sábado, 4 de julho de 2015

a-ver-outras-coisas: a poesia dos números 5, Francisco José Craveiro de Carvalho

"Dezassete dezoito
andorinhas no fio telefónico
não espera dezanove vinte."

Francisco José Craveiro de Carvalho

Um homem da Matemática Aplicada e da Geometria, professor catedrático aposentado, tradutor, entregou-se aos tercetos. Da magia dos números à poesia dos números.Do seu livro "As Sapatilhas de Usain Bolt & Outros Tercetos".

* escolhido por Ana Almeida


Bai'má Benda: Bá pra fora... cá deuntro

Bá pra fora... cá deuntro

Não perca esta página, por nada: https://www.facebook.com/baimabenda

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Um dia serei bom aluno

Findo o meu ensino secundário não a outro curso me posso candidatar que ao mestrado integrado de valores humanos e normas morais na conhecida Universidade da vida. É a média baixíssima e provas de ingresso não são pedidas, melhor não pode haver, o pior é que por aí se diz que não há grandes saídas profissionais para quem nessa área se especialize, ai que chatice.
Tudo aprendi nestes doze anos de escola. Aprendi como surgiu o Universo, parece que de uma grande explosão, por ordem alfabética (e na ponta da língua) sei todas as capitais da Europa e mais umas quantas do resto do mundo, têm umas nomes engraçadíssimos, domino as diferenças entre a educação que teve o Carlos da Maia e a que teve o desgraçado Pedro da Maia, sim senhor, prometo que não me vou esquecer que o Carlos falhou apesar da educação e não devido a ela. Aprendi também muitas coisas do Freud e do Descartes e do Platão, sem dúvida que muito esclarecidos de entendimento eram, homens desses não se fazem já, boas castas foram essas. Aprendi o que é o predicativo do complemento direto (este o ensinamento mais custoso de assimilar, apenas em vésperas de exame, obrigado Professora) e, mais importante que tudo, tornei-me medianamente bom a resolver problemas matemáticos que sempre na mesma base de raciocínio assentam, só a dificuldade foi crescendo de ano para ano: diga quantas peças de fruta comprou o João sabendo que comprou dez pêras e vinte maçãs (isto no primeiro ano), diga como se chama a tia materna do João sabendo que o senhor da mercearia tem quarenta e oito anos e ontem à noite jantou coelho à caçador feito pela empregada que tem uma filha chamada Mónica que anda metida com o filho do Zé da construção (isto no décimo segundo ano, ninguém o conseguiu resolver, não estudam nada são uma vergonha, a professora sempre muito impaciente).
Está mais que visto que me ensinou a escola todas as coisas do mundo que posso desejar saber. Eu e os meus colegas saímos do ensino secundário de facto muito sabedores, penso que nos podem (devem) chamar de doutores ou de professores ou, não sendo o incómodo o bastante, de professores doutores. Ora, sucede que com tantas toneladas de sabedoria entranhadas da cabeça aos pés me sinto numa enorme e muito chata crise de valores morais. O sobejo do que me foi ensinado de Matemáticas e Línguas e Ciências e Filosofias não me parece compensar o defeito do que não me foi passado em termos de valores humanos e morais. Engraçado que o maior valor que me foi incutido na escola foi o de que é errado copiar por colegas nos testes, foi o segundo maior o de que mais errado é deixar que os colegas copiem do meu teste. Graças a isso sou hoje um forreta excecional e não deixo que ninguém copie por mim. Por outro lado, se me dá a vontade de deitar o olhinho para o teste da colega sinto-me logo numa vida profana e sem regras nem limites, de maneiras que me tento acalmar respirando fundo e bebendo um copinho de leite, minutos depois já estou fino.
Resultado: nós, pré universitários, sobre tudo sabemos falar, adultos não têm a mais pequena hipótese contra nós em cálculo mental, a escrever somos apenas sublimes, conhecemos o Universo de uma ponta à outra e não copiamos nem deixamos que por nós copiem em tudo o que é teste e exame e ponto e prova. Outro resultado: nós, pré universitários, não temos bem noção do certo e do errado, do bem e do mal, do que deve ser feito e do que deve ser evitado. Dito isto, só me resta tentar entrar num curso que me consiga passar meia dúzia de valores que na vida me façam falta (se é que farão, do contrário me têm querido convencer), sou tão inteligente e sabedor que por certo não terei dificuldades de maior nessa aprendizagem. Resta-me também saber quem serão os professores das cadeiras desse curso e que sebentas terei que ler a fim de ter positivo aproveitamento, questões estas às quais agradeço esclarecimento prévio.

