Tom Gauld em: https://www.facebook.com/tomgauldscartoons
sábado, 25 de outubro de 2014
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
a-ver-livros: não me roubes
Não me roubes
o chão, amor
fico sem pé
fico sem ti
queda no vazio dos passos
dados
mapa rasgado
dos caminhos
de nós
Não me roubes o chão
abismo
não conhece o coração
outro caminho
além do que leva
ao teu leito
Ana Almeida
o chão, amor
fico sem pé
fico sem ti
queda no vazio dos passos
dados
mapa rasgado
dos caminhos
de nós
Não me roubes o chão
abismo
não conhece o coração
outro caminho
além do que leva
ao teu leito
Ana Almeida
foto: Ana Almeida
Poesia em matéria fria: o regresso de Chacal
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quinta-feira, 23 de outubro de 2014
A poesia de Tomaz Falcão
EM VÃO
Impaciente
Aguardas
Uma palavra que alimente
A tua falsa esperança
Aguardas
Uma palavra que alimente
A tua falsa esperança
E a cada segundo
Frustrado
Porque aumenta
O silêncio
Frustrado
Porque aumenta
O silêncio
Ignorando
Penhoraste a tua vida
Num amor
Que não existia
Penhoraste a tua vida
Num amor
Que não existia
Sofrias
Por quem não te amava
E na ilusão
Sujeitaste-te a ser negado
Por quem não te amava
E na ilusão
Sujeitaste-te a ser negado
FALCÃO, Tomaz
in A SOMBRA DA ESPERANÇA
Colecção Poesia, 4
propagare | edição
in A SOMBRA DA ESPERANÇA
Colecção Poesia, 4
propagare | edição
Gonçalo Viana de Sousa - o flâneur das Sensações
De Nicosia para o mundo, surge mais esta impressão de Gonçalo Viana de Sousa.
"Dias nocturnos"
Desço a escadaria do hotel num trote
fácil, pautado e travadinho. É de manhã e o sol , entre tantas coisas, é cinzento e surge por detrás de uma cansada neblina.
Assobio para dentro uma ária qualquer,
não sei se de Mozart ou Donizetti. Não interessa. Na recepção do hotel: o maître
d’hôtel e uns quantos funcionários de farda.
Saio pela porta principal como quem se
esquece da vida. Num passo assertivo, frontal, vertical. A manhã surge depois
da porta e dos pensamentos. Na rua, uns quantos passeantes, flâneurs, touristes, que, como eu, observam e absorvem a neblina, a manhã e o
cheiro a pão quente fresco, acabado de sair de um forno que só existe nas
sensações.
Toda a manhã, todas as manhãs são, em
Nicosia, sensações distorcidas, longínquas, distantes, que não traduzem o mundo
real dos ocupados afazeres do quotidiano.
A dulceza da banalidade e dos pormenores
são deixados de lado, sozinhos, divagando pela ordem natural das coisas: o ser
ordinário, entediante, desinteressante.
Efraim, no quarto do hotel: o rigor, a
destreza e a competência de um Smith semita. Pudesse eu, como meu bisavô, ter
conhecido Carlos Fradique Mendes!
Mas o tempo passa e o silêncio olímpico
das coisas primeiras é ensurdecedor. A manhã em Nicosia: flores frescas regadas
pelo orvalho nocturno, o pão quente, o barulho das tendas de fruta e das
barracas do peixe e de crustáceos. Fortes homens de fartos braços carregam
sacos e cestas com legumes e galinhas e especiarias. E o ar de Nicosia é um
porto aberto à Europa e ao Oriente que só existe na cabeça de alguns Álvaros de
Campos. As cores da canela, do caril, da noz-moscada, do cravinho, das pimentas
e dos alperces e damascos é uma folie de
can can!
O verde acastanhado é amarelo fresco,
duma cor que tenho a certeza de ser um vermelho que se esconde num laranja
negro de branco, líquido, seco e sedoso. Pós de todas as cores e de todos os
portos, com gente dentro, do mundo.
Dez dias depois, sim, dez dias depois,
saio do meu quarto de hotel e vejo pela primeira vez Nicosia. Isto se for
possível falar em ver as coisas com este nevoeiro estranho e quase sebástico.
A manhã, em Nicosia, são as minhas
impressões escritas depois, no meu quarto de hotel, durante noites mais
ensolaradas que as manhãs de Agosto nesta capital mitológica de um país navio.
