sábado, 16 de junho de 2012

"Auto-edição: modo de usar" -


1ª Conferência CulturePrint sobre a Edição de Autor, mais uma iniciativa da Bairro dos Livros.

Um debate que pretende ajudar a “iluminar” algumas ideias em torno da auto-edição é a proposta da CulturePrint para o Bairro dos Livros, este sábado , na Feira do Livro do Porto. Para isso, contamos com a preciosa ajuda de Maria David Castro, que trabalha há mais de vinte anos em edição, como coordenadora editorial, revisora e tradutora, e Rui Manuel Amaral, autor, publicitário e vencedor do prémio Promoção de Autor Português Ler / Booktailors.

A sessão é pensada para ajudar a desmistificar a edição de autor e tirar todas as dúvidas àqueles que estão a pensar em aventurar-se na auto-edição e não sabem por onde começar. Para os mais experientes, a ideia é abrir o espaço à discussão e à troca de experiências.

Quer fazer um livro e não sabe como? Quais os segredos da auto-edição? Como fazer a promoção criativa de uma obra publicada em edição de autor? Tudo o que deve saber antes de pedir um orçamento e mais mil ideias criativas para dar a conhecer a sua obra, no 1ª Conferência da CulturePrint sobre a Edição de Autor, na Praça Apel, da Feira do Livro do Porto, dia 16 de Junho, pelas 15h00.
A sessão é gratuita e aberta ao público.

a-ver-livros de picnicão: Sarah Joncas

Encontraste um pedaço de verde com vista para as colunas de um cais qualquer e atiraste o corpo para a relva. Lias "Brave New World" no original de Aldous Huxley, numa edição estranha de capa na contracapa, e tinhas o mp4 contigo. Assim que algures começou a soar o Tony, trocaste-o pelos The Doors. Quando a borboleta chegada do Continente aterrou em ti ouvias "When the Music is Over". Seria um sinal?



* para conhecer melhor a ilustradora canadiana Sarah Joncas é só seguir o link http://sarahjoncas.com/
** e se quiserem ouvir os The Doors enquanto lhe olham o quadro eis o vídeo

Poema à noitinha... António Nobre

O Meu Cachimbo

«Ó meu cachimbo! Amo-te immenso!

Tu, meu thuribudo sagrado!
Com que, bom Abbade, incenso
A Abbadia do meu passado.

Fumo? E occorre-me á lembrança
Todo esse tempo que lá vae,
Quando fumava, ainda criança,
Ás escondidas do meu Pae.

Vejo passar a minha vida,
Como n'um grande cosmorama:
Homem feito, pallida Ermida,
Infante, pela mão da ama...

Por alta noite, ás horas mortas,
Quando não se ouve pio, ou voz,
Fecho os meus livros, fecho as portas
Para fallar comtigo a sós.

E a noite perde-se em cavaco,
Na Torre d'Anto, aonde eu moro!
Alli, mettido no buraco,
Fumo e, a fumar, ás vezes... choro.

Chorando (penso e não o digo)
Os olhos fitos neste chão,
Que tu és leal, és meu amigo...
Os meus amigos onde estão?


Não sei. Tral-os-á o «nevoeiro»...
Os trez, os intimos, Aquelles,
Estão na Morte, no extrangeiro...
Dos mais não sei, perdi-me d'elles.

Morreram-me uns. Por elles peço
A Deus, quando está de maré:
E, ás noites, quando eu adormeço,
Phantasmas, vêm, pé ante pé...

Tristes, nostalgicos da cova,
Entram. Sorrio-lhes e fallo...
Deixam-se estar na minha alcova,
Até se ouvir cantar o gallo...

Outros, por esses cinco oceanos,
Por esse mundo erram, talvez...
Não me escreveis, ha tantos annos!
Que será feito de vocês?

Hoje, delicias do abandono!
Vivo na paz, vivo no limbo:
Os meus amigos são o Outomno,
O Mar e tu, ó meu Cachimbo!

Ah! quando for do meu enterro,
Quando eu partir gelado, emfim,
No meu caixão de mogno e ferro,
Quero que vás ao pé de mim.

Santa mulher que me tratares,
Quando em teus braços desfalleça,
Caso meus olhos não cerrares,
Embora! Que isto não te esqueça:

Colloca, sob a travesseira,
O meu cachimbo singular
E enche-o, sollicita enfermeira,
Com Gold-Fly, para eu fumar...

Como passar a noite, amigo!
No Hotel da Cova sem conforto?
Assim, levando-te commigo,
Esquecer-me-ei de que estou morto...»

*in «Só»
(pintura de René Magritte)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Casa dos Bicos já está aberta ao público com a Fundação José Saramago


O vídeo viral que está mais abaixo, é do dia 12 e antecipava o que já se sabia ser um sucesso. É o último de uma série de vídeos feitos para preparar o dia da inauguração.

