sábado, 25 de maio de 2013

Até o gato quer ler Allan Poe...

Retirado da página Luxury Bookshelf.


Já conhece a mais recente «The Man Booker International Prize»?

Já conhece Lydia Davis?


«A minha mãe passou anos a dizer que eu era egoísta, descuidada, irresponsável, etc. Muitas vezes, irritava-se. E quando eu queria responder, tapava os ouvidos com as mãos. Fez tudo o que pôde para mudar-me, mas os anos passavam e eu não mudava, ou, se mudava, nunca tinha a certeza de ter mudado, porque nunca houve um momento em que a minha mãe dissesse: “Deixaste de ser egoísta, descuidada, irresponsável, etc.” Agora sou eu que me digo: “Porque é que não és capaz de pensar primeiro nos outros? Porque não prestas atenção ao que estás a fazer? Porque não te lembras do que tens de fazer?” Irrito-me. Concordo com a minha mãe. Sou um caso tão difícil! Mas não lho posso dizer, a ela — porque, no momento em que lho quero dizer, estou aqui ao telefone com ela, a ouvi-la e preparada para me defender.»

*Lydia Davis, «Um Caso Tão Difícil», de Contos Completos, Relógio D'Água.


Ex-mulher de Paul Auster, Lydia Davis escreve muitas das 34 crónicas que compõe este livro a seguir ao divórcio. Feminista convicta, arrasa o género masculino, mas o ódio destilado em alguns dos textos parece dirigir-se implicitamente ao ex-marido. As crónicas são poderosas, fazendo jus ao estilo inconfundível de Davis: mensagens veladas, acutilantes, breves e surpreendentes. Esta é mais uma obra talhada para se tornar um ícone do feminismo. Lydia Davis nasceu em 1947. Entre 1974 e 1978 Davis foi casada com o autor Paul Auster de quem tem um filho. Aclamada pela forma acutilante e breve com que escreve os textos, algumas das suas histórias podem ter apenas uma ou duas frases, e variar entre géneros filosófico, poético ou de contos. Para além da escrita, Davis ainda traduz obras de Proust, Blanchot, Foucault, Michel Leiris, entre outros francófonos, com as quais tem sido distinguida com inúmeros prémios

*Lydia Davis, Break it Down - Demolição, Ulisseia.

Italo Calvino - há uma idade para ler?

A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitectura interna. Uma pessoa, por exemplo, lê na idade madura um livro importante para ela, que a faz dizer: "Como poderia viver sem o ter lido!" e ainda: "Que pena não o ter lido quando era jovem!". Pois bem, estas afirmações não fazem muito sentido, sobretudo a segunda, porque a partir do momento em que ela leu aquele livro, a sua vida torna-se a vida de uma pessoa que leu aquele livro, e pouco importa que o tenha lido cedo ou tarde, porque até a vida que precede a leitura assume agora uma forma marcada por aquela leitura.


*Italo Calvino, in Palomar.

A aventura de ler...

Ler é uma aventura vertiginosa?


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: Virginia Woolf

Já alguma vez pensou conhecer Virginia Woolf desta forma? Então fique com uma das páginas de «Miss Dalloway». 

Visite o site http://flavorwire.com para encontrar mais. 
Siga o link directo.

Noite da Literatura Europeia chega hoje a Lisboa

[por Lusa, texto publicado por N.G.]*

A Noite da Literatura Europeia realiza-se hoje, em Lisboa, pela primeira vez, com a participação, entre outros, dos autores Afonso Cruz, Massimo Gramellini e Carme Riera.

No total, nesta noite que começa às 18:30 e decorre em vários pontos da capital, entre o Chiado e o Rato, participam oito escritores que vão ler excertos da sua obra na língua natal, e um ator ou estudante de teatro, que lerá a respetiva tradução para português. O projeto, da União Europeia de Institutos de Cultura (EUNIC, sigla da designação em inglês, European Union Institutes of Culture), foi iniciado em 2008, em Praga, e tem como objetivo "divulgar a literatura europeia de forma criativa, num formato invulgar", afirma a organização em comunicado.

