sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Carregas em ti todo o Outono do mundo


Sei dos candeeiros que te incendeiam a noite por dentro.
Sei dos mares que te pintam os cabelos
De finíssimo azul.
Sei do céu que se veste sorridente
Colorindo-se de ti.

Sei não existir folha no passeio
Que não seja caminho
De mim para ti.

Todas as cores do céu,
São todas as cores em que te vejo.

Todas as cores do céu,
São todas as cores do amor.


Gonçalo Naves


    Foto tirada daqui: http://www.50emais.com.br/cultura/uma-homenagem-do-50emais-a-todos-os-poetas/attachment/mulher-outono/

Todos os tempos verbais à conquista da Feira do Livro do Porto, pelas mãos da Snob


Enquanto não chega a apresentação oficial, fico muito feliz por comunicar que o meu primeiro livro («Todos os Tempos Verbais») irá estar à venda no stand da livraria Snob, durante todo o período da Feira do Livro do Porto

A Feira do Livro é de 4 a 20 de Setembro, nos jardins do Palácio de Cristal. Procurem o stand 65 (Livraria Snob | Livraria Miguel de Carvalho).

Quem sabe se não tomamos um café num desses dias?

Rodrigo


Foto poema: Zunhis


terça-feira, 1 de setembro de 2015

nenúfares


saberíamos o tempo
do rútilo a cobrir as mãos
abertas na noite entre os nenúfares

como se tudo se desabotoasse
na graça que a entrega compreende
e de pétalas a brancura se eternizasse pele.

Helder Magalhães

Ana Viegas Fotografia

É do borogodó: Dos Chatos, de Mário Quintana

"O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa… Me lembro que fiz um soneto inteiro — bem certinho, bem clássico e tudo — durante o assalto ao Quarto do Sétimo, isto é, quando um veterano de 30 me contava mais uma vez a sua participação nas glórias e perigos daquela investida.
As velhotas que nos contam seus achaques também são de grande inspiração poética.
Mas que fazer contra a amabilidade agressiva do chato solícito? Aquele que insiste em pagar nossa passagem, nosso cafezinho, ou quer levar-nos à força para um drinque, ou faz questão fechada de nos emprestar um livro que não temos a mínima vontade de abrir…
Ah! ia-me esquecendo dos proselitistas de todas as religiões. Os proselitistas amadores, que são os piores. Quanto aos sacerdotes que conheço, registre-se em seu louvor que eles sempre me falam de outras coisas. Ou me julgam um caso perdido ou um caso garantido… Bem, qualquer que seja o caso, deixam-me em paz.
O que pode acontecer de mais chato no mundo é o chato que se chateia a si mesmo, o autochato.
Para essa extrema contingência, descobri em tempo que a última solução não é o suicídio. É escrever, desabafar para cima do leitor, o qual, se me leu até aqui, a culpa é toda dele.
Há gente para tudo…"

Mário Quintana
* Publicação do Caderno H, 1973.

** escolhido por Penélope Martins

Foto poema: Carlos Edmundo de Ory