sábado, 28 de setembro de 2013

Afonso Cruz e os guarda-chuvas


Chegou o novo livro de Afonso Cruz, publicado pela Alfaguara. Um romance com muitas páginas para ler (624) e que chega às livrarias no dia 17 de Outubro. A não perder por nada!

O pano de fundo deste romance é um Oriente efabulado, baseado no que pensamos que foi o seu passado e acreditamos ser o seu presente, com tudo o que esse Oriente tem de mágico, de diferente e de perverso. Conta a história de um homem que ambiciona ser invisível, de uma criança que gostaria de voar como um avião, de uma mulher que quer casar com um homem de olhos azuis, de um poeta profundamente mudo, de um general russo que é uma espécie de galo de luta, de uma mulher cujos cabelos fogem de uma gaiola, de um indiano apaixonado e de um rapaz que tem o universo inteiro dentro da boca.
Um magnífico romance que abre com uma história ilustrada para crianças que já não acreditam no Pai Natal e se desdobra numa sublime tapeçaria de vidas, tecida com os fios e as cores das coisas que encontramos, perdemos e esperamos reencontrar.

Excerto
– A minha mãe, Sr. Elahi, interrogava-se para onde vão os guarda-chuvas. Sempre que ela saía à rua, perdia um. E durante toda a sua vida nunca encontrou nenhum. Para onde iriam os guarda-chuvas? Eu ouvia-a interrogar-se tantas vezes, que aquele mistério, tão insondável, teria de ser explicado. Quando era jovem pensei que haveria um país, talvez um monte sagrado, para onde iam os guarda-chuvas todos. E os pares perdidos de meias e de luvas. E a nossa infância e os nossos antepassados. E também os brinquedos de lata com que brincávamos. E os nossos amigos que desapareceram debaixo das bombas. Haveriam de estar todos num país distante, cheio de objectos perdidos. Então, nessa altura da minha vida, era ainda um adolescente, decidi ser padre. Precisava de saber para onde vão os guarda-chuvas.
– E já sabe? – perguntou Fazal Elahi.
– Não faço a mais pequena ideia, mas tenho fé de encontrar um dia a minha mãe, cheia de guarda-chuvas à sua volta.

Ramos Rosa por Jaime Rocha



Vale muito a pena escutar Jaime Rocha... num último adeus a António Ramos Rosa. Clique na imagem e ouça.

Retirado do Jornal O Público

Snobidando: um poema de Sharon Olds

Primeira Noite

Eu dormia debaixo de ti,
quieta e escura, tão deserta
como uma paisagem de campos, o meu sangue lentamente
secando entre nós, a brecha na minha carne
começando a sarar, aberta, uma fronteira
irreversivelmente abolida.
Os habitantes do meu corpo começaram a
erguer-se no escuro, a fazer as malas, a mudar-se.

Toda a noite, hordas de gente
em roupas pesadas mudaram-se para sul dentro de mim,
com as casas às costas, sacas de
grão, crianças pela mão, debaixo
de um céu como fumo. Os pastos
deslocaram-se centenas de milhas. Alguns animais,
de repente, quase se extinguiram,
uma ou duas formas singulares,
nodosas, nas partes opostas da terra.
Outras formas se multiplicaram,
Massas de asas de um vermelho escuro
Jorrando de parte nenhuma. Os rios mudaram de curso,
a linguagem deu uma volta
completa sobre si
e encaminhou-se na direcção oposta.
Ao amanhecer, as migrações tinham terminado. Secou
a derradeira orla do laço de sangue,
e como um animal recém-nascido prestes a ser ferrado
abri os olhos e vi o teu rosto.


*Sharon Olds
trad, Margarida Vale de Gato




Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Abre brevemente, em Guimarães. 
Pode lá encontrar este e muitos outros textos. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Clube e Daniel Gonçalves: dia 5

"Mais cedo ou mais tarde acabas por pedir indicações. Não é fácil chegar sozinho a um lugar que ainda não sabes bem se existe. É a deriva, um naufrágio pacífico que te deixa respirar, mesmo debaixo de água. Tens certo de onde vieste, todavia, não é seguro que nunca aqui tenhas estado. Mas se os lugares te podem confundir, as pessoas acertam-te na alma o nome com que te passas a chamar. Olham-te apenas os feriados, as mãos desocupadas, essa cadeira que se convida a descansar um pouco. Resumes a tua história outra vez: um vento cancelado e um silêncio por medir. Pesos que não és o único a carregar."

