sábado, 22 de novembro de 2014

Relação difícil?

Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder por nada! 

Bibliotecas - Maravilhas de Portugal


Um registo surpreendente, com 140 imagens de Libório Manuel Silva, de 21 das mais belas Bibliotecas Históricas de Portugal, numa edição de luxo prefaciada pelo Professor Eduardo Lourenço.

Públicas ou privadas, pequenas ou grandes, famosas ou 'desconhecidas', de acesso livre ou museológicas, civis ou militares, o livro revela verdadeiros tesouros, transportando-nos a estas autênticas catedrais do conhecimento.

Uma Rota da Biblioteca Antiga e do admirável património cultural português para deleite de todos os apaixonados por livros.

Publicado pelo Centro Atlântico (www.centroatlantico.pt)

Contentor 13: um programa para leitores


É no Village Underground Lisboa que se iniciará, semanalmente, a viagem pelo mundo literário falado em português.

Ao longo de 13 episódios, o Contentor 13 (espaço onde nasceu o programa e que lhe deu nome), pretende revelar, não só o percurso profissional dos seus entrevistados - neste caso, escritores -, mas também o seu lado mais pessoal e desconhecido: hábitos, gostos, hobbies e muito mais.

Um número da sorte, com certeza, este Contentor 13 trará até si o melhor da cultura portuguesa, com um dinamismo e irreverência ao qual não ficará indiferente.
 
Em breve, na RTP2, a partir do Village Underground Lisboa!
 
*fotos e texto - Contentor 13
Visite e divulgue a página no facebook: https://www.facebook.com/contentor13

Foto frase do dia: James Paterson

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações



Meu querido José

Como diria Carlos Fradique Mendes, amigo de meu bisavô Marco António, onde está essa correspondência, seu maganão?
Há que tempos que espero por ler palavras suas! Então deixa a nossa tarde a meio? Deixa em suspenso as tílias e o Sol, positivamente  luminoso, e os tons verdes de terra húmida, jovem frenético?
Parece-me que sofre de elefantíase literária, que é como quem diz: muitos projetos, muitas ideias, mas pouca realidade!
Envio-lhe mais esta impressão, mais Wagner, mais "Träume", mais Maria Adelaide. Ainda hei-de escrever qualquer coisa mais a propósito deste belo poema sinfónico, mas não hoje, mas não por agora. Wagner inquieta-me bastante.
Espero por si, ainda esta noite, no número (...) da continental Rua do Brasil.
Até breve.
Seu

Gonçalo V. de S.



"Ainda «Träume»"


Volto-me para a janela que dá para o terraço deste grande hotel cosmopolita. Os sons europeus, diria o engenheiro naval, inundam o ar da minha imaginação. De noite, nenhum som é europeu. De noite, todos os sons são um silêncio líquido que se despenha em sonhos. Sim, novamente "Träume". Novamente Wagner, Efraim. Novamente essa besta de Sublime Transcendência!
Sento-me no terraço deste grande hotel em Nicosia. Em que hei-de pensar? A noite chegou assim que o silêncio abriu a porta do meu quarto com um toque suave na maçaneta que foi forjada com as esperanças que um dia colhi num jardim ou num campo de flores enquanto tu, Maria Adelaide, usavas uma fita no cabelo. Os teus lábios eram tão sedosos e sumarentos que não me impressionaria se os encontrasse descritos numas vinte páginas de um romance de Oitocentos…

Em que hei-de pensar, Efraim?

O copo de whisky novamente cheio de uma sede que não é minha. O copo repleto de uma sede de séculos de busca de um sentido para o tempo que passa impassível, inexorável, inevitável. Mas nada disto interessa. Interessa, sim, Maria Adelaide, essa menina de fita no cabelo, de cesto entre as mãos colhendo lírios e rosas e todas as flores do mundo. Colhendo todas as flores do mundo…
Mas esta sede que eu tenho, tão antiga, Efraim. Dá-me de beber, enche-me o copo de vida ou de vontade. Enche-me o copo de uma vontade líquida e luminosa.
Eu a olhá-la de longe como um peregrino que avista o oráculo pela primeira vez. O sol era a certeza de que tudo o resto era sombra, e ela, bela, simples, definitiva, colhendo aquelas flores de tons tão impressionistas e tão reais.
Onde estás, Maria Adelaide?

