sábado, 7 de maio de 2011

Estava eu Sentada

Estava eu sentada
no sofá da sala.
Estava em Buenos Aires,
Rio de Janeiro.
E fazia sol
e fazia chuva,
eu nada fazia,
eu dançava um tango,
os meus pés descalços,
outra melodia,
ouviam Sinatra
a cantar Jobim.
E eu a ler poemas,
Borges e Pessoa,
mas não decifrava
nada, nada, quase nada, tudo, nada.

Continuava a tarde,
Caetano na rádio
e na mesma rádio,
bombas em Madrid.
Eu estava em Lisboa,
a cidade branca
onde o fado mora
e a guitarra espanta.
Gente fraca e feia,
que não acredita
porque tudo falta
em tardes de chuva
falta cor ao mar,
falta um Deus no céu,
falta uma fé, o Zé,
o pré, e explicações no rodapé.

Na hora do chá
liguei a T.V.
quarenta canais
a quarenta graus.
Eu procuro musas,
outras formas de arte.
Cidades sem gente,
vazias de livros,
vazias de nuvens,
sem árvores no chão.
Vagueio por Roma,
café em Paris,
mas o mundo gira,
parece que dança,
vou na contradança
e a coisa avança, avança, avança, quase sempre em segurança.

E são vinte e dois.
E são vinte e quatro.
São quarenta e seis.
Uma legião.
Veio do estrangeiro
por pouco dinheiro,
comem pouco pão,
nunca querem vinho.
Eu já fui pintor,
já pintei palavras,
mas ninguém ouvia.
Falava de mim.
De tudo o que fui.
Não fui, vivi, senti,
Não vi, não estava ali
Estava na Turquia, eu ia, eu vinha, eu ia, eu ia...

Eu estou na sala.
São cinco por cinco.
A sala é quadrada
quando a noite chega,
chegam as estrelas.
Já não há estrelas!
Fecharam a fábrica,
tinham pouca venda.
Não há quem aprenda
este velho ofício,
fazem-no por vício,
para as ver brilhar
no fundo do mar.
Sou um mar sem sal,
eu sou a tal, a qual, a cal, actual, ideal, imaterial!


Em dias de chuva a poesia pela Feira

Na verdade é um post preguiçoso de um dia cansativo. A chuva e o vai-vem do plástico que se põe e o plástico que se tira e o estar a olhar para o dia a passar e os dias a passarem e um tempo que não ajuda em nada a todos os problemas deste sector.

Porque a poesia é de todos os sectores que se calhar mais sofre com as crises, a financeira porque é dos nossos bolsos que se tem perdido muito dinheiro no poder de compra e porque o pão ainda não se substitui totalmente por literatura e porque quando é para cair nas edições a poesia é logo das primeiras.

Duas mulheres, duas mulheres polémicas em estilos bem diferentes, duas lufadas de ar fresco. Para amanhã estou a ver se preparo com cabeça uma reflexão sobre uma discussão suscitada no post anterior, sobre como as editoras vendem os seus autores.

Inexistência de Eva da Filipa Leal pela Deriva Editores

Dobra - poesia completa, de Adília Lopes pela Assírio & Alvim

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Asterios Polyp, David Mazzucchelli

Vencedora de inúmeros prémios na categoria, incluindo 3 Eisner Award, 'Asterios Polyp' é uma b.d. extraordinária. David Mazzucchelli escreve e desenha com uma mestria invejável.

Toda a história parece estar centrada na dualidade das coisas. O certo ou errado, moral e imoral, belo e feio... Num ensaio bastante profundo, filosófico e eloquente.


Com um grafismo formidável, os olhos lêem tanto o texto como as mensagens sublimares do desenho. Por toda a parte estão escondidos pormenores deliciosos. O livro está carregado de cores (escolhidas a dedo), que retratam diferentes fases e emoções na vida do personagem.

Asterios Polyp é um professor e arquitecto numa faculdade. Nunca conseguiu ver algum esboço seu transformar-se numa estrutura física. Fugido de um incêndio que lavra no edifício onde vive, resolve deixar tudo para trás. Vai trabalhar como mecânico e instala-se na casa do patrão.


Ao seu passado regressa em pensamento, retratando um casamento que deixou de fazer sentido, os seus medos e inseguranças, muitos sonhos alegóricos e o irmão gémeo que perdeu à nascença - Ignazio - que narra alguns aspectos da personalidade de Asterios.


Este vale muito a pena!
Estou encantado! Obrigado Ubik, pelo empréstimo do livro.