«A obra “ensaio sobre o comprimento do silêncio” é, na verdade, um poemário fotográfico, pois foi criada em sintonia com uma viagem fotográfica à Índia e ao Nepal do fotógrafo mariense Pepe Brix.

A poesia relata a viagem de alguém que necessita de sair do seu lugar avariado e encontrar paz no topo da montanha. É a experiência, em dois andamentos, da necessidade de descobrir um novo sentido para o silêncio, perdoando e redimindo, encontrando e despedindo.»

Daniel Gonçalves

Nota: O livro “ensaio sobre o comprimento do silêncio”, ainda não publicado, já foi galardoado com 2 prémios: o Prémio António Cabral e o Prémio Literário Cidade de Almada.

foto: Pepe Brix.

*Este post foi arquitectado pelo próprio Daniel Gonçalves. 

O Clube de Leitores é Snob!


O norte de Portugal exulta de alegria, vai abrir brevemente uma livraria em Guimarães. Um espaço que vai contar com muitos livros e uma cafetaria.

O Clube de Leitores estará de corpo e alma a apoiar este projecto e vai tentar actualizar-vos acerca das principais actividades que por lá passarem.

Para já, convidamos todos os nossos seguidores a acompanhar a página da Livraria Snob no facebook. Podemos garantir-vos uma óptima companhia!

Anotem: https://www.facebook.com/livraria.snob

Boa sorte para este projecto! Estamos confiantes que vai correr tudo bem.

Contamos com todos?

a-ver-livros: caos e An He

Lá fora
ribombam
os ecos de mim
caos eléctrico
molhado
livro aberto
que ninguém quer ler

Cá dentro
um corpo
quente - que se enrosca
no que sou

* para saber mais sobre o pintor chinês An He
basta seguir o link www.jones-terwilliger-galleries.com/Artist_Entry

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Clube e Daniel Gonçalves: dia 4

um anjo é uma espécie de filigrana
uma delicada construção de poesia

um prodígio de seda e de luz
que irradia do profundo mistério
que é sermos perfeitos e singulares
prosperando neste universo de silêncio


Do livro “um coração simples” (Edição do Instituto Politécnico de Leiria, 2012), Prémio de Poesia Manuel Alegre 2010.

*Selecção de poema por Clara Amorim. 

É do borogodó: musa promessa

acendia ao Sol minha musa; era ela a menina louca,
a promessa rouca e todos os meus ais

 

http://monikatognollo.wordpress.com/2013/05/17/sao-paulo-a-selva-2/#jp-carousel-205

 Penélope Martins

a-ver-livros: petricor e Cristóbal Rosado

Repito em surdina
o nome do aroma
que a chuva liberta
em solo seco

Repito-o a dormir
os sonhos que te
prendem na pele 

molhada
petricor
amor

* para saber mais sobre o pintor espanhol Cristóbal Rosado
siga o link pt.hostingart.info/artistas/crosado

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

GatO escondidO


Tenho um gato.

Tenho um espelho.

Tenho dois gatos.
Um de cada lado do espelho.

Do lado de cá, Orlando,
Do lado de lá, talvez Alice,
Talvez a minha meninice!

Alice no dormitório.
Em caso de interrogatório,
e para evitar falatório,
respondo com uma aldrabice:
- Horas extra no escritório!
Ou isso ou foi a um velório.
o enfadonho tio Osório,
que, Deus o tenha, faleceu de velhice.

Orlando no lavatório.
Uma metáfora,
um soneto,
duas quadras, dois tercetos,
um quadro de Tintoretto,
uma ária de Rigoletto,
ou porque é Verão:
o gato apenas ao fresco!


* A fotografia e o gato, do meu amigo Tom Davis

O Clube e Daniel Gonçalves: dia 3

talvez não saiba mais onde fica a minha casa
talvez não saiba mais o que é regressar
o que é ter alguém à nossa espera


talvez esteja há demasiado tempo
na cidade dos outros
e a minha ilha é agora esta bagagem
cercada de memórias
e de pedaços de gente que fui amando


talvez já não encontre o caminho de volta
o verso que cravou o mistério nos meus olhos
a água que quis beber onde todos os rios começam


Esta foto veio da Índia. É de Pepe Brix.

"rumores para a transparência do silêncio" (Labirinto, 2009) reúne 30 fotografias do Pepe Brix sobre a Europa de Leste e 48 poemas do Daniel Gonçalves inspirados nesses lugares, numa simbiose perfeita.

