sábado, 3 de maio de 2014

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações




Gonçalo, poeta por defeito, detestou escrever "isto".
Estranho, mas não muito desinteressante.


Passar a limpo a folha da imaginação
e ser capaz de acreditar em todas as ficções,
mesmo naquelas em que somos levados
a fazer escolhas:
sim ou não?

(Leitor amigo, não leias mais, fica por aqui.)

Escrever todas as palavras do mundo
(ainda que todas as palavras do mundo sejam chatas),
e, mesmo assim, duvidar.
Duvidar que nem um danado!

Fechar os olhos: todas as sensações.
Azul, música, amor, medo, angústia, mentira.
Ter sonhos claros e quentes de sabor a terra
 a fugir para um amarelo esverdeado.
O céu é imensos pontos indefinidos.

(Janelas do hospital,
do hospital em que nasci acorrentado.)
No dia em que nasci, o mundo permaneceu igual.
Por que porra iriam os planetas girar ao contrário?

Agora, bem, talvez umas rimas,
pois isto de ser poeta é cansativo.

Não! Não quero, não posso
Nem me permito!
Amar as coisas belas!
Amar as coisas belas!
As coisas belas!
Coisas Belas!

O resto não importa!

Importa, sim, existir.
Existir com muita força,
com os olhos bem abertos.

Existir no papel.
Leitor amigo, que fazes aqui neste quarto vazio?
Tudo é ficção!

O resto não existe.

Snobidando: Inês Dias

How to disappear completely, Inês Dias

Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Abre brevemente, em Guimarães. Pode lá encontrar este e muitos outros textos.

Qual a tua posição?

Un petit cadeau de mylittlebookclub.fr ! 

Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder por nada! 

Foto frase do dia: Mark Twain


sexta-feira, 2 de maio de 2014

i think i need a new heart

For St. Valentine's Day, de Nazif Topçuoğlu, 1998
Fonte: http://naziftopcuoglu.com

"Comecei a odiá-la. Continuei a amá-la porque era uma coisa em que não podia interferir. Desde o dia em que abrimos os olhos e vemos o rosto da nossa mãe, acho que o coração, por assim dizer, deixa de nos pertencer. É um chato que nos comove. É um traidor. É um independente. É um inquilino."

O Amor é Fodido, de Miguel Esteves Cardoso

Foto frase do dia: frase atribuida erradamente a José Saramago


Esclarecimento: “Temos sido questionados com frequência acerca deste assunto, e o que podemos esclarecer é que não reconhecemos o texto que circula na web como sendo da autoria de José Saramago, supondo nós tratar-se de mais uma falsa atribuição de autoria, como tantas outras impossíveis de impedir de circular…” Sem mais e Cordialmente, Rita Pais Fundação José Saramago” http://www.josesaramago.org/

«No país da Nuvem Branca» - o início

P.V.P.: 19,95 € 
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 684
Editora: Marcador

A Igreja Angelicana de Christchurch, Nova Zelândia, procura mulheres jovens e respeitáveis, com experiência nas tarefas domésticas e na educação de crianças, que estejam interessadas em contrair matrimónio cristão com membros da nossa comunidade, com boa reputação e situação económica estável.

O olhar de Helen deteve-se brevemente no discreto anúncio da última página do boletim da igreja. A professora tinha folheado o boletim por instantes, enquanto os seus alunos resolviam em silêncio um exercício de gramática. Helen teria preferido ler um livro, mas as perguntas constantes de William interrompiam a sua concentração. A cabeleira castanha do menino de onze anos voltou a erguer-se dos deveres.

*in No país da Nuvem Branca, Sarah Lark - Marcador

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações

Poesia. Por que não?

Não enlacemos as mãos outra vez, meu amor,
Pois o ódio consome o nosso silêncio,
E nem o céu é capaz de rasgar
O que o tempo escreveu.

Somos Literatura,
E por não existirmos
Sofremos e amamos como se fôssemos
Capazes de viver para sempre.

