sábado, 25 de abril de 2015

Snobidando: Fernando Echevarría

Hotel Room - Edward Hopper

ORAÇÃO DA NOITE

A carga do trabalho oferecemos....
E a graça dele que de Ti nos vem.
Para a noite pedimos-Te silêncio.
Que nem negues repouso a mais ninguém,
nem esse naufragar no esquecimento
que é morte provisória. Mas também
porto de arrimo aberto
de onde, a sombra despida, enfim se vê.
Ou seja o sono uma vigília perto
dessa tarefa que acrescenta ver.


Fernando Echevarría, Antologia
Edições Afrontamento
 
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Bai'má Benda: Sábado 8 da manhã, the training begins...

Sábado 8 da manhã, the training begins...

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Estantes de sonho: do meu quarto para o mundo

Deste quarto velho... vejo o mundo!
 
Encontrado na página Bookshelf Porn. A não perder por nada! 


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Judith Teixeira: «Um Sorriso que Passa..."


*Judith Teixeira, in Poesia e Prosa
Organização de Fábio Mário da Silva e Cláudia Pazos Alonzo

Dom Quixote, 2015

Ocupar o tempo

Snobidando: Bukowski

"Oh Yes," Charles Bukowski

there are worse things than
being alone
but it often takes decades...
to realize this
and most often
when you do
it’s too late
and there’s nothing worse
than
too late.
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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações



Meu querido José,

Que é feito de si, jovem das biográficas tentações? Aguardo, ainda, novas suas em relação aos textos que lhe enviei. Espero que os vá revelando em doses lenitivas, não vá o leitor pensar que andamos por cá a inventar pessoas e situações. Para quê inventar personagens quando o ser humano é a maior figura da ficção que podemos encontrar?
Deixei a Irlanda ontem à noite. Encontro-me agora por terras dos touristes e dos flâneurs! Eis-me em Paris, jovem das paixões para dentro! Tenho revisitado velhos amigos (Edgar Morin continua um diletante e um intelectual soberbo, para não falar que ainda gosta do seu passo de dança!) Tenho revivido pelas ruelas de Montmartre e pelas longas escadarias do Sacré-Coeur toda uma juventude de lírios, passeios, beijos e revolução.
Envio-lhe mais algumas memórias e apontamentos. Confesso que alguns destes apontamentos têm o ensejo que quererem ser aforismos e, sinceramente, não me agrada nada essa postura de uma escrita semi-pseudo-profética ou de mestre! Blague para isso, meu amigo.
Tenho bebido um Chambertin (Já Eça punha o Carlos, o seu Ega e o Craft partilhando taças deste néctar), que nem os deuses sonham com o seu paladar! Levar-lhe-ei umas quantas garrafas, esteja descansado. (Sei que do vinho tem o amor, a sede e a vontade!) O bom gosto, disso trato eu!
Pois bem, jovem das literárias cornucópias, publique alguns apontamentos que lhe fui revelando ao longo das missivas, mais uns quantos que ora seguem.
Efraim andou longo pelos Champs-Elysées, à procura do 202 de Jacinto! Pobre semita, sempre confundindo o universo do papel com o da realidade do ferro da Tour Eifel!
(…)
Quanto àquele outro assunto do qual me pediu conselhos só lhe posso responder: leia! Leia como um doido! E não comece com as suas viagens interpretativas que vão desembocar sempre num cais em Chicago do século XIX ou então num aeroporto lunar de Viena do século mil!
Despeço-me à pressa, pois escrevi esta missiva em cima do joelho, enquanto Efraim e eu viajávamos pelo Sena num daqueles barquinhos de turismo.
O kitsch tem destas coisas!
Abrrraço do Efrrraim.
Outro, deste sempre
Seu

Gonçalo V. de Sousa.


A melhor forma de viajar é para fora de nós. Viagens interiores devem ser feitas em quartos fechados. Não em quartos de grandes hotéis internacionais, onde o cheiro das línguas de todo o mundo se mistura ao sabor da laranja acabada de espremer ou da torrada queimada de um lado e barrada de manteiga do outro.
Viajar deve ser um estado de alma, assim como deambular. A deambulação é a fibra dos vagabundos e dos touristes.

A mulher, assim como a ficção e o whisky e o gin, e as coisas belas, e Wagner, e a Bossa Nova e o Jazz e as grandes paisagens românticas e a cuíca e Paris e Rio de Janeiro e todos os azares e todas as alegrias, são as melhores coisas da vida. A vida, nas suas múltiplas e facetadas surpresas luminosas ou sombrias, é o melhor que podemos fazer. E o melhor é amar, compreender e ser bom para com tudo e para com todos. A vida perfeita é a poesia da nossa mortalidade, imortalidade que não está ao alcance dos deuses, banais na sua eternidade.

