sábado, 8 de junho de 2013

Escritor observa e depois retrata cada pessoa num parágrafo

Em vez de retratos pintados ou caricaturas, a Feira do Livro de Lisboa propõe retratos escritos. A experiência demora cerca de 20 minutos.



Day Jobs of the Poets

Se não fossem escritores, o que seriam Herman Melville, Jack Kerouac ou Pablo Neruda? 

Descubram nestes quadradinhos de Grant Snider. 

Dia 8 de junho, Ler é Fernando Pessoa no Bairro dos Livros!

Já arrancou!

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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Acorda Porto! Não há Feira, mas há Escritores!


Vários escritores decidiram lançar uma iniciativa intitulada “Acorda Porto” para protestar simbolicamente contra a não realização da feira do livro nesta cidade e permitir um encontro entre os escritores e os seus leitores.

À iniciativa já aderiram Luís Miguel Rocha, Valter Hugo Mãe, Manuel Jorge Marmelo, Ana Luísa Amaral, Álvaro Magalhães, Afonso Cruz, Inês Botelho, Patrícia Reis e o próprio Miguel Miranda, que afirma que a “lista ainda não está fechada”.

“Com cordas – daí o ‘acorda Porto’ – iremos amarrar textos dos vários escritores nas árvores da lamentação, em protesto pela não realização de uma feira do livro que acreditamos que deve ser perpetuada”, afirmou Miguel Miranda à Lusa.

O primeiro escritor a avançar com uma acção alternativa à feira do livro foi José Luís Peixoto, que decidiu marcar para hoje um encontro com os seus leitores, no espaço dos Maus Hábitos, a que acorreram algumas dezenas de pessoas. Perante a plateia cheia, o autor mostrou-se satisfeito, lembrando que tem “muito hábito vir ao Porto e encontrar-se com os leitores” dos seus livros.

Uma das outras ideias/ iniciativas dura dois dias, 22 e 29 de junho, a partir das 18h, com 10 a 12 escritores por dia. Chama-se "Um Livro em Cinco Minutos. O palco é a Praça da Liberdade, precisamente "o local onde acontecia a Feira", e o 'encontro' com cada escritor dura cinco minutos. Durante esse tempo, "cada um fala do que quiser e do que bem entender - do próximo livro ou da não realização da feira".

O Clube de Leitores como é claro não poderia deixar de estar super solidário e presente!


1º Parágrafo: A Catedral do Mar


No momento em que ninguém parecia prestar-lhe atenção, Bernat ergueu o olhar para o límpido céu azul. O sol ténue de finais de Setembro acariciava os rostos dos seus convidados. Investira tantas horas e esforços na preparação daquela festa, que apenas um tempo inclemente poderia deslustrá-la. Bernat sorriu para o céu outonal e, quando baixou o olhar, o sorriso acentuou-se, ao escutar o alvoroço que reinava no terreiro empedrado que se abria em frente à porta dos corrais, no piso térreo da casa rural.


* Tradução de Ana Duarte

a-ver-livros: sete e Marta Kiss

Aproveita a nesga de sol
a nesga de mim em brasa
em explosão pura
raios de relva
sob as bases do corpo
ondas de emoções em molhos
de sete
Aproveita o livro
a página em branco
no fundo no fim
escreve o sonho que o meu
corpo te deixou
quando saiu de ti
pela manhã

* para conhecer mais da pintura da húngara Marta Kiss
basta seguir o link www.kissmarta.com

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Um parque com cheiro a livros

"Livros, livros & mais livros. Lisboa, árvores, música, relva, sol, bancos de jardim, pessoas felizes e curiosas, escritores, sessões de autógrafos, crianças com sorrisos de orelha a orelha, pastéis de nata, bolas de berlim, algodão doce, bifanas, ginjinha, farturas...E quilómetros para palmilhar, livros para folhear, stands para visitar. Um paraíso!"

É assim que a Sofia Reis apresenta no Facebook o álbum de fotos que tirou esta semana na Feira do Livro de Lisboa, no Parque Eduardo VII, e do qual me permitiu que partilhasse algumas convosco. E quem é a Sofia? Ela apresenta-se: 

 "Sofia Reis, 44 anos. Jornalista de profissão. Desempregada por vontade alheia. Fotógrafa amadora de paixão. Leitora desde que aprendi a juntar letras. Agora em modo turista, duas vezes por ano, na cidade onde nasci e sempre vivi. A desfrutar de um período sabático a mais de 5 mil quilómetros de distância e com um projecto gratuito para o mundo www.facebook.com/goodvibes.at.cayman"

Aproveitem o seu olhar. Obrigada, Sofia!  