Ao fim de hora e meia de abertura, já centenas de pessoas tinham passado pela nova sede da Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, em Lisboa. Depois da inauguração oficial, que decorreu ao fim da manhã, do dia 13 de Junho, as portas abriram-se ao público que se tinha acumulado no passeio fronteiro.

A Casa dos Bicos, que tem uma importante jazida arqueológica a nível subterrâneo, abrirá todos os dias úteis das 10h às 18h e, aos sábados, das 10h às 14h. Em Junho, a entrada é grátis, depois passa a ser paga: o bilhete custará três euros para os portugueses e "entre cinco e seis euros" para os estrangeiros. A fundação vai viver dos direitos de autor da obra do escritor, que morreu a 18 de Junho de 2010, e do trabalho que se for fazendo nesta instituição, que assume como norma de conduta, nas suas actividades, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e que tem por missão dar particular atenção aos problemas do meio ambiente e do aquecimento global do planeta.

Deixo-vos aqui a mensagem do Eduardo Lourenço na inauguração:

"Nenhuma Cassandra podia vaticinar que a geração da Utopia que foi a de José Saramago encontraria, entre estes muros lembrados do império perdido, a sua capela ardente e maravilhosamente imperfeita. A realidade superou a ficção. Mas só o fez porque, antes, a ficção, os sonhos de papel de um poeta filho da terra e da sua transcendência, converteu as suas fábulas em fábulas de ninguém e de toda a gente. Os muros sem norte desta casa que a capital do País achou por bem conceder ao romancista que pôs o nome da sua terra no ecrã literário do mundo são o rosário de contos que o nosso fabulista-mor consagrou à sua musa Blimunda e ao numeroso séquito que a acompanhará para sempre. Com Saramago entra nesta casa uma geração que desejou de olhos abertos, se não mudar o mundo, torná-lo digno de ser salvo da sua irredenta inumanidade. Cada um à sua maneira, Jorge de Sena, Vergílio Ferreira, Agustina, traz a sua luminosa sombra para fazer companhia ao autor de “Memorial do Convento” e de “Todos os Nomes”. Cada autor digno de memória resume a literatura do povo a que pertence e do mundo inteiro. Que ao menos aí sejamos a chama da única pátria que os ventos da História não apagam da nossa memória precária."
Eduardo Lourenço, Vence, 12 de Junho de 2012

~

a-ver-livros com ligeiro toque de rouge: Hanna Müller

Redesenho-me a preto e branco, sugando as linhas que leio de seguida.
Reescrevo-me na febre dos dias.
Sabes que tenho a tua foto no medalhão que trago ao peito, à espera que venhas colorir-me os dias?

 
* para conhecer melhor a ilustradora sueca Hanna Müller e os seus retratos a tinta e aguarela é só seguir o link http://loudmajor.com/myltan/
** ou podem dar um salto a Londres e visitar a exposição patente no London College of Fashion até 14 de Julho...

Num futuro incerto: eu e a minha noiva a sairmos de casa dos Pais...

A minha irmã mais nova partilhou esta imagem no meu mural do facebook com o seguinte comentário: "tu e a tua futura noiva..........."


Pois bem, se alguém estiver disposta a aceitar a minha biblioteca - já com umas centenas largas de livros - pode ser que eu pense no assunto! ;)

P.S. - a feliz contemplada tem é de imaginar que esta foto é só... a ponta do icebergue das outras centenas de livros que ainda estão por comprar! 

*(não consigo descobrir o autor da foto)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Clube de Leitores em Manobras - 2ª volta


Ontem fiz uma pausa na Feira do Livro do Porto e fui a uma entrevista/ conversa com o Bernardino Guimarães na Rádio Manobras. 

A conversa foi rolando e desde livros, fotografias, arte, bibliotecas, internet e o uso da comunicação na promoção do livro e da leitura, foram muitos os temas que por ali passaram. Poderíamos ter continuado por horas e horas, foi a sensação com que fiquei. 

Foi realmente um prazer conhecer melhor este projecto e o Bernardino. O Rodrigo Ferrão já lá tinha passado também. Aguardamos e esperamos em breve ter disponíveis as gravações destas entrevistas.

Até lá vão ficando estes "levantar do véu..." já agora e puxando mais uma pontinha, mantenham-se atentos porque em breve surpresas vão chegar aqui ao blogue. Curiosos? Mantenham-se ligados!


A Rádio Manobras é um projecto de radiodifusão dedicado ao centro histórico do Porto: uma rádio com som da cidade e voz dos cidadãos.

Criada no âmbito do programa Manobras no Porto, a Rádio Manobras tem como missão ser um espaço de diálogo com a comunidade, um espaço de experimentação sonora e um espaço de acção cívica e cultural.