Gonçalo Naves

                                                 Foto tirada daqui:http://www.sol.pt/noticia/384914

a-ver-outras-coisas: a poesia dos números 4, Francisco José Craveiro de Carvalho

"Os dígitos rebelaram-se. 
Papel quadriculado nunca mais. 
Nenhum deles cabia nas quadrículas."

Francisco José Craveiro de Carvalho



Um homem da Matemática Aplicada e da Geometria, professor catedrático aposentado, tradutor, entregou-se aos tercetos. Da magia dos números à poesia dos números.Do seu livro "As Sapatilhas de Usain Bolt & Outros Tercetos".

* escolhido por Ana Almeida

O Clube entrevista os leitores - Teresa Carvalho


Rodrigo - Como descobriste o Clube de Leitores?
Teresa Carvalho - Descobri o Clube através da Ana Almeida.

- O que te chamou mais a atenção nesta comunidade? 
- Foi a qualidade dos textos! E a poesia... a poesia que é tão esquecida na blogsfera, tem um lugar privilegiado neste blogue, algo que muito me agrada!

- O facto de todos os bloggers serem também escritores é algo que te entusiasma? 
- Muito!! Porque a fasquia é elevada!

- Este blog veio mudar alguma coisa na tua vida de leitora? Recordas-te de alguém que tenhas conhecido e que tenha valido a pena? 
- Mudou sim! Caso contrário não o frequentava assiduamente. E mais uma vez a poesia é factor determinante!

- Como foi passar do mundo virtual ao mundo pessoal com algumas pessoas que conheceste através do Clube de Leitores? 
- Não vos conheço pessoalmente, mas um dia temos de mudar isso!

- Tens alguma história que te tenha marcado – quer através de um post no blog ou de alguma pessoa envolvida na sua dinamização? 
- Aqui tenho de referir a Ana Almeida em particular! Que escreve cada "coisa" que me deixa de queixo caído!

- Com que frequência visitas este espaço? 
- Tento visitar todos os dias, mas sou uma preguiçosa de primeira e não escrevo muitos comentários.

- Como vês este projecto dentro de alguns anos? Sentes que ainda existe muito para se discutir? 
- Vejo este projecto com pernas para andar! E matéria para discussão não faltará nunca!

- Numa frase: O Clube é…
- O Clube é... imperdível!

*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto. 
Teresa Carvalho é uma entusiasta seguidora do nosso blog

Foto frase do dia: S. E. Hinton

a-ver-outras-coisas: a poesia dos números 6, Francisco José Craveiro de Carvalho

"No silêncio degradado do muro
o melro parece esperar as migalhas
que um antepassado aqui colheu."

Francisco José Craveiro de Carvalho


Um homem da Matemática Aplicada e da Geometria, professor catedrático aposentado, tradutor, entregou-se aos tercetos. Da magia dos números à poesia dos números.Do seu livro "As Sapatilhas de Usain Bolt & Outros Tercetos".

* escolhido por Ana Almeida

quinta-feira, 2 de julho de 2015

a-ver-outras-coisas: a poesia dos números 3, Francisco José Craveiro de Carvalho

"Fracos decímetros isolam
as soleiras desguardadas
da mancha solta das águas."

Francisco José Craveiro de Carvalho

Um homem da Matemática Aplicada e da Geometria, professor catedrático aposentado, tradutor, entregou-se aos tercetos. Da magia dos números à poesia dos números.Do seu livro "As Sapatilhas de Usain Bolt & Outros Tercetos".

