sábado, 21 de maio de 2011

A propósito do coração...

Hoje escolhi um poema e uma música. Tema comum, o coração.

Escreve Federico García Lorca. A música é da autoria d' 'A banda mais bonita da cidade'.

Confusão

'Meu coração
é teu coração?
Quem me reflexa pensamentos?
Quem me presta
esta paixão
sem raízes?
Por que muda meu traje
de cores?
Tudo é encruzilhada!
Por que vês no céu
tanta estrela?
Irmão, és tu
ou sou eu?
E estas mãos tão frias
são daquele?
Vejo-me pelos ocasos,
e um formigueiro de gente
anda por meu coração.'

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Palavras sobre o Porto...

'Porto da minha infância!
A primeira impressão que me causaste
Tenho-a, cheia de espanto, na memória,
Cheia de bruma e de granito!
É uma impressão de inverno,
Sombra cinzenta, enorme, donde irrompe
Alto cipreste empedernido,
No meio de sepulcros habitados.'

Teixeira de Pascoaes


'Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira.'

José Saramago


'O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.'

Sophia de Mello Breyner

PORTO CIDADE BONITA

'Nosso Porto de tanta magia
Muitos corações te adoram
De ti se faz bela poesia,
E por ela alguns se enamoram

Ó leal, invicta cidade
Todo o Portugal te aclama,
A todos trazes felicidade
E dás de ti a quem te ama

Tens o Rio Douro,
Como teu grande amigo
Para ti, ele é um tesouro
Que o guardas bem contigo

És uma terra de gente bonita
Que por ti loucos ficam
Fizeram-te uma cidade catita
Para todos os que te visitam

Cidade romântica e bela
Que a todos ela ama
Para aqueles que vivem nela
Tem o Douro como sua dama'

Fernando Ramos

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O nosso Reino, valter hugo mae

O primeiro livro de ficção do autor é o meu preferido.

Valter apresenta já a sua forma de escrever: cheia de expressões pouco comuns, arcaísmos e palavras usuais no mundo rural. É neste mundo que se centra a nossa história.

Temos um menino pequeno como personagem principal. Uma criança que nos descreve o mundo que vê. O curioso é que é um olhar carregado de manifestações religiosas, como se tudo fosse produto da obra de Deus.

Uma história que nos prende. Cheia de fantasia, originalidade e pensamentos profundos.


'Num ambiente rural onde a religião é uma âncora fundamental e a visão do pecado uma pesada herança do Estado Novo, o nosso reino começa como uma aventura terna e cândida, contada por uma criança obcecada pela diferença entre o bem e o mal. Porém, ao estilo de um Tom Sawyer num universo de perversidade, o reino em que vive e a própria narrativa que constrói vão responder de forma imprevisível à sua busca incessante de um momento de beleza e redenção: as personagens fundem-se em vasos comunicantes, metamorfoseiam-se, ganham uma loucura de bichos de muitas patas e várias cabeças, e a morte, arrastada pelo cão dos infernos, alastra por todo o lado. Conseguirá o narrador escapar e transformar- se em borboleta ou anjo libertador? Ou acabará como mártir marginal dessa missa negra e supliciante? Entre uma galeria de personagens misteriosas e inesquecíveis, oscilando entre a loucura e a bondade mais pura e inesperada, o narrador deste primeiro romance de valter hugo mãe tece uma história que é uma absoluta surpresa em forma de ficção plástica para a literatura portuguesa do século XXI. Impossível parar de ler.'

terça-feira, 17 de maio de 2011

Melhor Vida é a Vida que Dura sem Medir-se, Ricardo Reis

Melhor Vida é a Vida que Dura sem Medir-se


Não quero recordar nem conhecer-me.
Somos demais se olhamos em quem somos.
Ignorar que vivemos
Cumpre bastante a vida.

Tanto quanto vivemos, vive a hora
Em que vivemos, igualmente morta
Quando passa conosco,
Que passamos com ela.

Se sabê-lo não serve de sabê-lo
(Pois sem poder que vale conhecermos?)
Melhor vida é a vida
Que dura sem medir-se.

*Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Orlando e uma quinzena de amor à leitura


“Porque quando a doença da leitura toma conta do organismo, a tal ponto o debilita que o torna presa fácil desse outro flagelo que mora no tinteiro e na pena. O infeliz dedica-se à escrita.” (p.54)

A 28 de Abril começou a 81ª Feira do Livro de Lisboa, no Parque Eduardo VII. Mesmo com a chuva inicial, romarias se fizeram em busca daque(eeee)les livros que andamos a namorar durante muito tempo, ou de umas últimas pechinchas fabulosas encafuadas em caixinhas com um cartão a dizer [2€/3€/5€].