A Rádio Manobras tem antena e porta aberta a todas as pessoas que se identifiquem com a sua missão e que contribuam activamente para a sua construção enquanto meio privilegiado de comunicação com a Cidade.

Manobras no Porto está integrado no projecto Porto 2.0, co-financiado pelo Programa Operacional Regional do Norte (ON.2).


Manobras no Porto é uma iniciativa Porto 2.0. Projecto promovido pela Porto Lazer, EEM, e co-financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) 2007-2013, no âmbito do ON.2 – O Novo Norte (Programa Operacional Regional do Norte 2007-2013).

Facebook: https://www.facebook.com/radiomanobras
email: radiomanobras@gmail.com
skype: radio.manobras

a-ver-livros: Hsiao Ron Cheng

Há nos teus olhos uma tristeza que arranha a galáxia. Nos teus olhos lindos de azul, a contrastar com o verde que te rodeia. Há uma tristeza profunda, tão funda quanto as olheiras que não escondes.
Quem te fez mal, pequena? E como se traduz o título do livro que tens nas mãos?


* para conhecer melhor a jovem ilustradora Hsiao Ron Cheng, de Taiwan, é só seguir o link http://hsiaoron.blogspot.pt/

Etty Hillesum, Maria Gabriela Llansol e Rainer Maria Rilke em Guimarães - a não perder «Leituras do Silêncio»

«Leituras do Silêncio» 


"Na acção Leituras do Silêncio pretendemos criar um espaço de escuta de textos de três escritores que no silêncio procuram a profundidade da existência humana. Os autores escolhidos são: Etty Hillesum, Maria Gabriel Llansol e Rainer Maria Rilke. A acção decorrerá em três dias, um dedicado a cada autor, e em três espaços da cidade de Guimarães."

Esta acção é organizada pelo projecto Metamorfose 2012, cuja página podem visitar no facebook ou em http://metamorfose2012.tumblr.com/

Quer descobrir a surpreendente relação que têm todos estes escritores? Está convidado a participar. A entrada é livre…

Fica o programa. É já nesta Sexta, Sábado e Domingo. A não perder!


:: Sexta-feira, dia 15 ::
Diário 1941-1943, Etty Hillesum - Sociedade Martins Sarmento – 21.30h

Frei Bento Domingues - frade dominicano
Pedro Vieira Magalhães - poeta
Betina Ruiz - professora universitária

Momento musical por Tiago Sousa

:: Sábado, dia 16 ::
Percurso pela obra de Maria Gabriela Llansol - Pousada da Juventude – 18.00h

Maria Carolina Fenati - investigadora Espaço Llansol
João Almeida - poeta e professor
Sandra Claro - livreira da livraria Poetria

Exibição da curta-metragem “Encontro com S. João da Cruz”

Momento musical

:: Domingo, dia 17::
Livro de Horas, Rainer Maria Rilke - Terraço do Cineclube de Guimarães – 21.30h

Carlos Poças Falcão - poeta e professor
Henrique Barroso - professor universitário
Rui Maurício - professor universitário

Momento musical a cargo da Sociedade Musical Vimaranense

Cá vos esperamos em Guimarães. Até breve!

JDuarte da Silva Pereira

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Os três do treze de junho

Há dias assim. Em que se nasce e em que se morre. E em que, apesar de na chegada não se adivinhar a poesia, na partida não se tem dúvidas de que a poesia de quem nasceu agarrou a eternidade. 

Não é uma homenagem. É apenas uma memória. Eles merecem. 



Fernando Pessoa - Nasceu a 13 de Junho de 1888

"Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.
"



Eugénio de Andrade - Morreu a 13 de Junho de 2005

"Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!"


Al Berto - Morreu a 13 de Junho de 1997

"destino-te a tarefa de me sepultares
no segredo mineral da noite
com um lápis e uma máquina fotográfica

depois
fica atento ao correio
do secular laboratório nocturno enviar-te-ei
devidamente autografado
o retrato da solidão que te pertenceu

e numa encomenda à parte receberás
a revelação desta arte
onde a vida cinzelou o precário corpo
na luz afiada de um vestígio de tinta"



Uma Feira com olhos de ver - as imagens da Feira do Livro do Porto









Fotos: Pedro Ferreira

a-ver-livros, muitos: Selçuk Demirel

Sem estantes, acumulamos os livros que lemos por dentro de nós.
Em instantes estão lá, urgentes ou viciantes, significantes de algo,
memórias de linhas com que cosemos quem somos.



 * para conhecer melhor o turco Selçuk Demirel e as suas ilustrações é só seguir o link www.selcuk-demirel.com

terça-feira, 12 de junho de 2012

Ai estive morto no deserto e a Abysmo aqui tão perto...


Sérgio Godinho faz 40 anos de carreira. E que melhor forma de comemorar que não fosse um livro. As letras das músicas em texto e ilustradas pelos melhores ilustradores portugueses.