É do borogodó: poema para dizer cricrices

o grilo não sabe que é grilo / o grilo sabe ser grilo/ o grilo não se grila

cri, cri, cri (na noite escura, gostaria de escutar os grilos a conversar)

(na noite escura, gostaria de escutar os grilos ((são notas de violino)) a conversar ((conversa de grilo é mais simpática que buzina, freada, luz de farol que entra piscando ((imagina fossem pirilampos)) e a gente acorda cansado)

o grilo sabe não sabe que é grilo / o grilo sabe ser grilo / eu me grilo com as coisas

xiu! ouço de dentro uma voz que não é dos grilos. xiu! tum, tum-tum, tum, tum-tum. há algo fibrilando dentro do meu peito (não faz cri cri, mas certamente está vivo ((quem dera soubesse ser eu o tum-tum assim como o grilo sabe ser grilo mesmo sem saber quem é o grilo)) xiu!)

tum. tum-tum. cri. tum. cri. cri-cri. tum. cri, cri, cri, cri, cri

o grilo não sabe que é grilo/ o grilo sabe ser grilo/ o grilo estrila


Penélope Martins

1º Parágrafo: OZ


A pequena ouvia a voz da avó a misturar-se aos risos da televisão.


a-ver-livros: exercício e Louis Leopold Boilly

Cinco palavras
apenas

saudade
primeiro
depois
amor
na ronda dos dias
segue
calor
ata nós
e termina
em dor

* para saber mais sobre o pintor francês Louis Leopold Boilly
siga o link www.louis-leopold-boilly.fr

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Poema à noitinha... García Lorca nasceu há 115 anos.

Tenho Medo de Perder a Maravilha

Tenho medo de perder a maravilha
de teus olhos de estátua e aquele acento
que de noite me imprime em plena face
de teu alento a solitária rosa.

Tenho pena de ser nesta ribeira
tronco sem ramos; e o que mais eu sinto
é não ter a flor, polpa, ou argila
para o gusano do meu sofrimento.

Se és o tesouro meu que oculto tenho
se és minha cruz e minha dor molhada,
se de teu senhorio sou o cão,

não me deixes perder o que ganhei
e as águas decora de teu rio
com as folhas do meu outono esquivo.


*Federico García Lorca, in Poemas Esparsos - Relógio D'Água.
Tradução de Oscar Mendes


Homossexual assumido, defensor acérrimo de ideias Republicanas... García Lorca foi uma das primeiras baixas da Guerra Civil Espanhola. Nasceu a 5 de Junho de 1898, numa pequena localidade Andaluz. Aos 16 anos já estudava direito em Granada e, mais tarde, foi para Madrid. Aí publica os seus primeiros poemas. 

"(...) Num dia de agosto de 1936, sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, e o seu corpo foi jogado num ponto da Serra Nevada. Segundo algumas versões, ele teria sido fuzilado de costas, em alusão à sua homossexualidade. A caneta calou-se, mas a Poesia nascia para a eternidade..."

*in wikipedia.

Porque as crianças também escrevem... mesmo não tendo livro!

Esta carta é hilariante. Já tentei encontrar a autoria, mas não descubro. Existem escritores muito talentosos entre as crianças... E este retrato das Avós é certamente poesia para os nossos sentidos.

Sorriam e partilhem. Vale mesmo a pena.

1º Parágrafo: Um Rapaz a Arder


Deixei Moçambique no dia 8 de Novembro de 1975, tinha 26 anos. Nesse sábado, em Lisboa, o Governo mandou dinamitar os emissores da Rádio Renascença, controlada pela estrema-esquerda. Do aeroporto da Portela fui directamente par o Estoril, para casa do nosso amigo José António Brito (uma amizade que a guerra selou), onde vivi dois meses até mudar para Cascais. No dia seguinte, jantando em casa dos pais do Jorge, meus futuros sogros, segui pela televisão a manif do Terreiro do Paço em que o Almirante Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro do VI Governo Provisório, interrompido no seu discurso pelo rebentamento de duas granadas, exclamou: “É só fumaça! O povo é sereno!” O PREC estava no auge. Depois da invasão e saque da Embaixada de Espanha, o céu era o limite.


* Memórias 1975-2001

a-ver-livros: espanto e Lan Nguyen

Espanta-me o tédio
conta-me algo que não sei
ou adivinho sequer
sussurra-me uma história
feita de braços e pernas
e réstias de amores falhados
que umas lágrimas
dão sal à salada dos dias

Espanta-me o enfado
enxota-me o fastio

arrasta-me de volta para a estrada
onde o coração caminha

* para saber mais sobre a pintora vietnamita Lan Nguyen Stanley
siga o link www.lan-art.com

terça-feira, 4 de junho de 2013

É do borogodó: Passarinho na Gaiola


Há uma canção antiguinha que diz: “passarinho na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou, voou, e a menina que gostava tanto do bichinho, chorou, chorou, chorou, chorou…”. Minha vovó cantava isso um bocadinho diferente, mas o que importa mesmo é que eu cresci com esse sentimento conflitante de menina na cidade: adorava estar perto dos pássaros, não suportava a ideia das gaiolinhas tão pequenas, sem vida.
Parece que o homem quer tudo engaiolar.
Parece que o homem tem se engaiolado.

