sábado, 21 de fevereiro de 2015

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

a-ver-Eça

Hoje não me apetece escrever.
Prefiro recordar o Eça, que até tinha umas ideias interessantes sobre o que devia ser um livro de contos. Concordam com ele?


Ana Almeida

"Um livro de contos é um livro ligeiro de emoções curtas: deve portanto ser leve, portátil, fácil de se levar na algibeira para debaixo de uma árvore, e confortável para se ter à cabeceira da cama. Não pode ter o formato dum relatório, que, sendo destinado em definitivo a embrulhar objectos, deve ter de antemão o tamanho cómodo do papel de embrulho; nem pode ter o volume dum calhamaço de erudição histórica, impresso com o fim de ornamentar uma biblioteca"

Eça de Queirós
in Correspondência

in Felicidário
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by Akacorleone 2

Bai'má Benda: Ping'ámor bira cupido...

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Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações



Meu querido José

Desculpe-me escrever-lhe a horas um pouco nocturnas, mas outros assuntos se impuseram, de saúde e bem-estar, e como sabe, jovem frenético, romântico e sonhador, quanto a isso nada há a fazer que não seja obedecer, como monge beneditino ou franciscano que se recolhe ao dever teológico e natural.
Segue uma terceira parte tíbia, pálida e breve, por vários motivos. O primeiro, é que quero propositadamente que assim seja a terceira parte, não só por aspectos simbólicos e cabalísticos, pois o número três é tão profundo que assusta; em segundo lugar, escrevi já a horas tardias e suspeito que o meu querido jovem voador das coisas estéticas transcreva ainda hoje estas palavras tão azedas e sombrias; e em terceiro lugar, não poderia continuar com essa escrita tão romanticamente desenvolta, aliás, uma escrita que jamais foi a minha! Que os deuses me livrem de poder continuar a escrever assim!
Pois bem, leia, pense e viva!
Um forte e amigo abraço do

Seu

Gonçalo Viana de Sousa


E a dança que te envolvia nos seus braços diáfanos e de um azulado distante e inimaginável. O teu vestido que me acenava com um enlevo calmo e seguro. O teu par tinha toda a sorte do mundo e parecia sabê-lo, ou talvez não, e sorria para ti e tu sorrias para ele e isso parecia magoar-me de uma dor insensível, tal era a sua intensidade. O Polka Dot azul virando e revirando pelo teu corpo. (Ou era o teu corpo que se movia dentro do vestido?) O teu par vestido de forma sóbria e elegante. Os dois dançando ao som daquela música, imortal e naquele momento tenebrosa, de nome Change Partners, de meu primo Tom Jobim e do senhor Sinatra. Que poderia fazer eu, perante essa esmagadora realidade que me gritava a pleno pulmões que os teus braços, os teus olhos, o teu movimento, todo o teu ser se encontravam aportados num homem que não eu, senhora minha das noites insones? Lembro-me agora que te observava como um doido, enquanto tu não tinhas consciência da minha existência que te sorvia, que te maravilhava, que te idolatrava com olhos sedentos e ingénuos, puros e misteriosos, singelos e sonhadores. Dir-te-ei o que se passou depois, donna de todas as coisas sensíveis e belas? Não sei, não sei se valerá o tempo das palavras que se escrevem em noites de insónia e de tempos em que o tempo parecia não existir. Talvez deva continuar todo este longo e demorado texto num outro registo mais interessante, árido, directo e cortante, como devem ser as palavras que se querem para sempre, ou testamentárias. Por agora, a noite, os teus cabelos, loiros, anelados, maravilhosos. Vem todas as noites. Vem, senhora das coisas impossíveis que jamais são em vão. Vem, com os teus vestidos e as tuas danças de flores e tardes de sol e noites de luar. Mas vem agora, vem neste momento que é o hoje, em que me perco em arcas cheias da poeira do tempo e do silêncio que foi silvando um fosso quase impossível de preenchermos. Vem, o resto não interessa. Fim da 3ª parte.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

HAVEMOS DE TE VENCER

Tu só obcecado contigo próprio, só tu só tu só tu, só o teu caminho o teu percurso e por ele a fazeres tudo, se lhe queres o corpo se lhe queres as entranhas pede-lhe, pede-lhe nos olhos, diz-lhe que a andas a desejar já faz vários anos e estás farto de esperar, quero-te comer toda vem cá, diz-lhe isso se te resta fio de algo.
Mas não dizes porque tu não mais que um cobarde. Queres violá-la sem respeito entrar-lhe de fininho e comeres tudo, fígado rins intestino cabeça pernas e braços. E ela sem dar por isso tal não é a tua mestria, o teu jogo de pernas, esse balanço já vem de trás não me enganes, já foram muitas muitas e muitos nem a isso olhas. Quando se apercebeu já tu de saída, nem te despediste. Tu, verme podre, tu não desculpas ninguém. Nem a mãe dela de joelhos, as mãos entrelaçados o cérebro já morto e por isso o coração aberto, ela a implorar-te, dou-te o que quiseres desculpa-a desculpa-nos leva-me a mim. E depois disso um deserto de silêncio. 
Mas nada te serve que não essa missão, tu tão egoísta e portanto eu tão áspero contigo todos tão ásperos contigo.