Uma aposta, um autor, uma editora... valter hugo mãe na Feira do Livro

Foto: Pedro Ferreira

Em 2010 a Editora Objectiva usou, pela primeira vez na história da Feira do Livro de Lisboa, um pavilhão inteiramente dedicado a apenas um livro. Aconteceu com «a máquina de fazer espanhóis» de valter hugo mãe. No certame de 2011, a Objectiva dedica um pavilhão exclusivamente à obra de valter hugo mãe durante os primeiros quatro dias.
Este é o pavilhão de 2011, gravado no dia de abertura, 28 de Abril, pela própria editora que tem disponibilizado vários vídeos das suas acções através das redes sociais. A anfitriã que nos recebe é a Mafalda. Assinala a reedição de toda a obra do autor por esta chancela.



Isto é o que a Objetiva escreve sobre a sua aposta neste autor, realmente é uma aposta ousada e inédita. O valter merece esta atenção e o panorama editorial português deve deitar olhos a este tipo de iniciativas. Já é tempo de os nossos grandes autores merecem a devida atenção e que as nossas presenças nas feiras internacionais sejam mais do que um picar de ponto entre canapés e compra e venda de direitos. Portugal tem talento e não é com pessoas que empilham rolhas ou fazem números de magia...

Do valter hugo mãe destaco o livro "o apocalipse dos trabalhadores" entre tantos e tão bons. Toda a sua obra nas mais diferentes áreas de actuação, sim porque não é só um escritor que vive em valter hugo mãe, pode ser visitado na sua página oficial.

A história de maria da graça e de quitéria, duas mulheres-a-dias e carpideiras profissionais que, a braços com desilusões e desconfianças várias acerca dos homens, acabam por cair de amores e, com isso, mudar radicalmente o que pensam e esperam da vida. Um romance sobre a força do amor e como ela se impõe como uma espécie de inteligência para salvar as personagens das suas condições de desfavor social e laboral.
Passado na recôndita Bragança, este livro é um elogio à força dos que sobrevivem, dos que trabalham no limiar da dignidade e, ainda assim, descobrem caminhos menos óbvios para a felicidade.

365 dias em estatísticas!

Terminou oficialmente (às 00.00h) o primeiro ano deste blogue. Entramos de pé direito no segundo... Com muitos projectos e surpresas a caminho. E, claro, muito para falar no Mundo dos Livros e muitas leituras para fazer!

Ficam alguns resultados:

Histórico total de visualizações de páginas: 31 718

Portugal: 20 947
Brasil: 5 695
Estados Unidos: 924
Rússia: 471
Eslovénia: 453


O poder, Rhonda Byrne
3 de Out de 2010, 47 comentários: 2 072 Visualizações de páginas

Uma viagem à Índia, Gonçalo M. Tavares
14 de Out de 2010, 1 comentário: 473 Visualizações de páginas

Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro, Carlos Moreno
17 de Out de 2010, 12 comentários: 337 Visualizações de páginas

Helena, Machado de Assis
1 de Set de 2010, 1 comentário: 303 Visualizações de páginas

Balanço desta aventura
30 de Dez de 2010, 13 comentários: 269 Visualizações de páginas

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Falo de Ti às Pedras das Estradas


'Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que é louro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de princesas e de fadas;

Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros que apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;

Digo os anseios, os sonhos, os desejos
Donde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!'

Clube de leitores - um ano

Foi no dia 5 de Maio de 2010 que começou esta aventura.


Parabéns!

O latim, o latir e as línguas... em dia de festa tudo a olhar para o balão!

O dia 5 de Maio foi fixado como a data em que é anualmente comemorada a “Língua Portuguesa e a Cultura da CPLP”, uma decisão saída do XIV Conselho de Ministros da CPLP, realizado em Junho de 2009, em Cabo Verde. Nesta data, os minisros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores recomendaram aos Estados-membros, às instituições da CPLP, aos Observadores Associados e Consultivos e às diásporas dos países da CPLP, a comemoração do Dia da Língua Portuguesa, tendo em vista a sua afirmação crescente nos Estados membros e na Comunidade internacional.

Na Feira do Livro de Lisboa o programa de festas... com moderação de Maria João Costa e a participação de Ana Paula Laborinho (Presidente do Instituto Camões), Domingos Simões Pereira (Director executivo da CPLP) e Paulo Teixeira Pinto (Presidente da APEL). Amanhã, quinta-feira, dia 5 de Maio, das 19h30 às 21h00, no Auditório APEL.

*****

Agora e depois do paleio oficial um grande "afinal que m**** (e fica com asteriscos porque isto é um blogue de livros cultural e tal), é esta?"