* escolhido por Ana Almeida

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações



Carta de Atenas

Meu querido José


Escrevo-lhe de Atenas, com Oxy nos lábios que é como quem diz não aos credores que não têm credo.
Lembro-me, enquanto assisto a estas longas, triunfantes e patrióticas manifestações que se espraiam pela mátria da Democracia e da Filosofia, daquela música tão linda, de meu primo António Carlos, Insensatez. Vontade é a minha de gritar por estas ruas como grego, como português e como europeu. (Como um Almada!) Credores sem credo. Quem nunca foi pobre não deve governar.
É tal a minha vontade, jovem das esquerdices para fora. Mas gritar em plena Atenas, de panamá, bastão e copo de Ouzo na mão talvez não fosse a melhor das ideias. Até porque me deixei das manifestações públicas e políticas há muitos Julhos atrás. Lembrei-me agora de Nicosia e de um caso que ocorreu por conta de um esquecimento diplomático, mas isso fica para outra altura. As minhas manifestações são agora para dentro, e para as palavras. Mas basta desta exploração aos povos, co’a breca! Nós, europeus, supostamente superiormente civilizados, jamais aprendemos com o passado. E logo a Grécia, ironia das ironias, tergiversando Cohelet, o da Bíblia, que tanto sofreu ao longo dos séculos, fossem macedónios, persas, romanos, otomanos, alemães ou “europeus”. Se Byron morreu pela Grécia, nos Idos de Oitocentos, quem se atreve, hoje, quase dois séculos depois, a morrer pela Grécia? Os economistas? Os políticos? Os analistas? Os jornalistas? Os historiadores? Não, meu caro José, é o povo, são as pessoas, que são as mesmas de há dois mil anos atrás. É o povo que se une, que luta, que se manifesta, que sai à rua gritando Oxy. Que Portugal, tão nobre noutros tempos, ponha os olhos nos patrícios helénicos e deixe de ser um “país-centavos”, um país a prestações e a juros!
E o que pensa o nosso jovem? Acredita que a Grécia está a fazer bluff ou está, deveras, dando voz, mão e poder à Democracia?
Escreva-me nervosa e rapidamente sobre este tema, pois quero saber tudo antes do próximo Domingo. Vivemos um momento histórico, meu caro! Histórico! 
Escrevo-lhe mais cedo, pois como sabe, todo Julho é para mim sagrado, seja em Atenas, em Nicosia ou em Paris.
Efraim preocupa-se com os bancos que não abrem e com as ATM sempre lotadas. (Como se o formidável semita fosse alguma vez cair na miséria!). Já nos zangámos por várias vezes a propósito disto. Mas não vou enveredar por esse caminho, pois essas conversas são feitas para a carne e não para o papel, ainda que neste haja a sensação e a pulsação do sangue e da tinta.
Despeço-me ao som de meu primo, intervalo pelo famoso Sirtaki.
Um abraço poeirento, diafanamente revolucionário e com este travo de liberdade do
Seu

Gonçalo V. de Sousa





Αθήνα, 1 de Julho de 2015


quarta-feira, 1 de julho de 2015

a-ver-outras-coisas: a poesia dos números 2, Francisco José Craveiro de Carvalho

"No jardim elíptico
as rectas cumprimentam-se sempre.
Não podiam ser mais delicadas."

Francisco José Craveiro de Carvalho

Um homem da Matemática Aplicada e da Geometria, professor catedrático aposentado, tradutor, entregou-se aos tercetos. Da magia dos números à poesia dos números. Do seu livro "As Sapatilhas de Usain Bolt & Outros Tercetos"

* escolhido por Ana Almeida

Foto frase do dia: John Keats

terça-feira, 30 de junho de 2015

é do borogodó: Misto quente

Silêncio, por favor.

Luzes piscando lá fora. Noite escura e a solidão dos dias. Talvez fosse por isso que ainda marcava encontros com o amigo Jean, um chef de cozinha que entre outras coisas lhe preparava jantares soberbos. Quinta-feira, noite fresca de outono, seria bom um souflé de legumes e uma taça de vinho tinto. Jean era um cinqüentão convicto de sua solteirice, amava a boa vida, sabia ser gentil e desperdiçava talento com qualquer mulher que visse. Era uma boa companhia para deixar a vida passar.

