sexta-feira, 8 de abril de 2016

A minha irmã Teresa faz um brinde à família - o meu livro em Viseu

Todas as fotografias tiradas por Sebastião Cappelle

Olá a todos, família, amigos e aos demais presentes aqui no famoso Clube de Viseu!

Acho que não preciso de grandes apresentações, mas, mesmo assim, se houver por aí algum viseense distraído… sou a Pipas, mulher do Salvador e nora dos sogros mais queridos deste mundo: Teca e João.

Pois bem, sou novata nestas experiências, mas, como foi o próprio do autor a pedir-me para lhe apresentar o livro cá em Viseu, faço-o com o maior agrado e aqui me lanço! Pronta para vos falar um bocado sobre Viseu, sobre família, ahhh e sobre o livro, pois claro!

Não é novidade nenhuma que Viseu hoje me diz muito. Não só porque, desde há muitos anos, éramos obrigados a vir com o nosso pai, em pleno verão, ao museu Grão Vasco (ficando a praia a ver navios); como também, há 3 anos e picos, vim arranjar um moiçoilo cavaleiro criado por cá. Nunca pensei vir aqui parar, mas o que é certo é que já cá vivo há 6 meses e o feedback não podia ser mais positivo. A beleza do centro da cidade encanta-me a mim e penso que a todos; os ares das serras são mais que evidentes, os vinhos são magníficos e são daqueles zero instantâneos na hora (podem-se guardar uns largos anos nas garrafeiras e prometo-vos que darão o melhor de si), o trânsito não existe e as distâncias… é peanuts! Andar a pé é fácil por cá.

E as pessoas? Essas são uma delícia: atenciosas até mais não. Em família, com amigos, no comércio, na rua, todos adoram receber e fazem-no de uma forma especial. Desde a primeira vez que cá vim passar o fim-de-semana, como namorada do Salvador, reparei neste pormenor do “saber receber” com simplicidade, mas, sobretudo, com vontade, dedicação e gozo. É uma cidade que precisa de uma lufada de ar fresco mais jovem e, por isso, primalhaços e amigalhaços: sigam o exemplo do Salvador e venham daí! Tragam as piquenas, Viseu precisa de todos os nossos futuros filhos (eheheh).


Aliado a tudo isto, por cá, estou a aprender o que é constituir uma família nova. No dia 19 de Setembro, o Padre que celebrou a Santa Missa do nosso Casamento disse-nos que, a partir daquele dia, seríamos um só e que estávamos a casar não por amor, mas sim para amar. Deixar de lado a cultura do provisório, pois o amor que fundamenta uma família é um amor para sempre. E o amor é uma realidade que cresce, como a construção de uma casa, desde o primeiro tijolo à decoração de todos os cantos das divisões. E esta casa é construída em companhia um do outro e não sozinhos. E portanto, todos os dias, temos o cuidado de nunca dizermos uma boa noite um ao outro chateados, magoados ou tristes. Já o Papa Francisco diz (e muito bem): “Jesus, que nos conhece bem, ensina-nos um segredo: que um dia não termine nunca sem pedir perdão, sem que a paz volte à casa. Se aprendemos a pedir perdão e a perdoar os outros, o matrimónio durará, seguirá em frente." Não é que eu e o Salvador sejamos um casal que se mate e esfole, mas, desde namorados, falamos sobre estas coisas que são importantes, sem dúvida.

Bem, não fui convidada para falar de amor, mas este não veio cá parar de pára-quedas. Ele é essencial em todas as relações familiares que se têm. Aliado a ele: o respeito, a admiração, a comunicação, o companheirismo, etc. Na nossa família sempre aprendemos a louvar os nossos pais. Respeitamos os nossos pais no trato, e admiramo-los mais do que a outro. Falo por mim, olhava (e olho) para a minha mãe como uma mãe que dá tudo dela por nós e para o meu pai como um excelente exemplo do que é ser dedicado ao trabalho, sem nunca descurar da família. Peço a Deus conseguir ser pelo menos metade do que eles são. Sempre com a certeza de que gostaria transmitir aos meus filhos muitos dos valores da minha família e da família do meu marido.


Os meus irmãos foram e são importantes, para os momentos em família serem mais cheios, ricos e alegres e, mais concretamente, para me ensinarem a partilhar tudo, a respeitar quem é mais das nossas idades, e também a saber discutir. O meu irmão Rodrigo, como é natural, sempre me tratou com muito carinho e algum mimo a mais. Eu já vim tarde (mas não a más horas) e, quando nasci, ele já tinha 8 anos e a nossa irmã Isabel 6. Imagino o excitex vivido naquela altura, em nossa casa... A disputa para me mudar as fraldas, para me pegar ao colo e para se empoleirarem no berço para me ver dormir era mais que muita, segundo contam. Mais tarde, as viagens longas de carro pela Europa também foram um máximo.

