sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Livros que deram filme: Jane Eyre, Charlotte Brontë


Um dos grandes clássicos da literatura deu origem a uma adaptação ao cinema que, confesso, ainda não vi. Realizado por Cary Joji Fukunaga, americano filho de pai Japonês e mãe Sueca; Jane Eyre conta com as participações de Mia Wasikowska (no papel principal) e Michael Fassbender.



Quanto ao livro, podem encontrar à venda a versão editada pela Presença. Charlotte Brontë conta assim a sua história:

"Considerada uma obra-prima da literatura inglesa, Jane Eyre é um romance da escritora inglesa Charlotte Brontë, publicado no século XIX, mais precisamente em 1847. Jane Eyre é uma autobiografia ficcionada da protagonista que, depois de uma infância e adolescência desprovidas de afecto, se torna preceptora em Thornfield Hall e se apaixona pelo seu proprietário, Mr. Rochester. Plenamente correspondida nos seus sentimentos, Jane julga ter encontrado o amor por que ansiara toda a vida, mas Thornfield Hall esconde um segredo tenebroso que ameaça ensombrar a sua felicidade. Numa atmosfera misteriosa e inesquecível, acompanhamos esta heroína de espírito puro e apaixonado, que trava uma luta interior constante para se manter fiel às suas convicções e a si própria. Uma história sobre a liberdade humana, repleta de elementos dramáticos (incêndios, tempestades, tentativas de homicídio) que compõem uma atmosfera de mistério e suspense."

a-ver-livros: Barão por um dia

Há estórias que a História engole na voragem do tempo. Cruzamo-nos com elas sem querer, por exemplo quando se fica fascinado com a luz e a cor num quadro de um pintor que só descobrimos porque também incluiu livros nas suas telas.

Foi assim que me aconteceu com o britânico Frederic Leighton. As primeiras informações explicavam algo simples: foi um homem riquíssimo, filho único de uma família importante ligada à medicina e à importação e exportação, que andando pelo mundo lhe deu uma educação de topo, incluindo a oportunidade de estudar e viver nas grandes capitais europeias. Só em 1860, já com 30 anos, voltaria a viver em Londres – onde se deu com os melhores da Bretanha vitoriana, incluindo a rainha Vitória, que lhe comprou algumas obras.

A história deste artista torna-se curiosa quando se descobre que, um ano depois, é escolhido por Robert Browning – amizade que fez quando viveu em Roma – para desenhar o túmulo que, em Florença, Itália, acolheria Elizabeth Barrett Browning, sua mulher. Sim, a poetisa que escreveu os “Sonetos dos Portugueses” – vejam lá se não é verdade que isto anda tudo ligado... [*]

Pela sua personalidade cosmopolita e exuberante, que os alunos elogiavam com intensidade, e pela pintura assente em cores luminosas e figuras deliciosamente bem desenhadas, capturando a nostalgia vitoriana e as ‘saudades’ da era helénica, Leighton depressa se tornou uma eminência nas artes britânicas. Ascenderia em 1878 a presidente da Real Academia. Aprecie-se que sobe a tal ponto que se torna o primeiro pintor do Reino Unido a receber um título nobiliárquico – apesar até dos rumores que o davam como homossexual, nunca confirmados devido à forma secretiva como geria a sua vida privada. Ainda assim, o barão Frederic Leighton só veria o seu baronato constituído oficialmente a 24 de Janeiro de 1896, incluindo a propriedade de Holland Park, em Londres, onde é hoje o Leighton House Museum.

Mas a vida tem voltas que não lembram ao amnésico – e, apesar de toda a sua pujança artística e social, Frederic morre no dia seguinte, solteiro e sem descendência, vencido por uma angina de peito. Do primeiro e único barão de Leighton, detentor do mais curto baronato da história britânica, ficou a pintura. E caramba, se há para ver.
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(*) E só porque ela entra nesta história e tinha os portugueses no coração, termino este post com um soneto de Elizabeth Barrett Browning, o 43, talvez o mais conhecido. Escolho a versão da tradutora brasileira Thereza Christina Rocque da Motta.
“De quantas formas eu te amo? Deixa-me contá-las.
Amo-te profunda e largamente, e tão alto quanto
Alcança a minha alma, quando perco de vista
Os propósitos do Ser e os ideais da Graça.
Amo-te tanto quanto às menores necessidades
Do dia-a-dia, seja à luz do sol ou à luz de velas.
Amo-te livremente, como os homens lutam pelo Direito;
Amo-te puramente, como rejeitam o Elogio.
Amo-te com a paixão que tenho pelas
Minhas tristezas mais antigas, e com minha fé infantil.
Amo-te com um amor que pensei ter perdido

Com os santos que perdi… Amo-te com o alento,
Sorrisos e lágrimas de toda a minha vida! – e, se Deus quiser,
Irei amar-te ainda mais depois de morrer.
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[How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candlelight.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints, - I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! - and, if God choose,
I shall but love thee better after death.]

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Morreu Christa Wolf


Acabo de ver a notícia no Jornal Público da morte da escritora alemã Christa Wolf.

