sábado, 19 de maio de 2012

«O Direito ao Delírio», por Eduardo Galeano



Este vídeo pairava pelas redes sociais. Apanhei-o no mural da Clara Amorim. São palavras belas e escolhidas a dedo por um grande poeta, Eduardo Galeano. Nascido em 1940, o escritor e jornalista, tem mais de quarenta livros traduzidos em várias línguas.

Vale a pena escutar a reflexão, dita pelo próprio num programa da televisão.

Memória de Sá-Carneiro

Nasceu há 122 anos, contados ao dia de hoje. Um número sem nada de redondo. Apenas uma desculpa para o lembrar e à sua curta vida de 26 anos, um velho por dentro, cheio da morte que versou e prosou e a cujas braços se entregou sem pestanejar, numa ânsia de viagem. Chamava-se Mário de Sá-Carneiro.


"Quando eu morrer", diz o poema, "batam em latas, / Rompam aos saltos e aos pinotes, / Façam estalar no ar chicotes, / Chamem palhaços e acrobatas! / Que o meu caixão vá sobre um burro / Ajaezado à andaluza... / A um morto nada se recusa. / E eu quero por força ir de burro!"

António Quadros escreve: "Não foi de burro, ajaezado à andaluza, mas de smoking, isto é, de grande burguês em traje de gala ou 'lepidóptero' engalanado, o que ia dar ao mesmo, que Mário de Sá-Carneiro se matou, preparando de antemão um efeito teatral". À terceira fora de vez, era dia manchado de Abril.

Como se explica esta obsessão pela morte? Em "Página de Um Suicida", incluído em "Princípio e Outros Contos", das Publicações Europa-América, gato escondido com rabo de fora na 'voz' da personagem Lourenço Furtado, o poeta revela-se. Ou não?

"Afinal, sou simplesmente uma vítima da época, nada mais... O meu espírito é um espírito aventuroso e investigador por excelência. Se eu tivesse nascido no século XV descobriria novos mares, novos continentes...
No começo do século XIX teria inventado talvez o caminho-de-ferro... Há poucos anos mesmo, ainda teria com que me ocupar: os automóveis, a telegrafia-sem-fios... Mas agora... agora que me resta?... A aviação?... Pf... essa já nada me interessa depois dos últimos resultados dos Wright e de Farman... Para o Pólo Sul partiu há pouco o Dr. Charcot...
Não há dúvida: a minha coisa interessante que existe actualmente na vida é a morte!... Pois bem, serei eu o primeiro explorador dessa região misteriosa, completamente desconhecida...
E que viagem tão cómoda! Nem sequer é preciso arranjar as malas!"

No conto, um tiro. Na vida, cinco frascos de arseniato de estricnina, comprados em diversas farmácias. Sim, que a um morto nada se recusa. Sequer o veneno da memória.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Milagre da Vida, por Albert Einstein

Chegou-me às mãos este pensamento do físico Albert Einstein. Uma pessoa nunca sabe bem se são palavras próprias (por ausência de livro), mas conta a intenção. E, de facto, vale a pena partilhar!


"Pode ser que um dia deixemos de nos falar... 
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre."

O Passos na Feira e o Editor Refratário

Ainda em jeito de balanço da Feira do Livro de Lisboa vale a pena espreitar este episódio do programa Inferno do Canal Q, das Produções Fictícias.

Para além de uma passagem pela vaia ao Primeiro Ministro na Feira do Livro e de umas declarações do mesmo, estranhas no mínimo,  sobre as suas recentes leituras. Podemos ver também uma excelente entrevista com Luís Oliveira, fundador e editor da Antígona, que passa os olhos e comenta para além do estado da leitura, no país, as recentes polémicas que acabaram por marcar esta edição da Feira do Livro de Lisboa.

Sem mais demoras aqui fica:


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Pessoa... Os contos pela Antígona

Chegou hoje às lojas o livro «Contos Completos» de Fernando Pessoa, uma colectânea que reúne, em 180 páginas, o Pessoa heterónimo - com textos já conhecidos e inéditos.