A mulher, sim, a mulher é o perigo que faz do homem aquilo que ele deve ser verdadeiramente: um cavalheiro elegante e de bom gosto.

Entre o whisky e uma fortuna de milhões, prefiro um copo de um bom puro malte. Se o whisky é o cão engarrafado, então a ficção é o cão para dentro.





Mas que nunca calem a tua vontade de quereres ir para lá dos cumes das montanhas, ou dos bruxuleantes céus que se escondem em donaires desejos nocturnos. Merencório deve ser o teu espírito, homem de hoje, deixado num canto de uma cidade abandonada à pressa pelo caos do individualismo. Colhe as tuas flores, cheira-as, mas não as largues. Guarda-as porque ser triste é ser só


Gastamos a vida a existir para fora, quando deve ser para dentro que as escavações devem continuar. Que nos adianta os tesouros imensos e infinitos de cofres europeus, fartos e cosmopolitas? De que nos adianta a suprema beleza das coisas se não formos bondosos e tolerantes. Só pelo amor das coisas belas seremos capazes de nos salvar. Ou amamos as coisas belas e as preservamos, ou perderemos aquilo que ainda podemos ser.

Os erros ortográficos sempre me engasgaram a alma. A minha pátria é o bom gosto das coisas belas e boas e justas.
Os erros ortográficos sempre me criaram indigestões estéticas. A minha língua deve ser a minha casa.
O tempo dos Estados-Nação terminou. Vivemos hoje no tempo do desejo da universalidade estética.
O Pós-Modernismo é a forma de dizermos de forma inteligente e olhar académico que falhamos os propósitos que os românticos nos deixaram.

Sem o Romantismo não seríamos nada, ou então seríamos muito piores.

A política é o lodaçal. Sem o Eça a política jamais teria piada.

O Romantismo é o cais de embarque dos sonhos europeus e indígenas.


Sou um colecionador de sonhos

Sou-o pela razão de não ter visto modo de encontrar outro ofício para o qual tivesse a minha genética herdado habilitação. Acontece que, para trabalhos do físico, tenho grande lacuna de forças e vontades. Só de lhes dirigir o pensamento, que também por si é fraco, mas já lá iremos, sinto-me dez vezes desgostoso, outras dez paralisado e sem meio de saber o que fazer. Quando tenho infelicidades desse tipo, salvo-me na única acomodação que tenho no mundo, podendo vós tratá-la por Senhora Doutora Cama, que também ela merece distinção pelo sossego que me empresta.
Para as coisas do pensamento, ou da inteligência, se for essa a preferência de vocabulário, sou uma tristeza duplicada. Nas Matemáticas tenho desempenhos ridículos, péssimos, os piores no mundo. Falando sincero, nem contar sei, facto esse que tantos trocos me tem subtraído em tudo o que é mercearias e negócios de bairro. Nos outros saberes da cabeça, Línguas e Histórias e coisas das Filosofias, sou um género de nevoeiro absurdo, incontrolável na expansão, que na proporção do tempo se vai estendendo sobre os pensares dos outros e, para grande desassossego, acaba por lhes queimar a paciência para o diálogo que ousam ter comigo. Isto porque, de todas as vezes que falo, querendo-me fazer de grande sabedor e teórico dos maiores, acabo acabado, empurrado contra o chão, sangrando de vergonha e salivando como se fosse minha a saliva de todos os seres do mundo, reunida na tentativa de me afogar. Está aqui então explicado o meu desastre doloroso que, atuando como entidade implacável, vai murchando tudo o que na minha volta tente florir.
Porém, sou um colecionador de sonhos. Pela rua vagueio, meio curvado meio direito, dois meios que perfazem um zero. Recolho sonhos de toda a espécie, brancos e pretos, do dia e da noite, do espírito e da carne. Estão eles quase sempre perdidos nos entrefolhos da calçada, bem escondidinhos e de difícil acesso, esquecidos pelos homens que em tempos lhes deram início. O que vale é que tenho em minha conta o material necessário para a colheita. Uma foice um género de pá e um íman de sonhos, sendo os dois primeiros herança de família e este último um instrumento imaginário, produto da minha ausência de cérebro, tão maléfica para os saberes mas tão benéfica para estas coisas de sonhos.
Assim me vou entretendo com este divertimento, não me importando com chuvas e frios, velórios e nascenças, trabalhos e obrigações. Enchem-me estes sonhos o nada que me rouba o tudo de todas as coisas que não sei fazer, e por isso sou tão feliz.