Para os comemorar escolheu 40 letras de canções de uma vida dedicada à música para que fossem ilustradas por 40 artistas portugueses. Letras e ilustrações foram reunidas no livro «Sérgio Godinho e as 40 ilustrações», uma edição da Abysmo. Estão lá "Lisboa que amanhece", "Etelvina", "Balada da Rita", "Arranja-me um emprego", "Com um brilhozinho nos olhos", "O elixir da eterna juventude", "Em dias consecutivos" e também "Sopro do coração", que Sérgio Godinho escreveu para os Clã.

Os ilustradores foram escolhidos por João Paulo Cotrim, editor da Abysmo. O resultado final apresenta ilustrações inéditas feitas em carvão, digital, colagem, técnica mista ou com a tecnologia de um iPhone. O livro foi apresentado na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa, numa sessão em que Sérgio Godinho recebeu uma medalha de honra atribuída pela SPA.

"Ilustrada a música destas quarenta maneiras, percebo agora melhor o que dizem as palavras e os sons", escreveu Sérgio Godinho no texto introdutório do livro.

"Quarenta anos ou mais se podem encontrar em cada canção de Sérgio Godinho, os minutos todos enrolados num novelo, que ora fica na garganta ora nos desce aos punhos, pedras que desatam a série de ondas concêntricas da memória que ainda agora está por nascer."
João Paulo Cotrim


Não satisfeitos com este trabalho e porque o Sérgio Godinho merece tudo. Aqui está a segunda marca de eternidade.

No ano em que foi celebrando uns bem medidos 40 anos de canções, Sérgio Godinho abordou, em crónica semanal no jornal Expresso, outras tantas canções de amigos e conhecidos ou isso se tornaram depois de ouvidos, apesar de terem desaparecido ou nunca se terem cruzado. Aqui se reúnem esses textos, revistos e aumentados, que são janelas para nomes como Bob Dylan ou Zeca Afonso, Noel Rosa ou Caetano, mas também Jacques Brel ou The Beatles, sem excluir The Kinks, José Mário Branco ou Tony de Matos. Não ficaremos apenas a saber mais sobre cada uma das canções, mas sobretudo a visão íntima de quem conhece a música, os instrumentos, os intérpretes e a sua circunstância.

Desta feita as ilustrações são exclusivas do Nuno Saraiva, em mais um trabalho de excelente rigor e cuidado da Abysmo.




a-ver-livros com os olhos da morte: William Warren


Quero morrer entre livros, não nos corredores frios de um hospital entre o público e o privado, entre o fim e a indignidade.
Quero morrer onde possa olhar-lhes as lombadas e gastar o último fôlego na memória dos momentos que lhes estão associados.
Quero chamar os amigos até mim e, um a um, indicar-lhes que volume retirar da estante, um bocadinho de mim na herança entregue em vida.

Depois, vazia, quero que desmontem a estante e, com ela construam o caixão que me levará às cinzas.


Isto se a estante for uma ‘Shelves for Life’, assinada pelo jovem criador britânico William Warren - designer de móveis com uma perspectiva conceptual e um toque de bom humor - e apresentadas em 2005, durante o Festival de Design de Londres. Generoso, até hoje ele continua a fornecer as instruções de construção a quem lhas pedir acrescentando os seus dados biométricos. 

O conceito é simples: uma estante em boa madeira, pensada para durar uma vida inteira – e seguir connosco na morte, uma vez que as várias peças de que é composta formam um caixão. Uma opção económica, ecológica e absolutamente brilhante. 

Claro que depois da versão design, surge sempre outra para consumo geral. E a empresa norte-americana Last Things apresentou a Estante Caixão. Na prática uma espécie de malão a que basta retirar as prateleiras interiores e fechar.


Em estilo ou na versão menos cool, por mim estou nesta de ir para o outro mundo nas tábuas que foram a minha estante. E, como diria Mário de Sá-Carneiro, a um morto nada se recusa.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

