sábado, 22 de setembro de 2012

Assim vai o Bairro!

Sábado: cumprimos o programa do Clube de Leitores no Bairro dos Livros. Para além dos 'Peregrinos da Leitura', onde a Ana Almeida até chegou a ler para um burro, fizemos a apresentação do livro «A Solidão dos Inconstantes» da Raquel Serejo Martins e continuamos a passear o nosso Cadáver Esquisito. 

Mais do que as palavras possam descrever, só vivendo os bons momentos que partilhámos com os nossos leitores. Para quem ainda não nos visitou fica um pequeno presente...











a-ver-livros: sábado e Zurab Martiashvili

Quero lá saber que seja sábado,

continuo a não ser capaz de decorar
as letras com que se escreve o teu nome

* para conhecer mais sobre Zurab Martiashvili, pintor da Georgia,
siga o link www.thebeautifulpeopleproject.com

Um resumo do fim-de-semana e da sua importância


Muitos já perceberam que este é "o fim-de-semana" mais importante do blog Clube de Leitores, não já? Que estamos no Palácio de Cristal no evento Bairro dos Livros? Que andamos com uma t-shirt vestida e um crachá pregado com o logo? Que vamos lendo poemas e pequenos textos às pessoas que passam? Que temos algumas coisas à venda pela primeira vez? Que vamos falar à Rádio Manobras? Que estamos a fazer um cadáver esquisito? Sabem o que é? Que no Sábado às 11h vamos ver uma exposição de livros em miniatura à Biblioteca Municipal Almeida Garrett? Que vamos reunir muitos amigos e membros do blog? Que vamos apresentar o livro «A Solidão dos Inconstantes» da Raquel Serejo Martins?... que se junta à Mariana Jones e ao "quase futuro membro" Bernardino Guimarães - parte da equipa.


E que tudo isto não seria possível sem as incontáveis horas de muito amor e dedicação de um grande trio... A Ana Almeida, o Pedro Ferreira e... eu!! - que basicamente, trocamos mensagens todos os dias, partilhamos as postas por vários grupos e redes sociais, discutimos e re-inventamos conceitos ligados aos livros e à literatura... E que estamos juntos pela primeira vez na mesma cidade, com a companhia da Vodka (a cadela formidável da Ana).

A magia da Ana e do Pedro é a vitamina que mais ajudou a desenvolver, potenciar e crescer o meu projecto "tí­mido" inicial. Não esquecendo as produções da Raquel, da Elsa, da Mariana e, futuramente, do Bernardino. Também de todos os que entraram e já sai­ram ao longo deste tempo...

Aos leitores, à minha famí­lia e amigos - quem puder - peço que apareçam para celebrarmos todos.

Um grande abraço,

Rodrigo

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

1º Parágrafo: A Obra ao Negro


Henrique Maximiliano Ligre prosseguia, em pequenas etapas, o seu caminho em direcção a Paris.



* Tradução de António Ramos Rosa, Luísa Neto Jorge e Manuel João Gomes
* Poeta, tradutora e romancista, estreou-se em 1929 com Alexis ou le Traité du Vain Combat

a-ver-livros: sexta e Silke Raetze

Na mesma proporção que segunda é segunda, 
sexta é sexta

O que muda é o tamanho do livro

* para conhecer mais sobre a pintora australiana Silke Raetze
siga o link www.silkeraetze.com

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Vamos lá espreitar as coisinhas que o Clube vai ter para vocês...

Como já toda a gente sabe o Clube de Leitores vai estar pelo Bairro dos Livros. Este mês é especial e vão existir vários espaços para os participantes, colaboradores e organizadores deste evento. O Clube de Leitores não fica para trás e não estando num espaço físico determinado marcará a sua presença também com umas surpresas para quem nos segue. 

Começamos pelos materiais originais. A nosso pedido duas ilustradoras produziram duas séries de ilustrações que deram origem a duas colecções de crachás. Serão vendidos individualmente ou em conjunto.