A organização desta noite é constituída pelos diferentes institutos de Língua e Cultura da União Europeia, entre os quais o Instituto Camões, e visa dar "a conhecer obras de oito escritores europeus contemporâneos". Nos itinerários escolhidos serão lidos excertos, na língua original, pelos autores presentes, e na tradução para português, por atores ou alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), das obras escolhidas.

"O livro do ano" é a obra escolhida de Afonso Cruz, cuja leitura, encenada por Tiago Guedes, será feita pela atriz Isabel Abreu, na Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto. Esta leitura será acompanhada por ilustrações e música interpretada pelo escritor.

Entre os autores presentes, estará o italiano Massimo Gramellini, que vai ler trechos do seu livro "Tem bons sonhos", no Museu Mãe d'Água, nas Amoreiras. De Espanha virá Carme Riera, autora de "No último azul", obra da qual lerá excertos no Museu da Farmácia, no Alto de Santa Catarina. Mathias Énard é o autor francês escolhido que vai apresentar trechos do seu livro "Fala-lhes das batalhas, reis e elefantes", e estará no Convento dos Cardaes, na rua de O Século, ao Príncipe Real. Lucien Vasilescu foi o poeta escolhido pela Roménia que vai ler poemas seus no Orpheu Caffé, também no Príncipe Real. A língua inglesa estará representada pelo irlandês Keith Ridgway, que lerá excertos do livro "The Spetacular" no Centro Nacional de Cultura, no Chiado. A língua alemã será representada por Wofgang Herrndorf. O ator Ulisses Ceia vai ler excertos da obra "Adeus Berlim", no elétrico n.º 28, no percurso entre os largos Camões e o da Estrela. Rosa Likson representa a Finlândia, lendo algumas passagens da sua obra "Os paraísos do caminho vazio e outros contos", no Quartel do Carmo, antigo convento carmelita. Fundado por D. Nuno Álvares Pereira.


*notícia do DN


1º Paragráfo: Os Malaquias


Serra Morena é íngreme, úmida e fértil.


a-ver-livros: conjugar e James Bentley

Estou e não 
estou
Sou e tenho dias
em que não
me sinto
eu
Vou e acabo
por ficar
Durmo e só 
sonho quando 
acordo
Respiro
e morro em sufoco


* para conhecer mais da pintura do canadiano James Bentley
basta seguir o link www.jamesbentley.com

quinta-feira, 23 de maio de 2013

É do borogodó: dizendo Lygia

Lygia Bojunga Nunes, escritora brasileira nascida no ano de 1932, em Pelotas, Rio Grande do Sul, carioca por opção e habitante Londrina por ocasião de seu casamento; Lygia começou sua vida artística nos palcos na companhia de Fernanda Montenegro. Depois a atriz saiu do palco para que a autora entrasse em cena. Lygia passou uma década a escrever roteiros para televisão e rádio, depois descobriu a literatura e chegou no ponto exato onde ela seria toda ela mesma.
Comparada com mestres da literatura para infância e juventude como Monteiro Lobato e Saint-Exupéry, Lygia Bojunga Nunes já foi agraciada com o Prêmio Jabuti, no Brasil, também Prêmio Hans Christian Andersen.
Inserindo fantasia a realidade, a autora não recusou escrever sobre temas delicados como o suicídio, em "7 Cartas e 2 Sonhos" (1983) e "O Meu Amigo Pintor" (1987); assassinato, em "Nós Três" (1987) e abandono dos filhos pela mãe, no conto "Tchau", no volume de mesmo nome (1984). No livro "Um Encontro com Lygia Bojunga Nunes" (1988) reuniu textos sobre sua relação com a literatura, apresentando, de forma dramatizada, o resultado de seu trabalho.
Hoje digo um seu poema. Vejam o vídeo.