Gonçalo Naves

                           Foto tirada daqui: http://olhares.sapo.pt/retratos_de_lisboa_2_foto543883.html


a-ver-livros: linhas e riscos

Estão a riscar 
os céus por cima de mim
e há traços por fazer
cá dentro
que não atrevo
um poema mil vezes
escrito
mil vezes rasgado
na pele do peito
espécie de epitáfio
antecipado talvez testamento
em arremedos de sombras
e segredos revelados

Terceira a linha nos céus
e nas minhas mãos 
só aquela que deixou de fazer
sentido
- amor

Ana Almeida

http://www.savagechickens.com/

Foto frase do dia: J K Rowling

Encontrado na página For Reading Addicts

Mar Babo fotografa frase de Lídia

Foto: Mar Babo

quarta-feira, 22 de abril de 2015

In Notas Sobre a Melodia das Coisas


E há também momentos em que, diante de ti, uma pessoa, calma e límpida, se destaca contra o fundo da sua magnificência. Estes são raros instantes festivos, que tu nunca esqueces. Isso significa que te empenhas a copiar com as tuas mãos ternas os contornos da sua personalidade, tal como a conheceste naquela hora.

Bai'má Benda: Bichaninho bedelhudo!

Bichaninho bedelhudo!

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terça-feira, 21 de abril de 2015

devir

no campo de alfazema
o teu corpo flor poema
deita-se em uma canção
espiga aberta na mão

quero colher-te a poente
onde o cheiro mais se sente
que o sol funde-se no seio
do lugar que a vida veio

e assim numa roda viva
seremos céu entre saliva
terra que o fogo conhece
o amor pelo outro floresce.

Helder Magalhães


Natalia Drepina Photography

É do borogodó: poeminho do dia seguinte

o amor é uma cilada:
alguém que quer alguém
de quem sinta a falta.

Penélope Martins


Foto frase do dia: Maya Angelou


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Judith Teixeira: «Quando, Não Sei..."


*Judith Teixeira, in Poesia e Prosa
Organização de Fábio Mário da Silva e Cláudia Pazos Alonzo

Dom Quixote, 2015

Bai'má Benda: surpresa...

Esta semana rebelarei a SUPRESA c'ando a preparar cum tanto amor e carinho e essas porras todas! Estejom ateuntos! 

Intretanto o pessoal cá da terra já sabe o qui é, ora bejam as reações...

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Foto frase do dia: Neil Gaiman


domingo, 19 de abril de 2015

Cabeça-de-vento


Cabeça de Vento, de ANA CRISTINA DIAS (detalhe)

