terça-feira, 2 de agosto de 2016

uma saga por direitos civis...

Algumas leituras valem releituras em diversos formatos. É o caso de Persépolis.

Não sei se cabe pitada de humor ao dizer que Marjane é do borogodó, como eu digo sempre, aqui na minha postagem semanal, mas o fato é que a autora contribui imensamente para pensarmos a condição da mulher no mundo: isso é coisa de quem tem e usa borogodó como vitamina pra vida!
Eu não sei muito sobre o povo persa, além das história antiga que estudamos rapidamente no colégio, tampouco conheço a realidade do Estado Iraniano que se fundou em princípios religiosos, causando repressão com cerceamento de direitos civis. Todavia, eu tenho minhas referências pessoais sobre ser menina e tornar-se mulher. Também conheço, por intermédio de gente muito próxima a mim, o que é viver em um país onde não se pode manifestar livremente os pensamentos e as ideias – e este tipo de regime sempre me causa pavor. Por isso tudo, e mais uma gama de sutilezas na narrativa textual e visual, eu sou fã do trabalho de Marjane Sartrapi, a começar por sua autobiografia em Persépolis.
Marjane Satrapi, tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita – apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.
Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.
Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama – e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.
Marjane Satrapi cresceu em Teerã, sua família se envolveu com os movimentos comunista e socialista no Irã antes da Revolução Iraniana. Marjane frequentou o Lycée Français e presenciou, durante a infância, a crescente repressão das liberdades civis e as consequências da política iraniana na vida cotidiana dos habitantes do país. Em 1983, então com 14 anos, Satrapi foi mandada para Viena, por seus pais, a fim de fugir do regime iraniano. Lá, ela estudou no Liceu Francês de Viena, durante o ensino médio, morando na casa de amigos, em pensionatos e repúblicas estudantis, até finalmente ficar desabrigada e morar nas ruas (informações retiradas do próprio livro Persépolis). Após um ataque quase mortal de pneumonia, em decorrência das graves condições de vida, ela retornou ao Irã. Conheceu um homem chamado Reza, com quem se casou aos 21 anos e divorciou-se cerca de três anos depois.
Após o divórcio, ela estudou Comunicação Visual, obteve o mestrado pela Faculdade de Belas Artes em Teerã, Universidade Islâmica Azad; depois, mudou-se para Estrasburgo, na França. Atualmente, vive em Paris, onde trabalha como ilustradora e autora de livros infantis.
O que faz Persépolis especial é ser épico, embora de pessoas comuns, sem poderes mágicos ou bençãos de deuses – como aconteciam com os grandes heróis inventados pelos povos antigos e consagrados pela literatura. O que faz Persépolis especial é a menina frágil se deparando com o desafio de se tornar mulher sob o véu da repressão.
Nos dias atuais, em que ainda se discutem direitos civis com embaraços sinitros de grupos religiosos de interesses escusos, Persépolis é um manifesto para refletirmos qual a importância de nos colocarmos em defesa liberdade e da dignidade da pessoa humana.
O livro é surpreendente, assim como o filme, que alguns ainda não conhecem... Eu fico com os dois formatos. E brindo à saúde dessa jovem autora que nos provoca grandes reflexões sobre o mundo em que vivemos.
Aproveitem!

Eu sou Penélope Martins, toda semana presente no Clube com leituras do Brasil para Portugal, sob rubrica "É do Borogodó!". Até mais!

pão


entre nós
o miolo das palavras
esboroava-se
no ondear da saliva

ficava o silêncio
da língua
que nos bastava
o amor.


Helder Magalhães


Laura Makabresku