Sim, um resto de pó e de água
Nesse teu rosto filho de peregrinos
Que caminham em busca da luz.

Como se fosse possível o teu rosto ser a perfeição.

Por querermos a perfeição e a imortalidade, falhamos.
Por querermos a fama e a glória eternas, falhamos.
Por querermos a riqueza e um altar, falhamos.

E falhamos porque não sabemos quem somos, nem
Queremos sabê-lo. A imortalidade não reside no mármore
De uma estátua ou numa estante de biblioteca.

Falhamos redondamente. Falhamos miseravelmente,
Como pó e esquecimento que somos.
Por existir nas palavras sofro enquanto verbo
Transitivo ou metáfora, nada mais. Langue et Parole.

Ser escrita é ser esquecimento. Tudo o resto existe.
Tudo o resto não existe.

Escrever é mentir com as mãos.
Amar é enganar com a vida.

Viver é escrever e mentir e amar, e no fim da linha,
Deixar de amar, deixar de ser.

Enfastio-me com as gradações progressivas e com a simbologia dos números.
Por ter tantas ideias e sistemas e histórias e textos e
Músicas e paisagens e medo e silêncio em mim, não consigo escrever
Prodigiosamente, como os clássicos.

Para filósofo falta-me o sol e o mar gregos.




                                 Imagem tirada daqui: http://www.thelemming.com/lemming/dissertation-web/images/flaneur.jpg                             

a-ver-livros: inquietação

Diz que a poesia leva
palavras
ou não é poesia

Como lhe chamaremos
quando elas voam 
antes de as prendermos
na página?

Ana Almeida

* para saber mais sobre o ilustrador turco Ercan Baysal
siga o link www.flickr.com/people/ercanbaysal

quinta-feira, 1 de maio de 2014

LEV em Matosinhos - 9 a 11 de Maio

LITERATURA EM VIAGEM DE REGRESSO!

29 de Abril de 2014
8º edição do LEV decorre de 9 a 11 de maio na Biblioteca Municipal Florbela Espanca
José Sócrates, Mafalda Veiga, Miguel Araújo Jorge, Francisco José Viegas, Pilar del Rio, António Pedro Vasconcelos, Carlos Daniel, Ana Sousa Dias, Luís Miguel Rocha, Eduardo Lourenço, Rui Lopes Graça e Nuno Camarneiro são apenas alguns dos nomes presentes na 8.ª edição do LEV — Literatura em Viagem, que apresenta como tema uma viagem aos territórios onde se move a literatura, através de mapas criados pelos livros.
A Conferência Inaugural, dia 9 de maio, está, este ano, a cargo do ex-Primeiro-ministro, Eng. José Sócrates, no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Destaque também para a homenagem a José Rentes de Carvalho, para o lançamento do livro “A Janela de Saramago” e para as exposições “Lanzarote, a Janela de Saramago” e “Polaroides e Poemas, as Imagens das Palavras”.
Na edição deste ano, o LEV propõe uma reflexão sobre os novos mundos que a literatura contemporânea abre nesta “era do vazio”.
Os convidados do LEV serão desafiados a propor a sua geografia das ideias, do corpo ou da linguagem, e a desenhar um planisfério imaginário, composto por mapas muito diferentes, que umas vezes se sobrepõem, outras se contradizem.
Nos dias 10 e 11 de maio, jornalistas, músicos, cineastas e escritores farão parte de oito mesas centradas nos mapas do corpo, do quotidiano, da identidade, das ideias, da literatura, da história, da linguagem e da viagem.
Para os mais novos, regressa dia 9 de maio o “LEVezinho” às escolas, com a participação dos escritores Adélia Carvalho, José Pires e Manuela Costa Ribeiro.
Entre as palavras e a música, o LEV encerra este ano com Mafalda Veiga, Miguel Araújo Jorge (“Os Azeitonas”) e a brasileira Verônica Ferriani, numa conversa em torno da poesia e da música.