"Eu sempre usei livro pra tudo:
pra saber ler, pra altear pé de mesa, pra aprender a usar a imaginação,
pra enfeitar sala quarto a casa toda,
pra ter companhia dia e noite,
pra aprender a escrever, pra sentar em cima,
pra rir, pra gostar de pensar,
pra ter apoio num papo, pra matar pernilongo,
pra travesseiro,
pra chorar de emoção, pra firmar prateleira,
pra jogar na cabeça do outro na hora da raiva,
pra me-abraçar-com, pra banquinho de pé;
eu sempre usei livro pra tanta coisa,
que a coisa que mais me espanta
é ver gente vivendo sem livro."

Penélope Martins

1º Parágrafo: No Dia Em Que Fugimos Tu Não Estavas Em Casa


Meu amor, escrevo-te para te dizer que deixaste cá os teus brincos. Estão no quarto, do lado onde pões sempre as tuas coisas e te vais esquecendo delas à medida que sais com aquela pressa. Sempre com aquela pressa. Meu amor, tenho ciúmes desse teu emprego, dessa tua vida, porque ela me tira de ti mais que nenhuma outra coisa. Gostava que desistisses desse teu emprego, meu amor mais lindo, para eu desistir também do meu e assumirmos que a nossa profissão é amarmo-nos como se fôssemos uma empresa dessas que para aí andam a fechar e a despedir gente. Em vez de pegarmos ao emprego, devíamos pegar ao amor. Numa fase inicial amávamo-nos das 9 às 5. E depois daí, saíamos fora do expediente e dedicávamo-nos ás horas extraordinárias que desde sempre foram mais lucrativas.


Uma outra forma de ler Bukowski: Marijuana, álcool e drogas!

Uma opinião... para acompanhar! Com bom espírito...




quarta-feira, 22 de maio de 2013

Histórias de Amor - estilhaços de leitura

Ilustração de Sónia Oliveira

WEEK - END
"Entretanto continuavam a olhar um para o outro, sorrindo levemente, sem palavras. Beijavam-se , e de novo tombavam para o lado e ficavam assim, as bocas entreabertas, os olhos a luzirem. Estava calor e muita luz no pequeno quarto do hotel barato. O sol forte que rompia entre as frestas do estore espalhava-se pelas paredes nuas e pela roupa revolvida da cama."

DOM QUIXOTE, AS VELHAS VIÚVAS E A RAPARIGA...
" Lembro-me de que na altura em que a arrastei para o assento me pus a beijá-la, já cheia de pranto numa rigidez de pedra. Nunca a beijara daquele modo: sem abrir os olhos de quando em quando para ver se os dela estavam fechados e sem olhar primeiro à volta, não houvesse alguém a espreitar-nos. Mas daquela vez foi assim. A minha miúda ficou dura e quieta, não chegou o corpo ao meu nem se esfregou diabolicamente em mim como nas outras noites."

ROMANCE COM DATA
"Agora estão ambos sob o lenço e mesmo assim o homem vê-a inteira como uma madona recortada em fundos ancestrais. Uma figura de mulher na elegia da sua condição, longínqua, com uma tradição incomensurável de fêmea e portanto poderosa e bela. E tateia-lhe o corpo para que lhe fique bem gravado na memória dos sentidos; e fala-lhe realmente de amor, do desejo com paz, sem piedade."


* [em maiúsculas o título do conto, a sublinhado as partes censuradas na 1ª edição]

1º Parágrafo: Trás-os-Montes


Teodoro vivia numa casa cansada, uma casa com dores de costas que reagia mal aos dias húmidos e tinha dificuldade em dormir à noite. Era uma casa esquecida e de pedras negras por causa do fumo das fogueiras do Inverno. Tinha problemas de equilíbrio e de concentração. Irritava-se nos dias nublados, como se estivesse contrariada naquele lugar. À noite as suas articulações rangiam como portas a abrirem lentamente, para tornarem a fechar-se num encaixe doloroso, que se ampliava nos longos corredores a que não se via o fim.



* Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2011

a-ver-livros: passeio e Adelchi-Riccardo Mantovani

Perde-te nos trilhos
do meu corpo
não temas as veredas ventosas 
sobre os rochedos 
e o mar
Descobre as sombras
que as amoreiras deitam
nas camas que os pés fizeram
Espanta-te devagar
com o som do vento

a atravessar
a noite
De troncos entrelaçados
sorriremos ao sol 
e espantaremos 
os pássaros

* para saber mais sobre o pintor italiano Adelchi-Riccardo Mantovani
siga o link www.mantovani-art.de

terça-feira, 21 de maio de 2013

O regresso do LeV a Matosinhos

Uma boa notícia no charco... O LeV está de volta a Matosinhos.

Noticia da Visão:

Escritores debatem futuro de Portugal no 7.º festival LeV - Literatura em Viagem

«Matosinhos, 14 mai (Lusa) - Vinte e cinco escritores e ilustradores embarcam entre 23 e 26 de maio na 7.ª edição do festival LeV - Literatura em Viagem, que decorre em Matosinhos e tem como tema a viagem ao futuro de Portugal.

Entre repetentes e estreantes, participam este ano no LeV J. Rentes de Carvalho, Afonso Cruz, Valter Hugo Mãe, Nuno Camarneiro, Manuel Jorge Marmelo, Teolinda Gersão, Eduardo Pitta, Pedro Vieira e Onésimo Teotónio Almeida.

Francisco José Viegas, Fernando Pinto Amaral, João Luís Barreto Guimarães, Miguel Miranda, Alberto S. Santos e Júlio Magalhães integram também a lista de convidados, a par de autores de literatura para crianças como Adélia Carvalho, António Mota, Carla Maia de Almeida, Manuela Costa Ribeiro e Alexandre Honrado e dos ilustradores Alex Gozblau e André Letria.»

Ler mais: http://visao.sapo.pt/escritores-debatem-futuro-de-portugal-no-7-festival-lev-literatura-em-viagem=f729556#ixzz2TxyyzbGZ

Quer consultar o programa? Acompanhe o evento no facebook. Ou na página da Biblioteca Municipal Florbela Espanca

É do borogodó: panela de cozido

panela de cozido (a teimosia de Maria)

Teimo ser tua Maria mesmo que eu não carregue com esta sina o nome cravado na certidão. Diz lá outra coisa, não importa, teimo ser tua Maria, um ventre amplo onde se multiplicam ilusões açucaradas para multidões ensandecidas.

Deito-me na cama e do meu umbigo brota uma imensa árvore. Ganha céu, jequitibá. Floreia nuvens, ipê. Margeia a serra, manacá. A copa imensa estende abertos braços que acolhem teu regresso, figueira. Encorpadas de satisfação chovem folhas, sibipiruna.

A primeira mensagem, as linhas formais, o vocabulário rebuscado que derramava uma timidez sedutora, eu respondi sem saber. Mas, confesso, senti vibrar algo inusitado ali, naquele fraco instante em que não éramos mais do que bilhetes vagos e menos do que os velhos carimbos postais. Faltava um pedaço, mas havia todo o resto.

Teimo ser tua Maria mesmo que as linhas tenham se desintegrado antes de constituir tua caligrafia. Antes do sim, antes do não.

Paira no tecto do quarto uma teia de aranha cuja trama fina é indecifrável. O pequeno insecto que ali ficou atrelado, tramas de linhas, esperou ser devorado por uma aranha imensa, linda de tão feroz; mas a aranha nunca veio ter com ele o encontro prometido. O insecto morreu desgostoso daquela insignificância. Ficou chorando dias e dias ali no canto da parede e das lágrimas dele brotaram manchinhas escuras de bolor. Um dia veio o vento, a chuva, o aguaceiro e nunca mais se ouviu falar deles.


Miracemas são pedras da calçada brasileira

Respondi para que tuas aflições fossem diluídas nas minhas. Entreguei uma alma antiga, daquelas empoeiradas que não temem as vicissitudes da vida (que é efémera, sobretudo).