Melissa saiu no trânsito afogada em cansaço; conservava sempre sua potente disciplina. Olhava o celular, passava batom, folheava o processo deixado no banco do passageiro, reclamava a falta de educação dos motoristas. Melissa era rígida. Unhas perfeitas em tom pastel, cabelo impecável, calça de linho azul marinho e camisa branca. Calçava saltos que anunciavam sua elegância. Falava francês, traduzia bem o inglês, estudava alemão, conhecia o mundo inteiro, não tinha problemas com dinheiro e já completaria quarenta no mês que vem.

A mesma estação tocava no carro a semana inteira. Música clássica criava atmosfera para agenda cheia.
 De repente o desejo de ser outra. Aquele velho desejo de assumir que tudo aquilo era um baita engano.

Melissa mudou de estação.
“Silêncio, por favor, enquanto esqueço um pouco a dor do peito, não diga nada sobre meus defeitos, eu não me lembro mais quem me deixou assim.
Hoje eu quero apenas uma pausa de mil compassos para ver as meninas e nada mais nos braços, só este amor assim descontraído.
Quem sabe de tudo não fale quem sabe nada se cale, se for preciso eu repito, porque hoje eu vou fazer, ao meu jeito eu vou fazer: um samba sobre o infinito.”

Olhou para o céu negro e não viu nenhuma estrela por ali. Olhou para o espelho retrovisor e viu o azul ser invadido por lágrimas.
O sinal ainda amarelo, Melissa estancou. Atrás gesticulava o motorista pedindo que ela fosse, mas já era tarde. Daí ele não se contentou, manobrou, parou do lado direito do carro dela enlouquecido de pressa. Disse alguma grosseria.
– Motoristas de taxi são abusados, pensou Melissa.

Olhou de novo, querendo provocar o sujeito com cara de desdém.
Um homem de pele escura e barba cerrada, cabelos intensamente negros e olhos que pareciam pintados com kajal. Encarou Melissa com estranheza.

Melissa virou o rosto um pouco tensa. Notou o estreitamento da rua a sua frente, o sinal abriu, ela encarou novamente o taxista e deixou que ele tomasse a frente.
– Lindo. Meu deus que homem lindo é aquele.

A canção se repetia. Paulinho da Viola devolvia o ritmo ao sangue de Melissa. Um batuque de caixinha de fósforos, um amor descontraído, um infinito para vislumbrar. Era tudo que ela mais queria.

Ele deu seta, virou à direita, Melissa o seguiu. Nem sabia mais o que estava fazendo. Virou esquerda, direita, seguiu em frete, aguardou descer o passageiro.
O taxista percebeu a intenção da moça e acelerou mais um pouco. Ela avançou, deu seta para ultrapassá-lo. Ele encostou quase na entrada de um boteco, abriu o vidro e gritou:
– Desculpa, moça, eu estava nervoso ali atrás não queria…
– Ah, tudo bem, eu só queria saber seu nome.
– Como?
– Seu nome.
– Meu nome? Anil.
– Anil? Você é indiano ou algo assim?
– Sou de Mumbai.
– Me dá seu número, Anil.
Anil desceu e estendeu um cartão. Era alto, esguio, braços fortes, no pescoço um colar de contas.
– O que é isso no seu pescoço?
– Isso? Ah, é um japamala.
– Gostaria de tomar um café?

Melissa desconcertou com sua atitude. Pensou em Jean e no esplêndido jantar com porcelana delicada e talheres de prata, pensou em tudo que já tinha e o quanto isso não era nada porque afinal de contas sua vida continuava sem graça.

Entraram juntos no café, Melissa e Anil. Um contraste que fazia bem aos olhos. O sapato de verniz, o all star azul tão gasto.

A conversa seguiu solta, leve, numa fluidez absoluta. Melissa enamorada dos olhos tão bem desenhados de Anil. Anil enamorado da brisa que aos poucos revelava a mulher.
Perguntou se Anil cozinhava, ele respondeu que sim entregando a mão para que Melissa sentisse o perfume impregnado de curry. Melissa sorriu; Anil perguntou por que.
– Com você, Anil, troco alta gastronomia por qualquer misto quente.

