sábado, 23 de junho de 2012

Poema à noitinha... Ana Salomé

ode do fim da paixão

agora que a paixão se demoveu de ti
são poucas as notícias que te trago.

as palavras bem podem ser
pequenos papéis atirados ao chão.
se o vento as levantar é porque ainda
haverá um livro de poemas
nas pontas dos dedos a ferir o espaço
para um último batimento.

deixaste-me assim com a paixão rápida
o funeral e os pássaros nos ramos
a aprender asneiras e as marchas de séculos
anteriores. recusaste um coração
a cercania das mãos
a destapar o rosto oculto.

agora é tarde
os poemas são vedações de florestas
que não podem crescer mais.
sem árvores o vento não sopra
e é pouco o que chega até ti.

in Odes, Ed. Canto Escuro


*na foto: Ana Salomé - retirada deste link: http://quintasdeleitura.blogspot.pt/2010/03/ontem-noite-poe-cassete-da-tempestade.html (blogue do ciclo poético do Teatro Campo Alegre, Porto)


Feira Laica à solta no Palácio de Laguares, em Campolide


Entre 30 de Junho e 1 de Julho, no Palácio de Laguares, em Campolide, Lisboa, realiza-se mais uma edição da Feira Laica. A iniciativa, que é «o evento de edição independente mais regular e com maior visibilidade pública em Portugal», pretende, através de exposições de artes gráficas, workshops de serigrafia e tipografia e concertos, atrair público com interesse pela banda-desenhada, ilustração, literatura, música e edição independente em geral.

Nas suas diversas edições tem saltitando por espaços lisboetas que acolhem actividades de teor Do-It-Yourself. Estão presentes na Feira autores de seis países: França, EUA, Espanha, Alemanha, Itália e Croácia para apresentar os seus trabalhos indo de encontro aos objectivos basilares desta iniciativa: criar um momento catalisador de novidades editoriais, potenciar o encontro de editores independentes e a reflexão sobre a actividade criativa e editorial.

Editores confirmados: Associação Chili Com Carne, Associação Terapêutica do Ruído, BábaMúPeace, jornal Buraco + Oficina Arara, Cafreta Records, Canicola (Itália), Caprichosa (fanzines da FBAUL), Cru/ Mr. Esgar, Dildo Doodles, Discordian Ink, Ediciones Valientes (Espanha), El Pep, Façam Fanzines e Cuspam Martelos, autor Filipe Abranches, Hepta, Imprensa Canalha, Kennedy Prints! (EUA), Lézard Actif + Ar-Déco (França), Mia Soave, Mike Goes West, MMNNNRRRG, fanzine Nicotina, Oficina do Cego, Organic Anagram, Panda Gordo, Papeleiro Doido, Pedra + Rocha, Pisco Ruivo, Ruru Comix, Serigrafias Tobias, Steppin Stone, Thisco,… e ainda Toyze

a-ver-livros no abraço do poema: Lorenzo Mattotti

Abraça-me.
Eu sei que é banal.
Mas dentre o banal é o mais espectacular dos momentos
em que dois corpos se tocam
em que duas galáxias se roçam
no amplexo da ternura

Já nem falo da saudade.
Falo apenas do abraço sentido
apertado
de quem se quer
bem
muito
tanto
sempre
Deixemos o desejo
para depois, quando os corpos acordarem

e escreveremos o livro
com que ambos sonhamos


* para conhecer melhor o pintor italiano Lorenzo Mattotti é só seguir os links www.mattotti.com e lorenzomattotti.blogspot.pt
 ** este poema está publicado também no blog www.analmeidices.blogspot.pt

sexta-feira, 22 de junho de 2012

In Alfreda ou a Quimera


Afinal, o que queremos da vida? Esta interrogação, no meu caso, nunca tinha feito um sentido muito profundo. Sem teorizar fosse o que fosse, eu sabia muito bem o que queria da vida e a vida que levava mostrava isso mesmo. Queria uma certa bonomia da existência, um razoável desafogo económico, uma certa paz de espírito para me dedicar aos meus livros, algum tempo fácil e despreocupado para conviver com os meus amigos e uma relação mais lúdica do que sentimental com as mulheres, em que eu pudesse navegar à vista e sem sobressaltos de maior.