Publicado pela Antígona, "Contos Completos inclui Contos Completos & Crónicas Decorativas – entre os quais o celebrado conto «O Banqueiro Anarquista» e a curiosa ficção «O Automóvel Ia Desaparecendo», escrita como texto publicitário para uma marca de tintas de automóvel –, «Fábulas para as Nações Jovens» – um conjunto de seis contos transcritos a partir dos originais que se encontram no espólio do autor, na Biblioteca Nacional –, «O Marinheiro: Drama Estático em Um Quadro» e «Contos Selectos de O. Henry traduzidos do original inglês por Fernando Pessoa», publicados na revista Athena, entre Dezembro de 1924 e Junho de 1925."

A sinopse do livro acrescenta que: "Fernando Pessoa, além da sua produção heteronímica, dispersou em vida, por jornais e revistas, ficções narrativas marcadas pelo humor, pela inteligência, pelo absurdo e pela ironia, agora reunidas em volume, a par de três inéditos."

Uma obra essencial para a nossa biblioteca e para a compreensão de um escritor ímpar.


Imaginem uma infância sem livros... "Reading Is Fundamental"

Conheçam o projecto "Reading Is Fundamental" (RIF). Porque ler vai formar as pessoas de amanhã.


Além do vídeo que hoje vos deixo, apresento o site da organização - vale a pena espreitar - http://www.rif.org/

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Filip, a humilhação e a gaivota...




"A dor dura-lhe pouco tempo. Desaparece independentemente do que acontece, lentamente e sem grande espalhafato. Em vez disso, pensa na gaivota.
 O que quer ela? Como se pode saber isso? O que quer a Ida? Vejo a mesma coisa quando olho nos olhos da gaivota e nos da Ida. Não sei exatamente o que elas querem, mas entendo-as e sei que olham para mim. Não tenho tanto medo da Ida quanto da gaivota. Embora isso frequentemente doa. Mas não a mato por isso? Há que aguentar as coisas. Mas, e se não se conseguir aguentar? Sim, o Kalle tinha razão, há que, por fim, acabar com elas. Mas aguenta-se muito tempo. Depois, é como se se esquecesse que magoou. E esquece-se que o que magoa, magoa.
 Inclina-se em frente e pedala o mais que consegue. ouve o guincho dela, mas não a vê. Quando se vira para trás, ela flutua com o seu bico amarelo e as suas asas pretas e brancas um metro atrás da malinha da bicicleta.O coração dispara e ele continua a pedalar ainda mais depressa, sempre com um terror que lhe atravessa o corpo como água a cair. Vira-se para trás uma vez mais e vê-a abrir o bico e emitir um guincho.
 Que bonita que ela é, pensa ele com o coração na boca."

                                                     

terça-feira, 15 de maio de 2012

a-ver-livros: Ela sou eu

Ela sou eu. Quero mil páginas mas o dia pesa. O livro pesa. Os olhos pesam e o sono acaba por ganhar. Ela sou eu. E provavelmente tu. E é assim que os quadros de Joseph Lorusso se tornam parte de nós.


Quanto mais os olhamos mais as mulheres que lêem, que liam e adormeceram, livro caído a seu lado, que sorriem ao de leve enquanto passam página após página, a chávena do café a arrefecer ali tão perto, somos nós. Presas numa intemporalidade suave e acolhedora, romântica até, elas/nós vivem/os nos traços clássicos que o pintor adoptou para as traduzir.


De Joseph Lorusso - o homem que assim se apodera de nós sem nos conhecer - pouco reza a história que nos chega. Com 45 anos, este descendente de italianos nascido em Chicago e a viver no Kansas, casado e pai de uma menina pequena, primeiro designer da famosa marca de postais Hallmark e agora professor numa escola de artes local, teve a sorte de, na infância e adolescência, ser levado a visitar a Itália paterna e os museus que acolhem os grandes mestres da pintura. 


 Do que a internet nos permite vislumbrar, é um norte-americano como tantos outros, um homem alto e algo desajeitado que trocou a vida desregrada de solteiro pela devoção familiar e está feliz com isso. Uma única frase dele me salta à vista: "Acredito profundamente que a grande arte serve como gatilho para algo realmente profundo dentro de cada um de nós". 


Se a sensação de reconhecimento que tenho quando as/me vejo nestes quadros não é mesmo isso, pois parece.


Adeus Carlos Fuentes

Este ano tem sido absolutamente devastador para o mundo da Cultura, em especial para os livros. Carlos Fuentes morreu hoje no México.