Pois é mais uma daquelas datas em que parece que damos muita importância à nossa interculturalidade e à promoção da língua. Curioso que na palestra não esteja nenhum autor de nenhum dos países que pertencem a esta coisa, não esteja nenhum editor ou alguém com responsabilidade óbvia para alguma coisa nesta área que não sejam os senhores da gravata, do costume.
Pois não convém referir que Portugal tem feito um desinvestimento astronómico na promoção da língua e literatura lusofona. Nos cortes aos apoios a editoras nas transposições e traduções de autores, nos cortes das feiras do livro promovidas nos países da CPLP.

Mais uma vez os cães ladram e a caravana passa!

Mas para que não seja tudo mau, aqui fica um autor de valor entre tantos outros e com uma novidade fresquinha.

Crónicas com Fundo de Guerra, do Pepetela, Edições Nélson de Matos, com edição conjunta em Portugal e Angola.
As crónicas que compõem este livro foram publicadas no jornal “Público” de 1992 a 1995 e tinham por título genérico “Da Terra dos Mitos”. Poderia ser até um bom título para manter. Mas as crónicas tinham sido escritas na altura em que, depois do processo de pacificação e eleições do ano de 1992, altura em que tudo de bom parecia possível de realizar em Angola, se seguiu a desilusão do fracasso colectivo que significou 
a continuação da guerra civil, até em muito mais larga escala de sofrimento e destruição.
Como se destinavam a um público estrangeiro, uma parte importante dele sem referências sobre o país, pouco se falava de guerra ou assuntos directamente políticos mas antes do dia-a-dia e do despontar de pequenas notas de esperança, por vezes mesmo alguma ficção. No entanto, a guerra estava presente e o seu batuque ecoava por toda a parte, abafando a esperança. Talvez ainda se encontrem ecos nestas crónicas. Daí o título do actual livro.
Quase vinte anos passados depois de escritas, apresentam ainda eventualmente situações semelhantes 
às do presente. Alguns aspectos estão ultrapassados, para melhor ou para pior, dependendo dos pontos 
de vista. Preferimos não peneirar, mantendo mesmo as que nitidamente se encontram demasiado datadas. Essas valerão pelo testemunho de um tempo que não queremos que volte.
Com esta publicação em livro se abre também a oportunidade de as apresentar a um público angolano, 
o qual, espero, perceberá não ter sido o alvo inicial, embora nelas esteja exclusivamente representado.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Porquê Malcolm Lowry em Maio?

'Debaixo do Vulcão' é recusado por doze editores e nos três anos que se seguiram, Lowry vai trabalhar a quarta e definitiva versão da obra.'

'Numa carta escrita ao seu editor Johnathan Cape, Lowry terminava com uma profecia: «Parece-me arriscado dizer se o livro vai vender bem ou não. Mas existe qualquer coisa de intrínseco no destino da sua criação que parece indicar que vai vender-se durante muito tempo.'

'Morre a 26 de Junho de 1957 em Ripe, Sussex, Inglaterra, por excesso de barbitúricos, ingeridos durante uma crise alcoólica. O veredicto do juiz foi Death for misadventure, Morte por infelicidade.'


Parecem razões bastante obscuras aquelas que me levam a escolher o livro de leitura conjunta deste mês. Sei de antemão que não é um livro fácil. Possivelmente alguns irão desistir. Ou pousar por tempo longo...

Então porque insisto?

A verdade é que tenho este livro aqui em casa há 3 anos. Além de ser a grande obra prima de Lowry, passa-se no México - local que gostaria de conhecer. E depois... toda a vida catastrófica do autor me atrai (sim, também tenho o meu lado negro!...).

'Debaixo do Vulcão' é o 13.º livro de leitura conjunta. Em Junho de 1950, Lowry deixa as seguintes palavras:

«O sentido do passado, da dor, da morte: estes são factores intrínsecos ao México. Mas apesar disso, os mexicanos são o povo mais alegre do mundo, capaz de transformar qualquer acontecimento, incluindo o Dia dos Mortos, numa festa, Riem-se da morte, o que não quer dizer que não a levem a sério. É talvez por possuírem um profundo sentimento trágico da vida que a alegria e a festa estão sempre presentes: a sua atitude é o melhor testemunho da dignidade do homem. A morte, derrotada pelo renascimento, é ora trágica ora cómica.»

Quem compra bilhete comigo para o México?

MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GÂNDIA, Sophia de Mello Breyner Andresen

Por Ana Luísa Amaral

A viagem continua... Argentina, próxima paragem

País convidado da última Feira do Livro de Frankfurt tem por isso recebido as maiores honras e atenções. Não é à toa que a maioria das publicações culturais e literárias tem vindo a carregar nos artigos falando sobre a literatura de ficção deste país. Também é possível reparar a grande quantidade de autores que estão a chegar às nossas livrarias. Não por falta de mérito, a literatura contemporânea deles figura entre as melhores do mundo.