SimetriaS


Um dia destes, desço as escadas, atravesso a rua, como sempre, fora da passadeira.
A única passadeira da rua fica no fundo da rua.
Eu nunca fui ao fundo da rua.
Eu nunca atravesso na passadeira.
Um dia destes, atravesso a rua e toco na campainha do sexto andar do 226, que fica exactamente em frente do 233, onde eu moro.
Onde eu moro desde o Outono do quarto ano que passou, e pergunto-lhe, simplesmente, se posso subir e ficar para jantar.
Não sei como se chama, até agora não precisei de lhe dar um nome, como ao meu gato: ícaro.
Sei que chega todos os dias a casa depois das sete.
Eu chego depois das seis, pelo que, todos os dias, o espero pelo menos uma hora.
Uma hora vezes mil quatrocentos e oitenta e oito dias, dá mil quatrocentas e quarenta e oito horas, como os dias são feitos de vinte e quatro horas, temos sessenta vírgula três, três, três, três, três, três… dias.
Todos os dias entra em casa e, depois de pendurar a gabardina, cuja cor a confunde com a parede, depois de passar pelo quarto para tirar a gravata, eu não o vejo tirar a gravata, mas sai do quarto sem a gravata, a desabotoar o botão do colarinho da camisa, depois de passar pela casa-de-banho para lavar as mãos, a cara, também não o consigo ver na casa-de-banho, imagino-o apenas, imagino-o de cara ainda molhada em frente ao espelho, imagino-o a afundar a cara na toalha de turco à procura de conforto, quase de afecto, depois de passar pelo frigorífico, não o consigo ver na cozinha, mas aparece de cerveja na mão, depois de fazer tudo isto, todos os dias, senta-se no sofá em frente à televisão.
Quase nunca liga a televisão, porque não o vejo pegar no comando e porque, nos dias de Outono e Inverno, consigo perceber que não sai qualquer tipo de luz da caixa, nem sombras nascem na parede.
As nossas salas são basicamente simétricas, as nossas casas praticamente idênticas, as nossas vidas provavelmente análogas.
As salas, três portas de correr envidraçadas, que dão para duas varandas que não existem, porque não têm mais de um palmo de existência para lá do chão da sala.
No meio das salas, de costas para as varandas que não existem, dois móveis, pequenos, quadrados, suficientes como Atlas, para suportar as televisões.
Os dois temos televisão na sala.
É suposto ter televisão na sala.
A minha televisão não tem nada em cima, a dele também não, isto não é relevante, mas agrada-me. Talvez seja relevante.
Depois da televisão temos os sofás, os dois sofás de três lugares.
Os dois gostamos de ver televisão deitados.
Quase não vemos televisão.
As luzes dos respectivos tectos apagadas, as duas salas iluminadas apenas pelos candeeiros da rua e, quase sempre, sombra nenhuma, movimento nenhum, penumbra apenas.
No horário de Inverno os candeeiros acendem às oito, no horário de Verão, às nove, e é preciso estar atento ao relógio para perceber isto, porque a luz no início é tão fraca e ténue que imperceptível.
Parece-me que muitas vezes adormecemos juntos, eu, deitada do lado esquerdo, com almofada, ele, sem almofada, deitado do lado direito.
Parece-me ou gosto de pensar que é assim que acontece.
O meu sofá é verde azeitona, o dele castanho chocolate.
E nas costas dos sofás, encostadas à parede, temos uma estante, a minha em branco lacado, a dele em pinho encerado.
Estantes que cobrem quase toda a parede, onde ele tem revistas, livros de BD, uma enciclopédia, três dicionários de Português, um de Espanhol, um de Francês, um de Húngaro.
Pergunto-me porque será que tem um dicionário de Húngaro-Português.
Uma caixa de trivial pursuit, acho que um jogo inventado por canadianos, um electrodoméstico de plástico negro que serve para ouvir música e alguns discos, onde predominam as vozes de Sinatra e Bono Vox.
A minha estante está povoada por romances sul-americanos, italianos e russos, livros de viagens, livros de poesia portuguesa e caixas e caixinhas de papel, madeira ou porcelana, e fotografias de quando eu era menina.
Pergunto-me o que sou agora.
Na minha fotografia preferida estou com um vestido branco, com um enorme laço a apertar-me a cintura, um chapéu vermelho e um balão na mão, também vermelho, estou no jardim zoológico, em frente a um camelo.
A verdade é que se trata de um dromedário, mas ninguém chama dromedários aos dromedários.
E, sempre que os meus olhos param naquela foto, eu no deserto do Saara, no quinquagésimo dia de viagem, uma viagem interminável, o vestido não branco, amarelo, quase castanho, da cor de um deserto, o meu deserto, o mesmo chapéu vermelho que já só me protege o cocuruto, e um balão vermelho, meio vazio e que a gravidade impede de levitar.
Suspeito que é por isto que, por mais que limpe, na sala sempre uma película de pó, um pó estranho, fino e amarelo.
 
Raquel Serejo Martins



Diz que é uma espécie de homenagem!


Ora pois parece que afinal a Feira do Livro do Porto tem um homenageado. Fernando Guimarães, mas dele e porque na verdade é ele mesmo que mais importa já se fala mais à frente. Para já uma pequena nota. Então não é que para descobrir que a Feira tem um homenageado temos que entrar no pavilhão da APEL? Totalmente deslocado das actividades da Feira, este singelo pavilhão fechado, que recebe umas conferências e uns lançamentos e o ponto chave da homenagem. Depois de se passar a porta pode-se ver uma foto do dito e uma breve biografia. Claro está: temos mesmo que entrar no pavilhão que é a coisa mais acessível da Feira, ou se calhar não!