Vitalia Samuilova nasceu em 1985, em Vilnius, na Lituânia. É marionetista e cenógrafa. E há uma coisa que ela não consegue deixar de fazer: desenhar. Quando lhe falamos da ideia nem foi preciso insistir. Prontificou-se de imediato e decidiu trabalhar a ideia das pessoas que devoram livros. Assim melhor que as palavras só mesmo as ilustrações. Deixamos aqui uma das imagens para abrir o apetite.


Inês Portugal opta por nos levar pelos caminhos que abrem os livros. Nas palavras da própria: "Os livros reportam-nos para outras dimensões, fazem-nos voar, transportando-nos por cheiros, paladares, imagens e sons..."


Teremos também a apresentação do livro da Raquel Serejo Martins. Colaboradora aqui do blogue, não precisa de muitas apresentações para além do que lhe conhecemos. Escritora de small songs, poemas e também de romance, mora em Lisboa mas tem Portugal em cada parte de si. 

O livro chama-se "A Solidão dos Inconstantes", publicado pela Estampa.

"Raquel Serejo Martins escreve com paixão e inteligência em A Solidão dos Inconstantes" diz o Richard Zimler.

"O que posso afirmar é que a Raquel tem o que qualquer autor persegue – uma voz própria e um estilo definido. E é por isso que um livro como este não deve ter direito ao pó do esquecimento a cobrir a capa. Isso seria uma afronta àquela “árvore que, ao longo de todos estes anos, aprendeu a bordar e a coser meias com a avó dela”. E, também, a um talento que aqui se desenha.Em suma: Comprem. Leiam. Divirtam-se." diz Fernando Madaíl

Que mais acrescentar? Podem saber mais na página do Facebook do livro e muito muito mais na conversa que vamos ter com a Raquel. 


E para ir acabando o lote de surpresas, mais coisas bonitas - a Artidar.

"Porque a arte de dar está em criar memórias, encontram na Artidar prendas artesanais feitas à mão com o mesmo amor e carinho com que as irão decerto depois colocar nas mãos dos que vos são queridos. Por exemplo, estes marcadores de livros - capazes de aquecer o coração de qualquer apaixonado pela leitura."


Acham que ficamos por aqui?

Se sim estão enganados! Ainda vamos ter mais uma série de surpresas e actividades mas é claro que para saberem quais são tem que vir à festa dos livros que vai ser este Festival do Livro sob o tema "Ler é Show", nos Jardins do Palácio de Cristal no Porto.
 

1º Parágrafo: Hotel Savoy


Eram dez da manhã quando cheguei ao Hotel Savoy. Tinha resolvido descansar uns dias, talvez mesmo uma semana. Os meus familiares vivem nesta cidade – os meus pais eram judeus russos. Eu queria obter dinheiro para prosseguir a minha viagem ao Ocidente.



* Tradução de José Sousa Monteiro

a-ver-livros: flores amarelas e Chen Bolan

O sono vem e não vem
e o sol vai nascendo na janela

Nas entrelinhas do livro que tento ler
estão as flores amarelas que me trouxeste

* para conhecer mais sobre o artista chinês Chen Bolan
siga o link www.peabodyfineart.com/bolan

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sábado vamos à exposição «Livros miniatura» no Porto!

O Clube de Leitores está sempre em festa! E neste fim-de-semana reúne a maioria dos seus membros no Porto. O motivo, já todos sabem qual é... o Bairro dos Livros (jardins do Palácio de Cristal). Para os mais distraídos, segue o que vamos por lá fazer »» programa aqui.


Aproveitando o facto de estarmos juntos e dos nossos leitores poderem privar connosco, pensamos numa actividade só nossa. Estando ali ao lado a decorrer a «Grande Exposição Livros Miniatura» (Biblioteca Municipal Almeida Garrett), organizada por João Lizardo, eis a oportunidade única de fazermos uma visita. Anotem: 11 horas de Sábado.

O local de encontro é à porta da Biblioteca, sem atrasos! A exposição é gratuita. Para termos uma ideia de quantas pessoas querem vir, pedimos que nos confirmem a vossa presença (pelo Facebook no grupo Livros no Facebook ou Clube de Leitores) ou para o e-mail clubedeleitores@blogclubedeleitores.com.



