sábado, 15 de novembro de 2014

Músicas que são livros: Gary Numan



 
Artist/Song: Gary Numan – Are Friends Electric? (from 1979’s Replicas)

Book: Philip K Dick’s Do Androids Dream Of Electric Sheep?

Lyric: “You know I hate to ask/But are ‘friends’ electric?/Only mine’s broke down/And now I’ve no one to love.”

 
 
 Are 'friends' Electric? 

It's cold outside
And the paint's peeling off of my walls
There's a man outside
In a long coat, grey hat, smoking a cigarette

Now the light fades out
And I'm wondering what I'm doing in a room like this
There's a knock on the door
And just for a second I thought I remembered you

So now I'm alone
Now I can think for myself
About little deals
And issues
And things that I just don't understand
Like a white lie that night
Or a slight touch at times
I don't think it meant anything to you

So I open the door
It's the 'friend' that I'd left in the hallway
Please sit down
A candle lit a shadow on a wall near the bed

You know I hate to ask
But, are 'friends' electric?
Mine's broke down
And now I've no one to love

So I find out your reason
For the phone calls and smiles
And it hurts
And I'm lonely
And I should never have tried
And I missed you tonight
So it's time to leave
You see this means everything to me
 
*este post é parte do seguinte artigo: 25 songs that reference books 

Foto frase do dia: Philip Pullman


Eu poético: «Aldeia»

Aldeia

recordo os abraços de mãe
nas noites de trovoada
e de lhe perguntar se aquela chuva toda
ia inundar o mundo.
recordo aquela manta que servia toda a família
quando chegava a hora da novela.
e aqueles passeios pelo campo
sem destino ou direcção.

as lareiras iluminavam as noites
de cheiro a madeira queimada,
a escuridão combatia-se com a luz fraca
dos candeeiros da rua.
e nós cantávamos canções,
dizíamos boas noites aos avós e tios,
e depois mergulhávamos nos lençóis gélidos.

ao nascer do dia
seguíamos em excursões sem fim,
prometendo a nós próprios
desbravar o mundo.
e o mundo era aquele campo de milho,
a ribeira e os sapos,
as pinhas
(que aqueciam a casa)
e as amoras
(que davam para fazer geleia).

recordo as incursões ao rio
e de como invejava o miúdo que nadava até uma pedra.
tão distante como daqui à lua, julgava eu.
recordo os dias de feira,
das galinhas, patos e perus.
recordo aqueles homens e mulheres
com as linhas da mão sujas
pelas enxadas que trabalhavam a terra
e pela lenha que tinham de cortar
para vencer o frio.

vivia-se com pouco,
mas vivia-se com um sorriso.
agora parecem memórias distantes,
impossíveis de repetir.

resta este poema
e a alegria de saber
que tudo isto existiu
- a memória deixa assim
de
morrer
comigo.

Rodrigo Ferrão
Foto: Rodrigo Ferrão

The favourite book of... James Franco


James Franco

“I loved Faulkner’s use of voice in As I Lay Dying. Not just the way the chapters are told by different characters in first person, but the way that the characters’ interior and exterior voices clash. The interior monologues are so much richer and more complex for Faulkner. He gives voice to the characters’ emotions for them. This isn’t a short story collection, but each character has his or her own story and perspective even if they are all linked by the burial of Addie.”

*este testemunho é parte integrante do artigo 50 Cultural Icons on Their Favorite Books, de Emily Temple - http://flavorwire.com/480819/50-cultural-icons-on-their-favorite-books/view-all

Apanhei-te a ler... dia 27

Audrey Hepburn
 
Encontrado no Pinterest.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações





Meu querido José

Escrevo-lhe a horas quase tardias, de frio, nevoeiro e chuva, horas de um Outono que parece calma, plácido, quase bucólico. A luz do seu quarto é uma constante. 
Espero, ainda, jovem demónio porque demora tanto a enviar-me os textos que relatam a nossa tarde, Primeira, entre as tílias do Botânico! Envie-me isso, por amor de Atena! 
Entretanto, segue mais uma impressão, talvez sem nexo, e sem desejo dele, diria Bernardo Soares, sobre a vida, o mundo, as pessoas, o tempo, sei lá, meu caro, sobre a realidade que é a maior ficção contada em tiras de vento e silêncio.
Bom, aguardo novas da sua parte, jovem positivamente enérgico e romântico!
Muito Seu.