Efraim, em que hei-de pensar?

Coloca o "Träume" que Wagner musicou. É nesse espaço que me recolho como um monge crúzeo após um dia de pregação pelos campos do Mondego, talvez numa Coimbra de um século XIII da minha imaginação ou da minha loucura. Talvez de uma Coimbra de amores perdidos em sangue. Talvez.
Vem, Maria Adelaide, vem "Träume", inunda-me de uma paz mundial, de um sossego capaz de tornar os tons do céu e da noite mais justos. Talvez paz.
Vem, tu que dominas sobre as indómitas ondas do mar cinzento, vem e afaga-me a alma com uma carícia por dentro. Vem e consola-me deste pensar sonhando acordado. Vem, solene, divina, perfeita, indefinida. Vem.




a-ver-livros: marés vivas

Difícil nadar contra
marés vivas
entaladas entre o sol
e a lua
dominante
somando o grito 
afogado 
aos ecos vazios
da espuma que morre
no abraço 
por dar

Soubessem os peixes
dizer poesia
aplacavam talvez as ondas gigantes
e as pedras
no peito

Ana Almeida

* para saber mais sobre a ilustradora italiana Andrea De Santis
siga o link andreadesantis.blogspot.pt

Os trocadilhos do Tone - Mensagem

Mensagem, de Fernando Pessoa

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Foto frase do dia: Stephen King


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Editora PruX Táta: Odeio a ceia

Mais um título para a colecção de clássicos que ninguém lê da PruX.

"Odeio a Ceia" de Homerkel, adaptado para os parailiteracistas. Pedimos desculpa pelo palavrão, mas dizer "adaptado para as bestas que insistem em não ler e continuam a falar com a muleta «tipo»" era muito mais agressivo.

Neste clássico da literatura, um homem tenta regressar a casa depois de vinte anos de ausência. Com a descu...lpa de que teve dez anos numa guerra e cujo único feito que lhe conhecemos é a construção de um cavalinho de pau, juntando mais dez anos de navegação à deriva, sendo esta imposta por uma deusa que o violou repetidas vezes, a verdade é outra.

 Alices (nome masculino e de herói) saiu de casa e demorou vinte anos a retornar porque não gostava das ceias da sua esposa. Deixavam-no sempre indisposto, provocavam-lhe insónias e, quando conseguia dormir, tinha horríveis pesadelos. A forma que arranjou de o dizer foi não dizer e inventar uma estadia numa guerra de dez anos, mais dez anos para regressar.

Um verdadeiro herói!

*Acompanhe a Editora PruX Táta em: https://www.facebook.com/groups/374405188554/
*Acompanhe o blog O Javali de Vladivostok - http://ojavalidevladivostok.blogspot.pt/


a-ver-livros: do medo

Quem tem demónios
como os meus
não teme as bruxas
nem os treze
gatos negros
que passam sob a escada
de onde caiu o espelho

E os mortos não metem medo
- só os vivos

Ana Almeida

* para saber mais sobre o pintor Andreas Noßmann
siga o link www.nossmann.de/

Foto frase do dia: Bukowski

Poesia em matéria fria: Leminski

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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Poema à Noitinha... Ivan Junqueira

A IMORTALIDADE

O que é a imortalidade?
Um sopro que nos carrega
para os confins da orfandade,
onde o espírito se nega
e de si já não recorda
após a última entrega?
Que luz é a que nos acorda
quando a morte, em dada hora,
bate à porta e chega à borda
do ser que se vai embora,
mas crê que não vai de todo,
pois do invólucro que fora
algo fica em meio ao lodo
que lhe veste o corpo morto
com a púrpura do engodo?
E o que cabe ao que foi torto
e nunca exigiu conserto?
Irá chegar a algum porto?
Será que na alma um aperto
não lhe purgou a maldade
quando do fim se viu perto?