«Uma Grande Ilusão? Ensaio Sobre a Europa» - um ensaio de Tony Judt lançado pelas Edições 70

Chega muito em breve às livrarias mais um ensaio de Tony Judt traduzido pelas Edições 70. Apesar de escrito em 1996, na mente do crítico já eram expectáveis alguns dos debates que assistimos actualmente. 



«Esta obra, escrita em 1996, é uma reflexão ao mesmo tempo premonitória, céptica e apaixonada sobre o estado da Europa. Nesta análise de Tony Judt podem encontrar-se as premissas do actual debate sobre o futuro da Europa. Ainda não tínhamos entrado neste milénio e já Judt nos dirigia as questões mais prementes, às quais ainda hoje urge responder. Quais as reais expectativas de uma União Europeia alargada? Que nações devem pertencer à Europa, quando e com que critérios? O que define “Europa” e como devemos pensar sobre o nosso futuro? Se o mito da “Europa” é demasiado abstracto para atrair os europeus e pode até obstruir a procura de soluções para problemas concretos, argumenta Judt, então teremos tudo a ganhar em examiná-la criticamente.»

E como a Europa foi feita de grandes lutas e conquistas, deixo-vos este curioso vídeo que mostra 1000 anos de História do Velho Continente. A Europa tal qual a conhecemos podia ter sido bem diferente. Resta saber se será um processo terminado... 


a-ver-livros já de Verão: Terence Almond

Chama-se Verão. Teremos talvez setenta, talvez menos, talvez mais, em toda a vida.
Fica-se a pensar nisso. Podia chamar-se poesia.


* para conhecer melhor o pintor britânico Terence Almond é só seguir o link www.artrepro.co.uk

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Literatura de Futebol... O caso Peter Handke e «Contos de Futebol» da Relógio D' Água

Para quem acha que Literatura e Futebol não podem andar de mãos dadas, aqui ficam 2 excelentes exemplos que provam o contrário. A Relógio D' Água tem no seu catálogo o livro de Peter Handke, «A angústia do Guarda-Redes antes do Penalty» e «Contos de Futebol» - de vários autores. Não são casos únicos... Existem alguns escritores que se dedicaram à paixão pelo futebol. Mas estes são 2 livros que aconselho.

"Neste livro, em que a angústia causada pelo penalty é um metáfora da vida, aspecto sublinhado no filme sobre ele feito por Wim Wenders, Peter Handke fala-nos de um amigo guarda-redes que depois de ser despedido do emprego assassina uma mulher sua ocasional amante e deambula num mundo que parece ter perdido todo o sentido."


«O guarda-redes está a ver se descobre qual é o canto da baliza que o jogador quer atingir, disse Bloch. Se conhece o jogador, sabe qual é o canto que, de um modo geral, ele prefere. Mas, provavelmente, o jogador que vai marcar o penalty, pensa também que o jogador o está a tentar descobrir. Por isso o guarda-redes tem de admitir que precisamente hoje a bola vai entrar pelo outro canto. Mas o que é que acontece se o jogador que vai marcar o penalty seguir o pensamento do guarda-redes e acabar por decidir atirar para o canto para o qual costumava atirar?»


"Contos de Futebol é uma selecção de dez narrativas de alguns dos mais importantes escritores da actualidade. Os contos decorrem umas vezes dentro das quatro linhas, outras no singular dia-a-dia dos que jogam futebol. Trata-se, afinal, de levar o jogo de futebol ao mundo da literatura e de jogar literatura no mundo do futebol. 