A realidade é a minha impressão, um post-script onde não interessam as
formas, mas sim aquilo que a realidade de uma caneta não consegue apreender.
Efraim, que foi que fizemos dos dias,
das noites que passamos, passei, neste quarto, como quem passa uma vida inteira
sozinho?
Efraim não me responde, enche-me o copo
de uma sede seca, sólida, lamacenta.
As manhãs em Nicosia são as minhas
impressões nocturnas. Vivo o presente sempre depois. O dia tem duas noites e a
verdade tem destas coisas.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
a-ver-livros: encontro nocturno
Entre o acaso e o alvorecer
há um encontro dos astros
numa esquina qualquer
corpos celestes
casualidades na noite
sorte, destino quiçá
a penumbra, o abraço
que acaso não dure mais
do que o que dura a aurora
Ana Almeida
há um encontro dos astros
numa esquina qualquer
corpos celestes
casualidades na noite
sorte, destino quiçá
a penumbra, o abraço
que acaso não dure mais
do que o que dura a aurora
Ana Almeida
![]() |
* para saber mais sobre o pintor americano David Carmack Lewis siga o link davidcarmacklewis.com |
Poesia em matéria fria: António Osório
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terça-feira, 21 de outubro de 2014
a-ver-livros: arrumações
Arrumo-te pela ordem
desordenada
do medo
de não conseguir
o desapego
algures entre o livro
das horas perdidas
e o dos erros ganhos
para o rol
das lições
Arrumo-te sem pressa.
Mil vezes lida
a nossa história.
Ana Almeida
desordenada
do medo
de não conseguir
o desapego
algures entre o livro
das horas perdidas
e o dos erros ganhos
para o rol
das lições
Arrumo-te sem pressa.
Mil vezes lida
a nossa história.
Ana Almeida
![]() |
* para saber mais sobre a pintora Nom Kinnear King siga o link http://nomkinnearking.com/ |
É do borogodó: farol
"
cheia de si, alto brilha.
atravessa montes
perfuma os vales
envaidece os rios
faz corar neblina.
mas seu homem
tem pálpebras cerradas
não vê no céu
formosa prateada
farol que o ilumina.
são sete dias de dor,
são sete noites vazias,
são sete nuvens negras
vestindo a viúva
enquanto mingua…
"
Penélope Martins
cheia de si, alto brilha.
atravessa montes
perfuma os vales
envaidece os rios
faz corar neblina.
mas seu homem
tem pálpebras cerradas
não vê no céu
formosa prateada
farol que o ilumina.
são sete dias de dor,
são sete noites vazias,
são sete nuvens negras
vestindo a viúva
enquanto mingua…
"
Penélope Martins
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
a-ver-livros: ilusão
Que não iluda
o falso verão
A figueira está quase nua
e a magnólia já desponta
Soçobra a macieira
da fruta que já nem os pássaros desejam
E, na noite,
os meus pés nus
já sentem a falta
dos teus
Ana Almeida
o falso verão
A figueira está quase nua
e a magnólia já desponta
Soçobra a macieira
da fruta que já nem os pássaros desejam
E, na noite,
os meus pés nus
já sentem a falta
dos teus
Ana Almeida
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* para saber mais sobre Fred Cress siga o link http://www.buratti.com.au/#!fred-cress-estate/cqu8 |
Editora PruX Táta: Doutor Divago
Novidade PruX:
"Doutor Divago" de Boss Pasternata
Trata-se de um livro e não de um poste de electricidade, até porque postes de electricidade e livros não combinam. Eu não sei de que ano é que vocês são, mas eu sou de outro em antes do vosso. E neste ano ao qual pertenço, as pessoas (e eu, também) tinham o hábito de levar ao poste os aniversariantes. Não levavam o aniversariante na totalidade ao ...poste - apenas as suas partes baixas.
"Doutor Divago" de Boss Pasternata
Trata-se de um livro e não de um poste de electricidade, até porque postes de electricidade e livros não combinam. Eu não sei de que ano é que vocês são, mas eu sou de outro em antes do vosso. E neste ano ao qual pertenço, as pessoas (e eu, também) tinham o hábito de levar ao poste os aniversariantes. Não levavam o aniversariante na totalidade ao ...poste - apenas as suas partes baixas.
Trata-se de uma prática que promove a humildade do parabenizado, uma espécie de: "Ai estás todo enchufado de orgulho e importância por todos falarem contigo neste dia! Então, toma lá, um pedaço de metal nos testículos! Só para não te armares em importante no teu dia anos!"