Cresci num terreiro de chão batido e bem varrido por vassourinhas de palha de milho. No canto norte uma fartura de arruda, no canto sul capim cidreira. Despiu-se em mim fagulha de fogueira, atabaques e preces silenciosas. Os profetas, os deuses, os bárbaros, os pagãos (principalmente os pagãos), todos eles foram me habitar.

É preciso saber agradar para fazer um bom cozido. Saber da colheita, saber do preparo, saber do sabor. Saber da honestidade que a simplicidade nos impõe. Inhame, aipim, maxixe, couve-manteiga, moranga e batata doce e baroa.

Teimei ser tua Maria porque eu sabia que poderia ser tua simplesmente e eu saberia a hora de cada pequeno broto, cada raiz, as folhas verdes espessas que podem tudo suportar. As saudades se escondem na panela de ferro, cozinham em fogo brando.

Sonhei fadas prenhas, elefantes brancos e pequenos príncipes indianos enrolados em finas sedas. Camaleões se embrenhavam nos travesseiros, faziam amor entre as plumas. Ouvi chiados de fêmeas em gozo. Vi libélulas arrasarem voo em duo. Toquei em mim uma valsa elegante, estendi as cordas do violão e degustei lembranças eréteis.

Uivei pedindo abrigo à Lua tantas eram as nuances da minha ode onírica, mas o Tempo veio – com a faca nos dentes e os olhos flamejantes de labaredas gélidas azuis – e sem dizer nada que me consolasse, ceifou minha alegria.

Emaranhei-me nas teias das palavras gravadas no espaço e ali morri sem nunca ter sido por tua gana devorada. Morri no desgosto da semelhança que era avessa. Morri no fel que não se conhece das travessuras adolescentes. Extinguiram-se em mim tuas promessas vazias.

Insisti ser tua Maria na nuvem grossa de areia que turvava minhas retinas.

Caiu o sereno, passou o vento, as calhas cantaram. A rua se espelhou húmida nas miracemas vulgares que hoje mais parecem brilhantes únicos, verdadeiros.

Penélope Martins

1º Parágrafo: Estação das Chuva


Naquela noite Lídia sonhou com o mar. Era um mar profundo e transparente e estava cheio de uma criaturas lentas, que pareciam feitas da mesma luz melancólica que há nos crepúsculos. Lídia não sabia onde estava, mas sabia que aquilo eram alforrecas. Enquanto acordava ainda as distinguiu atravessando as paredes e foi então que se lembrou da avó, Dona Josephine do Carmo Ferreira, aliás Nga Fina Diá Makulussu, famosa intérprete de sonhos. Segundo a velha sonhar com o mar era sonhar com a morte.


a-ver-livros: sombra sol e Robert Bechtle

Não te escondas nas sombras
aceita a cor que o reflexo 
dos teus sonhos deixa 
nos umbrais

E magenta não te queiras carmim
só por ser mais fácil viver
na luz

Que mais vale nada
ser que o que nos reduz


* para saber mais sobre o norte-americano Robert Bechtle
siga o link www.sfchronicle.com/art/article/Robert-Bechtle

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Alice Vieira visita Enid Blyton

O livro está por aí nas bancas - e talvez a capa a puxar às memórias de infância e adolescência engane, mas está recheado de episódios sumarentos relacionados com Enid Blyton, prolífica autora de livros juvenis que marcaram a juventude de várias gerações. Afinal, quem não conhece "Os Cinco", "Os Sete", "Noddy" ou "As Gémeas no Colégio das Quatro Torres"?

A jornalista e escritora Alice Vieira tomou para si a tarefa de escrever a biografia da escritora britânica cujos livros estão agora a ser reeditados em Portugal. Uma aventura que a levou a descobrir uma mulher muito, muito complicada - uma verdadeira 'cabra', se o podemos dizer - que, no entanto, vivia num mundo de fantasia que criou para si e para milhares, provavelmente milhões, de leitores em todo o mundo. 