Até lá!

1º Parágrafo: Inimigos, uma História de Amor


Herman Broder virou-se e abriu um olho. Ainda num estado de semi-sonolência, perguntou a si próprio onde se encontrava: na América, em Tzivkev, ou num campo de refugiados alemão. Até se imaginou escondido no celeiro de Lipsk. Por vezes todos estes lugares se misturavam no seu espírito. Tinha a consciência de estar em Brooklyn, mas ouvia os gritos dos nazis. Picavam-no com as pontas das baionetas, tentando escorraçá-lo, enquanto ele se afundava cada vez mais no feno. A lâmina da baioneta roçou-lhe a cabeça.



* Tradução de Marta Morgado


a-ver-livros: Catherine Clark Ellis

Não sei quem és
mas reconheço-te o traço
do quadro que está na parede

Podia ser eu ali, não se desse o caso de raramente usar verde
e nunca, mas mesmo nunca, lenços na cabeça

Por uma vez não consegui encontrar qualquer informação sobre uma pintora.
Julgo apenas que Catherine Clark Ellis é uma norte-americana de Nashville, Tennessee

terça-feira, 18 de setembro de 2012

É literatura... oh estúpido!


As noticias boas primeiro:
A escritora Maria Teresa Horta, foi distinguida com o Prémio D. Dinis pelo romance “As Luzes de Leonor”. 
 
Depois as noticias de quem tem consciência e coragem e nunca se deixou assustar com nada nem ninguém. Maria Teresa Horta já quase dispensa apresentações. Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dedicou-se ao cine-clubismo, como dirigente do ABC Cine-Clube, ao jornalismo e à questão do feminismo tendo feito parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Em conjunto lançaram o livro "Novas Cartas Portuguesas". Teresa Horta também fez parte do grupo Poesia 61. Publicou diversos textos em jornais como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias e Jornal de Letras e Artes, tendo sido também chefe de redacção da revista Mulheres.
 
Maria Teresa Horta recusa receber prémio literário das mãos de Passos Coelho. Numa cerimónia que contaria com a presença do primeiro-ministro.

“Na realidade eu não poderia, com coerência, ficar bem comigo mesma, receber um prémio literário que me honra tanto, cujo júri é formado por poetas, os meus pares mais próximos - pois sou sobretudo uma poetisa, e que me honra imenso -, ir receber esse prémio das mãos de uma pessoa que está empenhada em destruir o nosso país”, explicou Maria Teresa Horta
 
Agora as más noticias.
Um Primeiro-Ministro que já não espanta, ou pelo menos, já não deveria espantar. Depois de acabar com o Ministério da Cultura e de chamar a si a responsabilidade directa nesta pasta, fez com que o Secretário de Estado, por acaso um homem das letras, acabasse também por desaparecer. Resta saber se por opção ou por vergonha!
 
A resposta do Primeiro-Ministro é no mínimo vergonhosa e vinda de uma forma de quem não parece perceber ou saber as funções que desempenha no país.  Em primeiro lugar diz não conhecer a autora, tentando desvalorizar as suas palavras. Admita-se que só aqui já demonstra um analfabetismo que não fica bem a quem anda nestas lides. Em segundo afirma desconhecer a existência deste prémio, o que é uma ofensa grave ao próprio prémio e a quem o promove como demonstra quão longe pode ir a sua incompetência.
 
Então não é que este senhor ia entregar um prémio e nem se dá ao trabalho de saber o que é?! 

Certo e sabido é que com o que tem rodeado este últimos dias desta governação este é com certeza mais um prego no caixão!