Avança o jornal: "Morreu em Berlim, a cidade onde vivia desde os anos 1950, o símbolo da Alemanha dividida que foi, a par de um feminismo que era reflexo da pressão inevitável da sociedade sobre o indivíduo, o grande tema do seu trabalho literário. Christa Wolf, autora de “Cassandra: Narrativa” ou “Medeia: Vozes”, voz polémica na antiga República Democrática Alemã (RDA), de que foi uma das escritoras mais respeitadas mas, igualmente, uma das mais críticas; voz que se manteve polémica quando da reunificação (a que se opôs), morreu hoje, aos 82 anos, de “doença prolongada”, anunciou a sua casa editorial a Suhrkamp-Verlag.

As feridas nunca saradas da reunificação alemã e o pesado legado dos totalitarismos que assolaram o país foram o pano de fundo de todo o seu pensamento literário. Enquanto escritora, dizia em entrevista ao Die Zeit, em 2005, tentava aproximar-se de si através da escrita: “Chegar o mais perto [de mim] que consiga, e tão impiedosamente quanto me for possível”. O ano passado foi distinguida com o prémio Thomas Mann, um marco para qualquer escritor em língua alemã. O júri escolheu-a por uma obra que “analisa as lutas, esperanças e erros do seu tempo de uma forma crítica e autocrítica, com profunda seriedade moral e narrativas poderosas”.

O Sentido do Fim, do Man Booker Prize 2011

O livro que valeu o Man Booker Prize 2011 ao escritor Julian Barnes acaba de ser publicado e está disponível nas livrarias.

O Sentido do Fim chega-nos pela mão da Quetzal.

Ao Expresso, o critico literário José Mário Silva escreve: «A escrita de Barnes – com as suas frases perfeitas, por vezes a raiar o sublime – faz deste livro uma obra-prima.»


Quanto ao conteúdo, deixo a sinopse para aguçar os espíritos mais curiosos.

"Tony Webster e a sua clique só conheceram Adrian Finn no fim do liceu. Famintos de livros e de sexo, e sem namoradas, viviam esses dias em conjunto, trocando afetações, piadas privativas, rumores, e mordacidades de todo o género. Talvez Adrian fosse mais sério do que os outros, e seria certamente mais inteligente. Mesmo assim juraram que ficariam amigos para o resto da vida. Tony está agora reformado. Teve uma carreira, um casamento e um divórcio amigável. E nunca fez nada para magoar ninguém - ou pelo menos acredita nisso. Mas a chegada da carta de uma advogada desencadeia uma série de surpresas e acontecimentos inesperados que lhe vão mostrar que a memória é afinal uma coisa altamente imperfeita O Sentido do Fim, o mais recente romance de Julian Barnes e livro recém-galardoado com o Man Booker Prize 2011 - é a história de um homem que se confronta com o seu passado mutável. Com marcas da literatura inglesa clássica - na apreciação do júri que o distinguiu - O Sentido do Fim constrói, com grande delicadeza e precisão, uma trama tensa, forte, e revela a mestria de um dos maiores escritores dos nossos tempos."

Pessoa - in memoriam

Setenta e seis anos. Nem sequer é um número redondo. Setenta e seis anos desde o 30 de Novembro de 1935 em que ele morreu. Fernando Pessoa. Apenas uma data.
Marco-a só porque sim. Só porque há um poema dele - do Álvaro de Campos, ou seja dele, Fernando - que me apetece recordar. É curto. É grosso. E é, a seu jeito, perfeito. Digo eu...


"O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó---óóóóóóóóó---óóóóóóóóóóóóóóó

(o vento lá fora)."

"Poesias de Álvaro de Campos", Fernando Pessoa, Edições Ática (1944)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Fases e outras fases

Não sei porque sim - nem porque não, na verdade - mas acordei hoje lembrando-me de Cecília Meireles. Talvez porque a infância andou-me pela memória e alguns dos seus poemas para a infância me bailem ainda cá por dentro.

Não, não é portuguesa. É brasileira do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1901 e se foi em 1964. O engano é comum. Algo há na sua escrita que não tem 'pronúncia' e isso conforta-me, que querem.

E quando acordei, como dizia, lembrava o início do poema que se segue. Só o início. Tive que ir procurá-lo para sossegar a alma. E agora partilho-o convosco. Sei que vão apreciar.



"Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."

Cecília Meireles, in "Flor de Poemas", Editora Nova Fronteira

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bem e Corrupção, Santo Agostinho

Santo Agostinho viveu entre os anos 354 e 430 da nossa era. E, na altura, pensava-se assim...


"Vi claramente que todas as coisas que se corrompem são boas: não se poderiam corromper se fossem sumamente boas, nem se poderiam corromper se não fossem boas. Com efeito, se fossem absolutamente boas, seriam incorruptíveis, e se não tivessem nenhum bem, nada haveria nelas que se corrompesse. De facto, a corrupção é nociva, e se não diminuísse o bem, não seria nociva. Portanto, ou a corrupção nada prejudica - o que não é aceitável - ou todas as coisas que se corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite dúvida. Se, porém, fossem privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de existir. Se existissem e já não pudessem ser alteradas, seriam melhores porque permaneciam incorruptíveis. Que maior monstruosidade do que afirmar que as coisas se tornariam melhores com perder todo o bem?

Por isso, se são privadas de todo o bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem são boas. Assim sendo, todas as coisas que existem são boas e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois se fosse substância seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível, e nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper."

in Confissões