A pretexto do mundial de futebol, a editora Relógio d’ Água publica “Contos de Futebol”, onde se reúnem um dezena de magníficos textos sobre, ou a propósito, do desporto-rei. Os autores são maioritariamente ibero-americanos, e esta antologia é uma espécie de súmula daquela que Jorge Valdano, antigo ponta-de-lança da selecção argentina, treinador e comentador, organizou. Um dos textos é do próprio Valdano, e os outros são de Mario Benedetti, Miguel Delibes, Julio Llamazares, Rosa Regàs, Augusto Roa Bastos, Alfredo Bryce Echenique, Javier Marias, José Luis Sampedro e Osvaldo Soriano.

Para quem gosta de um bom jogo e/ou de um bom conto."


Não se julga um livro pela capa... será?


Partimos do ditado "Nunca se julga um livro pela capa" para tentar perceber se isto tem ou não, um fundo de verdade. As capas são assim tão importantes no livro para além do seu papel inicial de protecção do volume de páginas.

Alberto Manguel, um amante dos livros com vários livros editados, alguns dos quais já falamos aqui no blogue, escreveu recentemente um artigo para o El País, onde inicia o texto com uma afirmação de Oscar Wilde que sintetiza o poder das capas dos livros: “Só as pessoas superficiais não julgam pela aparência”. Portanto, o designer e o editor jogam com o imaginário do público quando pensam uma capa.

A história das capas é muito recente. A história do livro tem pelo menos seis mil anos, quando as placas de argila eram acondicionados em bolsas de couro ou caixas de madeira. As capas como conhecemos surgiram apenas no século V para proteger os códices religiosos. Somente quando o nome do autor e o título passaram a constar das capas e lombadas foi que surgiu a necessidade de decora-las. Foi no Renascimento que os livros com capas ilustradas atingiram o status de objecto de luxo, elevando a encadernação à categoria de arte.

A importância das capas, como hoje as conhecemos, começa em fins do século XIX e, como sabemos, conferindo identidade e, ao se mudar a capa numa edição mais recente, o livro pode até ser visto de outra forma pelas gerações mais recentes. Apenas os coleccionadores de livros sentiriam prazer em admirar aqueles brocados, cheiro de couro e relevos dourados, por exemplo.


Segundo Peter Osagae, o livro é um documento rico em sinais que, quando decifrados, enriquecem a compreensão do que é lido. A leitura da capa de um livro é uma pré-leitura de um texto, ele também a relaciona a uma missão de espionagem, no qual o leitor é um espião que deduz através dessa pré-leitura o que estará por vir na leitura do livro.

A análise da capa de um livro pode / deve despertar no leitor a percepção, a curiosidade e a imaginação do que virá em seguida com a leitura desse livro, o que dará lugar ao surgimento de perguntas, dúvidas, certezas e apostas. Entre o título e a imagem ocorre um diálogo, e esses devem-se complementar, em relação a esse primeiro, é tido como uma senha verbal. Já o segundo  pode intrigar o leitor ou provocar expectativas quanto ao que irá acontecer em seguida. A intencionalidade estética e comunicativa da capa de um livro tentam sintetizar a sua história e fisgar o leitor para que a leitura seja feita, mas vale ressaltar que nem todas as capas irão possibilitar boas leituras.

Este post é apenas um de vários que pretendo dedicar a esta área dentro do que é a construção dos livros, em especifico o design de capas, até porque não faltam exemplos de grandes marcas na história dos livros, seja em editoras ou colecções.


Como exemplo dessas variedades ao longo do post estão várias capas do "1984" do George Orwell.

Para abrir o apetite e irem conhecendo mais aqui fica um link: Book Cover Archive que se dedica a compilar capas de livros e a organizar essa compilação.

a-ver-livros: Félix Revello de Toro

Estou translúcida, como a manhã.
Tenho os olhos postos na tarde.
Talvez assim chegue mais depressa a noite
- e os teus braços.


