livros»


Parabéns Pipi Meias Altas, Viciada em livros e Passarinho. Cada um dos três vai levar para casa o livro rapariga que roubava livros, de Marcus Zusak - uma cortesia da Editorial Presença.

O que têm que fazer agora? Contactar o blog para sabermos a vossa morada! Procurem-nos no facebook (na página ou no grupoou enviem email para: blogueclubedeleitores@gmail.com

O que se pedia era relativamente simples, responder à seguinte questão - Se pudesse, que livro roubaria? Porquê?

E estas são as frases vencedoras, com grande mérito. Parabéns!


Pipi Meias Altas

Se eu pudesse roubava um livro ou melhor roubaria um sempre se esse acabasse e assim sucessivamente... Ler transporta-me para mundos onde outras músicas podem ser ouvidas, cheiros e aromas sentidos, sentimentos e prazeres intensos e absorvidos em fascinios que me faz romper limites, gerações e preconceitos... Eu vivo vivendo a magia de ler um livro.

Viciada em livros

Gostaria mesmo era de roubar um livro ainda não publicado, o livro que estará a ser terminado pelo meu escritor preferido. Sim! Hoje quero ser egoísta, ser a primeira a ler esse livro que ainda não o é, e ser eu a escrever o último capítulo.

Passarinho

Desde que aprendi a ler que tenho uma sede ávida de livros e de leituras várias. Em miúda, devido à escassez de recursos, lia tudo indiscriminadamente, até os rótulos de embalagens de cereais, enquanto tomava o pequeno-almoço. Com o tempo, manteve-se essa sede de leitura e também a escassez teima em não me deixar comprar todos os livros que posso, mas não é por isso que roubar livros se torna necessário. Não hoje. Não roubaria nenhum livro porque possuo um cartão de utente de biblioteca, cartão mágico que me dá acesso a, não a todos mas, quase todos os livros que possa desejar.

*Consulte o livro no site da Editorial Presença: A Rapariga que Roubava Livros

Poesia que passa ao lado #2

É com o silêncio que as mulheres tecem
as roupas do mundo.

o fuso e a roca eram só instrumentos
(uma quase justificação)

As vestes são tecidas com o silêncio
com o sangue dos olhos
com as lágrimas dos dedos.

Com o silêncio e no silêncio as mulheres tecem
longas vestes
enormes tapetes e carpetes
belas e luxuriantes cortinas.


Com tudo o que tece, silenciosamente,
a mulher, do mundo tenta tapar
os buracos
tenta estancar o sangue
que corre copiosamente.



Conceição Paulino in "Autores Não Publicados, Assírio&Alvim"

a-ver-livros: cratera

Não me puxem pela saudade
que a tenho arrumada por cores
e por ordem alfabética

Não me puxem pelas lágrimas
usei-as para regar memórias
que me alegram os dias

Não me puxem pela dor
não quero virar as tripas
do avesso
ou mostrar-vos este lado de dentro
feito de alcatrão, saltos para o escuro
meia dúzia de tornados
e uma cratera no peito

Não há sol nestas entranhas
só despedidas


Ana Almeida *


 * publicado primeiro no blog http://www.analmeidices.blogspot.pt/

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eu poético: «Pó»



entre a existência e a morte, um segundo.

gabamo-nos da nossa individualidade -
de como somos belos,
fortes, invencíveis,
imperturbáveis,
jovens e bons.

o drama é nosso, não é dos outros.

porque eles
não compreendem,
não podem ajudar,
estão muito ocupados,
não vêem o tempo a passar.

um dia a alegria esgota,
a tristeza termina,
a angústia é esquecida
e a saudade arrumada.

aí alguém porá uma rosa,
dirá uma palavra amiga,
abrirá as mãos aos céus
ou cantará uma canção.

pouco tempo falta para deixarmos de ser únicos
e passarmos a ser iguais ao nosso destino:

sermos apenas pó
(lançado ao vento).