A sessão de apresentação deste livro, editado pela Leya, decorreu na emblemática livraria Bucholz, em Lisboa. Ficam algumas imagens e também um pequeno video como registo do momento.

Alice Vieira assina "O Mundo de Enid Blyton"
Cristina Ovídio abre a sessão, falando da sua experiência
como leitora de "Os Cinco" e "As Gémeas"


Falando de Enid Blyton
Na plateia, as escritoras Luísa Fortes da Cunha, Maria João Lopo de Carvalho
e ainda Catarina Fonseca, que acumula como filha de Alice
Autógrafos, claro. O primeiro, no final da sessão, foi para
a também escritora Maria João Lopo de Carvalho
Nada como ter sentido de humor: Alice Vieira usou durante
a apresentação a t-shirt que uma amiga lhe enviou de propósito

Fiquem com o video!



1º Parágrafo: Enquanto Salazar Dormia...


Nunca esperei regressar a esta rua, e nunca esperei que o meu velho coração sentisse tanta emoção ao pisar os passeios da Lapa. Quando saí do táxi em frente ao hotel foi como se uma bola de demolição tivesse chocado comigo. Fiquei sem respiração por momentos, invadido por sentimentos, memórias de cheiros, imagens e vozes. Não me lembro sequer de ter pago o táxi, nem me recordo das palavras do porteiro, a dirigir-me com cortesia para a recepção. Nada, de repente, existia. A não ser Lisboa, 50 anos atrás. A minha Lisboa, onde amei tanto e tantas vezes.


a-ver-livros: velhinhas e Inge Löök

Em fundo a voz que lê Cecília
e eu a pensar se um dia serei
velhinha também
o candeeiro de design já vintage
como o amor que me trouxe até aqui

Elas 'levam à boca as xicrinhas'
e eu levo aos olhos o resto daquela
nuvem branca enorme
navio de algodão doce cruzando o azul
lembrança que espero não perder
entre os livros que já não terei
tempo de ler


* para saber mais sobre a ilustradora finlandesa Inge Löök
siga o link www.ingelook.com

domingo, 19 de maio de 2013

Sublinhe-se... Aldous Huxley

"A educação actual e as actuais conveniências sociais premeiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença de banimento. Três quartas partes do Homem são proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os homens são criados para serem cidadãos e nada mais, tornam-se, primeiro, em homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis.


A insistência nas qualidades socialmente valiosas da personalidade, com exclusão de todas as outras, derrota finalmente os seus próprios fins. O actual desassossego, descontentamento e incerteza de propósitos testemunham a veracidade disto. Tentámos fazer homens bons cidadãos de estados industriais altamente organizados: só conseguimos produzir uma colheita de especialistas, cujo descontentamento em não serem autorizados a ser homens completos faz deles cidadãos extremamente maus. Há toda a razão para supor que o mundo se tornará ainda mais completamente tecnicizado, ainda mais complicadamente arregimentado do que é presentemente; que graus cada vez mais elevados de especialização serão requeridos dos homens e mulheres individuais. O problema de reconciliar as reivindicações do homem e do cidadão tornar-se-á cada vez mais agudo. A solução desse problema será uma das principais tarefas da educação futura. Se irá ter êxito, e até mesmo se o êxito é possível, somente o evento poderá decidir."

*Aldous Huxley, in Sobre a Democracia e Outros Estudos

Porto e Benfica em livro. Que ganhe o melhor!

Porto 1987-2012 - 25 Anos no Topo do Mundo
Factos, memórias e afectos
de João Nuno Coelho
Edições Afrontamento

No dia 27 de Maio de 2012, cumpr(iram-se) 25 anos sobre a mítica conquista da Taça dos Campeões Europeus, que marcou o início do longo ciclo de triunfos nacionais e internacionais do FC Porto. É exactamente esta «era dourada do Dragão» que este livro retrata e celebra. Mas de uma maneira peculiar: por uma vez, são os adeptos que «mandam» no jogo e contam a história maravilhosa dos 25 anos do FC Porto entre os melhores clubes do mundo. Fazem-no através de crónicas pessoais, plenas de memórias, afectos e emoções, centradas em 25 jogos memoráveis deste quarto-de-século portista, expondo formas muito diversas de viver o clube, sua história, cultura e identidade.