*Selecção de poema por Clara Amorim. 

David Pinta... montra na Libreria Cascanueces

David Pintor e a livraria Cascanueces estão a concurso para a melhor montra da Corunha. O Clube de Leitores está a torcer para que ganhem e apela aos seus seguidores para que votem!

Basta pôr um like na fotografia que a livraria Cascanueces disponibiliza no seu mural. Nada mais simples. Aqui segue o link: https://www.facebook.com/libreriacascanueces

Boa sorte!

(apressem-se! é até dia 29/09)


David Pintor em:
Bloghttp://www.davidpintor.blogspot.pt/
Facebookhttps://www.facebook.com/pages/David-Pintor-ilustraciones/197902626909227 


Libreria Cascanueces em:
Blog: http://www.zaerasilvar.es/libreriacascanueces/ 
Facebookhttps://www.facebook.com/libreriacascanueces

a-ver-livros: à chuva e Ward Jenkins

Regresso a quem fui 
por instantes fugazes
de bátega
retorcida por dentro
pés nas poças
da vida
cem por cento líquido
girino
inadequado 
a qualquer sazão
escusa-se a chuva 
para viajar no tempo

* para conhecer mais sobre o ilustrador norte-americano Ward Jenkins
siga o link wardjenkins.com

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O Clube e Daniel Gonçalves: dia 2

o amor é esta estrela este poema inconfessado é esta noite
esta porção de sentidos sem morada é esta distância
é este pássaro de fogo o amor é este pássaro de fogo
é este descaminho é esta vida o amor é esta respiração

e sabemos como as palavras se pressentem com os 
gestos 
como ardem as mãos se caímos na luz do poema como caímos
nesse lugar onde deixamos de supor o silêncio nesse instante
onde tudo é possível por dentro do amor: o pássaro de fogo

se te digo que és todo o cântico se te digo que não há espera
e tu me vês por trás de outro movimento que te ame também
como queimam as asas de luz! como cresço dentro destas rosas!
como ficas perto de mim! como o amor é esta estrela: este poema


Do livro "onde supor o silêncio" (Labirinto, 2003), que ganhou o Prémio Cesário Verde em 2003. Em 2007 foi republicado na Antologia "dez anos de solidão" (Labirinto), tendo o autor reconstruído alguns desses poemas. Apresenta-se aqui a versão de 2007.

*Selecção de poema por Clara Amorim. 

É do borogodó: flores negras

ele tinha olhos cavados de esqueleto, moribunda

a boca a brotar flores negras no sangue

lodoso de melodia

triste:
 
tristes crianças com fome na Praça XV,

tristes meninos entorpecidos na Alfredo Issa,

tristes sinas marcadas no Pelourinho

e na Síria

o moto-contínuo campo concentrado de miséria

que alimenta brutais tanques de guerra.


Penélope Martins

fotografia Monika Tognollo -
monikatognollo.wordpress.com

a-ver-livros: missão e Chris Buzelli

Envolve o medo
numa narrativa que dilua
os pesadelos 
embrulha-o com laços
e fitas 
e fios de água cristalina 
capazes de iluminar
quem teme

Espanta o mundo 
Esbanja beijos e bestas
bane o pavor
que eclipsa o sorriso
Vira a página


* para saber mais sobre o ilustrador Chris Buzelli
 siga o link www.chrisbuzelli.com

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Clube e Daniel Gonçalves: dia 1

"uma casa de luz
é onde o poema acontece

enquanto as palavras se acendem e desacendem
o branco inflamável da sede
demora a remoção dos ruídos

e há gestos fundentes intensamente concisos
como a ferida que nos visita no outono
andando à volta da agilidade da chuva

os afluentes do verso
respirando as metáforas
as rosas

uma manhã inesperadamente quieta
com as suas cotovias as madressilvas
os rumores dos corpos arvorando as carícias

ou uma cama de fogo
onde as mãos se enlevam na caxemira da água
como se cingissem subitamente
o rigor do silêncio"

*Daniel Gonçalves, in a respiração dos gestos


Foto: Casa de-Luz - por Charles Schreiber


Editado pela DIFEL, ganhou o Prémio de Revelação APE/IPLB - Poesia, 1997.

Na contracapa escreve o autor:
»... "a respiração dos gestos" é sobretudo um espaço de procura. A casa de luz onde o rumor intenso do silêncio se move em cada palavra. A metáfora viva, acesa, incompleta. O espírito das pequenas coisas.»