Rodrigo Ferrão


Foto: Rodrigo Ferrão

Poemas cantados 4: O sopro do coração



O Sopro do Coração
Sérgio Godinho para Clã *

Sim, o amor é vão
É certo e sabido
Mas então (Porque não)
Porque sopra ao ouvido
O sopro do coração
Se o amor é vão
Mera dor mero gozo
Sorvedouro caprichoso
No sopro do coração
No sopro do coração

Mas nisto o vento sopra doido
E o que foi do
Corpo no turbilhão

Sopra doido
E o que foi do
Corpo alado
Nas asas do turbilhão
Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas
Raras

Corto em dois limão
Chego o ouvido
Ao frescor
Ao barulho
À acidez do mergulho
No sangue do coração
Pulsar em vão
É bem dele É bem isso
E apesar disso eriça a pele
O sopro do coração
O sopro do coração

Mas nisto o vento sopra doido
E o que foi do
Corpo no turbilhão

Sopra doido
E o que foi do
Corpo alado
Nas asas do turbilhão
Nisto já nem de ar precisas
Só meras brisas
Raras

----- & ------

 
* "a música e a poesia são duas formas diferentes, que podem coincidir ou não. Além do mais, como é que se define exactamente o que é poesia?", questiona-se o cantautor Sérgio Godinho, na entrevista que pode ler aqui. Este poema/canção específico nasceu de uma parceria com a banda Clã para o álbum "Lustro", de 2000.



Foto frase do dia: Jane Austen

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Da Humanidade à Demagogia

Esquece-se demasiadamente que todo o autêntico dizer não só diz algo, como diz alguém a alguém. Em todo o dizer há um emissor e um receptor, os quais não são indiferentes ao significado das palavras. Este varia quando aquelas variam. Duo si idem dicunt non est idem. Todo o vocábulo é ocasional. A linguagem é por essência diálogo, e todas as outras formas do falar destituem a sua eficácia. Por isso eu creio que um livro só é bom na medida em que nos traz um diálogo latente, em que sentimos que o autor sabe imaginar concretamente o seu leitor e este percebe como se de entre as linhas saísse uma mão ectoplástica que tacteia a sua pessoa, que quer acariciá-la – ou bem, mui cortesmente, dar-lhe um murro.
Abusou-se da palavra e por isso ela caiu em desgraça. Como em tantas outras coisas, o abuso aqui consistiu no uso sem preocupação, sem consciência da limitação do instrumento. Há quase dois séculos que se acredita que falar era falar urbi et orbi, isto é, a todos e a ninguém. Eu detesto essa maneira de falar e sofro quando não sei concretamente a quem falo.
Contam, sem insistir demasiado sobre a realidade do facto, que quando se celebrou o jubileu de Victor Hugo foi organizada uma grande festa no palácio do Eliseu, da qual participaram, levando as suas homenagens, representações de todas as nações. O grande poeta achava-se na grande sala de recepção, em solene atitude de estátua, com o cotovelo apoiado no rebordo de uma chaminé. Os representantes das nações adiantavam-se ao público e apresentavam a sua homenagem ao vate da França. Um porteiro, com voz estentórica, anunciava-os:
«Monsieur le Représentant de l’Anglaterre!» E Victor Hugo, com voz de dramático trêmulo, virando os olhos, dizia: «L’Anglaterre! Ah, Shakespeare!» O porteiro continuou: «Monsieur le Représentant de l’Espagne!» E Victor Hugo: «L’Espagne! Ah, Cervantes!» O porteiro: «Monsieur le Représentant de L’Allemagne!» E Victor Hugo: «L’Allemagne! Ah, Goethe!»
Mas então chegou a vez de um senhor baixo, atarracado, balofo e de andar desgracioso. O porteiro exclamou: «Monsieur le Représentant de la Mésopotamie!»
Victor Hugo, que até então permanecera impertérrito e seguro de si mesmo, pareceu vacilar. As suas pupilas, ansiosas, fizeram um grande giro circular como que a procurar em todo o cosmos algo que não encontrava. Mas logo se viu que o achara e que recobrara o domínio da situação. Efectivamente, com o mesmo tom patético, com a mesma convicção, respondeu à homenagem do rotundo senhor dizendo: «La Mésopotamie! Ah, L’Humanité!»
Contei isso a fim de declarar, sem a solenidade de Victor Hugo, que não escrevi nem falei à Mesopotâmia, e nunca me dirigi à Humanidade. Esse costume de falar para a Humanidade, que é a forma mais sublime, e, portanto, a mais desprezível da demagogia, foi adotada até 1750 por intelectuais desajustados, ignorantes de seus próprios limites e que sendo, por seu ofício, os homens do dizer, do logos, usaram dele sem respeito e precauções, sem perceberem que a palavra é um sacramento de mui delicada administração.