Na década de 40 Jorge Luis Borges brilha como ícone mundial das letras argentinas. Extensamente traduzido e lido em todo o mundo. É um dos literatos mais aclamados do século XX. Com o apoio de Borges, Julio Cortázar edita os seus primeiros contos e inicia uma carreira brilhante. Ainda hoje continua a deslumbrar os leitores com suas ideias fantásticas e a sua mestria para executá-las. Em 1963 publica a revolucionária novela Rayuela.
Dentro desse ramo do idealismo destacaram-se também Adolfo Bioy Casares e Manuel Mujica Láinez. Bioy forjou uma forte amizade com Borges. Em co-autoria produziram grandes relatos: "Seis problemas para Seu Isidro Parodi" (1942), "Duas fantasias memoráveis" (1946), "Um modelo para a morte" (1946), "Livro do Céu e do Inferno" (1960), "Crônicas de Bustos Domecq" (1967) e "Novos contos de Bustos Domecq" (1977).
Juan Gelman destaca-se na poesia de estilo coloquial, carregada de compromisso político. O seu talento é reconhecido com o Prêmio Cervantes em 2007, o galardão literário mais importante da língua castelhana, ganho anteriormente pelas grandes referências como Bioy Casares, Ernesto Sábato e Jorge Luis Borges.
Também deixam pegada com os seus versos, Horacio Salas, Juana Bignozzi, Rafael Squirru, Fernando Guibert, Leónidas Lamborghini e Alejandra Pizarnik. Na década de 70, a ditadura militar marcou a fogo, as vidas dos argentinos e do mundo cultural. Juan Gelman, Antonio Di Benedetto, Osvaldo Bayer ("A Patagônia Rebelde", 1972), Tomás Eloy Martínez ("A paixão segundo Trelew", 1973) e Héctor Tizón, foram somente um punhado dos nomes que tiveram que se exilar para sobreviver.
Com o retorno da democracia, a vida cultural ressurge e tornam-se conhecidas obras de uma grande quantidade de escritores. Em prosa distinguiram-se: Ricardo Piglia, Manuel Puig, Antonio Di Benedetto, César Aira, Juan José Saer, Alan Pauls, Rodolfo Fogwill, Ana María Shua, Luisa Valenzuela, Alicia Steimberg, Osvaldo Soriano, Alberto Laiseca, Antonio Dal Masetto, Jorge Asís, Mempo Giardinelli, Cristina Feijóo. Na poesia: Arturo Carrera, Néstor Perlongher, Ricardo Zelarrayán, Susana Thenon, Irene Gruss, entre outros tantos que se poderia aqui enumerar.
Actualmente, uma nova geração de escritores emerge entre os que conheceram o êxito da editorial nos anos 90, como Federico Andahazi, Marcelo Birmajer e Guilllermo Martínez. A crítica menciona entre os seus principais, Washington Cucurto, Gisela Antonuccio, Juan Terranova, Pablo Toledo, Florencia Abbate, Samanta Schweblin, Mariana Enriquez, Diego Grillo Trubba e Federico Falco.

Ricardo Romero nasceu em Paraná, Entre Ríos, em 1976, na Argentina. É licenciado em Letras Modernas pela Universidade Nacional de Córdoba e, desde 2002, vive em Buenos Aires. Em 2003 publicou o seu primeiro romance, Ninguna Parte (Nenhum Lugar, nesta edição que a Deriva agora publica) e, a partir desse mesmo ano, dirigiu a revista Oliverio. Durante 2006 publicou o seu primeiro libro de contos, Tantas noches como sean necesarias. Em 2007, vários dos seus contos foram editados em diversas antologias dedicadas aos novos autores argentinos. Em 2008, publicou o romance El síndrome de Rasputín, primeira parte do que chama a sua «Ticlogía». A segunda parte desta saga, Los bailarines del fin del mundo, foi publicada em 2009. É igualmente editor da Gárgola Ediciones, onde dirige a colecção «Laura Palmer no ha muerto» e de Negro Absoluto, colecção de policiais dirigida por Juan Sasturain. Desde 2006, é um dos integrantes de El Quinteto de la Muerte, grupo com o qual editou este ano os livros 5 (La Propia Cantonera, Uruguai) e La fiesta de la narrativa (Editorial Una Ventana, Buenos Aires). Coordena a Taller de Algo juntamente com Federico Levín.

«O silêncio e a calma do deserto só eram interrompidos pelo chispar do seu isqueiro. Acendia-o e colocava-o em frente dos olhos esperando que o vento o apagasse. Quando o vento o apagava, voltava a acendê-lo e a chama elevava-se por um instante, vibrando na sua alaranjada transparência, até que a brisa o fazia desaparecer outra vez. «Talvez devesse comprar um cachimbo» – pensou Maurício, «dizem que é uma boa maneira de deixar de fumar». Isto era o que Maurício pensava. Entretanto, todo o deserto parecia estar à espera que o seu isqueiro ficasse sem gás.