O que é a imortalidade?
Uma insígnia, uma medalha
com que se louva a vaidade?
Ou não será a mortalha
que te poupa só a cara
escanhoada a navalha?
Será talvez a mais rara
das obras que publicaste
ou da crítica a mais cara?
Será isto, já pensaste,
a herança em que se resume
o que aos amigos deixaste?
Esquece. Sente o perfume
de algo que se fez distante:
a mão de uma criança, o gume
de seu olhar penetrante
quando viu, no ermo do cais,
que o tempo que segue adiante
é o mesmo que volta atrás
e confunde a realidade,
e a desmantela, e a refaz.
É isto a imortalidade:
esse eterno e estranho rio
que corre em ti e te invade.
E o mais é só o pavio
de um lívido círio que arde
no insuportável vazio
que enche toda a tua tarde.

*Ivan Junqueira

É do borogodó: Rosa, minha irmã Rosa

Quando a minha irmã nasceu, meu desapontamento ficou tão evidente que a minha mãe, abafada entre lençóis e cobertores da cama do hospital, me disse:
- Ela vai crescer num instante!
Assim como se me pedisse desculpa nem ela saberia com certeza de quê.
Num instante.
Num instante?” *

Recentemente fui agraciada com exemplar do livro "ROSA, MINHA IRMÃ ROSA", de Alice Vieira, com ilustrações de Odilon Moraes, publicado no Brasil pela editora Positivo, de Curitiba.
Conheci Alice Vieira pela rede social, por onde seguimos conversas até começarem os correios eletrônicos e, por último, o mais refinado trato de amigos fisicamente distantes: o correio tradicional.

“Aos amigos precisamos escrever cartas de verdade”, disse-me Alice. Eu não ousaria discordar de uma premissa tão honesta. A carta leva junto um pouco da gente, pode ser percebida como um toque, um abraço, um afago. Alice tem o cuidado do abraço e, ao longo de nossa amizade, abraços não faltaram.
 É com esse afeto que Alice conduz seus leitores. Em suas narrativas, percebemos uma linguagem que aproxima e acolhe, a gente se vê na pele das personagens e com elas podemos decifrar angústias que são próprias de nossa condição humana.

"Rosa, minha irmã Rosa" é o primeiro romance da autora e, também por isso, indispensável para desvendar um pouco da escrita de Alice Vieira. Alice é jornalista e a escrita de livros inicialmente não fazia parte dos projetos profissionais. “Mas, um dia, os meus filhos estavam de férias, e era preciso entretê-los (e ter pai e mãe jornalistas é dose…). Eles se queixavam de que não tinham nada para ler e lá vinham as acusações de costume: você está sempre no jornal, nunca escreve nada para nós, etc. Aí tive uma ideia que me pareceu brilhante (só não podia imaginar como ia mudar toda a minha vida): ‘ Querem uma história? Então vamos escrevê-la nós três!’.”

Nos vinte dias de férias, Alice escreveu o romance com os dois filhos para depois enfiá-lo em uma gaveta e nunca mais se lembrar da história. Assim ficaria Rosa, guardada para os costumes de revisitação da própria família.
Para nosso bem, Mário Castrim, marido de Alice, resgatou o original para inscrição em um concurso lançado por uma editora que iniciava no mercado. Era o Ano Internacional da Criança.
Não só foi vencedora do concurso, como, a partir de sua publicação, "Rosa, minha irmã Rosa" levou do jornalismo para a literatura o nome de Alice Vieira. Era ela quem inicialmente não tinha planos para essa escrita, não era?

A vida é de fato um negócio curioso. Eu mesma conheci Alice na rede social e ‘num instante’ estava lá, pelas ruas de Lisboa, ao lado da amiga, compartilhando o carinho dos leitores que passavam pela escritora e não resistiam em perguntar:
- Desculpa, a senhora é Alice Vieira, não é?
E ela sempre a sorrir, com uma disposição ímpar:
- Por acaso eu sou Alice Vieira.