Ortega y Gasset in "A Rebelião das Massas"

Saramago na Porto Editora

E cá está a notícia que se aguardava: a obra do prémio Nobel da Literatura José Samarago passa a ser publicada pela Porto Editora. O acordo com as herdeiras do escritor foi anunciado já esta tarde na página da editora.


José Saramago
foto: Céu Guarda
"As herdeiras de José Saramago escolheram a Porto Editora para editar e promover a obra literária de José Saramago, em papel e e-book, em Portugal e nos demais países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (à exceção do Brasil). O acordo entre as partes foi firmado hoje e nele se inscreve, também, o compromisso de definir estratégias conjuntas de divulgação da obra do escritor em todo o mundo, com especial atenção à comunidade lusófona.

Manuel Alberto Valente, responsável pelo departamento editorial que, na Porto Editora, tratará a obra do Prémio Nobel da Literatura, afirma que “é um privilégio acolhermos a vastíssima obra literária de um dos mais importantes escritores portugueses de sempre” e que “a Porto Editora é a melhor casa para um escritor da dimensão de José Saramago.”

Na escolha pelas herdeiras de José Saramago a favor da Porto Editora, para além de esta ser uma empresa totalmente portuguesa que se dedica ao livro desde a sua fundação, pesaram duas razões de particular significado afetivo: a de o Prémio Literário José Saramago, que desde 1999 distingue jovens escritores de língua portuguesa, ser promovido pela Fundação Círculo de Leitores (que integra o Grupo Porto Editora desde 2010); e o impulso que o Círculo de Leitores deu à carreira literária de José Saramago com a edição do livro Viagem a Portugal (1981), que veio a permitir que se dedicasse a tempo inteiro à escrita.

Com a entrada de José Saramago no nosso catálogo – onde já constam nomes como Mário de Carvalho, Valter Hugo Mãe, Sophia de Mello Breyner Andresen e Eugénio de Andrade – a Porto Editora afirma-se cada vez mais como uma referência maior na área da Literatura em Portugal.
"

ALA ... que é poesia XI

E quando a poesia de António Lobo Antunes chega a uma das mais bonitas vozes do nosso fado? O poema "Quando Julgas Que Me Amas" surge no disco "Não Há Só Tangos Em Paris", de 2011, da maravilhosa Cristina Branco. A ler e ouvir hoje, aqui. 

Ana Almeida


Quando julgas que me amas

Se perguntasse em redor
O que foi feito de nós
Que silêncio meu amor
À volta da minha voz

Não é a mim que tu tocas
Quando julgas que me amas
Que coisas dizem as bocas
Ao fingirmos que me chamas?

Uma só cama no quarto
E dois sonhos separados
Meu amor no teu retrato
Vejo os meus olhos parados

Não penses que perdoei
Só por te abraçar assim
Nem vás pensar que chorei:
Foi a vidraça por mim

Vesti-me da sua vida
Por dentro da minha pele:
Com a ternura assim escondida
Não vão dizer que sou dele

E guardo os olhos no lenço
Ao passar na sua rua
Quem sabe que lhe pertenço?
Quem descobre que ando nua?

