sábado, 31 de outubro de 2015

Eu poético: Semáforo

SEMÁFORO

a cidade está deserta
e ao longe o semáforo verde dá-me ordem para seguir.
prossegue a vida, diz.

mas ele fecha mal chego ao seu encontro,
sinal inequívoco da necessidade de parar
e ceder passagem.

olho para a direita.
olho para a esquerda.
olho em frente.
espreito o retrovisor.
os meus olhos apontam ao céu.

e ninguém cruza.

conto os segundos, bato o pé de impaciência.
escuto as batucadas do coração,
descompensadas pela ausência de alguém que as eduque.

penso em mim.
penso na ausência de ti.
como seria bom que alguém trouxesse a tua solidão numa caixa.
poderia então juntar a minha tristeza à tua,
agitar os nossos medos
e daí resultar alegria.

o semáforo abre.
olho para todos os cantos onde tu possas estar.

mas não estás.
simplesmente não.

sigo viagem, volto a contar o tempo e penso na esperança que me guia até ao cruzamento seguinte.

será aí que morro?
ou será o destino em que te descubro
e convido a vires morrer comigo?

Rodrigo Ferrão


Foto: Rodrigo Ferrão

Os livros escrevem a história da nossa vida

Encontrado na página For Reading Addicts

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

a-ver-livros: 432

Já somos tão pouco
de repente menos ainda
um dia nada
meia dúzia de ossos presos
no tecido com que embrulhámos
a memória
um cheiro vago a terra
estrumada a dias vividos
meio litro de lágrimas
uma flor ou outra

O que fica de ti é isto que sou,
sal, pedra, fogo,
abençoada a nesga de sol
que me escondeu
o olhar

Ana Almeida


Foto frase do dia: WW

Encontrado na página For Reading Addicts

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ler «Gente independente», de Halldór Laxness


"Não quero saber de tamanhos disparates, disse o pai. Não quero ouvir nada sobre um maldito mundo qualquer, pensas que estás a falar de algum mundo? O que é o mundo? Este é o mundo, o mundo está aqui, Casas de Verão, as minhas terras, é o mundo. E ainda que queiras engolir o Sol num momentâneo acesso de loucura porque estás a ver notas azuis da América, que evidentemente são falsas como toda e qualquer grande soma de dinheiro que cai nas mãos de um indivíduo sem que ele tenha trabalhado para tal, tu irás comprová-lo mais cedo ou mais tarde: Casas de Verão é o mundo, e nessa altura eu sei que irás pensar nas minhas palavras".

Andei com este livro alguns anos, li-o em três actos, densamente e com calma. Mas custou-me deixar Bjartur de Casas de Verão, o herói islandês que tantos sorrisos me tirou.

Laxness, mestre na arte de emprestar magia aos seus livros, conta a história de um homem duro, rude e trabalhador, aparentemente distante e de sentimentos sólidos e indestrutíveis. 

A história do início do século, fala-nos de uma Islândia de agricultores pobres. E Bjartur, homem independente, resiste como pode, sozinho, sobrevivendo a duas das suas mulheres e à perda de filhos. Casas de Verão, lugar idílico isolado do mundo, assiste a um amor mais que supremo do agricultor pelas suas ovelhas. 

O homem critica os que desistem e fogem para a América, assiste à grande guerra nos países lá fora, à entrada do capitalismo num país pobre, de um sistema bancário e político que empresta dinheiro em condições enganosas, acabando por sugar o pouco que existe.

Ele resiste. Ele luta. Ele mantém-se fiel aos seus princípios. Um homem independente, contra tudo e todos. 

No meio de uma história eloquente, vamos sendo levados pelas tradições islandesas, pelas crenças num diabo à solta, pela poesia. Laxness vai enchendo-nos de imagens poderosas, metáforas e descrições de arrebatar.

É assim que se faz um dos livros desta vida. Sorte que a minha vontade decidiu abrir estas páginas.