A primeira vez que lhe chamaram cabeça de vento estava na escola primária.
Talvez mesmo na primeira classe.
Os meninos de bata amarela.
Canários em linha, como molas de roupa sem roupa não numa corda mas dentro de uma gaiola.
Guarda uma memória amarela.
Os meninos sentados, plantados nas carteiras, um campo de girassóis de olhos encandeados por um sol negro de ardósia, duas dúzias de olhos cegos de espanto por perceber que os estranhos desenhos eram palavras e que as palavras eram feitas de letras, uma matrioska, parecia marosca.
P-a-t-o.
G-a-t-o.
Parecia estranho, era estranho, porque para ela, um gato, sete vidas, quatro patas, um rabo, muitos bigodes e dois olhos amarelos como os berlindes que guardava no bolso.
Olhava para o enorme quadro negro e gato nenhum, nem escondido, denunciado por um rabo de fora.
Ouvia a explicação na voz de locutor de rádio sem música do professor e perdia-se, fugia, para lá das enormes janelas, tão grandes que a deixavam ver a cidade inteira.
Mentira, sabe que é feio mentir, se a cidade uma laranja, uma tangerina porque a cidade pequena, via apenas meia tangerina, o que já é muito ver para uma janela.
E de olhos na janela, para lá do vidro, perdia-se à procura do gato, procurava ao sol à soleira das portas, à porta da peixaria, camuflado entre os cortinados de uma janela, entre dois vasos com sardinheiras, a atravessar a estrada dentro ou fora da passadeira, pelas árvores, pelos muros, pelos telhados.
Chamavam-lhe cabeça-de-vento e diziam que fazia muitas avarias.
Ou tinha muitas ideias e nem todas corriam bem.
Convém ser boa a correr.
Não era o seu caso. Corria, tropeçava, caía, como se uma sequência com lógica.
Os joelhos pele de crocodilo, crosta sobre a crosta da primeira ferida.
E a correr, entre a lebre a tartaruga, ela um peixe.
Dentro de água ninguém a apanha, ninguém lhe ganha.
Ia ao fundo como se fosse à lua.
Para mais na cidade um rio, nos seus Verões um rio.
Quando ia ao fundo deixava todos de olhos pendentes e respiração suspensa, como a sua debaixo de água, até ao seu regresso, hesitantes quanto a mergulhar também, no limite do susto, até que emergia ofegante, sorridente, e sempre com uma pedra na mão, prova oval e concreta da sua audácia.
Tinha no quarto um frasco de vidro onde em vez de bolachas ou biscoitos guardava pedras do fundo do rio. A avó sabia que tantas as pedras como as vezes que ficou com o coração nas mãos por saber como o rio é matreiro com os invasores.
Porém ela um peixe.
E apesar das pedras, a avó nunca a chamou cabeça-de-vento, talvez soubesse que ela um peixe, inconsciência, audácia, guelras e barbatanas.
De olhos tristes com um sorriso perdoava-lhe todas as asneiras.
Mesmo quando os berlindes lhe fugiram do bolso, como se tivessem pezinhos.
Fugiram, avó! – Um eufemismo.
Fugiram-me do bolso e sem querer fizeram cair o professor no corredor da escola.
Mau humor fracturado em dois sítios, fato de fazenda de três peças e braço esquerdo engessado ao peito, passou a ser conhecido entre os girassóis como o pau-de-giz.
Tem tempo para a tristeza a menina. – Ouvia-se a avó dizer como se de uma ordem se tratasse, ao tempo, à tristeza e a todos os que queriam corrigir a menina.
Pelo que em casa da avó um mundo diferente, o tempo sem sobressaltos e o seu cocuruto em sossego.
Um mundo pequeno. A avó não tinha muito. Uma casa. Um gato. Uma figueira e na figueira quando figos pássaros.
A avó não tinha muito mas tinha muitas histórias para contar.
Conta outra vez a da menina que tinha um tapete voador.
E a avó contava, a mesma história, sempre de forma diferente, como se não atinasse com a história, pelo que sempre uma surpresa, um espanto.
Era uma vez um tapete que de tanto voar, voou mais do que avião, tanto como foguetão, chegou à lua, fez da menina astronauta.
A avó nunca andou de avião.
A avó só conhece os aviões de os ver passar no céu lá longe, pequenos como pardais, lá longe, na lentidão dos caracóis deixando um rabo de fumo.
A avó nunca viu foguetões, nem mesmo na televisão, que serve para as notícias e não mais, sabe sem saber bem o que são, imagina-os como foguetes gigantes, velozes e barulhentos como os que lançam na festa de Nossa Senhora da Assunção, grandes como camionetas, capazes de levar gente dentro, capazes de aterrar na lua, pelo menos quando gorda e cheia, apesar de tudo somado lhe parecer fraca brincadeira, porque fraco passeio para piqueniques.
Porém a menina gosta de ir à lua.
Foi a primeira astronauta da turma.
Pelo que a avó, se o avô a dormir a sesta, ia ao bengaleiro buscar a boina e o chapéu de levar à missa ao Domingo, dois capacetes, enfiava a boina na cabeça da neta até às orelhas, que assim devidamente protegida, 10-8-7-4 começa de imediato a contagem decrescente, contava ao contrário sem ainda bem saber contar, estado de euforia uma única vez interrompido, não para abortar a missão lunar, nem impedir a humanidade de dar mais um salto, mas por se lembrar, em respeito pelo original, que lhes faltava uma bandeira, a avó sabia que era imprescindível levar uma bandeira.
Temos de fazer uma bandeira. – disse antes de descolar o foguetão.
Tenho uma velha almofada solteira, cortamos uma galho seco à figueira.
O que é uma bandeira? – Pergunta a menina ansiosa perante a nova palavra e a novidade.
Uma bandeira! Como te posso explicar, é como uma fotografia. Estás a ver a fotografia do avô que guardo na caixa de costura, tem o bigode do teu avô, os óculos do teu avô, o chapéu do teu avô, o sorriso do teu avô, os seus vinte anos, o bolo de chocolate de que tanto gostava, o dia em que me pediu em casamento, o dia em que nasceu a tua mãe, o dia em que tu nasceste, é um quadradinho de papel que tem dentro todas as histórias de um país e os sonhos também.
Então a minha bandeira tem de ter uma bicicleta! O pai disse que se eu me portasse bem me oferecia uma bicicleta no meu dia de anos.

Cabeça de Vento, de ANA CRISTINA DIAS, Pintura em Livro

Os melhores dias

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Bai'má Benda: surpresa...

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