Gonçalo V. de S.


“Demónios Interiores”

O sol de Nicosia é um sol que não encontro em parte alguma do mundo. A não ser no Cairo, ou talvez na Sicília, ou até mesmo nas encostas de Parma naquelas tardes de queijo e olivas que se derretem na boca que perscruta os passos enervados de uma cartuxa. Stendhal? Talvez com calma, com muita calma.
Mas por que falo eu do Sol da Europa, esquecendo o Sol, real, absolutamente certo e luminoso dos trópicos e do Equador, o Sol brasileiro dos morros verdes e cinzentos de gente, do Sol malaio que desce as encostas de azul, líquidas e douradas como um papagaio que só existe nos livros de literatura infantil e na cabeça dos génios-doidos que inventam mundos com vidas e pessoas e angústias e coisas sérias de gente séria?
Mas na minha aldeia as ovelhas brincam como nuvens pelas encostas e as coisas sérias parecem ser as colheitas e as ceifas e o pão, de milho, sempre quente, à porta das portas velhas das senhoras que me chamavam menino com palavras enrugadas pelo Sol, por esse mesmo Sol que agora pareço querer esquecer por entre o luar de Nicosia, o whisky e as palavras de vento, cretinas e cabotinas, criando efeitos exquis em senhoras de leque que imagino a meu lado, piscando-me o olho, numa coquetterie duvidosa, digna da alcova de um psicólogo desses Paris que surgem como epítome de todo o Romantismo. E o que é todo o Romantismo senão lama caída nos paletós de uns quantos sujeitos que, não sendo napoleónicos, sonharam, qual engenheiro naval, como nenhum Napoleão sonhou, ainda que tudo fosse uma grande, inevitável e Romântica ilusão.
Tudo é ilusão, Efraim, e o Romantismo, devagar, desvanece dos corpos cansados, da pele que cola aos lábios amantes com toques de jasmim e avelã e nozes e um Sol, indubitavelmente mundial, brilhando em tons de mel.
O Sol de Nicosia é um Sol que não encontro em parte alguma do mundo. Talvez noutras terras o haja outros Sol e outras vidas com sentimentos e coisas profundas e intensas dentro, como a humidade que entra pelas casas adentro em noites de chuva e trovoada.
Mas hoje o Sol. Na minha aldeia, as romarias. Em Nicosia, os veraneantes. Na minha aldeia, a procissão da santinha, o padre embutido numa silenciosa estola. Os miúdos rezando terços de feijão frade, ainda que o feijão não tenha culpa do nome. E a fumaça das locomotivas que rugiam pelo rio acima, trazendo o Progresso ou promessas dele, e da Modernidade que parecia entreabrir os lameiros, luzeiros de água paúlica.
Mas, mas e mas. Que impressão a minha de tantas adversativas num pensamento tão ténue e tão viajado por demónios interiores.
Efraim, traz o meu panamá. Vamos ver o mar.
Vamos ver o Sol.








Uma citação e uma sugestão antes de ir para a cama

"À sua maneira, os livros são bastante bons, mas não são mais do que sub-títulos anémicos da vida."

Quem o disse foi Robert Louis Stevenson - que até fazia anos hoje se fosse vivo -, escritor escocês que marcou indubitavelmente a literatura britânica do século XIX, nomeadamente com um clássico em versão novela gótica com laivos de ficção científica e terror, que tem atravessado os tempos: "O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde".

Só por isso, acrescento um trecho desse livro - que, talvez não o soubessem, chegou a valer um Oscar de Melhor Actor a Fredric March por causa de uma versão cinematográfica de 1932. 