PROGRAMA:


Sexta-feira, 9 de maio

21h30 – Salão Nobre dos Paços do Concelho
Conferência inaugural, por José Sócrates


Sábado, 10 de maio

Biblioteca Municipal Florbela Espanca

Mesas

O mapa do corpo | 15.00
O computador introduziu uma importante mudança da relação do corpo com a escrita. Que outras mudanças estão a ocorrer nesses dois planos? Será a literatura imune ao corpo que a produz? Idade, género, compleição, saúde serão partes de um contexto sempre presente na literatura? Pode a mente ter sempre um primado sobre o corpo quando falamos de literatura? Estamos ainda pouco despertos para a escrita dos corpos?
Convidados: Miguel Miranda e Rui Lopes Graça | Moderação: Ana Sousa Dias
O mapa do quotidiano | 15.45
Num país acusado de ter uma literatura demasiado alegórica e onírica, que papel resta ao quotidiano? Terá um sonho menor grau de realidade do que um fenómeno físico? Será mais forte um retrato do real do que uma distopia literária? O filósofo alemão Markus Gabriel afirma que, «se Jesus nunca tivesse existido e não passasse de uma invenção, não seria mais do que uma ideia. Uma ideia muito mais incrível que uma galáxia longínqua».
Convidados: António-Pedro Vasconcelos e Valério Romão | Moderação: Carlos Daniel
O mapa da identidade | 16.30
Uma conversa sobre o autor e as suas personas. De que forma a perceção das pessoas interfere na produção literária?
Convidados: Nuno Costa Santos e Luís Miguel Rocha | Moderação: Pedro Vieira
O mapa das ideias | 17.15
Está o mundo ocidental deserto de ideias ou preso a um pensamento velho? Qual o papel da ciência, da filosofia, da literatura na renovação da cultura ocidental? Como pode comunicar a física com a literatura ou as neurociências com a filosofia? Da Vinci e Júlio Verne anteciparam conquistas da ciência: continua a literatura atenta aos atuais desafios da ciência e é notória essa influência?
Convidados: Carlos Fiolhais e Nuno Camarneiro | Moderação: Luís Caetano
O mapa da literatura | 18.00
O lugar-comum da literatura enquanto espelho de uma cor local, de uma cultura indígena, há muito que deixou de fazer sentido. Mas pode ou não o contexto influenciar a voz literária? Que relação tem a escrita com o espaço, seja ele o escritório, uma cidade ou um continente? É possível afirmar que um escritor está imune à força do território? Há filiações geográficas na literatura, ou são os escritores perfeitos átomos livres?
Convidados: Bruno Vieira Amaral, Pedro Mexia e Pilar del Rio | Moderação: Carlos Nogueira
Sessão de Homenagem
21h30 «Nasci escritor», uma homenagem a J. Rentes de Carvalho
Dividido entre Estevais e Amesterdão; descoberto tardiamente em Portugal; J. Rentes de Carvalho retrata o nosso país com a intensidade de quem o conhece como ninguém e com a acutilância de quem o observa à distância. Francisco José Viegas, Carlos Nogueira e Bruno Vieira Amaral ajudam a descobrir as fragas de que é feita a vida e a obra de J. Rentes de Carvalho.
Participantes: Bruno Vieira Amaral, Carlos Nogueira e Francisco José Viegas. Moderação de Tito Couto

Domingo, 11 de maio

Biblioteca Municipal Florbela Espanca
O mapa da história | 15.00
Nunca se publicaram tantos livros centrados na história portuguesa ou universal. Estamos a fazer uma reconciliação com a história? Estamos a aprender com os erros do passado? Portugal está demasiado preocupado em viver a vida olhando exclusivamente para o futuro?
Convidados: Mateus Brandão e Rui Ramos | Moderação: Francisco José Viegas
O mapa da linguagem | 15.45
Um povo pouco instruído é mais facilmente dominado pelo discurso do poder? Estará a linguagem em processo de desertificação, e a literatura é um mero oásis? A política está a desenhar uma novilíngua? Que desafios se apresentam hoje a quem comunica e reflete sobre a linguagem?
Convidados: Eduardo Lourenço | Moderação: Maria João Costa
O mapa da viagem | 16.30
Como se prepara a viagem real e a imaginada? De que forma a reportagem de viagem se deixa contaminar pela ficção? Qual o papel da linguagem na construção da viagem descrita?
Convidados: Francisco Camacho e Paulo Moura | Moderação: Pedro Vieira