Ele chega quando eu parto
Volto sozinha depois.
Só dentro do nosso quarto
De repente somos dois 


António Lobo Antunes


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

É do borogodó: bobinha

Num primeiro momento não vejo qualquer semelhança com Clarice Lispector, quer pela minha falta de talento com a escrita, quer pela evidência do ânimo, o tal estado de espírito que em mim é com ganas de alegria. Clarice parecia se ausentar de alegria. Mas talvez não fosse, afinal a aparência engana a todos (quantas vezes desconheço a aparência do meu próprio espelho).

Clarice parece ser feita de camadas como uma cebola. Não se finda e não faltam lágrimas a cada desabrochar. O coração avançava selvagem para digerir um pouco da evidente miséria humana.

Minha simpatia com Clarice é na falta de entendimento que descreve tão bem a arte de ser bobo. Ser um bobo que se permite viver a liberdade que não sabe usar. E usa sem mesmo saber.

Penélope Martins


VEJA O VIDEO SEGUINDO O LINK
http://www.youtube.com/watch?v=jxBm2P0AxnY&feature=player_embedded

Das Vantagens de Ser Bobo
 

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoiévski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: “Até tu, Brutus?”

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, como tolo, como fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


Clarice Lispector

Qual destas frases escolhem para ser a vencedora do passatempo «A rapariga que roubava livros»?



Qual destas frases escolhem para ser a vencedora do passatempo rapariga que roubava livros, de Marcus Zusak?

Estas são as quatro melhores frases a concurso. E vão agora a uma grande final que decorre até dia 31. As mais votadas ajudam o júri a decidir os vencedores e serão contadas em comentário a este post (aqui no blog, na página do facebook ou também no grupo). 

Boa sorte!

~~__~~

Se pudesse, que livro roubaria? Porquê?

Pipi Meias Altas

Se eu pudesse roubava um livro ou melhor roubaria um sempre se esse acabasse e assim sucessivamente... Ler transporta-me para mundos onde outras músicas podem ser ouvidas, cheiros e aromas sentidos, sentimentos e prazeres intensos e absorvidos em fascinios que me faz romper limites, gerações e preconceitos... Eu vivo vivendo a magia de ler um livro.

Meu Atelier

Se pudesse não roubaria um livro, mas uma infinita biblioteca cheia deles. Para mergulhar e absorver cada palavra transmitida, cada emoção. Passar horas infinitas a ler... Só para quando o corpo não aguentar.

Viciada em livros

Gostaria mesmo era de roubar um livro ainda não publicado, o livro que estará a ser terminado pelo meu escritor preferido. Sim! Hoje quero ser egoísta, ser a primeira a ler esse livro que ainda não o é, e ser eu a escrever o último capítulo.

Passarinho

Desde que aprendi a ler que tenho uma sede ávida de livros e de leituras várias. Em miúda, devido à escassez de recursos, lia tudo indiscriminadamente, até os rótulos de embalagens de cereais, enquanto tomava o pequeno-almoço. Com o tempo, manteve-se essa sede de leitura e também a escassez teima em não me deixar comprar todos os livros que posso, mas não é por isso que roubar livros se torna necessário. Não hoje. Não roubaria nenhum livro porque possuo um cartão de utente de biblioteca, cartão mágico que me dá acesso a, não a todos mas, quase todos os livros que possa desejar.