Anil sentiu um pouco de vergonha numa mistura de desassossego que já lhe corria o corpo todo.

Penélope Martins

segunda-feira, 29 de junho de 2015

a-ver-outras-coisas: a poesia dos números, Francisco José Craveiro de Carvalho

Esta semana - muitos saberão já - estou com o meu projecto Artidar na FIA - Feira Internacional de Artesanato de Lisboa, no Parque das Nações, em Lisboa (estão desde já convidados a visitar-me no pavilhão 1 - stand B35).

Por isso, nesta segunda a domingo (com a excepção de terça, que é dia de borogodó, como sempre) apresento-vos Francisco José Craveiro de Carvalho. Um homem da Matemática Aplicada e da Geometria, professor catedrático aposentado, tradutor, entregou-se aos tercetos. Da magia dos números à poesia dos números.

Do seu livro "As Sapatilhas de Usain Bolt & Outros Tercetos", hoje o primeiro. Usufruam.

Ana Almeida


"Um sonho da vida daquele quadrado. 
Habitar numa casa
que Mondrian tivesse planeado"

Francisco José Craveiro de Carvalho

Da minha varanda não me escapa nenhuma estrela

Tenho-as todas, demasiado perto até, esticar o braço basta-me e desde logo elas apenas a meio palmo de distância. Quando acontece isto a minha vizinha do lado, uma senhora muito idosa que todas as manhãs toma o café no refeitório do Hospital da Cruz Vermelha e aproveita o espelho enorme da casa de banho para ajeitar a peruca fica-me fitando, o olhar atravessando o vidro da janela que afinal não vidro, afinal tudo pelo vidro passa, até a chuva e portanto a carpete sempre sempre molhada, todas as semanas a carpete estendida e todas as semanas a carpete encharcada. Fica a senhora muito espantada, tem o pasmo demasiado fácil, mexe-se a boca e então um
-Cuidado rapazinho não lhes toques ainda te queimas
Obedeço-lhe e portanto não mais estrelas até a vizinha aconchegada dormindo com a peruca descansada sobre o candeeiro da cabeceira a fim de a luz desaparecendo a pouco e pouco. Volto para dentro mas dentro não muito me aguento e então desço as escadas abro a porta do prédio ao empurrão (empurrão porque o trinco estragado, há dez anos estragado, há dez anos empurrões) e portanto toda a extensão da rua minha. Dá-me pena a calçada, sempre sujíssima, também a sujidade já idosa e a mesma de sempre, não é coisa de sofrer evoluções, existe e vai existindo. Pastilhas elásticas restos de cigarros dejetos de cão e a mreda dos pombos, os pombos cada vez em maior número e cada vez mais convictos de que podem fazer da minha rua casa própria. Acontece isto devido ao gosto do sapateiro da esquina por pombos que todos os dias leva um saquinho meio cheio de miolo do mais rasca para os alimentar e então famílias inteiras de pombos à porta do sapateiro e consequentemente à minha porta, avós pais filhos amigos dos filhos.
Passo e com o desenvolvimento da noite chega-me um travozinho de desalento que me parece nunca poder ter fim, por todo o corpo se estende e a certa altura já infinito. Pelos passeios me acompanha, vai-me falando, ditos quase impercetíveis na maior parte das vezes provavelmente derivado à gaguez que tem, recomenda-me que volte para casa mas eu negando-lhe essa recomendação porque a noite e eu uma entidade apenas, indissociável. Às tantas cruzo-me com o indiano dos telemóveis que desde logo um
-Boa noite menino já é tarde devia estar em casa a sua mãe sabe que está aqui?
Isto enquanto a camisa muito atrapalhada e as calças livres de vincos mas claramente pouco confortáveis com a situação e então os pés fugindo para longe de mim, enquanto se afasta ainda me lança mais meia dúzia de palavras
-Até amanhã menino vá para casa
Onde vai não sei, muito apressado demasiado atrapalhado, compensa o tempo que perdeu na saudação com dois passinhos de corrida e então desaparecido no interminável da noite. Provavelmente a noite apanhou-o, provavelmente também ele um travozinho de desalento entranhado no íntimo, provavelmente nem reparou que a camisa com os botões desordenados.
Talvez a noite a casa das estrelas e dentro em pouco novamente o refeitório e o espelho da velhota, dentro em pouco os telemóveis do indiano e portanto eu novamente dormindo.

Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: http://ola-comoestas.blogspot.pt/2012/12/imaginacao-e-mais-importante-que.html

O Clube entrevista os leitores - Catarina Noronha e Távora


Rodrigo - Como descobriste o Clube de Leitores?
Catarina Noronha e Távora - Descobri o Clube de Leitores através de um convite no facebook, do Rodrigo Ferrão.

- O que te chamou mais a atenção nesta comunidade? 
- A maneira como são apresentados novos autores, que desconhecia.

- O facto de todos os bloggers serem também escritores é algo que te entusiasma? 
- De certa forma sim…As suas experiências são aqui partilhadas, o que anima.

- Este blog veio mudar alguma coisa na tua vida de leitora? Recordas-te de alguém que tenhas conhecido e que tenha valido a pena? 
- Sim, veio. Passei a ler mais... e autores que desconhecia.

- Como foi passar do mundo virtual ao mundo pessoal com algumas pessoas que conheceste através do Clube de Leitores? 
- Só conheço mesmo a Ana Almeida e o Rodrigo.

- Tens alguma história que te tenha marcado – quer através de um post no blog ou de alguma pessoa envolvida na sua dinamização? 
- Não tenho nada em particular, mas cada vez mais admiro a maneira com que os visitantes do clube partilham as novidades literárias das suas terras, dando destaque a novos autores.

- Com que frequência visitas este espaço? 
- Visito diariamente.

- Como vês este projecto dentro de alguns anos? Sentes que ainda existe muito para se discutir? 
- Existe sim, muito para discutir e revelar. Aparecem todos os dias coisas novas.

- Numa frase: O Clube é…
- O Clube é… fantástico!!!

*Rodrigo Ferrão entrevista os leitores do blog, nos 5 anos deste projecto. 
Catarina Noronha e Távora é uma entusiasta seguidora do nosso blog

domingo, 28 de junho de 2015

Correndo o Brasil: muitos quilómetros nas pernas

Rio de Janeiro
9 de Agosto de 2014



O dia 3 despertava cinzento, oportunidade para ir à praia ficou desfeita. A tarde convidava ao passeio e convívio. E fomos levados até a um almoço simples e pela tarde dentro.

O grupo foi-se juntando, vindo de vários pontos do Rio. O ponto de encontro foi ali no Forte de Copacabana, local histórico da cidade. O outro bom motivo foi a Confeitaria Colombo - magnífica e com excelentes coisas para provar.

Falava-se português e inglês entre os convivas. A tarde foi esfriando e começou a planear-se a ida para casa.

Fomos a pé pelo calçadão até ao posto 3. Foi hora para tomar banho e voltarmos à rua. Hoje íamos a uma despedida de solteiro, jantar marcado no Leblon. Rapazes e raparigas separavam-se, destinos diferentes.

Entre uma cerveja e outra, fomos atracando nos bares, até chegarmos ao restaurante. Fomos bebendo, comendo, tirando fotos e contando histórias; até que chegou a hora de sair.

A  noite de ontem ainda estava presente no espírito, o Rio é sempre uma animação. Foi com esse pensamento que abandonámos o restaurante e nos convencemos que hoje íamos saltar até altas horas da madrugada.

Apanhámos o táxi e rumámos à Lagoa Rodrigues de Freitas, para o Miroir Club. A noite passou a correr, sempre ao som da música da pista. Lá pelo meio encontrámos um homem muito parecido com o futebolista Thiago Silva - acabou por ser a pessoa mais fotografada da noite e a grande atracção. O moço trabalhava em part-time, na casa-de-banho da discoteca.

Eram 5 e tal da manhã e o grupo já se tinha partido - cansaço e alguns copos a mais.

Empurrado pelo espírito aventureiro saio sozinho e começo a ver para que lado fica a praia. Sinto o sol a querer começar a nascer e decido caminhar, naquilo que veio a ser uma grande experiência.

Rodrigo Ferrão

I was born this way

Encontrado na página For Reading Addicts

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