1º Parágrafo: As Boas Intenções


Agustín Alfaro era o que normalmente se chama um bom rapaz, sendo por acréscimo um filho único com os maiores méritos. Tinha saído assim, a bem: nunca deu uma dor de cabeça aos pais para além da conta nem faltou às aulas sem avisá-los logo a seguir. Não era um iluminado, nem tampouco ninguém lhe pedia que o fosse. A família era de Segóvia, mas todas as recordações do rapaz estavam localizadas em Madrid, para onde tinha ido viver com a família assim que adquiriu o uso da razão. O pai, don José María, era representante comercial. Antes disso fora padeiro, mas as coisas não lhe tinham corrido tão bem como o previsto; fracassou, entre outras razões, porque aquilo que mais gostava de fazer era falar e beber um par de copos de vinho com os amigos, o que o levou a que, num ou noutro dia, a massa não estivesse pronta à hora devida, ou que a fornada lhe saísse muitas vezes a dar para o queimado, isto para já não falar de um Domingo em que se deixou dormir na amassadeira e o tiveram de tirar lá de dentro já quase asfixiado. Era um homem bem-parecido, com uma compleição na qual tinha não pouco orgulho, bigode farto e muito pêlo distribuído por todo o corpo, alegre, e que costumava dizer de si mesmo que era melhor que o pão. Todos acreditavam nas suas palavras e ele próprio também, claro. Um dia, um farinheiro seu amigo proveniente de Albacete propôs-lhe que se tornasse seu representante em Madrid, convencido de que a sua boa disposição, a simpatia um tanto ao quanto desabrida e a sua lábia, haveriam de fazer dele um bom vendedor. José Maria não se ficou atrás nessa convicção, e foi dessa forma que partiu e foi viver para a capital, instalando-se num andar humilde da calle de Mesón Paredes. Foi assim que o homem começou a desenvolver a sua actividade sem grandes dificuldades, e ao fim de dois anos era já mais madrileno do que qualquer um nascido em pleno bairro dos Embaixadores que lhe aparecesse pela frente. Já doña Camila era diferente: para ela, não havia nada como Segóvia nem cidade com maior valor, o que se tornava difícil de pôr em causa quando desatava a falar – talvez num maior número de ocasiões do que seria conveniente – do Alcázar, da Catedral, do Aqueduto e de don Juan Bravo, o de Villalar. Como defeitos, tinha apenas o facto de ser um pouco dura de ouvido e duas verrugas na face esquerda, que entretanto se tinham desenvolvido por entre alguns pêlos mais robustos com o decorrer natural dos anos.


* Tradução do espanhol (Espanha) por Alberto Simões

a-ver-livros: detalhes e Annette Schmucker

Às vezes não passa de um detalhe
uma vírgula no teu olhar
uma reticência na forma
como as tuas mãos alcançam a minha

Às vezes não passa de uma gralha

uma palavra que saiu trocada
da tua boca
uma conjugação do verbo amar 
num presente mais que imperfeito

Às vezes não passa de um rabisco 
que displicente traças 
na margem do livro
que andamos a escrever

Mas tudo me diz
que eu e tu 
não pertencemos 
ao mesmo poema


* para conhecer mais da pintura da alemã Annette Schmucker
siga o link  www.annette-schmucker.de

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Uma porta azul


Há uma porta na minha rua que não é uma porta como outra qualquer. Esta porta é azul mas um azul diferente dos outros azuis. Atrás dessa porta vive uma menina muito bonita. Eu gosto dessa menina e gostava de ser o namorado dessa menina. A menina não me deve sequer conhecer, desconhece completamente a minha existência. Mas eu não deixo de gostar dessa menina e quem sabe um dia ela se aperceba de mim.

Na minha rua há namorados e namoradas, na minha rua há pessoas. Há beijos e afectos que se misturam com as cores das casas e das portas. Há suspiros que são brisas de verão nas bocas dos apaixonados. E há Verões que nunca se repetem. Beijos que ficam por entregar e palavras que ficam por dizer. Há pessoas que nunca se vão conhecer e depois... nada.

Depois não ficará nada que não uma lápide onde nada se diz sobre as pessoas.

Texto e foto: Pedro Ferreira

Comece a Festa... venha ao show dos livros


Senhoras e Senhores. Meninos e Meninas...