Sessão de Encerramento

17h15 «Duas escritas, a mesma língua»
Como se constrói uma cumplicidade entre autor e compositor? Será a música o último grande reduto da poesia? Participantes: Mafalda Veiga, Maria do Rosário Pedreira, Miguel Araújo Jorge e Verônica Ferriani | Moderação: Tito Couto

LEVzinho

3 sessões em escolasDia 9 de maio3 escritores: Adélia Carvalho, José Pires e Manuela Costa Ribeiro
Lançamento de livros
Sexta-feira, 9 de maio
10h30- As Aventuras do Anjo Nicolau — Aprender a Escolher, de Tânia Peneda (Editorial Novembro)
Espaço infantil da Biblioteca Municipal Florbela Espanca
Apresentação: Rui Meireles
Sinopse: E se no céu existisse mais alguma coisa para além de nuvens? E se no meio das nuvens existisse uma aldeia? Uma aldeia habitada por anjos?
O anjo Nicolau conta as histórias de um anjo aprendiz que sonha trabalhar na terra. Todos os anjos que moram naquela aldeia, ou quase todos, trabalham na terra e ajudam os humanos a serem melhores. Nicolau é nomeado aprendiz pelo seu Mestre, o Mestre Rafael. Desce finalmente à terra e parte na sua primeira missão junto dos humanos. Conhece Mónica, uma árvore mágica que ajuda os anjos nas suas tarefas.
Nicolau vai viver uma aventura inesquecível na terra, vai experienciar novas sensações e novos sentimentos. Vai finalmente conhecer humanos e em especial um menino que lhe mudará a vida para sempre. Uma única regra terá de cumprir, não poderá em nenhuma circunstância mudar o destino dos humanos. Será Nicolau capaz de ajudar um humano sem o fazer?
O anjo Nicolau é uma história maravilhosa sobre amor e sacrifício, ajudará sem dúvida todas as crianças a compreenderem melhor o mundo dos adultos.
Sábado, 10 de maio
12h00- A Janela de Saramago, de João Francisco Vilhena e José Saramago (Porto Editora)
Apresentação: Pilar del Rio
Sinopse:
Livro concebido pelo fotógrafo João Francisco Vilhena, com textos dos Cadernos de Lanzarote, de José Saramago, a partir do seu encontro com o escritor na ilha onde José Saramago fincará as raízes que darão lugar à segunda parte da sua vida literária, numa profunda ligação com a natureza – qual regresso às origens, narradas n’As Pequenas Memórias – e face à aproximação da velhice e da morte. Um livro belíssimo sobre o sentido da vida e da escrita, uma homenagem a Saramago no momento em que se comemoram os quinze anos da atribuição do Prémio Nobel.