Alice Vieira brincou com os filhos, mas não ‘por acaso’ se tornou uma das mais importantes escritoras de literatura para infância e juventude. Mais do que isso, é das pessoas mais verdadeiras que conheço e isso, sem dúvida, se apresenta em cada linha de seus livros.
Em tempo, o trecho transcrito (*) no primeiro parágrafo,  inicia o romance "Rosa, minha irmã Rosa", de Alice Vieira, editora Positivo de Curitiba, Brasil.
Por fim, Alice também tem escritos para adultos que são imperdíveis. Procurem saber.

Penélope Martins

Tom Gauld: Meanwhile on 221b Baker Street...

Tom Gauld: 221b BAKER STREET


Foto frase do dia: Kafka

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Foto frase do dia: William Hazlitt


Editora PruX Táta: Há sempre uma primeira vez

A PruX continua a revelar as suas apostas para a rentrée.

 Neste caso, trata-se de uma entrée, mais não seja por se tratar de um livro que tem como título "Há sempre uma primeira vez".

 Sem querer adiantar muito, a PruX encontra-se em posição de revelar que este é o primeiro de dez títulos o que, por si só, mostra a intenção da Prux em regressar às trilogias.
Podemos apenas adiantar que a saga da t...rilogia de dez conta a luta de uma senhora que quer ser escritora, contra tudo e contra todas as gramáticas e ortografias. Ele pretende que as pessoas entrem numa livraria, peguem num livro escrito por si, leiam um pouco do início e digam: "Ora aqui está um livro! Um livro-ivro! De uma escritora-tora!" Ela imagina a livraria ampla, com ecos, de modo a enchufar egos.
Mais não dizemos, apenas revelamos os restantes títulos da trilogia:
- "Há sempre uma segunda vez, porque a primeira estava só a experimentar"
- "Há sempre uma terceira vez, porque da segunda tive uma depressão causada pelo corrector automático do Word"
- "Há sempre uma quarta vez, porque finalmente descobri a diferença entre o há e o à"
- "À sempre uma quinta vez, porque fico extremamente bem nas bananas dos livros"
- "À, afinal diz-se Ah quando estamos espantados, portanto Hã sempre uma sexta vez, porque tenho imenso tempo livre e não gosto de cozinhar"
- "Ah sempre uma sétima vez, porque eu, para além de Deus, que eu respeito o seu trabalho que ela está a fazer no Benfica, não descanso ao sétimo dia"
- "Á sempre uma oitava vez, porque Deus não é Jesus e é apenas o Espírito Santo que apareceu em Fátima dentro de uma senhora que se chamava na realidade Maria, mas tinha problemas e, infelizmente, o corrector ortográfico não curava doenças da cabeça na altura"
- "A sempre uma nona vez, que é como a primeira, pois com shots de Bacardi eu tenho apagões ao nono e sinto uma espécie de format no dia seguinte."
- "Aaaah sempre uma décima vez, que o editor desastrado diz que apagou as últimas oito por acaso"

Sucesso garantido!


*Acompanhe a Editora PruX Táta em: https://www.facebook.com/groups/374405188554/
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Poesia em matéria fria: Ivan Junqueira

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domingo, 16 de novembro de 2014

Abraçar as palavras por ele escritas

E as palavras? Aonde vão? Quantas permanecem? Por quanto tempo? E, finalmente, para quê? São perguntas ociosas, bem o sei, próprias de quem cumpre 86 anos. Ou talvez não tão ociosas assim se penso que meu avô Jerónimo, nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. A lição é boa. Abraço-me pois às palavras que escrevi, desejo-lhes longa vida e recomeço a escrita no ponto em que tinha parado. Não há outra resposta.


José Saramago, aos 86 anos. Hoje faria 92.

Artigo completo disponível em: http://www.josesaramago.org/abracar-palavras-por-ele-escritas/

Foto frase do dia: Aldous Huxley


The Laughing Heart

The Laughing Heart

Your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
Be on the watch. There are ways out.
There is a light somewhere. 

It may not be much light but it beats the darkness.
Be on the watch.
The gods will offer you chances.
know them. Take them.
You can’t beat death but you can beat death in life, sometimes.
And the more often you learn to do it, the more light there will be.
Your life is your life.
Know it while you have it.
You are marvelous.
The gods wait to delight in you.

Charles Bukowski

Poema recitado por Tom Waits. Animação de Bradley Bell