Em Portugal a Deriva Editores faz essa aposta com uma nova colecção em que acaba de editar a Florencia Abbate e o Ricardo Romero. Também a Cavalo de Ferro com Pássaros na Boca, da Samanta Schweblin, vencedora do Prémio Nacional das Artes e do Prémio Casa das Américas. Estas e outras editoras têm visto aqui o potencial de edição, apostando nos velhos e novos valores da literatura argentina.

Dentro de mim faz Sul - seguido de - Acto Sanguíneo, Ondjaki

Como o próprio título diz, o livro está dividido em dois 'actos poéticos'.

Ler Ondjaki é gratificante. Divino no que toca ao sentimento pela Terra. Com letra maiúscula, o 'verdadeiro pó'. A poesia do autor é um apelo aos sentidos. A natureza está por todo o lado: presente nos pássaros, nas flores, no sal, na lua... Imagens que ajudam a compreender sensações humanas.

Na primeira parte ('Dentro de mim faz Sul') destaco o poema 'Os óleos, os olhos, as Almas' - dedicado a Paula Tavares e a Ruy de Carvalho.

Sendo difícil destaca-lo na íntegra, deixo as palavras finais:

(...)
'da ponte
onde
a sombra se despe e resiste
onde o poeta se senta
e na textura dos versos
insiste
sou um qualquer bicho
formiga lesma gafanhoto
espaço entre as areias
destro demasiado canhoto
sou a criança por adormecer
na ternura de mãos quentes
no colo da madrinha
em tardes ausentes

sou um pássaro fugaz
inquieto
esperando a vez do novo ser

e olhando a chuva
em mim me deito

raiz, semente
pessoa
por acontecer.'


No 'Acto sanguíneo', do poema 'Em adeus', destaco o seguinte:

(...)
'se escrevo, devo
algo às lembranças,
à balança interna
entornando adocicados barulhares.
na primavera, primo
por flores,
sabores, odores.
na rima me embalo,
sopro mel
e, apetecendo,
falo do que falo.
mas fá-lo-ei sempre?
sinto que devo
soprar o trevo
e ir sentando de manhã
à espera do sol
que acorda a rã
que emite o grito
que sempre alegra
um poucochito.'

terça-feira, 3 de maio de 2011

Regressar a Agostinho da Silva...

O programa é 'Conversas Vadias'. Agostinho da Silva era entrevistado por diferentes interlocutores. Corria o ano de 1990 e a Rtp1 fez uma série de 13 entrevistas.

Agostinho da Silva foi um dos maiores pensadores portugueses. Filósofo, poeta e ensaísta.

O que mais me espanta no decorrer destas entrevistas é a rapidez de resposta do pensador. Convido-vos a assistir. Nesta sequência quem conduz o programa é Herman José.





Outra terra no mesmo lugar

Viajar é sempre uma aventura fantástica seja entre livros ou com livros, há oportunidades que nunca se devem perder. Conhecer outros mundos e outras culturas pode por vezes ser feito a partir do sofá ou do banco de jardim. É a partir do conceito de viagem e da excelente literatura de viagem que já existia e alguma que está a ser feita nos dias de hoje que a editora Tinta da China lança no mercado uma colecção de literatura de viagem, coordenada pelo Carlos Vaz-Marques e com um grafismo de excepção. Muito bem pensados e muito bem escolhidos são peças de colecção, livros que apetece ter para além da leitura. Na imagem a repetente Alexandra Lucas Coelho que nos tem agraciado com tantos e bons textos de uma literatura de viagem reinventada. A partir do seu trabalho jornalístico a ALC (como também costuma assinar) leva-nos para as viagens do para além do núcleo da noticia. O que está para além da guerra, os quotidianos que não se alteram, o sabor das cerejas e os cheiros das flores, primeiro no Médio Oriente e agora no México... são livros que nos deixam a ansiar pelo próximo.

No site da editora podemos encontrar ainda outros títulos como "O Japão é um lugar estranho", "Morte na Pérsia" ou entre muitos mais "A Viagem dos Inocentes", de Mark Twain.