*Consulte o livro no site da Editorial Presença: A Rapariga que Roubava Livros

Poemas cantados 3: Lume


Lume

vai caminhando desamarrado
dos nós e laços que o mundo faz
vai abraçando desenleado
de outros abraços que a vida dá

vai-te encontrando na água e no lume
na terra quente até perder
o medo, o medo levanta muros
e ergue bandeiras pra nos deter

não percas tempo, o tempo corre
só quando dói é devagar
e dá-te ao vento como um veleiro
solto no mais alto mar

liberta o grito que trazes dentro
e a coragem e o amor
mesmo que seja só um momento
mesmo que traga alguma dor

só isso faz brilhar o lume
que hás-de levar até ao fim
e esse lume já ninguém pode
nunca apagar dentro de ti 

----- & -----

 
 * Mafalda Veiga: "Inspira-me viver, conversar com amigos, ver um filme, ler um livro, e muitas vezes também me inspiram coisas inesperadas que parecem muito pequeninas e insignificantes e de repente têm o poder de provocar uma canção porque fazem mudar perspetivas, formas de olhar o mundo, formas de me olhar a mim."
in http://noticias.universia.pt/entrevistas/especial/2014/01/08/1073672/mafalda-veiga-em-entrevista-ao-universia-portugal.html

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Tiago na toca e os Poetas: Joaquim Castro Caldas, Tiago Bettencourt e Inês Castel-Branco

Foto: Egídio Santos

Ao Sol


Eu só queria despir-nos
Como se tira habilmente
A seda aos pêssegos
E nus adormecermos
Sem saber quem somos
Sem jogos aos ombros
Que vêm de pequenos
Pelo faro pelos poros
Pelo sono dos cabelos
Pelo estalinho dos dedos
Eu só queria deixar-nos
Como o sol a bater
Na cal dos muros
E nus adormecermos
Sem contar os beijos
Sem dizer piropos
Como o cio dos frutos
Como a pele dos bichos
Como o íman dos olhos
Dos velhos sentados

*Joaquim Castro Caldas

MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).
(publico o disco/livro na integra,com foto do poeta Joaquim Castro Caldas)

Poemas cantados 2: Ouvi dizer


Ouvi dizer
Ornatos Violeta / Manel Cruz *

Ouvi dizer
Que o nosso amor acabou
Pois eu não tive a noção do seu fim.
Pelo que eu ja tentei
Eu não vou vê-lo em mim
Se eu não tive a noção de ver nascer o homem.

E ao que eu vejo
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi
E eu fiquei com tanto para dar
E agora não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva

E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma

Ouvi dizer
Que o mundo acaba amanhã
E eu tinha tantos planos p'ra depois
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós
Sem tirar das palavras seu cruel sentido.

Sobre a razão estar cega
[ From: http://www.elyrics.net ]

Resta-me apenas uma razão
Um dia vais ser tu
E um homem como tu
Como eu não fui
Um dia vou-te ouvir dizer

E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma

Sei que um dia vais dizer

E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma

A cidade está deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte
Nas casas, nos carros,
Nas pontes, nas ruas...
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura
Ora amarga, ora doce
Para nos lembrar que o amor é uma doença
Quando nele julgamos ver a nossa cura

----- & -----


 * Manel Cruz: "O seu percurso musical iniciou-se nos Ornatos Violeta, a sua primeira banda, em 1991, como vocalista, compositor e letrista onde permaneceu durante cerca de 11 anos. Manel Cruz nunca teve qualquer tipo de formação musical ou de canto, achava as aulas demasiado chatas. Mas não foi isso que o impediu de compor e dar voz a tantas e tantas músicas"
in http://pt.wikipedia.org/wiki/Manel_Cruz