*Selecção de poema por Clara Amorim. 

Descobrir Sandra Martins no Negrume. Brevemente numa livraria perto de si.


Na próxima quarta-feira, dia 25 deste mês de Setembro, pelas 21h30 na Casa de Ló, na Travessa de Cedofeita, no Porto, venham conhecer de perto Negrume. Comer uma fatia de pão de ló e beber uns copos. É pois a apresentação de uma nova autora no mundo literário. Publicado pela Corpos Editora vem assim ao mundo este trabalho de estreia de Sandra Martins.

Link para o evento no Facebook aqui

Sandra Filipa Silva Martins nasceu a 26 de Abril de 1989 no Porto, onde habita e habitou desde a infância. Licenciou-se em filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, atualmente, frequenta o Mestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário. Negrume é a sua primeira obra de poesia que compreende três heterónimos _ Medusa, Ophelia e Teresa _ distintos ao nível da forma, musicalidade e intensidade. Experimenta, assim, diferentes dimensões da palavra _ afinal, o mundo é cinzento e não preto e branco. O seu sonho é ser professora de filosofia e poetisa em simultâneo sem nunca desapontar os estudantes e o leitor. Pretende permanecer em Portugal e lutar por um país justo onde a gente toda possa ser feliz.

Negrume está entre a harmonia e a violência. As palavras são de angústia e parecem pesar mais do que as próprias coisas na medida em que se intui um qualquer plano de transcendência, o tocar no nada, o dizer o indizível…Os símbolos são vivos e exprimem uma unidade irredutível apesar da presença de três personagens _ Medusa, Ophelia e Teresa _ altamente distintas.
Há diferentes dimensões da palavra através deste jogo trágico de ‘fazer de conta’, mas a  palavra é só uma: a mesma estória, os mesmos lugares, a mesma gente…Negrume é negrume e, ao mesmo tempo, inteiro. Simplesmente, é. Por isso, cabe ao leitor desvelar a verdade a partir de si mesmo, da sua alma partida em pedaços num mundo ainda sem conceitos, que é o mundo da arte, da poesia.

MEDUSA


Teu perfil
Porque sou eternamente espuma no mar
Caída no terror de poentes desconhecidos
Anseio a rigidez do teu perfil: túmulo de astros
De uma liberdade que não deixa passar o vento

OPHELIA

Somente só
Anuncio a morte
Das flores
Pendente
Na distância das aves
Que consomem
Todas as cores do silêncio
Secretamente

TERESA

Cleópatra e Marco António
Numa balança de claridade,
Abrem noites com sóis e desejo,
Que pesam braços de liberdade
No coração curto de receio.
Um ápice, inerte e eterno,
Prende-se aos olhos de anseio
Do amante fora do inferno,
Que se fez cadáver num seio
De solidão. Anéis de saturno
Rolam sobre corpos de compaixão,
Que não procuraram outro rumo
E ficaram presos na distância
Dum sonho suave… Divididos
Entre o sangue e a poesia.



Dizemos até sempre, António Ramos Rosa

É por Ti que Vivo

Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva

Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata

Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar

Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto


*in O Teu Rosto


António Ramos Rosa partiu hoje, aos 88 anos. Vida preenchida de muitos poemas e palavras. Vida de muita obra e pensamentos. Fomos uns privilegiados por ter tido alguém como ele por cá. Portugal está hoje mais pobre, num ano que tem sido horribilis para os grandes homens das letras. 

Diz o Jornal Público que (...) "morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 88 anos, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa, um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulos, de O Grito Claro (1958), a sua célebre obra de estreia, até Em Torno do Imponderável, um belo livro de poemas breves publicado em 2012. Exemplo de uma entrega radical à escrita, como talvez não haja outro na poesia portuguesa contemporânea, Ramos Rosa morreu por volta das 13h30 desta segunda-feira, em consequência de uma infecção respiratória.

Já muito fragilizado, o poeta, que estava hospitalizado desde quinta-feira, teve ainda forças para escrever esta manhã os nomes da sua mulher, a escritora Agripina Costa Marques, e da sua filha, Maria Filipe. E depois de Maria Filipe lhe ter sussurrado ao ouvido aquele que se tornou porventura o verso mais emblemático da sua obra – “Estou vivo e escrevo sol” –, o poeta, conta a filha, escreveu-o uma última vez, numa folha de papel.

Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, natural de Faro, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor."