E sem ser entrando no pavilhão? Pois é se lerem com atenção, mas mesmo com muita atenção todo o programa, reparam que há uma sessão na segunda página da qual se pode presumir que é aquele tipo o homenageado.

Gente de pouca atenção é o que somos!
Não sei se devo ficar chocado ou rir. Deve ser provavelmente a pior homenagem e as piores formas de homenagear alguém que já vi na minha vida!

E agora e sem tentar ser pretensioso... aqui fica a nossa homenagem a este senhor da poesia portuguesa!

Fernando Guimarães
nasceu no Porto, em 1928. Publicou em 1956 vários livros de poesia e ensaio, tendo alargado também a sua actividade à ficção e ao teatro. Os seus livros de ensaio referem-se à literatura portuguesa desde o século XIX à actualidade e a questões relacionadas com a estética e a filosofia da arte. Com regularidade faz crítica literária, inicialmente em Colóquio/Letras e, depois, no J.L. – Jornal de Letras, onde assina uma “Crónica de Poesia”. Em 2006 foi-lhe atribuído pela Universidade de Évora o Prémio de Ensaio Vergílio Ferreira, tendo em vista o conjunto da sua obra ensaística. Trabalhou como investigador no Centro de Literatura da Universidade do Porto e, presentemente, integra o Conselho Científico e é membro investigador do Centro de Estudos do Pensamento Português da Universidade Católica Portuguesa. Recebeu os prémios de tradução de poesia da Fundação Calouste Gulbenkian e Paulo Quintela da Faculdade de Letras de Coimbra. Obras de poesia e ensaio suas receberam vários prémios literários, nomeadamente da Associação Portuguesa de Escritores, do Pen Clube e da Associação Internacional de Críticos Literários.

A sua obra é de tal forma vasta que enunciar seria uma lista imensa. Mas nada melhor que as suas próprias palavras, as poéticas é claro e numa entrevista em três partes.


Post Coitum Animal Triste

Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensão e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.

Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.

Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.

Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.


Encontro

Ficava ali, por muito que se estranhe
a luminosidade em que se mostra
uma outra superfície, a que nos há-de
aproximar daquilo que contorna

este limite.  Assim era o desígnio
que vinha de uma idade quase extrema
porque seria a vida nela um límpido
espaço que nos une sempre à mesma

vontade de cumprir o que no corpo
pudesse ser igual ao movimento
capaz de recordar o leve assomo

das mãos.  E surpreendemos o que há muito
se conservava apenas no sereno
encontro de nós mesmo, que era tudo.


a-ver-livros quase ao almoço: Bouguereau

Em todas as nossas infâncias há um livro aberto com uma história que não termina.
Nele somos o que sonhámos ser. 
Nele somos o que a inocência nos permitiu. 


 * para conhecer melhor o francês William Adolphe Bouguereau (1825 - 1905) e a sua pintura foto-realista, se assim se pode designar, é só seguir o link www.bouguereau.org

domingo, 10 de junho de 2012

Joana D' Arte

(ao domingo) Letras Focadas

“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas” 