É claro que viajar também implica ir para outros lugares e como tal quando o fazemos para além da companhia de um livro que é já por si um bom companheiro, nada melhor que um amigo que conhece bem os locais para onde vamos. A Lonely Planet é reconhecida e premiada como uma das melhores editoras de guias de viagem. Sob o lema "Great travels on low budget" nasceu um gigante que começou de uma aventura de duas pessoas que gostavam de viajar. Recheados de informação para todos os gostos, entre a viagem de mochila e os comodismos de uma viagem mais calma, esta editora tem uma oferta muito alargada. Nos últimos anos aumentou essa oferta criando guias para responder aos mais diversos tipos de público e necessidades de quem viaja. Actualizados com regularidade basta folhear alguns para percebermos que quem os escreve efectivamente visita os locais. Para além de guias produzem excelentes manuais para escrita e fotografia de viagem, livros com literatura de viagem dos seus autores, álbuns fotográficos e de destacar o guia para o voluntariado mundial.

Vá para onde for, leve um amigo - leve um livro!

Umberto Eco é o grande destaque da Revista Ler - Abril

Terminei a Revista Ler, mês de Abril.

Os desabafos do editor - Francisco José Viegas - sobre a crise do livro, tem pontos com que concordo. Outros parecem-me excessivos.

Não concordo quando diz que 'a política de saldos até ao infinito como forma de solucionar «problemas de caixa» (o sonho de «livros a um euro» é uma alegria mal partilhada, caros leitores)...' Como vendedor de livros e estando em contacto permanente com o cliente, sei que, muitas vezes, saldar é a única forma de ver alguém sair com um livro na mão.

Pode parecer triste, mas é a realidade.

Não faço por esquecer que ler em Portugal continua a custar um absurdo. Se querem realmente promover a leitura, façam um grande debate com editoras e livreiros. Sei que sou um idealista, mas não é possível lutar por livros mais baratos?

Concordo com o que diz mais à frente: 'Talvez nasça uma nova «economia de títulos», uma mais decente política de promoção do livro, uma nova maneira de encarar as livrarias e a inteligência dos leitores.' (não sei é se acredito... veremos).

Neste número, destaque para as crónicas dos que passaram pelas Correntes de escrita, na Póvoa de Varzim. A história que Onésimo Teotónio Almeida conta, vale a pena.

Mas o ponto alto desta edição é a grande entrevista dada por Umberto Eco a propósito do seu mais recente romance. Toda a conversa conduzida por Carlos Vaz Marques, em Milão.


Destaco esta observação (lição):

'Há uma longa bibliografia sobre a diferença entre mentir, dizer algo falso e fazer de conta. Ora bem: mentir é dizer o contrário daquilo que se sabe ser verdade. Digo-lhe, por exemplo, que não está mais ninguém cá em casa. Como sei que a minha mulher está ali dentro, estou a dizer-lhe o contrário da verdade e o contrário daquilo que sei que é verdade, de modo a que você acredite em qualquer coisa falsa. Isto é uma mentira.

Outra coisa é dizer o que é falso: seria dizer-lhe que ela não está cá mas sem saber que afinal está. O pobre Ptolomeu dizia que o Sol girava em torno da Terra mas não era nem um mentiroso nem um romancista. Enganou-se.

A narração, por sua vez, é fazer de conta. E o que é fazer de conta? Esta não é uma ideia minha, isto já foi estudado. Fazer de conta é um jogo em que, por exemplo, eu digo que vou dar-lhe um murro. Faço de conta de que vou dar-lhe o murro mas não lho dou. Faço de conta de que sou um chefe índio. Em italiano, e creio que noutras línguas também, as crianças usam, curiosamente, o imperfeito nalgumas brincadeiras. Não dizem «Eu sou o chefe índio» mas «Eu era o chefe índio». Fazer de conta é, portanto, o modo de falar a alguém dizendo-lhe: «Tu sabes que aquilo que te vou contar não é verdadeiro, mas deves aceitar o meu jogo e fazer de conta que ele é verdadeiro.'

Poema do futuro, António Gedeão

'Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.


Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.

Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.'

[(Obrigado Manel). Partilho!]

segunda-feira, 2 de maio de 2011

É que hoje fiz um(a) amiga e coisa mais preciosa no mundo não há...


Os livros também são feitos de pessoas. Há livros que nos ficam marcados pelas pessoas, as que nos oferecem, aquelas a quem os oferecemos, aquelas a quem os compramos e as quem vendemos. A Feira do Livro é muito dessa experiência. São já tantos os anos, no Porto, em Lisboa, no Porto e em Lisboa, em pavilhões metálicos pintados de azul, de laranja, de verde e amarelo aos de madeira também de várias cores. Tantos anos, tantos livros e tantas pessoas. Aqueles que nos visitam todos os anos, os que procuram novidades, os que experimentaram um livro a conselho nosso e voltam, os amigos e as amigas, os colegas das outra editoras, das farturas e das bifanas. Tantas pessoas e tantos livros!

