sábado, 29 de maio de 2010

Citação


Este livro disse-me:

"É mais fácil admitir as dores do corpo que as da cabeça ou do coração"

E eu concordo!

in 'O Apocalipse dos trabalhadores', Valter Hugo Mae.

Carta ao pai, Kafka

Não é aconselhado dar de prenda o livro 'carta ao pai'. É duro, carregado de negativismo. Deixou-me incomodado.

Apesar de achar que jamais aconselharia este livro, ele é fantástico. Kafka tem um poder grande sobre o leitor. Uma espécie de íman que nos faz devorar tudo o que faz.

De qualquer forma, fica aqui uma frase. Para pensar...

"Casar, fundar uma família, aceitar os filhos que nascem, fazê-los viver neste mundo incerto e até, se possível, orientá-los um pouco, é esse, estou convencido, o último degrau daquilo que um homem pode atingir".

Concordamos com ele?

Lágrima de Preta, António Gedeão

Hoje não deixo um livro, mas um poema...



Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A oficina do tempo, Álvaro Uribe


Uribe encantou-me. Descoberto nas 'correntes de escrita' do ano passado, na Póvoa de Varzim. A minha Tia leu-o primeiro. E descoseu-se.

Com tanto entusiasmo, segui-lhe os passos. Foi muito bom. Entrou na galeria dos 'meus' preferidos de 2009.

A fórmula parece um pouco usada: conflito de gerações. Entre Pai e filho. Competição feroz no mundo do trabalho, génios mal resolvidos. Jogos onde ninguém ganha.

Resumo o livro neste trecho:

"Ter um amigo significava precisamente que não haveria diferenças ou que, se as houvesse, o mais afortunado deveria compartilhar a sua sorte com o outro".

E o resto é convosco.

Abraço à comunidade!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vigaristas, ladrões e assassinos, Raymond Hesse


No livro "Vigaristas, ladrões e assassinos" - demora uma hora a ler - podemos encontrar pequenas histórias desta profissão. Basicamente, ser trafulha.

Espanto-me imenso com aquilo que aprendo sempre que leio. E num livro aparentemente singelo e que não tem o atractivo comercial da maioria (não quero chamar alternativo, pois não há livros alternativos), aparece isto:

"A felicidade baseia-se na virtude e a virtude é relativa. O tédio nasceu da uniformidade, e a alegria da comparação".

Não sei se farei desta frase modo de vida. Ainda é cedo para afirmar isto. Mas não deixa de ser mais um belo contributo para quem percorre os olhos pelas páginas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diálogo entre Pessoa e Sá Carneiro

Não imaginam a amizade entre Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro? Dou por mim a pensar em alguns despiques... Um dos que imagino é o seguinte:

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

Fernando Pessoa

"Loucura?? Mas afinal o que vem a ser a loucura? Um enigma... Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de loucos... Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos Homens adoptou um sistema de convenções: É a gente do juízo... Pelo contrário, um número reduzido de indivíduos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria... são doidos... Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse superior e o género de loucura fosse idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados: na terra dos cegos, quem tem olho é rei. Na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu..."

Mário de Sá Carneiro

Aforismos, Franz Kafka


Já li enormes autores. Kafka é certamente um deles. Passei os olhos por alguns livros, muitos tenho aqui em casa para continuar. Alguns a comprar...

O que destaco em «Aforismos», publicação da Assírio & Alvim, é a pequena biografia do autor que nos é dada. E o mais interessante é que versa sobre a recta final de sua vida, refugiado numa pequena aldeia, com uma doença que lentamente o foi consumindo.

Deixo um aforismo, porventura aquele que me pareceu fazer mais sentido no meio de tantos e tantos pensamentos...

"Se estivesses a caminhar numa planície, se tivesses a boa vontade de caminhar e, contudo, estivesses a recuar, então seria uma coisa desesperante; mas como estás a trepar uma encosta íngreme, tão íngreme como tu próprio és, visto cá de baixo, podem os recuos ser originados tão-somente pelas características do terreno e não deves desesperar."