Só lhe li «Aura», um livro que se lê num instante. "As imagens do sonho alteram a realidade ou a realidade vê-se contaminada pelo sonho. Aura é mais que uma intensa história de fantasmas: é uma lúcida e alucinada exploração do sobrenatural, um encontro dessa vaga fronteira entre a irrealidade e o tangível, essa zona da arte onde o horror gera a formosura." Falei muito ao de leve nele, aqui no blog (quando este espaço ainda vivia no primeiro mês).

Escritor ímpar, muitas vezes esquecido num segundo plano. Ganhou o prémio Cervantes em 1987 e o Prémio Príncipe das Astúrias em 1994. Viajante incansável, "estudou na Suíça e nos Estados Unidos da América. Foi embaixador do México na França. Lecionou em Harvard, Cambridge, Princeton e outras universidades norte-americanas de renome internacional. Viveu em outras grandes cidades como Quito, Montevideo, Rio de Janeiro, Washington DC, Santiago e Buenos Aires. Durante a sua adolescência voltou ao México, onde residiu até 1965."


Quase toda a sua obra está publicada pela Dom Quixote em Portugal. Com alguns títulos esgotados, como este Aura ou O velho Gringo. Muito recentemente, o autor vê um dos seus últimos livros a ser publicado pela Porto Editora. Chama-se Adão no Éden e saiu neste ano.

No destaque do jornal Público, “'Adão no Éden’ não é uma novela inovadora no tema, recorrente no trabalho de Carlos Fuentes”, escrevia Fernando Sousa no Ípsilon de 11 de Maio de 2012. “É possível encontrar os mesmos cenários e personagens semelhantes em ‘La tierra más transparente’, a sua primeira obra, de 1958, um texto que é uma espécie de inventário da sociedade mexicana; em ‘Artemio Cruz’ (1962), reflexões-à-beira da morte de um antigo revolucionário convertido num político de esquemas, corrupto e corruptor, que à hora de desaparecer conta o passado com a sinceridade própria de quem já não tem nada a perder; e em ‘La silla del Àguila’, nova radiografia do poder onde Fuentes imagina o seu país no ano 2020.”

E acrescentava o crítico: “Mas é na sua inspiração literária uma obra apoteótica no estilo que o autor adoptou para nos mostrar o que o México, o México sinistro, lhe mostrou a ele em mais de oito décadas, uma obra que remete por assim dizer para as inaugurais, as dos primeiros anos de escrita, quando a sua estrutura ainda se desenvolvia. Uma obra-mestra.”

Amigo Fuentes, irei voltar a ti sempre. As tuas palavras moram e vão morar comigo ao longo da vida. Já não eras um menino, mas podias ter ficado mais um pouco! Até sempre...

Citação do livro do mês - Héctor Abad Faciolince

Sobre as demonstrações de afecto de Pai ao filho. Existe uma fórmula? Um código deontológico? 

"Os meus amigos e os meus colegas riam-se de mim por causa de outro costume que havia em minha casa, mas nem todo esse escárnio conseguiu erradicá-lo. Quando eu chegava a casa, o meu pai, para me cumprimentar, abraçava-me, beijava-me, dizia-me um monte de frases carinhosas e, no fim, ainda dava uma gargalhada. A primeira vez que se riram de mim por causa «desse cumprimento de mariquinhas e de menino mimado» eu não esperava semelhante chacota. Até essa altura, estava convencido de que essa era a maneira normal e corrente de os pais cumprimentarem os filhos. Mas não, afinal na Antioquia não era assim. Um cumprimento entre machos, pai e filho, tinha de ser distante, bronco e sem afecto aparente.