Foto frase do dia: Ernest Hemingway


domingo, 26 de janeiro de 2014

O Sentimento Religioso é o Mais Inconfessável de Todos - Jorge de Sena

A religião, ou o sentimento religioso, é o mais inconfessável de todos: não por irracional, mas porque é da sua mais íntima natureza o silêncio da vida física do universo, que só faz barulho por acaso e não para a gente ouvir. Que mais não fosse, acharia ridícula, e acho, a atitude dos «libertos», nascidas da cabeça de Júpiter, desirmanados de tudo quanto encarnou as dores e as esperanças de uma humanidade dolorosamente em busca do seu próprio corpo. Mais que ridícula, criminosa, estulta, digna dos raios divinos, se os houvesse. Neste sentido, me é respeitável a religião considerada na sua acção interior e na sua simbólica aparente; e, como poeta, não posso deixar de ser sensível ao paganismo que a Igreja Católica não sonha - ou sonha até - a que ponto herdou. Quando a religião pretende fixar-se, lutar ligada a interesses materiais que geraram muitas das formas que ela tomou, evidentemente que sou contrário a ela, a aquela, porque sei que não há eternidade das formas e das convenções, mas sim da orgânica simbólica que assume uma ou outra forma, segundo o estado social em que se desenvolve.




Numa carta a Mécia Lopes em Dezembro de 1947

Poemas cantados I: Eu gosto tanto de ti que até me prejudico

Declaração de intenções: 
Sim, sou das letras. Mas não as consigo dissociar da arte visual. Ou da música. Vejo poesia num quadro, numa fotografia - e leio-a tantas vezes nas mais inesperadas das canções. Às vezes só é preciso ouvi-las com mais atenção, esquecer quem as canta ou de onde vêm.

Nesta nova rubrica vou oferecer-vos os meus 50 poemas-canções portugueses preferidos. Só porque sim. Poesia para trautear. Leiam as letras primeiro. Depois vejam os vídeos. Desfrutem.

Ana Almeida

P.S.: Não, não vou incluir nenhum do António Lobo Antunes. Afinal, ele tem uma rubrica só dedicada a ele.

----- & -----

Eu gosto tanto de ti que até me prejudico
Zeca Medeiros *
 
O amor é um labirinto cativeiro de um desejo,
hei-de cantar o que sinto de cada vez que te vejo,
desaforo, atropelo, que o amor é uma ilusão,
será sonho ou pesadelo traiçoeiro alçapão.
Quando eu te vejo sei que sou palhaço pobre mas nunca palhaço rico.
Quando eu te vejo sei que sou um protelário que de tudo eu abdico.

É que eu gosto tanto de ti que até me prejudico.
É que eu gosto tanto de ti que até me prejudico.

O amor é um desafio, uma doce escaramuça,
é vertigem, arrepio, é uma montanha russa,
talvez escada rolante a subir ao paraíso,
ou mergulho delirante nas marés do prejuízo.
Quando eu te vejo rosa de tantos espinhos, tantos que até me pico.
Quando eu te vejo fico todo afogueado, mais pareço um maçarico.

É que eu gosto tanto de ti que até me prejudico.
É que eu gosto tanto de ti que até me prejudico.

Vai ó seta do cupido sangrar um cravo vermelho, 
do cantor doido varrido que faz da voz um espelho.
Este fado tão grotesco da paixão que é sempre cega, 
será um filme burlesco ou uma tragédia grega?
Quando eu te vejo fico meio atoleimado, fico com os olho em bico.
Quando eu te vejo meio atordoado, quase me dá um fanico.

É que eu gosto tanto de ti que até me prejudico.
É que eu gosto tanto de ti que até me prejudico.

PARA VER O VIDEO SIGA O LINK
http://www.youtube.com/watch?v=58cBIZILNkc

* Zeca Medeiros "é um artista completo, um embaixador das terras açorianas, e a sua música é carismática, repleta de sentimentos precisos, onde impera a melancolia, numa verdadeira festa de emoções. O artista destaca-se pela interpretação intensa dos seus temas, pela sua entrega à arte e vai para além da dicotomia da tristeza e da alegria, dos fados e das folias, fala do fantasma da guerra e dos fantasmas do quotidiano, da autenticidade de um artista que já nos habituou a um registo muito próprio, do carisma que caracteriza a sua forma de estar na vida, dos horizontes vastos da cultura tradicional e contemporânea, sem esquecer o drama, presente nos cenários teatrais que cria e recria na sua obra. Mais do que música, José Medeiros faz das palavras verdadeiras armas de pensamento"

Foto frase do dia: Walt Disney