Exposições

Lanzarote, a Janela de Saramago
«Lanzarote, a janela de Saramago» é uma exposição de fotografias a preto e branco e sépia, montadas em sequência como fotogramas de um filme acompanhado por frases de José Saramago. O diário/caderno de notas do prémio Nobel é habitado por imagens do fotógrafo João Francisco Vilhena. Esta exposição terá por base o livro homónimo editado pela Porto Editora.
«Através da escrita de José Saramago, em e sobre Lanzarote, descubro a sua paixão pela ilha e o reencontro com os lugares mágicos de outros tempos. A tranquilidade das palavras escritas sobre a influência da paisagem, a luz rasgando as nuvens, o mar perdido no seu silêncio e as cores do mundo refletidas nos seus olhos encostados aos meus. Uma janela aberta numa casa protegida por vulcões antigos.» João Francisco Vilhena
Polaroides&Poemas, as Imagens das Palavras
«Polaroides&Poemas, as Imagens das Palavras» é uma exposição da autoria de João Francisco Vilhena. 14 imagens a preto e branco de escritores portugueses que fazem parte da nossa vida e enriquecem o nosso mundo com as suas palavras únicas. António Lobo Antunes, José Cardoso Pires, Eugénio de Andrade, Agustina Bessa-Luís, Vasco Graça Moura, entre outros, vão estar no LEV a olhar por nós através da objetiva do fotógrafo.
«Há um tempo para tudo, diz-se. Mas o tempo foge. O papel de quem regista o momento certo é defini-lo com autenticidade. Olha-se para um retrato e percebe-se quem está ali à nossa frente. Proceder à proeza não é coisa fácil. Saber encontrar o ângulo certo, o olhar, a característica mais definidora, é tarefa de quem sabe olhar pelos seus olhos compreendendo o olhar do outro. Celebra-se um registo fotográfico quando essa autenticidade é encontrada. Os retratos que João Francisco Vilhena fez a conhecidos autores portugueses são em simultâneo provas de uma exigência e de uma perceção superior do registo fotográfico. Retratos de excelência. Fotografias de grande rigor estético e técnico. E rigorosa demonstração de um grande conhecimento dos retratados. Que mais se pode dizer para apresentar uma grande exposição de fotografia?» José Teófilo Duarte
Informação tirada daqui - http://www.cm-matosinhos.pt/pages/242?news_id=2926


Segundos sentidos - Joaquim Pessoa e A Criada Malcriada

Resolvi juntar estas duas manifestações que li hoje no facebook!

Dia 152.

Obrigado, excelências.

Obrigado por nos destruírem o sonho
e a oportunidade de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha,
sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem.
Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono.
E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração
numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça,
a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo
o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer,
o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

*
Joaquim Pessoa, in ANO COMUM, 2.ª ed.
Editora Edições Esgotadas, 2013.

Foto frase do dia: Victor Hugo


quarta-feira, 30 de abril de 2014

Vida de José de Risso é quase filme

Quem leu o "Breviário das Más Inclinações", do José Riço Direitinho? 
Eu li - ainda nos idos de 1998, logo após a sua publicação - e adorei esta que foi obra finalista do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores e depois Prémio Eça de Queiroz, assinado pelo então jovem engenheiro agrónomo, da minha idade. 

Não me surpreende, por isso, que o realizador Fonseca e Costa e a produtora Ukbar se tenham  interessado pelo livro que conta a romanceada vida e morte de José de Risso e os seus dez capítulos de más inclinações - a grande notícia do dia, revelada hoje pelo próprio escritor na sua página do Facebook. 

"O realizador achou que aquilo dava uma grande história, pelo que estamos a trabalhar no argumento e a produtora vai concorrer ao ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual] agora no fim de Maio. Se for aprovado, vai para a frente. As filmagens terão de ser em Trás-os-Montes e talvez Espanha. De resto, não há mais nada que possa adiantar", adiantou-me Riço Direitinho esta tarde. 

Publicado primeiro pela Asa e pelo Círculo de Leitores e reeditado em 2011 pela Quetzal, "Breviário das Más Inclinações" começa assim: "Depois de se ter deitado com um homem, lavava-se sempre numa infusão de folhas de arruda, apanhadas ao luar, e bebia tisanas com sementes de funcho e de sargacinha-dos-montes, para que as regras não lhe faltassem. De maneira que nos dois meses seguintes à noite em que encontrou na eira uma maçaroca de milho-rei, não acreditou que estivesse grávida, mas que a ausência de sangue se devesse a qualquer desarranjo, ou a ter olhado para dentro do forno enquanto o pão crescia."