Cosme Damião - O Homem que Sonhou o Benfica
de Ricardo Serrado
Zebra Publicações

A ÉPICA E EMOCIONANTE HISTÓRIA DO ORFÃO QUE CRIOU A MAIOR ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA DO MUNDO

No dia 2 de Novembro de 2010, celebra(ra)m-se 125 anos sobre o nascimento da maior figura da história do Sport Lisboa e Benfica: Júlio Cosme Damião, um dos fundadores do clube no início do século XX e verdadeiro "pai" do Benfica nos primeiros 25 anos da sua existência.

A biografia de Cosme Damião não é apenas um livro sobre o fundador do SL Benfica, nem tão pouco se limita a ser mais uma obra sobre futebol. É, isso sim, a épica e emocionante história de um orfão pobre, humilde, casapiano, que logrou construir a maior instituição portuguesa e a maior associação desportiva do Mundo.

Foi do ambicioso sonho de Cosme Damião que nasceu o SL Benfica e, mais importante ainda, foi a partir dos seus valores que se moldou o clube à sua imagem, ou seja, um clube do povo, que subiu a pulso, cresceu do nada, vingou, venceu e assumiu-se como uma referência a nível mundial. Valores de humildade, fair-play, desportivismo e, acima de tudo, uma inigualável vontade de vencer, nasceram com Cosme, cresceram com Cosme e solidificaram-se com Cosme ao longo dos anos em que este se manteve à frente dos destinos do clube. Cosme Damião deu alma, deu valores e deu dimensão ao clube. Numa palavra, deu-lhe a Mística que o torna tão especial…

Cosme foi fundador, mentor, jogador, capitão, treinador, dirigente… Cosme foi tudo no Benfica. Mais, Cosme foi o Benfica! Além disso, fora do clube, Cosme foi ainda embaixador de Portugal no Brasil, foi escritor, árbitro, presidente do Casa Pia… Cosme foi, sem sombra de dúvida, uma das maiores figuras portuguesas da primeira metade do século XX e, definitivamente, o homem mais importante de sempre do futebol português.

Uma obra de referência, incontornável não só para todos os benfiquistas, mas também para todos os amantes do desporto-rei.

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: Antoine de Saint-Exupéry

Já alguma vez pensou conhecer Antoine de Saint-Exupéry desta forma? Então fique com uma página original de «O Principezinho». 


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Cronicando pela Ásia... A ilha dos Macacos

Ko Phi-Phi, 
26 de Abril 2009


A excursão partiu para a ilha dos macacos.

Mais uma vez o cenário idílico: escarpas carregadas de árvores bonsai, coqueiros na praia, areia fina e águas transparentes. Uma ilha que era um pequeno oásis. E era dali que sairiam os macacos.

Mas os animais nem apareceram. Ninguém os viu. Estariam demasiado ocupados com outros afazeres... Não se dignaram a descer à praia vir cumprimentar os exploradores do ilhéu. O calor estava no pico, se calhar era a hora da sesta.

Pouco importa se não os vi. Diverti-me a explorar o mar com os óculos de mergulho e voltei a apreciar os corais. Os peixes dançavam à minha volta.

Dei uma grande braçada e fui à pequena praia. Nunca senti areia como aquela; a sensação boa e constante de sentir uma massagem nos pés. Isto de andar no paraíso é um sonho...

O barco regressa agora para as ilhas principais onde estou hospedado. Já falta pouco para partir das Phi-Phi rumo a novas aventuras. À minha volta o pôr do Sol explode numa emoção de cores. Foi provavelmente um dos dias mais felizes da minha vida. E as fotos não mentem.

Anoto no meu caderninho: "dia do paraíso. explosão de sentidos. azul, roxo, vermelho, rosa, verde... pôr do sol!"




Rodrigo Ferrão