* para conhecer melhor o pintor espanhol Félix Revello de Toro - sim, o que pintou os retratos dos reis de Espanha - é só seguir o link http://revello-de-toro.blogspot.pt/

Poema à noitinha... Alice Vieira


"Eu gostava de poder dizer
que entrei no teu corpo como um pássaro
espreitando através de invisíveis ruínas
e que o som da tua voz bastava
para me salvar

mas de nada serve inventar palavras
quando as palavras que inventamos
não passam de frágeis lugares de exílio
dos gestos inventados fora de horas
delimitando o espaço de tantas mortes prematuras
de que jurámos ressuscitar um dia

- quando os deuses se lembrassem
de acordar ao nosso lado"

 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

a-ver-livros a preto e branco: Adam Simpson

Dá o melhor presente que se pode dar. Ensina a juntar letra após letra, a entender o que dizem.
Dá um livro. Um livro velho. Um livro novo.
O livro não tem idade.



* para conhecer melhor o ilustrador escocês Adam Simpson, autor desta imagem criada para o jornal The Guardian, é só seguir o link www.adsimpson.com

terça-feira, 19 de junho de 2012

Poema à noitinha... Vitorino Nemésio

O Poema em que te Busco é a Minha Rede

«O poema em que te busco é a minha rede,
Bem mais de borboletas que de peixes,
E é o copo em que te bebo: morro à sede
Mas ainda és margarida e não-me-deixes
E muito mais, no enumerar das coisas:
Cordão de laço e corda de violino,
Saliva de verdade nalgum beijo,
E poisas
Como ave de aço em pão se não te vejo.
Mas onde mais real do céu me avisas
É nas tuas camisas,
Calças de cor no catre bem dobradas.
E és os meus pensamentos, se te ausentas,
Meu ciúme escuro como vinho em toalha;
E o branco circular das horas lentas
Que um perfurante amor lembrado espalha.
Põe o penso no velo intercrural
Com um atilho vertical:
Rosa coberta esquiva
Quer a mão do desejo, quer
O conhecido cravo da agressão
Que estendo às tuas formas de mulher,
Com esta soma e verbal percaução
De um fónico doutor de Mompilher.»

Etty Hillesum no Jornal Público. Por Frei Bento Domingues

Já havíamos divulgado o encontro «Leituras do Silêncio» que se realizou no fim de semana passado em Guimarães. Na crónica de Domingo, Frei Bento Domingues (um dos oradores), fez esta análise da vida de Etty Hillesum.







a-ver-livros na digestão: Darja Charapova

Abro as tuas páginas e perco-me nas mil e uma histórias, de dias e noites e vidas com que nunca antes sonhara. Perco-me nas ameias e merlões, subo à atalaia a ver os povoados, desço às catacumbas sem medo do escuro. Voo nas tuas asas sentada no cadeirão. Amo-te.

* para conhecer melhor a ilustradora Darja Charapova, que vive na Holanda, é só seguir o link http://newem-blog.blogspot.pt/

Ortega y Gasset: Sobre a Saudade

"Saudade", do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883- 1955), tem meia dúzia de páginas. São apenas "notas de trabalho", como o subtítulo confirma, retalhos do seu pensamento redigidos durante o seu exílio no Estoril.

Deixo-vos alguns retalhos desses retalhos.



"Parece-me um erro, em D. Carolina [Michaëllis] e [Francisco Manuel de] Melo, centrar no erotismo o sentido da saudade, ça fait fausse route! É mais acertado estudá-lo nas suas formas mais humildes. De que coisas humildes se sente saudades? Não esqueçamos que o característico do problema é a penetração, a impregnação de toda a vida pela Saudade. A Saudade erótica é universal e dá-se com parecida frequência em quase todos os povos.
O que não é de todos é senti-la, e senti-la com tanta frequência, por inumeráveis coisas pelas quais os outros não a sentem. Isto leva-nos a fixarmo-nos nas saudades mínimas e a deixar de lado, por pouco interessantes, as máximas que são aquelas a que, não vendo o problema, dedicam a sua atenção Melo e Carolina."