E depois tu ainda de boca em boca, assunto diário fecundas medo em tudo. Todos te perseguem e não há-de faltar muito tenho a certeza, a tua força começa a passar para as pessoas, elas mais fortes e tu quase no chão, desiste já desiste e não serás humilhado. 

Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: https://jornalismoaudiovisual.wordpress.com/2013/02/15/350-novos-casos-de-criancas-com-cancro-em-portugal/

O Último Cabalista de Lisboa

Analisar/criticar este livro é difícil, pois temos que resumir em nós a capacidade de explicar o inexplicável, de nos confrontarmos enquanto seres com o que de pior e o de melhor há em nós enquanto espécie, no fundo a História, sempre me disse um velho amigo meu que é historiador, tem que ser analisada não com os olhos do presente e/ou com as reservas deste, mas aos olhos do passado. Mas é difícil o fazermos e não entrarmos em julgamentos, quando lemos este romance policial com base em factos históricos reais.

As personagens deste sejam estas as boas ou as más ajudam-nos a isso, até porque o limbo entre o que é uma ação boa ou má em determinados momentos sejam estas praticadas pelos heróis ou os vilões é esbatida constantemente e em muitas partes deste livro, de maneira a que no fim ficamos com a consciência de que talvez Thomas Hobbes tenha razão na sua citação de que o homem é o lobo do homem, em guerra de todos contra todos, esta é a dúvida legitima com que ficamos quando lemos este livro.

É fácil explicar o enredo central deste romance, aliás mais fácil do que lê-lo, assim e em vinte e três linhas e três parágrafos:
Os Zarco, uma família de cristãos-novos residentes em Alfama, eram na realidade judeos marranos, deste modo praticavam às escondidas – com tudo o que isso poderia implicar nesse tempo em que uma mera reza judaica levava ao linchamento público – o seu judaísmo e tinham como patriarca Abraão Zarco, iluminador e membro respeitado da comunidade judaica local, e para além disso também um respeitado e célebre cabalista de Lisboa, que tinha um círculo de iniciados nos quais contavam membros da comunidade mais ou menos respeitados e/ou mais ou menos dúbios. De entre eles contava-se o seu sobrinho Berequias Zarco que é não só o narrador deste romance como a personagem principal.
No pogrom de Lisboa de abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa, é morto Abraão Zarco, que é encontrado numa cave que servia de templo secreto desde que a Sinagoga fora encerrada pelos cristãos-velhos. O seu sobrinho e discípulo encontra-o morto nu conjuntamente com uma jovem desconhecida e banhados em sangue, estranhamente, a porta está fechada por dentro. Um manuscrito iluminado e recentemente terminado pelo seu tio, em que os rostos dos seus vizinhos e amigos representam personagens bíblicas, desapareceu do seu esconderijo secreto. O assassino teria sido um cristão-velho ou, como as provas recolhidas e os indícios fazem crer, outro cristão-novo e/ou judeo marrano? Estaria o rosto do assassino representado no manuscrito roubado? No fundo, todo este romance histórico policial gira em volta de um pequeno extrato, que retirei numa das ultimas páginas do livro e que resumem todo o destino, a partir daí, do povo judeu de Lisboa e quiçá europeu:
Não há acasos, não há coincidências. Será possível? Até agora, apenas ousei expor estas ideias a Farid e a resposta que os seus gestos me deram foi: «Mas não achas que o teu tio podia servir melhor o povo judeu vivo do que morto?» Boa pergunta.

Encontrar as cifras no livro torna-se difícil para quem não compreende os aspetos profundos do que é que o estudo da Cabala judaica implica, e Richard Zimler, tece o livro de uma maneira muito inteligente, deste modo para quem nada entende da Cabala é um bom romance policial e histórico e poderá ser um bom iniciador do que esta é e implica, para quem entende um pouco existem cifras e explicações claras e simples por todo o livro, para quem entende com um estudioso, e não como um cabalista que fique bem esclarecido que cabalistas só podem ser judeus crentes iniciados em círculos próprios, com mestres próprios e com regras próprias, as tangas modernas que por aí se vendem, não são mais do que isso, ou seja, tangas toda a organização do livro e as camadas sobre camadas que este tem são um exemplo muito respeitador da arte esotérica que é a Cabala como um todo.