"Minha análise da alma, da psique humana, leva-me a crer que o ser humano não é verdadeiramente um, mas verdadeiramente dois. Um deles esforça-se para alcançar tudo que é nobre na vida. É o que chamamos de lado bom. O outro, quer expressar impulsos que prendam-no a obscuras relações animais com a terra. Esse é o que podemos chamar de mal...”  

Um livro a ler, se me permitem a sugestão. 

Ana Almeida

Poster de 1880

Músicas que são livros: The Strokes


Artist/Song: The Strokes – Soma (from 2001’s Is This It?)

Book: Aldous Huxley’s Brave New World

Lyric: “Soma is what they would take when/Hard times opened their eyes.”

Also: Soma is the name of a hallucinogen given in Huxley’s Brave New World – the drug is also referenced by the Smashing Pumpkins and deadmau5 in their songs of the same name.


Soma

Soma is what they would take when
Hard times opened their eyes
Saw pain in a new way
High stakes for a few names
Racing against sunbeams
Losing against their dreams

In your eyes

And I am
Stop
And go
In your eyes
See, I am
Stop
Oh, darling, let me go

Let's go

When I saw her for the first time
Lips moved as her eyes closed
Heard something in his voice
And, "I'll be there"
He says
Then he walks out
Somehow he was trying
Too hard to be like them

And I am
Stop
And go
In your eyes
And I am
Stop
Oh, darling, let me go

Tried it once and they like it
And tried to hide it
Says, "I've been doing this twenty five years"
Well I'm not listening no more
And these friends they keep asking for more
Oh, yeah
Oh, but that's it

*este post é parte do seguinte artigo: 25 songs that reference books


Foto frase do dia: Dalai Lama


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

São viciados em livros?

a-ver-livros: primordial

Espero a flor da magnólia
como quem
espera
anjos em noite divina
por entre a chuva
miúda
a malhar a calçada
primordial
deuses descalços na terra molhada
sementes, abelhas
que hão-de vir
palavras que ainda não inventámos
espero a magnólia
como te espero
sei que vens 
se acabar o inverno

Ana Almeida

* para saber mais sobre a ilustradora italiana Monica Barengo
siga o link http://nikillustrazioni.blogspot.nl/

ESCRITORES PROCURAM-SE!

O Bairro dos Livros está à procura de novos escritores. Publique connosco!

Tem uma obra fechada na gaveta? Queremos ser a sua editora. Conte com uma equipa dedicada, profissional e apaixonada pelos livros para publicar a sua história no Bairro mais bonito do Porto.

Mais informações através do email cultureprint@gmail.com, colocando no assunto "escritores procuram-se".


foto e texto: Bairro dos Livros

Acompanhe o Bairro no Facebook: https://www.facebook.com/bairrodoslivros

Poesia em matéria fria: Daniel Faria

Siga a página no facebook: https://www.facebook.com/poesiaemmateriafria

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Eu poético: «Um dia»

Um dia

Um dia quando era pequeno,
aprendi a palavra
para
lele
pípedo.
---
Paralelepípedo...
Repetia em voz alta.
---
E ficava a ouvir o eco.
O eco do
para -- para -- para
lele - lel - le
pí -- pí -- pí
pedo -- do -- do.

Depois aprendi na escola
que paralelepípedo não é mais
do que geometria.
Prisma de seis faces,
duas são idênticas
e paralelas entre si.

Um dia quando era maior,
percebi a palavra
a
m
o
r.
---
Amor...
Escondi-a lá no fundo.
---
E ficava a chorar a saudade.
A saudade do
a-a-aaaa
mmm - mmm
oo - oo - oo
r.

Depois aprendi com a vida
que amor não é mais
do que geometria.
Prisma de várias faces,
múltiplas pessoas idênticas
e raramente paralelas entre si.

 

Rodrigo Ferrão
Foto: Rodrigo Ferrão

É do borogodó: poeminho do dia seguinte

o amor é uma cilada:
alguém que quer alguém
de quem sinta a falta.

Penélope Martins

Editora PruX Táta: O último voo do javali

Mais uma novidade da PruX!