"A Saudade não é um tema português, mas o tema português por excelência. Se outro qualquer pode situar-se na sua periferia é, porventura, a Descoberta. Ambos polarizam a realidade histórica que é Portugal. E resulta que são uma contraposição: a Descoberta é a ânsia de partir, a Saudade a ânsia de voltar.
(...) Portugal é o 'filho pródigo' de si mesmo. O que é nele mais autêntico? O partir ou o voltar?"



 * Edição bilingue
Tradução de Maria J. Monteiro Tavares
Editora Sete Caminhos

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Klimt e o Beijo

 (ao domingo) Letras Focadas


“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas”

DISSERTAÇÃO SOBRE O AMOR E A PAIXÃO

Sou fascinada por este quadro!
Não entendo o porquê, apenas sei o que sinto quando o contemplo.
Sou aquela mulher, em abandono total, recebendo a carícia daquele beijo!
Neste beijo está tudo: a mais profunda ternura, misturada com o mais intenso erotismo!
Esteticamente perfeito, "O Beijo" de Klimt  transporta-nos para a dimensão diurna e nocturna do Amor. A simbologia diurna do Amor remete-nos para águas calmas de um rio, onde tudo flui suavemente! Na dimensão nocturna do Amor, redefinimos a palavra e chamamos-lhe Paixão!
Aqui, a paz, a serenidade, dá lugar ao caos das emoções. Consumimo-nos, consumindo o outro!


Não há espaço para o outro!
Para o Amor temos duas variáveis na mesma equação: o EU e o OUTRO!
Num movimento dialéctico, o dar e o receber conjugam-se na primeira pessoal do plural: NÓS!
Para a Paixão existe apenas o sentimento que se alimenta a si próprio. Sobrevive e vive, mesmo sem a presença do objecto amado. É avassalador, deixa-nos sem vontade própria e vivemos na escuridão!
Repenso! Se é assim tão mau, tão destruidor, porque corremos atrás dela?
Poucos são os que dizem: "Quero enamorar-me"! Dizemos antes: "Quero apaixonar-me"!
Queremos sentir formigueiro na barriga, queremos transpirar só de pensar na possibilidade, queremos ter insónias a imaginar o fogo dessa paixão, enfim... queremos viver na NOITE, protectora de todos os segredos.
Em oposição. o Amor é DIA... Tudo está lá à vista, com segurança, com calma, suavemente sentimos e saboreamos a ternura de um gesto, de um afago, de um beijo!

Então encontro a explicação do meu fascínio pelo "O Beijo" de Klimt!
Num só beijo, o Amor funde-se com a Paixão!
Num só beijo vejo a possibilidade de amar apaixonadamente com PAIXÃO ou, com paixão enamoradamente AMAR! E isso é dádiva apenas para os Deuses!

Elsa Martins Esteves

a-ver-livros no fundo do mar: Cyril Roland

Usas os livros como lastro.
Corais de letras no fundo do mar que imaginas nos teus sonhos.
Usas os livros como almofada, ostras recheadas de pérolas a descobrir.
Usas os livros como ameias de castelo para os peixinhos brincarem.
É por tudo isso que os escrevemos.



* para conhecer melhor o ilustrador francês Cyril Roland, que também assina como AquaSixio, é só seguir o link http://aquasixio.deviantart.com/

Miguel Esteves Cardoso e os livros que mudam de casa...

Miguel Esteves Cardoso escreveu no Jornal Público de Domingo a sua habitual crónica «Ainda Ontem». Há dias, questionei o que seria abandonar a minha casa com tanto livro... Feliz acaso, o Miguel Esteves Cardoso está a mudar de espaço... Ou, então, anda a ler o nosso blog!


«Estamos a mudar de casa, a dormir na casa antiga e a transformar a casa nova, que era tão bonita, quando estava vazia, numa instalação anos 70 de pilhas de livros.