Hoje foi mais uma pessoa no meio dos livros - a Raquel Serejo Martins veio hoje ao pavilhão chamar pelo nome, sem vergonhas e a cumprir a promessa de visita. Uma boa surpresa, uma conversa longa mas que poderia ser mais longa, cortada e enriquecida por uma venda aqui e ali, uma ajuda a um leitor e uma indicação acolá. Um grupo de pessoas que por ali passou e a história de um dia em que a Raquel passou a ser personagem.

Um dos tags do blogue chama-se "Mundo dos Livros" e foi disso que estivemos a falar. Do que se vê num livro, do que não se vê, das boas coisas e das más. Das relações amor/ódio e acima de tudo o que nos une a todos e a todas - os livros.

Hoje foi assim... na Feira do Livro de Lisboa.

Um ano, 12 livros depois...

Maio de 2010. Começou o blogue e com ele o primeiro livro de leitura conjunta. Na altura elegi Dino Buzzati com 'O grande retrato'.


Em Junho fiz o primeiro convite. Sem saber ainda muito bem para onde é que este blogue caminhava. Mas apostando numa amiga dos tempos da faculdade que, entretanto, descobri nas redes sociais. A Constança (CBR) escolheu o belíssimo livro de Gao Xingjian, 'Uma cana de Pesca para o meu Avô'.


Depois seguiu-se o Fábio Ventura com 'A mecânica do coração' de Mathias Malzieu. O Fábio é o elemento que procurava para trazer discussão ao blogue, porque é um escritor num estilo que domino mal: o fantástico.


Agosto chegou com um título da época: 'O Verão selvagem dos teus olhos' de Ana Teresa Pereira. Foi a Raquel Serejo Martins que escolheu. Também ela escritora de um livro que fez parte das minhas leituras.


A Elsa (EME) juntou-se em Setembro. Na altura reparei que era uma presença habitual no blogue e no grupo que o acompanha, no facebook. Trouxe um policial enigmático que envolve o filósofo Kant como personagem: 'Crítica da Razão Criminosa', Michael Gregorio.


O mês seguinte foi do Diogo Martins: o mais novo do grupo! É curioso, porque 'resultou' de uma conversa com o Fábio Ventura. 'Marina' de Carlos Ruiz Zafón tinha acabado de ser lançado. E foi devorado numa leitura conjunta.


Em Novembro fui buscar um dos meus maiores amigos. Ainda por cima, grande especialista em livros. Um caso peculiar, entregue ao anonimato. Assina com o nome de uma personagem de Philip K. Dick - Ubik. Deu-me a conhecer Halldór Laxness, uma das leituras que mais gostei no ano passado. 'Os peixes também sabem cantar' foi o título escolhido.


Dezembro gelou-nos com uma história chegada do holocausto. Carla Valério, colega de curso em Coimbra, lê bastantes livros. E trouxe 'Se isto é um Homem' de Primo Levi.


Janeiro abriu este ano. E de que maneira! Pedro Ferreira seleccionou uma história para amantes de livros. 'Bibliotecas Cheias de Fantasmas' de Jacques Bonnet. Diverti-me imenso...


Novo mês, a mesma temática: um livro que fala sobre o amor por outros livros. A Cris Correia conquistou-nos com 'A casa de Papel' de Carlos María Domínguez.


A Cris arrastou quase involuntariamente a Luma Garbin. Foram colegas de profissão numa livraria em Lisboa. E Março foi o mês de Gonçalo M. Tavares com 'Uma Viagem à Índia'.


Por fim - e ainda por concluir - está 'Orlando - uma biografia' de Virginia Woolf. A Catarina Príncipe escolheu-o para o mês de Abril.


Foi um ano em revista. Cheio de grandes livros e bons momentos passados. Agora é tempo desta equipa voltar a escolher - no mês que lhe calhou - novo título para juntar a esta colecção.

Mal posso esperar pelas surpresas que nos esperam...

domingo, 1 de maio de 2011

Em dias de chuva recordamos a infância

Editado em Portugal nas Edições Afrontamento, "O Livro da Avó", de Luís Silva (texto e ilustração), chega também ao Brasil que criou este booktrailer agora disponível para os leitores, sobre o livro. Procure-o na Feira do Livro de Lisboa no Pavilhão da Companhia das Artes, na 2ª edição ou na edição de coleccionador numerada até 300 exemplares e assinados pelo autor.

Boas leituras!

Maio arranca 1 ano de blogue!

Dentro de poucos dias o blogue faz um ano.

Muita 'tinta' correu. Muitas amizades cresceram - com livros, poemas, pessoas. Citando ou dando opinião. Num pequeno projecto que vai tomando proporções só possíveis neste mundo cibernético...