Há privilegiados que puderam visitar a feira com toda a regularidade que a sede de livros impõe; para todos os outros, fica a excelente reportagem in loco feita pelo nosso companheiro Pedro Ferreira! O que me traz ao Orlando, escolha de Abril, e que, quanto mais li, mais cri que se adequa na perfeição ao mote do mês em que foi lido, pois se há uma constante entre os dois Orlandos (M e F) é mesmo a paixão pelas letras. É esta que impele o nosso personagem a apadrinhar autores, a escrever furiosamente para depois descartar-se do texto escrito, a trazer junto ao peito (já seus belos seios de senhora) os rabiscos primeiro poema, «O carvalho», obra que acompanhará Orlando ao longo dos seus vários séculos de existência.

Esta relação de reciprocidade com uma obra, que se vai construindo a par e passo com o seu autor, fez-me pensar no livro «Contos carnívoros», do belga Bernard Quiriny, editado em Março pela AHAB. Neste livro encontramos contos, de facto, tão suculentos como um naco da melhor carne (perdoem-me, vegetarianos, mas a imagem prevaleceu!). Em um deles, “Recordações de um assassino a soldo”, um artista planeia fundir-se à sua derradeira obra, nela imprimindo-se em sangue, numa última golfada de vida que jorraria dele para a tela que deixara inacabada. Uma imagem poderosa, que marca sobretudo por representar fielmente a relação viceral muitas vezes presente entre o artista-criador e a coisa criada.

Ao acompanharmos a nossa protagonista ao longo de mais de 300 anos de crescimento e transformação, temos a oportunidade de pôr muitos dados adquiridos em causa. Diz Orlando: “Estou a crescer (…) Estou a perder as minhas ilusões, talvez para adquirir ilusões novas.” (p. 136)

E nós crescemos com ela.

È delicioso quando descobrimos, na sequência, que: “Talvez precisemos de acreditar em alguma coisa, e uma vez que Orlando, como já dissemos, não tinha fé nas divindades costumeiras, a sua credulidade ia toda para os grandes homens – com uma distinção, porém. Almirantes, soldados, estadistas, não despertavam nela a menor emoção. Mas, mal pensava num grande escritor, invadia-a uma fé tão ardente que pouco faltava para crer que ele fosse invisível.” (p. 139)

Ao longo destes séculos, Orlando consegue pôr em causa as vivências de género, entre seus sentires alternadamente masculinos e femininos, pensando no papel de cada um na sociedade e nas relações de um com o outro (desde a forma como se relaciona com alguns génios literários do seu tempo, varões por excelência, até às moças de moral duvidosa que conhece em Londres e que a divertem imensamente, provando ser falsa a suspeita egocêntrica dos homens, de que mulheres não se divertiriam entre si, sem uma combinação de cromossomas XY para apimentar as coisas).

Questiona as bases da literatura sob as várias alçadas culturais, da era Isabelina à Vitoriana, sua riqueza e profundidade, quer a partir de seus próprios ímpetos literários (que se metamorfoseiam acompanhando as mudanças verificadas no seu corpo e psiqué), quer das correntes literárias que em seu redor se vão fincando e que culminam numa interessante observação:
“Orlando ficou imensamente desiludida. Durante todos esses anos pensara que a literatura (a sua reclusão, o seu nascimento ilustre, o seu sexo talvez possam desculpá-la) era uma coisa indomável como o vento, escaldante como o fogo, veloz como o raio; uma coisa errante, incomensurável, brusca, e eis que a literatura era afinal um senhor idoso, de fato cinzento, a falar de duquesas. A violência da sua desilusão foi tal que fez saltar o colchete ou botão que fechava o decote do seu vestido […].” (p. 196).

A certo ponto, até me fez lembrar Pessoa, quando:
“[...] Orlando soltou um suspiro de alívio, acendeu um cigarro e ficou um minuto ou dois a fumar em silêncio. Depois chamou ainda hesitante, como se a pessoa que procurava pudesse ter-se ausentado: «Orlando?» Pois se existem (para arriscar um número) setenta e seis tempos diferentes, todos a pulsar simultaneamente numa só cabeça, quantas pessoas diferentes não haverá – Deus nos acuda! - alojadas num dado momento no espírito humano? Há quem diga que são duas mil e cinquenta e duas. Assim sendo, nada mais natural que ver uma pessoa chamar, logo que se acha sozinha, «Orlando?» (se for esse seu nome), que é como quem diz «Vem, vem! Estou saturada deste meu eu. Quero outro.».” (p. 216)

Por fim, e continuando a pensar em poetas, deixo o Mário de Sá-Carneiro com «Feminina», que compõe estas dualidades de homem que tenta ser mulher (e vice-versa); fica a questão sem fim: o que é ser uma mulher, afinal?