Mas a rapariga estava mesmo grávida, e José de Risso acabaria por nascer com um sinal vermelho no meio das costas, em forma de folha de carvalho, começando logo por causar a morte da própria mãe. Já estão entusiasmados para ler o livro - enquanto não chega o filme?

Ana Almeida


Quem vence o passatempo «4 anos do Clube de Leitores»?

P.V.P.: 15,90 € 
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 264
Editora: Editorial Presença

Qual é a frase que escolhem para ser a vencedora do passatempo «4 anos do Clube de Leitores»?

Estas são as sete melhores frases a concurso. E vão agora a uma grande final que decorre até dia 4. As três mais votadas ajudam o júri a decidir os vencedores - basta comentarem este post (aqui no blog, na página do facebook ou também no grupo). 

Sim! Quem ganhar leva os dois livros! 

Boa sorte!

~~__~~

Se fosse um livro, qual gostaria de ser? 

Ana Luiz
Odisseia de Homero. Porque por muitas adversidades que surjam no caminho, regressar a casa é sempre regressar ao conforto, ao carinho, e à protecção dos que mais amamos neste mundo.

Bárbara Tomé 
Gostaria de ser um livro que ao passar de mão em mão fosse incluindo as histórias de quem o fosse lendo.

Cátia Duarte
Gostaria de ser um final feliz porque de conturbações da vida no fim a felicidade vence.

João Mira
Um livro com páginas infinitas para que pudesse dar a quem me fosse ler horas intermináveis de prazer.

Helena Ribeiro
Sem duvida, "A insustentável leveza do ser". Pelo cenário, pela cidade, pela trama de amores e desamores numa cidade mágica, num tempo que parece tão longínquo, mas ao mesmo tempo tão recente. Pela maneira como se pode apostar uma vida na mera possibilidade de se encontrar um grande amor. Kundera, sempre Kundera!

Sofia Maia
Se eu fosse um livro gostava de ser como o "O conto da Ilha Desconhecida" de José Saramago, pois assim, deixaria um sorriso na face de quem o lê, e uma brisa de respostas a questões que nos colocamos todos os dias.

Ana Branco
Se fosse um livro, adorava ser um livro sobre a vida... mas um livro repleto de páginas em branco, para que quem me possuísse tivesse oportunidade de criar a sua própria história e os seus próprios finais felizes!

O concurso é válido para Portugal continental e ilhas.

P.V.P.: 16,60 € 
Data de Edição: 2013
Nº de Páginas: 288
Editora: Editorial Presença

*O vencedor terá que enviar-nos a sua morada. Em caso de não o fizer, o Clube atribuirá o pack a outro(a) finalista. Fique atento!

O próximo Bairro é... Ler é a menina dança?

É já este sábado, no Porto.

Conhecer novos autores: quem é Sarah Lark?

P.V.P.: 19,95 € 
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 684
Editora: Marcador

Sarah Lark

Sarah Lark
Sarah Lark, é um pseudónimo de Christiane Gohl. Nascida na Alemanha, vive actualmente em Almería, Espanha. Formou-se em Educação e trabalhou como guia turística, redactora publicitária e jornalista. A inclinação para a escrita marcou todos os empregos por onde passou. Com uma produção literária vastíssima, alcançou o sucesso de vendas e o reconhecimento literário graças à saga maori cujo primeiro volume é o livro que agora publicamos: No País da Nuvem Branca. Com mais de dois milhões de leitores em todo o mundo, para ela «escrever romances não é muito mais do que sonhar acordada».

terça-feira, 29 de abril de 2014

The adventures of Jimmy Corrigan - the Smartest Kid on Earth


2. Ease of Use.
Carefully arranged and skillfully decorated, it will be noted that the volume which you now hold has been engineered for facile deportment, fitting gingerly into a purse, satchel, or briefcase with room to spare. Thus, it may be readily produced whenever a convincing simulation of life is deemed necessary, whether during a "snack break" at a particulary demeaning or undignified job, or during public conveyance from employement to home when the cramped discourse of one's companions is decidedly not desired, or while tarrying in one of the countless "waiting rooms" in which we waste the accrued hours of our otherwise relatively short and mean lives. We may read a bit while a form is being processed, or while a name is waiting to be called, or while a loved one wastes away. Note also that to prevent embharrassment, all gaudiness and indication of contents have been shrewdly left from the exterior, though a plain paper cover may be fashioned if utter opacity is of chief concern.