Meu pai tinha um pássaro-preto que foi trazido para casa no meu primeiro aniversário. Viveu muitos anos, dentro e fora da gaiola. Dormia lá, saía, subia no ombro do meu pai e quando a gente se aproximava, dizendo “carinho, nego, carinho”, ele reclinava a cabeça e esperava nosso afago.
Talvez a gente não tenha dado uma vida tão feliz para o pássaro que já foi comprado em cativeiro, mas o contrário é certo. Nosso nego foi meu assum preto de Gonzaga e meu Black Bird de Poe, acalentou meus dias na sua sina de gaiola.

A morte do nego foi uma espécie de morte de mim. Crescíamos juntos e eu só estava começando a adolescer… Ficou vazia a gaiola, do jeito que ela deveria ter ficado desde sempre. O pássaro-preto voou para as nuvens, foi cantar lá em cima.
Não restou mais gaiola em casa.

“Passarinho
Não pode viver preso.
Passarinho
É bom de se ver
Voando.
Passarinho
É bom de se ouvir
Cantando.
Passarinho
Não tem defeito.
Para ser
O enfeito do mundo
É que passarinho
Foi feito.” *

Canta coruja, beija-flor, tiziu, canários, quero-quero (e eu quero) quero tanto o joão-de-barro, até mesmo urubu, que pode parecer sinistro, não está na Terra por engano. Voam gaivotas, pardais e o curió pequenino. A passarada toda.

Penélope Martins




* O poema é de Lalau, escritor e poeta paulistano muito reconhecido pelos trabalhos com literatura para infância; Lalau já trabalhou com propaganda, escreveu contos e crónicas para jornais, também foi roteirista de teatro amador.

1º Parágrafo: Debaixo de Algum Céu


Uma história são pessoas num lugar por algum tempo, as margens da página, como o silêncio, estabelecem limites certos para que um conto não se confunda com o que não lhe pertence. Pode contar-se uma história enchendo uma caixa vazia ou desenhando paredes à volta de gente.


a-ver-livros: demoras e Saturno Buttò

Nos desenhos das sombras
a memória dos teus dedos
Na memória dos meus dedos
os rastos da tua pele
O cabelo inquieto
quer soltar-se do aperto e dançar
sobre o teu corpo dolente
Demoras?
* para saber mais sobre o pintor italiano Saturno Buttò
siga o link www.saturnobutto.com

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Poema à noitinha... Gastão Cruz

Revimos a Grosseira Superfície do Amor

Revimos a grosseira superfície do
amor
Ninguém pudera corrompê-la tanto
por actos e palavras 
Estivemos novamente deitados
na aspereza do seu leito 
Um ramo na mão tinhas e quiseste
medi-lo com os lábios e metê-lo
no centro doloroso do teu corpo
Eu via as tuas mãos que procuravam
inseri-lo e guardavam
nas linhas ávidas o seu limite grosso
Interrompeste o
sono magoado do meu corpo
e comigo
dormiste sobre as manchas depois

*Gastão Cruz, in Poemas Reunidos.


1º Parágrafo: Lenin Oil


Estou pronto para nascer.


* Ilustrações de Alain Corbel

a-ver-livros: bichano e Nancy Lane

Vem cá, bichano
o livro espera
as palavras não vão 
perseguir as gatas pelos telhados
em noites de lua cheia
nem procurar ratinhos
sob os soalhos

Vem cá brincar comigo
preciso de um poema
para escrever a manhã
e um pequeno arranhão
para rencontrar a alma

* para conhecer mais do trabalho da ilustradora americana Nancy Lane
siga o link www.nancylanestudio.com

domingo, 2 de junho de 2013

Poema à noitinha... Pablo Neruda

O Teu Riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.


*Pablo Neruda, in Poemas de Amor de Pablo Neruda.


David pinta...Ortega y Gasset

David pinta... Ortega y Gasset



O viver faz-se sempre a partir de ou sobre certos supostos, que são como o solo em que para viver nos apoiamos ou do qual partimos. E isto em todas as ordens - em ciência como em moral e política, como em arte. Toda a ideia é pensada e todo o quadro é pintado a partir de certas suposições ou convenções tão básicas, tão evidentes para quem pensou a ideia ou pintou o quadro, que nem sequer repara nelas e por isso não as introduz na sua ideia nem no seu quadro, não as achamos ali postas mas precisamente supostas e como deixadas voluntariamente no esquecimento. Por isso, às vezes, não entendemos uma ideia ou um quadro: falta-nos a palavra do enigma, a clave da secreta convenção. E como, repito, cada época - vou ser mais exacto -, cada geração parte de supostos mais ou menos diferentes, quer dizer-se que o sistema das verdades e o dos valores estéticos, morais, políticos, religiosos têm inexoravelmente uma dimensão histórica, são relativos a uma certa cronologia vital humana, valem só para certos homens. A verdade é histórica.

*Ortega y Gasset, in O Que é a Filosofia? - ed. Cotovia.

Handwritten Manuscript Pages From Classic Novels: Charles Dickens

Já alguma vez pensou ver Um conto de Natal desta forma? Então fique com uma das suas páginas, escritas pela pena de Charles Dickens.


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Siga o link directo.