Feminina

Eu queria ser mulher pra me poder estender
Ao lado dos meus amigos, nas banquettes dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés.

Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro -
Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer «potins» - muito entretida.

Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar -
Eu queria ser mulher pra que me fossem bem estes enleios,
Que num homem, francamente, não se podem desculpar.

Eu queria ser mulher para ter muitos amantes
E enganá-los a todos - mesmo ao predilecto -
Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,
Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...

Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher pra me poder recusar...

Ah, que te esquecesses sempre das horas
Polindo as unhas -
A impaciente das morbidezas louras
Enquanto ao espelho te compunhas...

A da pulseira duvidosa
A dos anéis de jade e enganos -
A dissoluta, a perigosa
A desvirgada aos sete anos...

O teu passado, sigilo morto,
Tu própria quasi o olvidaras -
Em névoa absorto
Tão espessamente o enredaras

A vagas horas, no entretanto,
Certo sorriso te assomaria
Que em vez de encanto,
Medo faria.

E em teu pescoço
- Mel e alabastro -
Sombrio punhal deixara rasto
Num traço grosso.

A sonhadora arrependida
De que passados malefícios -
A mentirosa, a embebida
Em mil feitiços


(«Poemas Completos», Assírio & Alvim, 2001)

This is the end... my friends (para já)

Está feita então mais uma Feira do Livro em Lisboa. Agora já com caixotes prontos e embalados e pavilhões prestes a serem transportados para o Porto, para a Feira que começa dia 26 deste mês é altura de fazer alguns balanços. Vale sempre o que vale estes tipo de percepções. Uma coisa é certa, em conversa com o senhor que vende gelados no Parque Eduardo VII ele disse-me que em relação ao ano passado estava a perder cerca de mil euros - em gelados é muito dinheiro. No geral e em conversa de corredor com outros livreiros e editores a ideia anda em quedas que oscilam nos 50% a 60%. Não sei como será a resposta oficial. Nos últimos anos fui ficando a percepção que a APEL nunca sabe muito bem como calcular estas coisas e como não existe nenhum controlo, que esse sim devia ser obrigatório, sobre as vendas dos associados a coisa ficará ao critério de cada um. A APEL calcula estimativas de visitantes. Sejam daqueles que passam a correr, literalmente, porque o fazem no Parque. Seja dos tantos e tantas que vi este ano nos fim-de-semana a passearem de fartura e gelado na mão mas sem um único livro contarão para estes números mágicos.

A grande questão é saber se este é mesmo o ano em que se assume que este sector, e falando sempre fora das livrarias e das vendas anuais. Se este sector assume este ano que na Feira as coisas não correram assim tão bem. No ano passado por menos dias maus prolongou-se mais uma semana a duração da Feira, este ano nem rumor disso. Que balanço foi feito dessa semana no ano passado? Sabem as pessoas, os visitantes o que foi cobrado às editoras pela semana extra? Vale a pena reajustar os calendários da Feira? Voltaram a surgir defensores de uma mudança de local para o coração mais central da cidade, esse debate será feito?

Ontem mais uma vez as últimas horas foram de puro descontrole. Ao jeito dos mercados bolsistas os preços caíram e os descontos foram feitos na derradeira vontade de esgotar stock e ter alguma liquidez. Não estou a falar de livros manuseados ou de restos de colecção. Mais uma vez as infracções ao dito regulamento da Feira e mais grave à lei do preço fixo que tantas comichões tem feito nos últimos tempos. Algumas livrarias agradecem quando fizerem as devoluções e facturarem isto junto com as remessas que fazem durante o ano todo.

Entre livros e caixotes e desmontagens há uma coisa que nos salta à vista, de um lado mega empresas com recursos tremendos capazes de gastar orçamentos em publicidade e marketing que equivalem a orçamentos inteiros de outras editoras. É cada vez mais uma feira de grupos comerciais enfeitada com uns resistentes no meio.

Foi assim mais uma Feira, apesar do cenário, há sempre coisas boas. Os colegas, os visitantes, os leitores fiéis, as conversas e esta nova experiência de uma espécie de diário da Feira aqui no blogue.

Até ao Porto, boas leituras!

Eu, Philip Waechter

Outro dia fui ao meu primeiro local de trabalho visitar alguns amigos. Estava o Miguel, o Arnaldo e a Teresa a trabalhar. Mesmo ao pé da caixa, numa exposição de livros para crianças (ou para 'adultos-criança'), estava este: 'Eu', de Philip Waechter.

O Arnaldo estendeu-mo e disse: 'Lê, não demora muito'. Assim fiz.

O livro tem uma mensagem muito simples, carregada por frases curtas. Cada uma delas abre mais uma pequena página de ilustração. E, um resultado final: falar sobre a amizade.