Saem caros e dão trabalho os livros que mudam de casa muitas vezes. Sofrem com as mudanças mas eu sibilo, entredentes, que é bem feito. É um pesadelo no verdadeiro sentido da palavra: é como aqueles sonhos em que se tenta fazer sempre a mesma coisa, sempre sem conseguir.

As pessoas que não percebem nada de livros e aquelas que "adoram" livros e acham que têm "imensos" porque têm umas centenas e "não têm onde arrumá-los"; que "amam" o cheiro dos livros e "não resistem" quando entram numa livraria; que eram "incapazes" de ter um Kindle porque "não prescindem" do peso e da "sensualidade, quase", de ter um livro impresso nas mãos, que folheiam como quem dedilha uma harpa ou uma peça de genitália; essas pessoas não se cansam de nos confortar, dizendo-nos que, quando os livros estiverem todos arrumadinhos (que nunca ficam), vamos sentir-nos em casa, contentes que cada livro está outra vez no lugar que era o dele.

É mentira. Os livros são uma praga. Quem tem o vício deles não se contenta com lê-los e tê-los. Precisa sempre de livros novos. E não prescinde dos velhos - mesmo daqueles de que não gostou muito e que tem a certeza de que jamais irá reler.

Que são a grande maioria. Aquela que se transporta. Aquela que mortifica. Aquela que revela a nossa futilidade. E despesa.»

*MEC, que tal uma estante da Fitting? http://www.fittingfitting.com/

domingo, 17 de junho de 2012

a-ver-livros ao domingo: Eileen Graham

A luz entra pela janela como uma benesse depois da manhã cinzenta.
Na cama revolta de nós, só eu e o que resta de ti.
E o livro que me ofereceste ontem.




* para conhecer melhor a pintora norte-americana Eileen Graham é só seguir o link eileen.fineartstudioonline.com

Assim se fecham as Feiras... não é um adeus, é um até já!


Chegamos ao fim, hoje chegamos ao fim de mais um ano dos diários da Feira. Primeiro em Lisboa e depois no Porto, conseguimos manter a actualização diária mais ou menos em registo de diário.
Lançamentos de livros, apresentações, infelizmente uns tantos obituários. Fomos a filmes que nos chegam dos livros, juntamos músicas e sonoridades, entrevistas e humor. Porque continuamos atentos a esta actividade como livreiros, editores e leitores; não nos distanciamos das coisas que correm mal. Fomos voz activa a fazer critica nos momentos em que esta voz se tinha que ouvir.
Não conseguimos fazer tudo o que queríamos mas não baixamos os braços. Não prometemos nada que não seja dar o nosso melhor e fazer-vos chegar o máximo de informação. Esperamos para o ano voltar a repetir e conseguir chegar ainda mais longe.
 
Um grande obrigado a todos e todas que nos acompanham seja pelo blogue, seja pelas redes sociais. Um abraço, um beijo, carinhos e livros para quem nos segue.
 
Agora vamos voltar ao nosso ritmo normal mas prometemos mudanças e novidades bem para breve... aguardem!
 
Até lá e porque os livros e o mundo dos livros continua a rodar, aqui fica já uma sugestão para a próxima semana para quem anda pela zona do Porto.

 VII Congresso Português de Sociologia

Sociedade, Crise e Reconfigurações

Porto, 19 a 22 de Junho de 2012

O programa completo pode ser consultado aqui

Poema à noitinha... Millôr Fernandes

Poeminha da Negação da Afirmação


«Sou um homem bem comum
sem nenhuma aspiração.
Não quero ser general
e muito menos sultão.
Sou moderado de gastos,
de ambição reduzida,
não sonho ser big-shot
estou contente da vida.
Nunca invejei o próximo
nem lhe cobiço a mulher,
pego o meu lugar na fila
e seja o que Deus quiser.
Não sou mau pai, nem mau esposo,
Grosseiro nem invejoso
- só um pouco mentiroso.»

*(foto - Millôr Fernandes)