Algures nesta critica dou-vos um exemplo de uma cifra cabalística de modo a que entendam que sou um estudioso interessado não um cabalista – desta arte esotérica de interpretação da palavra e da vontade de D´us que é e/ou tenta ser a Cabala para quem é crente na mesma, nem me dou ao trabalho sequer de a explicar quem quiser e/ou puder entenderá, quem não achará que esta critica está mais ou menos bem escrita, aliás tal como o livro. 

Finalizo esta crónica com um desafio que é não ficarem por este romance histórico e lançarem-se na aventura de ler, os outros três, que constituem a série de romances históricos sobre a família Zarco, quais os nomes destes? Queriam mesmo que vos facilitasse a vida!!! Se o fizesse não estaria a ser um bom critico!!! Não é difícil de achá-los e já agora nem sequer é preciso os lerem em sequência pois como um bom estudioso interessado na Cabala, Richard Zimler sabe que a palavra e a sua sequência pode ser interpretada em qualquer sentido, mais, que as regras de Ein Sof implicam não um D´us como aquele que a maioria que me lê acredita isto é se acredita mas que é pouco o conforto de D´us que está para além de todas as coisas.

Como a próxima semana é a quarta 2.ª feira de Janeiro, e analiso/critico livros de ciência política e sociologia, o livro que escolhi foi O Choque das Civilizações e a Mudança na Ordem Mundial por Samuel P. Huntington.

Saudações a todos os leitores e boas leituras,

.'.Sandro Figueiredo Pires.'.

a-ver-livros: mesmo

Mesmo quando no silênciodo universo
bate uma porta
o eco não chega à minha pele
mais que uma brisa
paradoxo
diluído nos dias comuns
da guerra
e do amor

Mesmo quando no alvoroço
do meu peito
sobra apenas a quietude
ressoa o estrépito
de todos os unicórnios
da galáxia

Ana Almeida

* para conhecer mais da pintura da húngara Marta Kiss
basta seguir o link www.kissmarta.com

Emílio Miranda - A crónica de Um suicídio (21 a 28)


A Crónica de Um suicídio
 
21.
 
Em que momento passamos a questionar o mundo e tudo quanto nele acontece? Quanto nos acontece?
É logo quando nascemos, mesmo que não nos lembremos, ou quando sentimos pela primeira vez o gosto do pão quente na boca
O gosto do fermento e da farinha?
O gosto dos gestos de quem o fez?
 
22.
 
Em que momento passamos a existir? E em que momentos passamos a questionar-nos acerca do nosso fim?
Quando passa a haver mais promessas na morte do que na vida?
O que nos faz desejar morrer em detrimento de viver?
Quantas vezes suporta o nosso mundo partir-se para que deixe de ser possível restaurá-lo?
 
23.
 
A verdade é que o medo do caos se lhe entranhou de tal modo nos ossos, que passou a desejar reconstruir toda a ruina, todo o muro caído, toda a casa devoluta, toda a rua esburacada e feia. Como se fazê-lo, ou pelo menos desejá-lo, fosse já um meio caminho para ordenar o desordenado, erguer o tombado, dar cor a todas as ruinas da vida.
As palavras passaram a ser uma forma de imaginar todas as curas, todas as possíveis panaceias…
Poemas são feridas tratadas, dores desconstruídas e sopradas ao vento…
Poemas são lamentos felizes…
São infelicidades alegres…
 
24.
 
Ou serão vaidades?
Ou serão inúteis melopeias?
Que poema nos salva da dor maior. Do amor perdido. Pela vida?
 
25.
 
O que tem na mão é escuro e frio e ameaçador.
Descobriu-o na gaveta da mesinha de cabeceira do avô. Quando ele lhe pediu que lhe fosse buscar os óculos ao quarto para ler as instruções do pacote das sementes de gengibre e ele se sentiu impelido pela curiosidade.
O que tinha o avô guardado na gaveta da mesinha de cabeceira, sempre fechada, e que naquele dia ostentava uma pequenina, curiosa e baça chave esquecida?
 
26.
 