Aqui está uma excelente prenda! Para todas as idades. Nos últimos dias contagiei os colegas do emprego... Espero aguçar a vossa curiosidade!


'Em frases curtas e imagens simples. O mais recente livro da GATAfunho conta como o urso, que surge na capa de braços cruzados, apesar de gostar de si, de saber o que quer e do que gosta, por vezes também se sente "terrivelmente só". É nesses momentos que o nosso urso corre, e corre à procura de alguém a quem diz: "É bom estares aqui!".
Afinal este urso é como todos nós. Sim, porque todos nós, por vezes, nos sentimos "pequenos" e perdidos, e nesses momentos corremos para junto dos nossos amigos ou de um amigo especial.'

domingo, 15 de maio de 2011

Sobre um Poema

'Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.


E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.'

Morte na Pérsia

A Pó dos livros (conhecida livraria de Lisboa) fez este pequeno vídeo que dá a conhecer Annemarie e a sua incrível viagem pela Pérsia.



A não perder!

Manuel António Pina - escritor e tudo mais

É assim que o conheço. Fumador compulsivo de tal forma que a revista do Jornal de Noticias para onde escreve crónicas teve de retirar a famosa cigarrilha, em pós edição fotográfica, da sua mão. Ama gatos como ama as letras. Excelente conversador é daquelas pessoas sem papas na língua. Cronista, poeta, escritor multifacetado. Se o prémio Camões fosse atribuído por extensão e variedade continuava a ser um preferido. Segundo consta o júri foi rápido e unânime na atribuição do Prémio.

Isto e a bibliografia que vos deixo a seguir são os meus quinhentos para o que mais se pode saber deste homem das letras. Para ele um abraço de parabéns que tentarei entregar pessoalmente voltando à "nossa" terra.

1973 - "O país das pessoas de pernas para o ar" (lit. infanto-juvenil)
1974 - "Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo, calma é apenas um pouco tarde" (poesia)
1974 - "Gigões & anantes" (lit. infanto-juvenil)
1976 - "O têpluquê" (lit. infanto-juvenil)
1978 - Aquele que quer morrer (poesia)
1981 - "A lâmpada do quarto? A criança?" (poesia)
1983 - "O pássaro da cabeça" (poesia)
1983 - "Os dois ladrões" (teatro)
1984 - "Nenhum sítio" (poesia)
1984 - "História com reis, rainhas, bobos, bombeiros e galinhas" (lit. infanto-juvenil)
1985 - A guerra do tabuleiro de xadrez(lit. infanto-juvenil)
1986 - Os piratas(ficção)
1989 - "O caminho de casa" (poesia)
1987 - "O inventão" (teatro)
1991 - Um sítio onde pousar a cabeça (poesia)
1992 - "Algo parecido com isto, da mesma substância" (poesia)
1993 - "Farewell happy fields" (poesia)
1993 - "O tesouro" (lit. infanto-juvenil)
1994 - "Cuidados intensivos" (poesia)
1994 - "O anacronista" (crónica)
1995 - O meu rio é de ouro /Mi rio es de oro (lit. infanto-juvenil)
1998 - "Aquilo que os olhos vêem, ou O Adamastor" (teatro)
1999 - Nenhuma palavra, nenhuma lembrança (poesia)
1999 - "Histórias que me contaste tu" (lit. infanto-juvenil)
2001 - "Atropelamento e fuga" (poesia)
2001 - "A noite" (teatro)
2001 - "Pequeno livro de desmatemática" (lit. infanto juvenil)
2002 - "Poesia reunida" (poesia)
2002 - "Perguntem aos vossos gatos e aos vossos câes" (teatro)
2002 - "Porto, modo de dizer" (crónica)
2003 - Os livros (poesia)
2003 - "Os papéis de K." (ficção)
2004 - "O cavalinho de pau do Menino Jesus" (lit. infanto-juvenil)
2005 - "Queres Bordalo?" (ficção)
2005 - "História do Capuchinho Vermelho contada a crianças e nem por isso por Manuel António Pina segundo desenhos de Paula Rego" (lit. infanto-juvenil)
2007 - "Dito em voz alta" (entrevistas)
2008 - "Gatos" (poesia)
2009 - "História do sábio fechado na sua biblioteca" (teatro)
2010 - "Por outras palavras"


Arte poética

Vai, poema, procura
a voz literal
que desocultamente fala
sob tanta literatura.

Se a escutares, porém, tapa os ouvidos,
porque pela primeira vez estás sozinho.
Regressa então, se puderes, pelo caminho
das interpretações e dos sentidos.

Mas não olhes para trás, não olhes para trás,
ou jamais te perderás;
e teu canto, insensato, será feito
só de melancolia e de despeito.

E de discórdia. E todavia
sob tanto passado insepulto
o que encontraste senão tumulto,
senão de novo ressentimento e ironia?