Dizemos até sempre, António Ramos Rosa. Muitas saudades nos deixas. 

a-ver-livros: iludir e Hellebore Cusack

O ar está rarefeito
ao metro e sessenta
e há altas pressões 

na zona onde se guarda
o hipotálamo
as nuvens andam tresmalhadas
e o astro rei queima
os últimos cartuchos do verão
e há um eco distante
que já não chega

para iludir a solidão

* para saber mais sobre a britânica Hellebore Cusack
siga o link www.imagekind.com/MemberProfile.aspx

domingo, 22 de setembro de 2013

Daniel Gonçalves ganha o Prémio Literário Cidade de Almada 2013

«Daniel da Silva Gonçalves recebeu na quinta-feira o Prémio Literário Cidade de Almada, no Fórum Municipal Romeu Correia – Auditório Fernando Lopes-Graça. Em 2013 foram apresentados a concurso 136 originais, tendo o júri destacado por unanimidade a obra de poesia «Ensaio sobre o comprimento do silêncio». O autor premiado recebeu um prémio pecuniário no valor de 5 mil euros.»

Sobre o autor:

Daniel da Silva Gonçalves, 38 anos, reside nos Açores, é professor do ensino básico e secundário e já publicou oito livros. Recebeu o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/ Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, em 1997, o Prémio de Poesia Cesário Verde, em 2003, e o Prémio Nacional de Poesia Manuel Alegre, em 2010, entre outras distinções.


*Daniel Gonçalves vai estar em destaque esta semana no Clube de Leitores. 


Cronicando pela Ásia... Chiang Mai - a terra dos Templos

Chiang Mai
03 de Maio 2009

Esta terrinha é impressionante. Em qualquer canto parece haver espaço para colocar um Templo, por mais pequeno ou singelo que pareça. A estadia neste lugar fez com que a minha máquina captasse mais fotografias que a média. E não era para menos... Chiang Mai vale muito a pena.


O dia foi relativamente pacífico. Primeiro resolvi andar à procura de postais, era um assunto da minha lista. Outro objectivo passava por cortar o cabelo. Existem imensos cabeleireiros / barbeiros na Tailândia e são muito fáceis de identificar. Mas esta missão ficou para segundo plano, havia tanto para ver! (tarefa apenas resolvida em Portugal, vários dias depois).


A tudo isto se aliou a busca por um novo quarto. Uma obsessão que não trouxe melhorias. Apenas no preço, bem sei... Mas a pensão parecia estar virada também para a prostituição. Pelo menos assim me pareceu, dada a frequência. Pouco importou, o quarto tinha um cadeado. Se bem que me preocupou deixar ali as coisas...

Ali só se pernoitava, pensei. E foi com esse pensamento que resolvi dar uma volta.


A primeira paragem foi no parque. Pelo caminho ia vendo Templos e mais Templos, história por todo o lado. Sentei-me um pouco na relva. Ali ao lado, um grupo de estrangeiros praticava Yoga. Tudo parecia estar na mais perfeita pausa, assim como eu.


O ponto alto do dia estava a chegar: o mercado de Domingo. A caminho, ainda passei por uma manifestação política (dos reds). Nada comigo, andei rápido! Ainda me habilitava a estar no meio de uma confusão que não era minha. Não podia esquecer que o país ainda não tinha saído de estado de sítio...

A primeira coisa que comprei, logo à entrada do mercado, foram bandeirinhas de todos os países por onde tinha passado naquela viagem. Tenho comigo uma colecção impressionante: Reino Unido, Hong Kong, Macau, Tailândia, Cambodja, Malásia e Laos (país que viria a seguir).


Recordo-me de dar cem voltas àquele mercado. De comprar uns calções e umas t-shirts, de comprar a mochila onde hoje levo o almoço para o emprego. As prendas para as irmãs, para o pai, para a mãe, uns marcadores de livros que trouxe para dar aos meus amigos livreiros... Chiang Mai foi o paraíso do consumo. Não só pela oferta impressionante, mas também porque é mais barata que a capital.

Dei tantas voltas e não fiz mais nada. A máquina registou mais uns quantos Templos e estátuas... No dia seguinte ia para o Laos, mas antes ainda fui dormir no antro! A mochila estava intacta, mas dormi sempre de pestana aberta. 

Conclusão: há situações onde não vale a pena poupar um euro!


Rodrigo Ferrão

Há por aí ratos de biblioteca?

Esta ilustração fez o meu dia!

Ilustração de Lisis. 
Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder por nada!