 Uma história de um super-herói cujo super-poder é vencer os adversários com neologismos, baralhando-os ortograficamente até à morte.

Conheça Zulmiro, o super-javali, neste "O último voo do javali", em luta conta Amilcar, o caçador de perdizes anãs. Vejamos este excerto:
"- Com que então, encontramo-nos, por fim! - disse Amilcar....
- Sim, mas é um término para finaniquilar-te - retorquiu Zulmiro.
- Fina... quê?
- Pois, era como eu pensidealizava. Não tens formação para competibateres comiguesmo.
- !!!???
- Prepara-te para lutaleceres.
- Espera! Queria antes dizer-te algo.
- Olha, falisso!
- Falisso?
- Fala aqui para o p...
- ... já percebi! Que super-poder mais brejeiro.
- Brejeiralho! Foram as tuas últimas palavreias. Estás prestes a experimentar o suspirúltimo.
- Nããããoooo!
- Já está? Mas nem te tosoquei?
- Adeus, mundo cruel!
- Nem na despedida sabes falar direito - Adeus, munduel!"

Assim se fazem os heróis ou como diz Zulmiro "Assim se faróis".

Até breve!

*Acompanhe a Editora PruX Táta em: https://www.facebook.com/groups/374405188554/
*Acompanhe o blog O Javali de Vladivostok - http://ojavalidevladivostok.blogspot.pt/


Foto frase do dia: Jacqueline Kennedy


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Amanhã acordem assim, com Sophia

 
*Sophia de Mello Breyner Andresen

a-ver-livros: da separação

Separa
a gema da manhã clara
e a água do fogo
Separa
a fome da sede
o vento do medo
o espaço largo
do âmago confinado
da magnólia em botão
Separa
o movimento do olhar
desse andar
que leva distância
e a tangibilidade do sexo
da impureza bárbara
do amor
Separa
- e depois reata
o nó, faz-lhe um laço
no fim

Ana Almeida

* para saber mais sobre a artista norte-americana Melissa Nucera
siga o link https://www.etsy.com/pt/people/ThisYearsGirl

Músicas que são livros: Led Zeppelin


Artist/Song: Led Zeppelin – Ramble On (from 1969’s Led Zeppelin II)

Book: Tolkien’s Lord Of The Rings

Lyric: “'Twas in the darkest depths of Mordor/I met a girl so fair/But Gollum, and the evil one crept up/And slipped away with her.”


Ramble On

Leaves are falling all around, it's time I was on my way
Thanks to you, I'm much obliged
For such a pleasant stay, but now it's time for me to go
The autumn moon lights my way

For now I smell the rain
And with it pain, and it's headed my way
Sometimes I grow so tired
But I know I've got one thing I got to do

Ramble on and now's the time, the time is now, to sing my song
I'm going around the world, I got to find my girl, on my way
I've been this way ten years to the day ramble on
Gotta find the queen of all my dreams

Got no time to for spreading roots
The time has come to be gone
And to our health we drank a thousand times
It's time to ramble on

Ramble on and now's the time, the time is now, to sing my song
I'm going around the world, I got to find my girl, on my way
I've been this way ten years to the day ramble on
Gotta find the queen of all my dreams

Mine's a tale that can't be told, my freedom I hold dear
How years ago in days of old when magic filled the air
T'was in the darkest depths of Mordor, I met a girl so fair
But Gollum, and the evil one crept up and slipped away with her, her, her, yeah

Ramble on and now's the time, the time is now, to sing my song
I'm going around the world, I got to find my girl, on my way
I've been this way ten years to the day ramble on
Gotta find the queen of all my dreams

Gonna ramble on, sing my song, gotta keep-a-searching for my baby
Gonna work my way, around the world
I can't stop this feeling in my heart, gotta keep-a-searching for my baby
I can't find my bluebird 


*este post é parte do seguinte artigo: 25 songs that reference books 

Poesia em matéria fria: Clarice

Siga a página no facebook: https://www.facebook.com/poesiaemmateriafria