*in The adventures of Jimmy Corrigan - the Smartest Kid on Earth, Chris Ware

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das sensações

"A arte é a coisa santa da humanidade", disse Antero de Quental.
Seremos, nós, capazes de ser mais humanos por meio da arte?
Fica a reflexão.
Deixo, agora, no vosso regaço, mais um conto de Gonçalo Viana de Sousa, da sua obra Homens e Demónios.

Naquela casa


Naquela casa, ali, ao pé do rio, foi onde tudo começou. A música saltava por entre os arbustos que diziam baixinho: jardim. O rio era prateado nas noites de luar e a luz que vinha daquela casa… oh! , a luz que vinha daquela casa! O piano era mais que um instrumento. O piano era luz que aquecia e dava vida. Era uma luz acolhedora e terna, uma luz de lareira e de palavras de família e de segurança.
Naquela casa, ao pé do rio, ali, será o fim desta história. O piano e o cego de cabelos loiros eram um só. Era um piano de cabelos loiros. Era uma melodia cega e portadora de novos horizontes. O copo de vinho sobre o piano. A pauta a dizer Beethoven. Os dedos cegos do pianista a dizerem palavras de amor ao piano de cabelos loiros. Antes não era assim. O piano era um piano de família. O cego era um homem de amor. Quando, pela primeira vez, o piano ocupou o seu lugar naquela casa ao pé do rio. Quando, naquela casa, ali, ao pé do rio, o primeiro olhar, o primeiro beijo, um outro olhar. A primeira vez que o homem fez amor com aquela que seria a sua amada. Amo-te.
Laura, a portadora da chama do amor do homem que ainda não era cego. Chegou, foi vista e mudou tudo. Para sempre. Era como ele gostava de lhe dizer depois de um nocturno em noites de Outubro, enquanto o rio seguia o seu caminho, inevitavelmente impassível.
Certa noite, Laura, a prima donna, conseguiu avançar. E avançou. Saiu das pautas dos poetas, músicos de silêncios. Saiu das folhas de séculos de códigos e de regras e leis. Argh! Tanta Literatura e tanta explicação que é dada por causa de uns dentes brancos, uma tez fina, um regaço doce! Laura rasgou tudo. Tudo. O pianista tocando apaixonadamente, a noite a ser silêncio e: calma. Laura feita de papel e de séculos de mentes tão complexas a rastejar até à cozinha. Não comeu nenhuma maçã vermelha. Nunca gostou de maçãs. Não sai à mãe. Laura avança pela cozinha. O pianista começa a falar com o piano numa voz alegre e primaveril, enquanto a noite era Outubro, ou Novembro? E chovia? Ah! Locus amoenus e locus horrendus! As voltas que tu dás entre mãos trémulas. Se ao menos houvesse absinto e os tempos fossem os de oitocentos… Se a noite era calma, havia luar e algumas estrelas apareciam com a vergonha estúpida de serem estrelas no céu. Laura avança com um copo de balão, um copo de vinho tinto, vermelho, sedoso, pastoso. Vermelho. Avança com o copo em direcção ao pianista que falava com o piano de palavras de infância e carinho. Isto porque não chovia. Isto porque havia lua e estrelas. Para quê? O copo de vinho tinto tinha uma cor vermelha. Vermelho de amor? Talvez. Mas foi a última cor que o pianista viu, enquanto Laura, a bela e divina Laura, perfurava os olhos deste homem apaixonado – vermelho de amor -  e louco até o som ser surdo , até o piano sentir a vergonha da Literatura sobre uma pauta de poesia. Petrarca, Camões, Shakespeare, Baudelaire? Porquê? Para quê? O pianista ficou cego, o tempo parecia ser ameno e tudo indicava um clima de amor e paixão. A culpa é do Romantismo e dos homens e das mulheres e da arte e da Arte. Enquanto fizermos associações entre noite, escuridão, luz-trevas, calma-tempestade, iremos navegar pelas palavras à procura de sentidos que não existem! Tudo é o que é e será o que será. Mas se escrevo isto lembro-me de Alberto Caeiro e caio na lama que sempre tentei evitar. Ah! Memória genética e cultural! Ah! Século de todas as tecnologias e facilidades! O que és capaz de fazer com uma mão cheia de nomes e lugares comuns!