Joana D’ Arte

Joana, não D’Arc, mas D’Arte, ajeitou os revoltos cabelos que teimosamente caíam para os olhos.
Sempre que se apresentava, Joana D' Arte, lá vinham os trocadilhos e risadas:
- D’Arte? Não é D’Arc?
Agora já nem ligava. Houve tempos, em que essas observações faziam-na maldizer o dia em que o pai, pintor e escultor, lhe atribuiu tal nome.
 Leonardo D’ Arte, nascido no seio de uma família próspera e pouco convencional, desde cedo mostrou que os caminhos que percorreria seriam de todo diferentes do resto da prole.
Em criança fugia do Colégio e, sem que ninguém desse conta, pintava com o giz colorido, surripiado nas aulas, as paredes brancas do enorme muro que envolvia o Colégio. Muitas foram as horas do recreio passadas de esponja na mão, desfazendo o que tão inspiradamente, tinha pintado. Nestas alturas, em revolta silenciosa, pensava para com os seus botões:
- Vai chegar um dia em que a minha pintura será isolada com plástico para que a chuva e o vento não a estrague. E, nessa altura, quando todos a quiserem ver, vou pegar em tinta branca e apagar tudo… tudinho. Não me chame Leonardo D’ Arte!
Passaram os anos. Leonardo D' Arte foi amadurecendo: o corpo e a loucura de pintar paredes brancas.
Já homem de família, colocava pão na mesa com o ordenado de professor universitário. Cumpria religiosamente as suas obrigações,  algo surpreendente para a restante família que sempre julgou que o futuro de Leonardo D' Arte seria a prisão, tal era a loucura que o acompanhava.
Nas horas que lhe sobravam do dever, dedicava-se ao fazer: fazer pinturas em todas as paredes brancas que encontrava. E, já sem o castigo de pegar numa escova e limpar, começava a adquirir estatuto de pintor.
Tinha uma paixão secreta: muros brancos.
Joana D’ Arte, dos 3 irmãos, era a mais nova e aquela com quem o pai encontrava mais afinidade. Desde cedo que Joana dava sinais de algum fascínio por... claro... paredes e muros brancos.
Um dia, Leonardo D’ Arte foi chamado ao Colégio, ao mesmo onde tinha estudado. Sim, porque ele era louco, mas sabia o quanto era importante a formação académica dos filhos no futuro. Continuou a tradição familiar de colocar os filhos no melhor Colégio da cidade.
A Directora, mulher robusta e de poucas palavras, pô-lo ao corrente das tendências “pouco normais” de Joana D' Arte. Pegava nas canetas de feltro, as mais coloridas, e pintava o mural branco do colégio.
Foi nesta altura que Leonardo D' Arte percebeu que tinha, na sua descendência, alma gémea. Desde dessa altura, os momentos melhores da sua vida eram passados em frente de um muro branco; tintas coloridas, muitas, pincéis e Joana D’ Arte.
Quem olhasse diria que ali estavam duas pobres almas perdidas na sua loucura. Em silêncio, quase em estado hipnótico, pintavam mil cores, mil formas e, no fim, depois da obra completa, viravam as costas e nem olhavam para ver o resultado. Era assim, invariavelmente que Leonardo e Joana D’ Arte, faziam Arte.
Uma noite Leonardo D’ Arte entrou de rompante no quarto da filha e sem pudor, olhou para ela, nua, feita mulher. Viu uma lindíssima mulher, de corpo bem torneado, seios duros com os mamilos hirtos. Pernas longas, terminando numa anca bem acentuada. Os cabelos ondulados, longos a cair pelas costas... de repente,  imaginou estar perante um nu de Klimt e sentiu um prazer enorme, quase proibido. Percebeu que a menina de caracóis tinha-se transformado numa mulher sensual, selvagem, fonte de muitos pecados.

- Veste-te. Anda... descobri o paraíso!
Joana da Arte nem precisou de questionar nada. De imediato, vestiu umas calças de ganga, uma t-shirt branca, e colocou a echarpe. Este acessório era imagem de marca. Nunca saía sem uma echarpe. Tinha tantas quantos muros e paredes brancas que tinha pintado.  Por cada muro, por cada parede, uma echarpe. Hoje levava uma de seda, lisa, da cor do fogo. A sua cor... fogo por fora, fogo por dentro.

A noite estava vestida de prata. Era verão. Uma  lua cheia banhava o rio e conferia-lhe um ar quase surreal. As ruas à beira-rio estavam cheia de pessoas. Nas esquinas, grupos de jovens riam por tudo ou por nada. Mais à frente, um casal dava largas ao desejo e mesmo ali, no meio da rua, beijavam-se apaixonadamente.
- Isto é que é vida Joana – disse o pai – isto sim... como se não houvesse amanhã.
Subiram por uma estreita rua, de passeios quase inexistentes. Os prédios que a acompanhavam eram velhas relíquias, umas recuperadas, outras caindo aos pedaços. As janelas, sobreviviam ao tempo com grades torneadas, cheias de beleza. Finos cortinados escondiam a intimidade de cada uma. De vez enquanto, uma janela entreaberta, deixava sair o som de vozes, música ou simplesmente o silêncio que lá habitava.
Após uma longa caminhada, Leonardo  D’ Arte abre os braços e exclama:
- Voilá, chegámos!


À sua frente um muro enorme, de textura irregular, pintado... pintado????
Joana de Arte ficou a olhar incrédula: então o paraíso não era um enorme muro branco? O paraíso para o pai tinha mudado e achou tal facto tão aberrante que não conteve o seu estado de choque:
 - Pai, mas isto está pintado. Ainda por cima com um enorme coração de cores berrantes. Não é um muro branco - e frisou bem a última expressão.
- Pois não e, por isso mesmo, é o paraíso - responde-lhe em total euforia.
Joana D' Arte há muito que se tinha ambientado a estes momentos explosivos do pai. De coisas tão insignificantes, dava largas à emoção e num contentamento quase infantil, ria, cantava, dançava.
Percebeu naquele momento que não valia a pena argumentar. Esperaria que o pai lhe explicasse a suposta incongruência em que tinha caído.
- Hoje, quando vi isto, escondi as latas de tinta e os pincéis atrás do muro. Não vínhamos carregados com isso... iam-nos chamar loucos!
Joana D' Arte deu uma estridente gargalhada. Achou delicioso o pai dizer isto. Loucos eram eles, com ou sem latas na mão.
 E, pela noite fora, pintaram de branco quase incandescente, um paraíso que tinha um coração pintado de cores quentes, como a noite de verão....
...
Olhou o pequeno espelho que trazia na carteira.
Estava com um ar cansado, mas retocou a maquilhagem para esconder as noites sem dormir.
Desde da partida do pai que não dormia bem. Sentia falta das noite sem dormir em que pintavam muros brancos. Nessa altura o sono era compensado pelo sonho de pintar junto do pai .
Saiu do aeroporto e sem pressa caminhou para a rua. 
Não tinha pressa.
 Nunca se importou com relógios, horas. Tinha aprendido que o tempo é aquele que se faz, dentro de nós e não o espatilho de um tique-taque que nos conta os minutos de vida. E, naquele dia, especialmente naquele dia, queria esse tempo, aquele que o pai tão ardilosamente, tinha cultivado dentro dela.