é já no próximo fim-de-semana que o Bairro dos Livros está de volta. Desta vez são três dias para festejar os livros e a leitura. É o Festival do Livro que nos é proposto pela organização do evento, sob o lema de "Ler é show".

Os livros podem associar-se a vários temas, deles saem vários temas e com eles caminham no mesmo sentido. Das artes ao entretenimento, da cultura de massas aos nichos, quanto pode conter um livro. Quanto pode conter a leitura e quanto contem os leitores e as leitoras.

Venham então descobrir o show da literatura. O espectáculo que rodeia os livros, desde a criatividade das capas, do conteúdo até à parte final que é a apresentação ao público. Mais encenado ou mais natural não deixa de ser algo construído para um público em especial. Porque gostamos de ter os nossos livros autografados, o que são na verdade as sessões de autógrafos se não, elas também, um espectáculo.

Nos tempos modernos somos ainda confrontados com outras vertentes do "showbizz". Autores transformados em vedetas do social, entrevistas e a presença nas redes sociais. Lançamentos e pré-lançamentos, feiras pelo mundo todo, conferências... o papel do escritor já não se encerra somente na escrita.

Durante esta semana vamos abordar alguns destes pontos e vamos levantando a ponta do lençol para as muitas surpresas que vos estamos a preparar. Claro que show completo só mesmo para aqueles e aquelas que vierem connosco a este grande fim-de-semana.

Let the show begin...  

1º Parágrafo: Hidrografia Doméstica


Olho para os meus pés. Mais outro dia. Há uma semana que tenho medo, e que procurei por toda a parte. De qualquer modo parece tratar-se de um erro, porque muitas vezes acontece que confundo os sentimentos e as sensações. Sinto calor, mas é angústia. Sinto uma espécie de opressão no peito, mas não passa de sono. Felizmente posso ficar na cama para analisar tudo isto.


* Tradução de Miguel de Castro Henriques
* Revisão Carlos Pinheiro
* Gonzalo Castro nasceu em Buenos Aires, 1972 e Hidrografia Doméstica é o seu romance de estreia.

a-ver-livros: contemplação frente a Catherine Abel

Todos os meus dias 
são feitos da contemplação 
teimosa
do mundo

Nuns vejo a beleza 
do recorte perfeito
imperfeito 
do mármore

Noutros a imperfeição 
perfeita
de nós



* para conhecer mais do trabalho da australiana Catherine Abel é só seguir o link catherineabel.com

domingo, 16 de setembro de 2012

Poemas que dão música - Samba da Benção

Samba da Benção, escrita por Vinicius de Moraes, em 1965, e composta por Baden Powell, é mais um poema que deu uma grande música.

Cantada e declamada, esta letra é um hino aos grandes responsáveis da música popular brasileira mas também ao amor e às paixões, ou à mulher. É um poema que aceita vários sentimentos ou muitos dias. Cabe num dia melancólico de saudade ou retrospectiva, de alegria, de esperança…

É um samba que repete ritmo e palavras como o pulsar do coração, das paixões. É um alerta à vida. Às cores que ela atravessa, aos tropeços do dia-a-dia.

Marca uma época e guarda na história tanta gente que assinou e ajudou a música e a poesia, que casam tão bem neste Samba. Vinicius casou sempre muito bem todos os seus poemas com melodias que cruzaram o mundo, talvez melhor que os seus nove casamentos… mas mesmo nesses procurou sempre a chama mortal
“A vida é pra valer / E não se engane não, tem uma só (…) A vida é arte do encontro / Embora haja tanto desencontro pela vida”.


«É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Falado

Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
Cantado
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração

Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Falado

Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba
Cantado 

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Falado

Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Sarava! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus
Cantado 

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração»


a-ver-livros: o livro vermelho de James Jean

Há um livro que receio escrever quando nas horas escuras pego na caneta 
para rabiscar o que os sonhos me ditam.

Felizmente, ao acordar, não passam de delírios de quem mal dormiu.



* para conhecer mais do trabalho de James Jean, nascido em Taipei mas a viver nos Estados Unidos, é só seguir o link www.jamesjean.com