Sentiu um pânico instintivo ante aquele objeto escuro e perfeito nas suas formas. Mais tarde sentiria o mesmo ante os mistérios femininos da primeira mulher que abraçou, beijou e deitou consigo na cama.
Para que lhe ensinasse os segredos do seu próprio corpo.
Os que ele guardava há muito para quem os merecesse.
E que no entanto entregou à primeira que lhe sorriu nas semanas quentes que se seguiram à sua ida para a tropa, depois de todas as torturas sofridas às mãos de um par de milicianos acabados de formar…
 
27.
 
Que poderes traziam as mulheres ao mundo para que os homens se lhes entregassem sem defesas nem subterfúgios? Despidos de si e de todas as suas fantasias?
 
28.
 
Havia uma aura de mistério entre os seus olhos de criança e o corpo que via a desnudar-se para lá dos vidros transparentes da janela.
Entre os arbustos bastos olhava a casa do outro lado da rua sobranceira à quinta, quando deu com a mulher que distraidamente se despia, por trás da janela fechada, liberta de constrangimentos e de barreiras.
Os seus gestos, fluídos e gentis, desenhavam melodias na luz quente…
Os seios foram descobertos pelo sutiã, depois uma das pernas dobrou-se gentilmente, deixando adivinhar a meia a resvalar até ao chão. A seguir a outra. Depois…
 
*Emílio Miranda
 
 

Poesia em matéria fria: Jorge Sousa Braga

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

devir

fica-se a saber o essencial
pela água e pelo fogo
só a combustão determina
a cinza da matéria
que a sina do tempo
alado na crina do vento
há-de restituir
corpo
e do mergulho na água
se saberá
a natureza do naufrágio
que a língua da ondulação
fará questão de erguer na areia
a menos que nada seja
digno de se consumir ou imergir
e sobre apenas o espaço
à vã forma de se conceber.

Helder Magalhães


Fotografia de Jorge Lima

É do borogodó: o mistério do tempo, Millôr Fernandes


* escolhido por Penélope Martins

Bai'má Benda: ...cuntinuaçom do coisa anterior...

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Foto frase do dia: Rubem Alves

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Snobidando: Eça de Queiroz

O sempre actual Eça de Queiroz sobre a problemática das catástrofes e as leis da emoção.
 
"Bem recordo uma noite em que, numa vila de Portugal, uma senhora lia, à luz do candeeiro, que dourava mais radiantemente os seus cabelos já dourados, um jornal da tarde. Em torno da mesa outras senhoras costuravam.

 Espalhados pelas cadeiras e no divã, três ou quatro homens fumavam, na doce indolência do tépido serão de Maio. E pelas janelas abertas sobre o jardim entrava, com um sussurr...o das fontes, o aroma das roseiras. No jornal que o criado trouxera e ela nos lia, abundavam as calamidades. Era uma dessas semanas também em que pela violência da Natureza e pela cólera dos homens se desencadeia o mal sobre a Terra.

 Ela lia as catástrofes lentamente, com a serenidade que tão bem convinha ao seu sereno e puro perfil latino. «Na ilha de Java um terramoto destruíra vinte aldeias, matara duas mil pessoas...» As agulhas atentas picavam os estofos ligeiros; o fumo dos cigarros rolava docemente na aragem mansa – e ninguém comentou, sequer se interessou pela imensa desventura de Java. Java é tão remota, tão vaga no mapa! Depois, mais perto, na Hungria, «um rio trasbordara, destruindo vilas, searas, os homens e os gados...». Alguém murmurou, através de um lânguido bocejo: «Que desgraça!» A delicada senhora continuava, sem curiosidade, muito calma, aureolada de ouro pela luz. Na Bélgica, numa greve desesperada de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os mortos quatro mulheres, duas criancinhas... Então, aqui e além, na aconchegada sala, vozes já mais interessadas exclamaram brandamente: «Que horror!... Estas greves!... Pobre gente!...» De novo o bafo suave, vindo de entre as rosas, nos envolveu, enquanto a nossa loura amiga percorria o jornal atulhado de males. E ela mesma então teve um «oh!» de dolorida surpresa. No Sul da França, «junto à fronteira, um trem descarrilando causara três mortes, onze ferimentos...» Uma curta emoção, já sincera, passou através de nós com aquela desgraça quase próxima, na fronteira da nossa península, num comboio que desce a Portugal, onde viajam portugueses... Todos lamentaríamos, com expressões já vivas, estendidos nas poltronas, gozando a nossa segurança.

 A leitora, tão cheia de graça, virou a página do jornal doloroso, e procurava noutra coluna, com um sorriso que lhe voltara, claro e sereno.... E, de repente, solta um grito, leva as mãos à cabeça:
– Santo Deus!...
Todos nos erguemos num sobressalto. E ela, no seu espanto e terror, balbuciando:
– Foi a Luísa Carneiro, da Bela Vista... Esta manhã! Desmanchou um pé!
Então a sala inteira se alvorotou num tumulto de surpresa e desgosto."
 