- Para onde? – pergunta-lhe o taxista
Apeteceu-lhe dizer – Para o muro branco. Mas sabia que isso era apenas destino dela, não de um taxista.
  Rolaram pela cidade.
Estava tudo diferente. Avenidas novas, auto-estradas, prédios altos vestido de vidro e aço e pressa à solta dentro de carros que voavam. Sentiu o cheiro a escravidão do tal tempo, que nunca foi o dela, nunca foi de Leonardo D’Arte.
-  Aqui por favor. Quanto é?
Paga e sai.


Sente de imediato a presença dele. Sempre foi assim, desde que partiu.
E, pela primeira vez, desde que começou a pintar muros brancos com o pai, vê!
Nunca olhavam para a pintura que faziam... nunca; mas hoje, quebra o ritual e, à distancia de um olhar, vê o muro que numa noite quente ao luar, Joana D’Arte e Leonardo D’Arte, pintaram o paraíso de branco celestial.
Leonardo D’Arte era um menino que coloria muros brancos e um dia, já homem, coloriu de branco um muro. Em sua memória nasce agora uma planta junto ao seu coração.


Joana D’Arte sorriu... estava tudo certo... estava tudo perfeito.
Ajeitou a echarpe hoje branca... deixou-se ficar! 
Algures por ali, Leonardo D’arte ri, salta, dança com uma lata de tinta branca na mão.

Elsa Martins Esteves


Fahrenheit 451, a temperatura a que ardem os livros


Título original: Fahrenheit 451
Realizador: François Truffaut
Elenco: Oskar Werner, Julie Christie, Cyril Cusack, Anton Driffing, Alex Scott, Bee Duffell, Noel Davis,Mark Lester
Duração: 111 min
Ano: 1966



Porque as homenagens nunca são de mais, hoje destacamos a obra mais conhecida do recente falecido Ray  Bradbury, que também deu origem a um filme.

O conceito inicial do livro começou em 1947 com o conto "Bright Phoenix" (que só seria publicado na revista Magazine of Fantasy and Science Fiction em 1963). O conto original foi reformulado na novela "The Fireman", e publicada na edição de Fevereiro de 1951 da revista "Galaxy Science Fiction". A novela também teve os seus capítulos publicados entre março e maio de 1954 em edições da revista Playboy. Escrito nos anos iniciais da Guerra Fria, o livro é uma crítica ao que Bradbury viu como uma crescente e disfuncional sociedade americana.

O romance apresenta um futuro onde todos os livros são proibidos, opiniões próprias são consideradas anti sociais e hedonistas, e o pensamento crítico é suprimido. O personagem central, Guy Montag, trabalha como "bombeiro" (o que na história significa "queimador de livro"). O número 451 é a temperatura (em graus Fahrenheit) da queima do papel, equivalente a 233 graus centígrados.


Através dos anos, o romance foi submetido a várias interpretações primeiramente focadas na queima de livros pela supressão de ideias dissidentes. Bradbury, porém, declarou que Fahrenheit 451 não trata de censura, mas de como a televisão destrói o interesse pela leitura. Na minha opinião acaba por ser também uma análise sobre censura ou pelo menos da forma como a censura ganha espaço na sociedade para conquistar as pessoas acabando por se tornar "natural" e assumida.


O autor conta que todo o romance foi escrito nos porões da biblioteca Powell, na Universidade da Califórnia, numa máquina de escrever alugada. A sua intenção original, ao escrever o romance, era mostrar o seu grande amor por livros e bibliotecas, e frequentemente se refere a Montag como uma alusão a si mesmo.

a-ver-livros ao domingo: Marc Jesus Vives

Azuis são os números cinco e seis. Azuis são os céus onde te encontrarei na saudade.
Azuis são os domingos dependurados dos livros,
em cascatas de letras pretas no branco.



* para conhecer melhor o pintor espanhol Marc Jesus Vives é só seguir o link www.marcjesus.com