sábado, 10 de setembro de 2016

Eu poético: Esquecimento

ESQUECIMENTO

Às vezes esqueces-te que estou vivo
e moro em ti.
Que não sou apenas este corpo
que um dia foi teu
e que pediste emprestado
para te abraçar.
Que não sou apenas a memória
dos sorrisos que partilhámos
na caixa de supermercado,
quando fazíamos cerimónia
um do outro
porque não decidíamos quem pagava a conta.
Tu coravas e olhavas para o chão,
eu passava o cartão na máquina
e dizia-te que um dia,
lá ao longe,
tu e eu seríamos pais
de uma doce família
e aí, aquele momento,
já não faria diferença.

Preciso de alguém que me faça esquecer de ti.
Que covarde sou ao achar
que há no mundo
alguém como tu.
Uma pessoa que te substitui
em pleno modo e direito,
e que me afasta o pensamento
do que fomos, um dia.
Não sei como posso voltar a ser feliz,
não sei que sentido faz a praia
onde víamos rebentar as ondas,
já não sei todos os significados
das nossas gargalhadas absurdas.

Sabes uma coisa?
Nem sempre ficamos com quem mais amamos
e, por medo da solidão,
arriscamos continuar a amar,
Mesmo que o nosso grande amor tenha morrido,
para sempre,
numa lembrança distante.

Rodrigo Ferrão

Foto: Rodrigo Ferrão

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Milágrimas,


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Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre





- Do poema se fez canção:
Letra de Alice Ruiz
Música de Itamar Assunção


* Este post leva um pedaço de Brasil para Portugal, a nossa ponte de leituras que É do Borogodó!, toda terça-feira, com Penélope Martins.

cicatriz



carrego a costura
do verbo acima do peito
amor encarnado.


Helder Magalhães



Violetta Kostyreva: photography & sweet dreams.