Mas Laura esmagou por completo os olhos do pianista. Isso é o que interessa. Ela sorridente e finalmente sentindo-se Senhora. Sentindo-se Nossa Senhora das coisas Impossíveis, porque, enquanto houver mundo, as personagens serão só papel. Enquanto houver mundo, os pianos não terão cabelos loiros. Enquanto houver mundo, Laura ficará no papel e nos livros, para sempre, ou até ao dia em que alguém se lembre e se aperceba que as personagens não são de ninguém, são livres como as próprias palavras ordenadas e alfabetizadas. Somos escravos cerebrais da ordem e do medo. Mas o pianista, ao sentir uma dor aguda e grande grande grande no lugar dos olhos não grita, não oferece resistência, não tenta defender-se. O pianista, brotando sangue e lágrimas pelos olhos, não pede perdão a ninguém pelo que lhe fizeram. Não precisamos de cruzes ou de gente rezando por nós ladainhas de mistérios e aparições. O pianista, esse, continua a acariciar o seu piano, sorri e diz: és tu, minha Laura. Vem, eu Amo-te.

                                  Imagem tirada daqui: http://www.thelemming.com/lemming/dissertation-web/images/flaneur.jpg

É do borogodó: janela violada

não cabe a promessa nesse jogo. no amor, como na guerra, a estratégia é morrer. revirar olhos gemendo sem pudores. entorpecidos se estrangulam, o beijo. expandem e se engolem. há uma janela violada, pintura crua. veneziana penetrada pelo odor das flores que só dançam para a lua. quem de paixão se esconde, da vida não merece muito. ácido o sal que brota deste rio que cintila a ponta dos dedos. as pernas entrelaçadas a ditar poemas.

Penélope Martins

Gustave Coubert

a-ver-livros: a caminho

Quero passar
atravessar
transpor a ponte
a fonte de outros 
caminhos
passos adivinhos 
galgar as escarpas
ultrapassar as farpas
esquecer os anos
e os danos
andar sem parar até me encontrar

ou te encontrar
se fores a pergunta para as minhas respostas

Ana Almeida

* para saber mais sobre o pintor norte-americano George Seton Coggeshall
siga o link /www.askart.com/askart/artist




segunda-feira, 28 de abril de 2014

O amor é fodido - para ler no próximo mês

«As lágrimas das raparigas refrescam-me. Levantam-me o moral. Às vezes lambo-a dos cantos dos olhos. São pequenos coquetéis sem álcool, inteiramente naturais. Dizer: "Não chores" funciona sempre, porque só mencionar o verbo "chorar" emociona-as e liberta-as, dando-lhes carta branca para chorar ainda mais. Só intervenho com piadas e palavras de esperança e de amor quando elas vão longe de mais e começam, por exemplo, a pingar do nariz.»


Miguel Esteves Cardoso

Em 1955 nasceu em Lisboa. Em janeiro de 1981 nascem em Manchester as duas filhas, Sara e Tristana. Em 2000 casou-se com a Maria João Lopes Pinheiro, amor da vida dele. A partir desse ano, dedica-se tanto ao casamento como ao trabalho. Desde 2009 escreve diariamente no Público e, em 2013, passa a ser autor da Porto Editora, a quem confia a obra inteira. É feliz da vida e vive com a Maria João em Colares.

*in wook