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Poesia em matéria fria: a biografia de Sophia

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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Respostas às tuas e às minhas perguntas


Para o Salvador depois de aprender a ler


Cat on a Chair, Sanyu

Sê nómada.
Não tenhas medo de leões nem de professores de matemática.
Todos os dias come um pouco de sol e um pouco de verde.
Planta várias árvores.
Sobe às árvores mas não apoquentes os pássaros nos ninhos.
Deixa o sol entrar mesmo se tiveres de fechar os olhos.
Preserva a transparência e o silêncio.
Usa barbatanas porque debaixo de água podes voar.
Lê muitos livros e joga ping-pong.
Lê a Mafalda do Quino e o Corto do Pratt.
Embarca em todas as viagens dentro e fora do teu corpo.
Atenta nas cores do Outono. Novembro também é um mês bom.
Procura todos os dias uma pequena alegria e se não encontrares nenhuma dança.
Chora sem medo e em casos de incêndio.
Bebe chá sempre com companhia, pelo menos de um gato.
Se tiveres tempo tem um cão.
Podes comer chocolate todos os dias se tiver no mínimo 80% de cacau.
Aprende a gostar do vento, de favas e de ópera. São muitas as coisas de que não se gosta à primeira e há músicas antigas de que vais gostar muito mais.
Separam-nos quase quatro décadas e, quando tiveres a minha idade, se eu ainda existir, não te esqueças de me contar o que sentes dentro do corpo, à flor da pele e debaixo dos pés, sempre que ouves os Verdes Anos na guitarra do Carlos Paredes.
Não abuses de ti nem de ninguém.
Descobre o significado íntimo das palavras.
Tenta aprender todas as línguas do mundo.
Sê estrangeiro de ti.
Sê tenaz no amor mas não insistas no amor nos corações errados.
Sê o que quiseres, com a condição de seres feliz.
Por definição desliga a televisão.
Tem noção que não precisas de matar para viver, basta plantar e semear, todavia treina e mantém afinada a pontaria.
Respeita a lentidão das lesmas.
Experimenta pintar, e se como eu fores mesmo mau mas te der prazer, pinta e está-te nas tintas para os outros e para o resultado.
Como regra: não percas tempo, anda depressa mas respira devagar.
Percebe, a cada segundo, a velocidade a que bate o teu coração.
Guarda que a única coisa que é para sempre é morrer.
Urgente é apenas a alegria, o amor e a ferida.
Diz que não gostas quando não gostas.
Nunca te esqueças da delicadeza e que uma pedra é uma pedra é uma pedra.
Olha que a esperança nem sempre é uma menina de confiança e desistir pode ser uma grande vitória.
Evita viver a crédito, não te permitas ser refém de meros objectos e grava, escreve na mão para lembrar, tatua se necessário, que não há coisa de maior preço do que o teu tempo.
Procura a companhia dos teus poetas preferidos.
Faz amigos sob a condição do encanto e da ternura.
Não acredites em muitas coisas inexplicáveis.
Desculpa as asneiras dos teus pais, tu sabes mais.
E espero, eu sentada à tua espera, que nunca falte aos dias dos meus olhos o barulho do teu sorriso.


Raquel Serejo Martins


As emotions dos amantes de livros

Encontrado na página For Reading Addicts

Há concertos que são poesia

Sobre o concerto de Toumani e Sidiki Diabaté

"Numa rara colaboração entre pai e filho, Toumani Diabaté, génio da música africana e largamente reconhecido como o maior tocador de corá vivo, gravou um álbum de duetos com o seu filho Sidiki, uma estrela emergente do instrumento.

O repertório é baseado numa combinação de quase esquecidas peças de corá com novas abordagens a alguns temas clássicos do povo Mandé, do Mali: "Não vamos ao passado tentando tocar exactamente como o meu pai e o meu avô tocavam. Temos que tocar à nossa maneira. Somos griots modernos, vivemos na cidade, estamos em relação com o mundo", diz Toumani, que descreve o álbum como "o passado encontra o presente para o futuro."

Informação da World Circuit Records

De acordo com as suas palavras durante o concerto: "People go to museums to see all those sacred things... But this concert is like a living museum, because this music has nearly 6 hundreds years. (...) In your country, when babies are born, you give them toys, clothes, ...; in our families, we give them baby korás and baby jambés."



Apanhei-te a ler... dia 40

Sylvia Plath
 
Encontrado no Pinterest.