Uma ideia que tive num dia. Que fiz crescer... Sem grandes metas ou objectivos. Sem medo de baboseiras ou dizer asneira. Sem a pressão de ser perfeito. Perguntando aos amigos se valia realmente a pena...

Convidando gente a dar-me a mão. Não impondo regras muito profundas - um espaço de escrita livre... Sem patrocínios de qualquer espécie ou opiniões copiadas dos outros. Natural, espontâneo. Com estilo próprio...


(a música é do filme 'África Minha', composta por John Barry)

E, de repente, leram-se doze livros em conjunto. Num clube de leitores virtual. Doze livros escolhidos pelos magníficos membros que consegui convencer a vir aqui, gravar seu nome. Gente amiga do passado e presente. Alguns desconhecia, mas conquistei. Amantes de livros e das suas histórias...

Catarina Príncipe, Cris Correia, EME, Pedro Ferreira, Raquel Serejo Martins, Rodrigo Ferrão, Diogo Martins, Carla V., Luma Garbin, Ubik, CBR e Fábio Ventura.

Somos o Clube de Leitores! Numa discussão em torno de um livro...

Apetece-me voar!

'Apetece-me voar!'

Vou deixando umas ratoeiras no facebook. À espera de comentários. De ter matéria para isto:

Raquel Serejo Martins: para onde?

Rodrigo Ferrão: Não sei. Apetece-me ver nuvens mais de perto!

Raquel Serejo Martins: aquela nuvem parece um cavalo...

Rodrigo Ferrão: Aqui parece roupa a ser enxaguada...

Raquel Serejo Martins: mas já não é um cavalo, é uma barca à vela

Rodrigo Ferrão: Vela latina? Que rompe pelos mares?

Raquel Serejo Martins: mas já não é um navio, é uma torre amarela

Rodrigo Ferrão: Uma torre grande ou pequena?

Raquel Serejo Martins: a vogar no frio onde encerram uma donzela...

Rodrigo Ferrão: Ela portou-se mal? Porque a prendem?

Raquel Serejo Martins: não faz mal, quero ter asas para espreitar da janela

Rodrigo Ferrão: Se te derem asas, podes voar como eu!


Ana Sofia Pinheiro: Então liberta as asas :)

Rodrigo Ferrão: Solto as asas onde?

Raquel Serejo Martins: Vá, lancem-me no mar, donde voam as nuvens, para ir numa delas, tomar mil formas, com sabor a sal
- Labirinto de sombras e de cisnes
No céu de água-sol-vento-luz
concreto e irreal…

Rodrigo Ferrão: Leva umas bóias... O mar esconde múltiplos perigos

Ana Sofia Pinheiro: vou roubar a tua frase

Raquel Serejo Martins: e para saber se a donzela se portou mal, acho que tens que perguntar ao José Gomes Ferreira

Rodrigo Ferrão: E pergunto: José Gomes Ferreira? Porque se portou mal a donzela?

Raquel Serejo Martins: hummm.... provavelmente apenas tédio... nem sempre precisas de grandes motivos :)

Rodrigo Ferrão: Mas eu motivo-me a indagar mais motivos... Que justifiquem qualquer coisa! Sou de espírito curioso. Um não, não serve!

Raquel Serejo Martins: não comeu a sopa toda!

Vera Eme: E porque não voas, se sabes onde queres chegar? ...:)

Céline Beutin: Avec ou sans kérozène? Beijinhos

Rodrigo Ferrão: Vera: Sei para onde vou. Questão de tempo. Dar tempo ao tempo. Beijinho

Rodrigo Ferrão: Céline, sans kérozène! Beijinho

Ernesto Sábato

Partiu Ernesto Sábato. O Argentino de 99 anos deixa uma obra notável. Infelizmente, muito esquecida entre os portugueses, estando apenas disponíveis 'O Túnel' - pela Relógio D'Água - e 'Resistir' - Dom Quixote.


"Les quiero pedir a los chicos y a los jóvenes que lean", pronunciou o autor na apresentação do Plano Nacional de Leitura na Argentina, em 2004.

A esta plateia de pequenos meninos, deixou:

'He venido hasta acá porque quiero hablarles de la educación, de los libros, de la importancia decisiva que tienen en la vida de los pueblos y de las personas, y de la que han tenido en mi vida.

Leer les dará una mirada más abierta sobre los hombres y sobre el mundo, y los ayudará a rechazar la realidad como un hecho irrevocable. Esa negación, esa sagrada rebeldía, es la grieta que abrimos sobre la opacidad del mundo. A través de ella puede filtrarse una novedad que aliente nuestro compromiso.

Privar a un niño de su derecho a la educación es amputarlo de esa primera comunidad donde los pueblos van madurando sus utopías.'

Sábato teve uma longa vida. Até sempre...