*Rodrigo Ferrão, in: https://www.goodreads.com/review/show/1385659292

In Frankenstein

Encontrado na página For Reading Addicts

terça-feira, 27 de outubro de 2015

abraço


o outono mora no lugar
caído na brancura do ventre
pássaro que conhece o voo
de regresso ao ninho.


Helder Magalhães



Monia Merlo Photographer

É do borogodó: DESENREDO, DE DORI CAYMMI E PAULO CÉSAR PINHEIRO


Por toda terra que passo
Me espanta tudo o que vejo
A morte tece seu fio
De vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego
Eu me enredo
Nas tranças do teu desejo
O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo
O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso
Mas quando eu chego
Eu me perco
Nas tramas do teu segredo
Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe
A cera da vela queimando
O homem fazendo o seu preço
A morte que a vida anda armando
A vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego
Eu me enrosco
Nas cordas do teu cabelo
Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe
* a canção Desenredo foi inspirada em conto homónimo, de Guimarães Rosa.
*Escolhido por Penélope Martins, nossa ponte para o Brasil

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Dei por mim a pensar no Natal, vejam lá

Dei por mim a pensar no Natal, vejam lá. 
Espero que não seja grave.
E entretanto, acham interessante? E prático? 

Bem, deve ser óptimo para os dias frios.
Quem quer um põe o dedo no ar. 

http://www.amazon.com/TheUnturnedPage-Clear-Acrylic-Book-Weight/dp/B00KN7ZF1Y


Harper Lee, Vai e põe uma sentinela

P.V.P.: 16.90
Data de Edição: 2015
Nº de Páginas: 240
Editora: Editorial Presença

Vai E Põe Uma Sentinela, de Harper Lee, um dos mais aguardados livros do ano chega às bancas portuguesas no próximo dia 21 de outubro, com a chancela da Editorial Presença. Disponível em todas as livrarias do país, o livro considerado «uma obra de arte» pelo Chicago Tribune promete confirmar o estatuto de bestseller que alcançou noutros países.

Jean Louise Finch -  Scout -  a inesquecível heroína de Matar a Cotovia, regressa de Nova Iorque a Maycomb, a sua cidade natal no Alabama, para visitar o pai, Atticus. Decorre o turbulento  período  de meados de 1950, numa nação dividida em torno das dramáticas questões raciais. É com  este pano de fundo que Jean Louise descobre verdades perturbadoras acerca da sua família, da cidade e das pessoas de quem mais gosta, o que a leva a interrogar-se sobre os seus valores e princípios, e a confrontar-se com complexos  problemas de ordem pessoal e política.

Vai E Põe Uma Sentinela, romance inédito de Harper Lee, cujo manuscrito  se havia  perdido mas  descoberto em 2014, foi escrito antes de Matar A Cotovia e apresenta-nos muitos dos personagens dessa mítica obra,  agora vinte anos mais velhos. Um livro magnífico, comovente e de grande fascínio de um dos maiores vultos da ficção contemporânea.

Harper Lee nasceu em 1926 em Monroeville, no Alabama. Frequentou o Huntingdon College e estudou Direito na Universidade do Alabama. É a autora de Matar a Cotovia,  eleito o Melhor Romance do Século pelo Library Journal, em 1999, do qual já foram vendidos mais de 30 milhões de exemplares em todo o mundo. Harper Lee foi distinguida com inúmeros galardões, incluindo o Prémio Pulitzer, em 1961,  e a Medalha Presidencial para a Liberdade, em 1999, pelo seu contributo prestado à literatura.



«Uma revelação, um verdadeiro acontecimento literário.»
The Guardian

«Vai e Põe uma Sentinela, como todas as grandes obras de arte, chega no momento certo.» Chicago Tribune

«Esta obra faz-nos questionar a visão que tínhamos de Harper Lee e do clássico Matar a Cotovia...»
The Guardian

«Este segundo romance de Harper Lee diz-nos mais sobre o nosso mundo que o seu livro anterior.»
Time

«Um livro de extraordinário interesse literário.
Independent