Aqui a mais nova adorava deitar-se ao comprido, nos 3 bancos de trás, em cima dos irmãos. E eles, pacientes, lá cediam e adoravam tirar partido da minha imaginação e inocência, própria de uma criança. Em visitas pelos castelos alemães, contavam entusiasmados que estávamos a visitar os castelos da Disney… - “Pipas, aqui era onde a Bela Adormecida dormia e ali, naquela sala, onde a Cinderela limpava tudo noite e dia”. Ainda hoje me vêm à memória estas imagens e sons tão bons do que foi vivido na minha infância. Mais tarde, chegou a altura de começarem a ser exigentes comigo. Com 5 anos, e feita miúda irritante, sabia todas as capitais europeias… E o Guigo adorava fazer show off com amigos e familiares, com esta demonstração de conhecimento transmitido por ele. Também é de relembrar que ser irmã mais nova é sinónimo de sofrer um certo abuso. Lembro-me de dias e dias de recepção de favores, ordens e o diabo a quatro: era ir buscar um leite com Chocapic ao Guigo, era ir buscar o mp3 para a Cocas ouvir música. Enfim, mil e uma tarefas que a Pipas gordinha lá fazia pelos seus irmãos. Mais tarde, já nos teen, chegaram os constantes dramas e o Guigo (muito humoristicamente) começou a tratar-me por "actriz de Hollywood". E não posso deixar de relembrar a publicidade que naquela altura fazia do meu irmão às minhas milhares de amigas… Até que, num certo dia, ele aparece de toalha à hora do almoço quando eu estava a subir as escadas de nossa casa, com um grupo de meninas… Foi o caldo entornado. Mas, na verdade, tinha amigas do secundário que lá iam a casa almoçar só para o ver. 


Tudo histórias que, quem as viveu na pele, sabe contar. Na verdade, quando estamos todos juntos, adoramos contar episódios que se passaram e o que é certo é que são momentos de muitas risadas. Dou graças a Deus por ter tido a sorte de ter crescido com os pais e irmãos que tenho. Quem nos conhece, sabe que somos todos diferentes, mas todos temos algo em comum que nos une: o vínculo da fraternidade (do mesmo tronco familiar), que é uma grande escola de liberdade e paz, sem dúvida. Todos diferentes, mas, ainda assim, com muitos aspectos parecidos. Às vezes assusta-me o exagero de gostos musicais em comum que eu e o Guigo temos, as piadas parecidas ou mesmo esta e aquela opinião que é bastante convergente. Fomos ganhando – um do outro – cada vez mais cumplicidade, com o passar dos anos.

Quando eu comecei a ficar crescidinha, tínhamos, entre irmãos, bastantes conversas profundas (sempre na cozinha). Falávamos de parvoíces, de problemas, dos pais, de projectos e sonhos, tudo. Desde há poucos anos para cá, comecei a reparar que o que realmente preenche o meu irmão é este mundo dos livros. Em 2007, lembro-me de todas as Sextas-Feiras à tarde ir visitá-lo à livraria onde trabalhava. Todos já me conheciam e diziam: “Olha a irmã do Rodrigo”… Mais do que ir ver livros, eu ia lá para estar com o meu irmão, no local que, naquela altura, lhe fazia mais feliz.


Devido a circunstâncias inesperadas da vida, hoje em dia não trabalha neste sector, mas aventurou-se a escrever esta obra maravilhosa, cheia de poemas que nos enchem a alma. Ao ler «Todos os Tempos Verbais», de uma ponta à outra, emociono-me, porque reparo que cada um dos poemas transparece tudo aquilo que o meu irmão Guigo é – hoje aos 33 anos – e será para o resto da vida, com progressos e alguns retrocessos, como é normal. Orgulho-me do irmão que tenho: da sua generosidade, boa disposição, sinceridade e, sobretudo, sensibilidade. Este fim-de-semana que passou, estive num retiro no qual o Padre que nos acompanhava disse (mais que uma vez) que as mulheres têm um coração maior que os homens. Até certo ponto até o compreendo, pois, de facto, nós temos mais espaço para sentimentalismos, romantiquices e nostalgias. Mas acho que há excepções. E o meu irmão é um excelente exemplo destas excepções. Acho que é de louvar e dar valor à profundidade incomum de um homem, e desta coragem tomada em transmitir (do seu interior) todos os seus pensamentos; aliados a uma alegria e humor contagiantes, sem “pieguices e mariquices”.

O tema desta apresentação, pensado e discutido pelos 3, é a família. E por isso é que vos roubei a atenção para todas estas histórias e considerações pessoais que tenho acerca deste importante assunto. Não esquecer que é em família que se vivem os momentos mais felizes que nos empurram para tudo o que somos e concretizamos quando somos adultos. A nossa prima Rita falará agora, mais focada no livro em si e no que este representa para ela.


Só queria acrescentar um último ponto. Acho que esta é uma oportunidade excelente para eu enfatizar a entrega que a minha família e a do Salvador mostrou no nosso Casamento. Ficaremos eternamente gratos à dedicação dada e recordaremos, para sempre, todos os pormenores daquele dia. Desde a lagosta que nem lhe vimos cor, à dança flashmob que nos prepararam. Aconselho-vos: casem-se. Vão ver que se surpreendem a vocês próprios e à vossa família. E Deus providenciará com pozinhos milagrosos no dia!
 
Obrigada pela atenção a estas minhas palavras e parabéns Guigo por este sucesso tão grande com «Todos os Tempos Verbais»!

 
*Teresa Ferrão Pessanha, no dia da apresentação de «Todos os tempos verbais», no Clube de Viseu

terça-feira, 5 de abril de 2016

vale


se visses agora
o quarto mergulhado na luz
do final de tarde
e o silêncio
um vale doirado a ondular
sob o cortinado
demorar-te-ias no sopro
da primavera
a florescer pele afora.

Helder Magalhães


Carolina Sandoval Photography