Na manhã de 4 de Outubro, Gregorio Olías levantou-se mais cedo do que
habitualmente. Tinha passado uma noite confusa, e pelo amanhecer acreditara
sonhar que um mensageiro com uma tocha aparecia na porta para lhe anunciar que
o dia da desgraça tinha chegado por fim: “Levanta-te, pinguin, que os tambores
já se ouvem aqui perto!”, disse-lhe. Olhou o quarto envolto em penumbra e
imediatamente, derrotado pela ilusão de estar a sonhar acordado, voltou a
fechar os olhos. “Ora, ainda é tarde para fugir”, respondeu naquele estado de
sonolência, e embora por um momento se tenha considerado a salvo, adivinhou em
seguida que se continuasse a prosseguir no absurdo acabaria por encontrar nele
as leis lógicas que o aparentavam com a realidade. Então reuniu forças para
dizer, “Estou perdido”, e acrescentou, “perdido na selva amazónica com uma
caixa de sapatos e uma navalha de várias lâminas”, e compreendeu novamente que
estava a erguer um parapeito de urgência para se defender das ciladas do mundo.
Mas as palavras deviam ter perdido as suas propriedades mágicas. Para o
confirmar, disse em voz alta, “penibán”, e ficou atento, para escutar os
efeitos de uma declaração tão formidável. Não aconteceu nada: nem sequer as
velhas coisas de sempre, com os seus ilustres nomes de sempre, levantaram o
mais ínfimo protesto contra a irrupção do intruso. Um relógio bateu as oito, e
o tempo ameaçou então recuperar o seu sentido linear.
* Tradução de
Egito Gonçalves
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