Ora, o que sucede é que as pessoas (eu, nem tanto) sempre tiveram a tendência para serem maiores do que eu, impossibilitando-me de praticar a ida ao poste na óptica do utilizador, quando era já um veterano na óptica do utilizado.
Foi aí me lembrei: e se eu levar as minhas personagens de ficção favoritas ao poste? Nunca irão ripostar!
Erro crasso!
No passado dia 6 de Janeiro, levei o "Cão dos Baskervilles" à rua, com o intuito de levar o aniversariante Sherlock Holmes ao poste. Estava a chover copiosamente e eu não reparei em dois pormenores:
Primeiro, o livro era antigo e as páginas haviam sido reparadas com agrafos.
Segundo, era um poste de alta tensão.
Resultado: Apanhei o choque mais literário da história da Humanidade. Tive tremores nas mãos até à última semana de Setembro; por outro lado, não foi preciso ligar a televisão à corrente até à última semana de Setembro.
Moral da história: As decisões aleijam - os postes também.
*Acompanhe a Editora PruX Táta em: https://www.facebook.com/groups/374405188554/
Poesia em matéria fria: Chacal
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domingo, 19 de outubro de 2014
Poema à noitinha... Matilde Campilho
Matilde Campilho, em Jóquei – edição Tinta-da-China.
Matilde escreveu este livro entre as suas viagens de Lisboa
a Rio de Janeiro.
RIO DE JANEIRO –
LISBOA
um dia você
adora meus óculos
adoro os
teus óculos
no dia
seguinte
não quero
que venhas na fazenda
três dias
antes
você ia
adorar este lugar
você quer
vir até à fazenda?
um dia eu
rasgo
o tecido
celular do rosto
realizo um
sorriso constante
que
atravessa o morro
o ponto
mágico do morro
rasgão
alegre que fulmina
o veio
mínimo da folha
de
amendoeira
e pelo feixe
de luz tropiquente
vai parar na
cara de João
vendedor de
suco no leblon
em ricochete
João grita açai!
qualquer dia
eu vou e chego
no outro dia
a cidade se
aborrece
desdignificada
pela
gigante
roleta
que se chama
medo
o urubu fica
empoleirado
na trave
enferrujada
daquilo que
já foi suporte
ao cartaz
que anunciava
o novo mundo
das piscinas
fosforescentes
o pássaro
suspenso
olhando a
via rápida
e catando
caca
debaixo da
unha
temendo o
gira girar
da pequena
roda
que circula
sorte e azar
um dia você
escreve para
seus pais
falando
sobre o amor
quarenta
dias depois
teus pais te
escrevem
falando
sobre redes de pesca
e o perigo
das redes de pesca
um dia você
me envia uma carta
depois a
outra
o rasgão
explode
recordando
ainda outra carta
de alguns
meses antes
o postal
eterno que dizia
still crazy
(after all
these years)
faço voto de
silêncio
mas na
sacrilização
horária das
avenidas
eu penso que
você
sua mãe e
seu pai
conversam
muito
sobre peixes
e isso
mantém quieta
a roleta
negra
e que isso
mantém aparada
a unha do
urubu
e que isso
faz homenagem
a João e à
fruta espessa
que brilha
vermelha
em cada copo
da minha cidade
um dia você
diz que me a****
eu a****-te
no dia
seguinte
a amendoeira
se expande
e floresce
cinco folhas mais
nesse dia
reparo
que estamos
contribuindo
você e eu
para o
florestamento
da cidade
de duas
cidades
faço votos
de silêncio
mas na
sacrilização horária
da
respiração eu penso
que apesar
da sala de casino
abrigo da
gigante roleta do medo
apesar dos
golpes de gmt -3
apesar da
fita de seda que fica
ondulando
sua medida de 7800 km
estamos
dando utilidade ao amor
alargando os
braços dos jacarandás
partindo as
inúteis linhas de fronteira
e fazendo do
mundo
a gigante
floresta.
Snobidando: Poemanifesto
Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Já abriu, em Guimarães. Pode lá encontrar isto e muito mais.
Do Teatro para a vida
"Mudar e ser mudado
e lembrar-se,
ver e rever,
sonhar e esquecer e rir,
saber e já não saber nada,
e encontrar e duvidar
e estar presente."
Apanhei-te a ler... dia 24
Marilyn Monroe
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