Durante um tempo, evitei esses cumprimentos tão efusivos quando havia estranhos por perto, pois tinha vergonha e não queria que gozassem comigo. O mal era que, mesmo estando acompanhado, esse cumprimento me fazia falta, dava-me segurança e, por isso, ao fim de algum tempo de fingimento, resolvi deixar que me voltasse a cumprimentar como sempre, mesmo que os meus colegas se rissem e dissessem o que lhes apetecesse. Ao fim e ao cabo, esse cumprimento carinhoso era uma coisa dele, não minha, e eu apenas me limitava a aceitá-lo. Mas nem tudo foram piadas por parte dos meus colegas; lembro-me de que, uma vez, já quase no fim da adolescência, um amigo me confessou: «Sabes, eu sempre tive inveja de teres um pai assim. O meu nunca me deu um beijo na vida.»"

domingo, 13 de maio de 2012

Livros que deram filme - Cosmópolis, Don DeLillo




O livro «Cosmópolis» de Don DeLillo (publicado em Portugal pela Relógio D'Água) foi recentemente adaptado ao cinema. Vamos, primeiro ao livro:

"Décimo terceiro romance do escritor italo-americano Don DeLillo, "Cosmópolis" passa-se num único dia (tal como o "Ulisses" de Joyce) de Abril de 2000, antes da subida do iene e da queda dos florescentes mercados financeiros dos anos 90. Eric Packer é um multimilionário que enriqueceu com a bolsa, tem 28 anos, e decide sair da sua rica mansão e tomar a limusine para ir cortar o cabelo, pelo que tem de atravessar Manhattan. Esta travessia (há um grande engarrafamento, está claro) torna-se uma viagem vertical, um autêntico desfile de figuras e acontecimentos bizarros, paisagem da moderna alma ocidental de fim de século."

"Fragmentado [...], perturbador, sarcástico e obscuro q.b., o último romance do escritor italo-americano ficciona alguns dos temas mais prementes da actualidade. Aqueles que o acusam de inverosimilhança andarão distraídos do Mundo."

Ana Cristina Leonardo, Expresso, 24/1/04

"O tempo deste livro são os anos 90 convergindo para um único dia de Abril de 2000, na baixa de Manhattan, entre o East Side e o West Side da rua 47. [...] Ao longo desta lenta odisseia por um corte de cabelo, desfila Nova Iorque [...]. Mas não apenas. Há um violento protesto de antiglobalização em Times Square, com um manifestante a imolar-se pelo fogo. Há um funeral solene de um rapper sufi. Há a derradeira rave tecno. Há centenas de figurantes de um filme deitados na rua, nus."

Alexandra Lucas Coelho, Público Mil Folhas, 10/1/04



«O filme "Cosmopolis", de David Cronenberg, produzido por Paulo Branco, terá antestreia nacional no dia 29 no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde estarão presentes o realizador e os atores Robert Pattinson e Paul Giamatti, anunciou o CCB.»

Paulo Branco propôs ao realizador David Cronenberg a adaptação deste livro ao cinema.

«A história de "Cosmopolis" desenrola-se ao longo de 24 horas em Nova Iorque, é protagonizada pelo multimilionário Eric Packer, de 28 anos, que deambula pela cidade dentro de um carro de luxo.

Para o papel de Eric Packer foi escolhido o ator britânico Robert Pattinson, mais conhecido pela interpretação do vampiro Edward Cullen da saga "Crepúsculo".

Do elenco de "Cosmopolis" fazem ainda parte, entre outros, os franceses Juliette Binoche e Mathieu Amalric e o norte-americano Paul Giamatti

Dar ao Serrote, ler um livro e entreter com guloseimas


Último dia de Feira do Livro de Lisboa e para fechar em grande, fechamos com outras culturas e outras formas de festejar. Vamos a norte, muito a norte, a convite da editora Serrote. 

Depois de Helsínquia, chega a vez de Lisboa receber o lançamento do best-seller trilingue 'Finlandia'. 

Hoje, Domingo, dia 13 de Maio de 2012, entre as 17 e as 19 horas no Pavilhão C 13 da Prodidáctico, no último dia da 82.ª Feira do Livro de Lisboa, ao Parque Eduardo VII.

Quem comprar o último livro das Publicações Serrote, terá direito a uma guloseima finlandesa à escolha: 

Koskenkorva
A bebida nacional da Finlândia. Apenas será servida a maiores de 18 anos que não apresentem sinais de embriaguez.

Salmiakkitäytesuklaa
Chocolate recheado com Cloreto de Amónio. Apenas será servido a maiores de 16 anos, ou a crianças acompanhadas pelos pais.

Marianne
Rebuçados de mentol, recheados com chocolate. Sem contra-indicações. Para todas as idades.

Oferta limitada ao stock existente na fotografia.
Previsão de bom tempo!

Mais sobre a editora no site da Serrote