sábado, 24 de novembro de 2012

Miguel Esteves Cardoso, numa crónica do Público

«Não tudo, mas alguma coisa depende da idade que temos agora e do jeito que temos de nos lembrarmos das idades que tivemos. Começamos por dizer "quando eu era novo" - mas nós nunca fomos simplesmente novos.

Mais do que termos sido novos, fomos antes vários tipos de novo. Até a tabela mais automática que seguimos começa aos cinco anos, idade das primeiras memórias certas, e continua, roboticamente: 10, 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45, 50, 55, 60, 65, 70 e adiante, tomando o lustro como o equivalente pessoal da década da História.
Fala-se, com lassitude, de gerações. Nunca se fica a saber, mal ou bem, a qual pertencemos, mesmo que queiramos pertencer a alguma. Imagine-se a bandalheira correspondente se assim se falasse dos vinhos do Porto como sendo da geração dos anos 40, 50, 70 ou 90.
Não. Importa o ano em que se nasce. A idade, tal como no vinho, é relativa. Algumas pessoas ganham em consumir-se cedo. As melhores exigem que se espere. Resta vermos as nossas idades não como um percurso linear e previsível mas com a surpresa deliciosa dos anos vintage que não se adivinhar.
No ser humano, as idades importantes talvez sejam: 0 a 1, 3, 5, 7, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 23, 25, 28, 30, 31, 35, 39, 40, 41, 45, 49, 50, 52, 55, 59, 60, 65, 69, 70, 74, 76, 79, 80, 81, 85, 86, 90, 91, 95, 98, 100, 105, 110, 111 e 120. 

Quando éramos novos éramos velhos. Quando somos velhos, ainda somos novos. Resta saber, como sempre, ao que viemos.»

*in 'Jornal Público (20 Ago 2011)'

"Argine" - Wonderful animation


Esta é a história de uma menina com um sonho e um gato. Os seus esforços vão finalmente levá-la a realizar o seu sonho e fazer um filme, este filme, que por sua vez é a história de uma menina e um gato.

"Argine" é um filme de animação muito peculiar, da Julia Siméon e com música feita por ela mesma e Pauline Meguerditchian.

Julia usou a técnica XSI para modelação, texturização e configuração e Mental Ray para a renderização. Fez todas as imagens com duas passagens: uma com o sombreamento de cores e com luzes de área e um segundo passo pela oclusão de ambiente. As duas passagens são depois compostas em Photoshop.

A partir deste link, podem chegar à página onde a autora disponibiliza para download o filme em diferentes formatos.

O livro «A Abelha Zarelha» vai ser apresentado hoje no Porto: Livraria Papa-Livros

RAQUEL PATRIARCA (TEXTO) 
MARTA JACINTO (ILUSTRAÇÃO) 

24 DE NOVEMBRO | SÁBADO | 16H00 
LIVRARIA PAPA-LIVROS, PORTO 


A QuidNovi, a autora Raquel Patriarca e a ilustradora Marta Jacinto têm o prazer de convidá-lo(a) para o lançamento do livro «A Abelha Zarelha»

A apresentação do livro estará a cargo de Margarida Noronha e terá lugar no próximo sábado, 24 de novembro, pelas 16h00, na Livraria Papa-Livros (Rua Miguel Bombarda, 523, Porto).

A Abelha Zarelha é o primeiro volume da coleção Livro com bicho, pensada para divertir os primeiros leitores, que é como quem diz meninos e meninas dos 2 aos 4 anos, mas também os pais.

Como as maçãs, os livros com bicho são os mais doces. Nas suas páginas encontramos histórias rimadas para ler em silêncio ou contar em voz alta, onde pequenas personagens com patinhas e antenas sonham, brincam, vivem aventuras e experimentam as surpresas de ser humano e os desafios próprios da sua condição de bichezas curiosas e mexericas, que fazem sorrir sem cócegas ou comichões.


AS AUTORAS 

Raquel Patriarca, conhecida só por Raquel, nasceu em 1974 em Benguela. Vive no Porto numa casa cheia de livros e brinquedos, com uma magnólia no jardim onde a relva está, quase sempre, grande demais. Faz muitas perguntas sobre as histórias das coisas, descalça as sapatilhas com os atacadores apertados e se fosse um animal seria um ornitorrinco. É bibliotecária e colecionadora de marcadores de livros. Gosta de gatos, pijamas felpudos e de leite com chocolate. Quando for grande quer ser poeta.

Marta Jacinto nasceu em 1979 no Algarve e é conhecida entre os amigos como Martolita. Vive junto ao mar e ocupa os dias a ilustrar livros, mas do que gostava realmente era de ser astronauta. É praticante regular de lutas com almofadas, se fosse um animal seria uma foca. Dentro de si habita uma grande variedade de espécies de bichos e coisas assim. Gosta de ver desenhos animados em pino e de fazer queques de laranja e canela. Não usa bigode e dá nomes a todas as árvores que conhece.

a-ver-livros: dualidade e Michael Vincent Manalo

No velho sotão
sou só eu e a memória dos livros que li
presa num filme mau de tevê

No velho sotão
suspenso entre as nuvens do que me lembro
e do que o tempo me fará esquecer

* para conhecer mais do trabalho do artista visual filipino Michael Vincent Manalo, também conhecido
por theflickerees, basta seguir os links theflickerees.deviantart.com ou www.michaelvincentmanalo.com

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A agenda para 2013 é também uma causa


Juntar o útil ao agradável. Para quem precisa e usa uma agenda durante o ano nada melhor que conjugar um bom material utilitário com uma boa causa. O SOS Racismo apresenta para 2013 uma agenda renovada no formato e no design. No interior uma série de textos e informações extremamente úteis também. Esta agenda ao longo dos anos tem-se destacado exactamente pelos seus conteúdos e por isso merece este destaque aqui no blogue. Serve de exemplo a de 2012, toda dedicada ao tema cinema onde para além de inúmeros textos podemos também contar com uma vasta filmografia.  Para 2013 a escolha está feita!

Para a poder adquirir pode fazer o pedido para sosracismoporto[arroba]gmail.com e já agora não deixe de visitar o SOS Racismo através do seu site e também nas redes sociais.

Editorial

"É comum questionar-se, empiricamente, a existência de uma associação como o SOS Racismo, seja pela invisibilidade que esta tem no espaço público, seja pela crença de que Portugal, erigido historicamente sob uma retórica lusotropicalista, não é um país racista. Consequentemente, a existência de uma associação anti-racista pode ser considerada paradoxal ou mesmo desnecessária num país ditas ‘descobertas’, apagando assim da memória colectiva as relações de poder eos processos de violência e de opressão que caracterizaram o colonialismo português, apelidando-o de ‘brando’.

Esta retórica, que serviu projectos políticos e concertações nacionais, teve como consequência o estabelecimento de (uma certa) descontinuidade histórica entre o período colonial e a actualidade, no sentido de impossibilitar uma discussão sobre o racismo enquanto legado da colonização e da escravatura.

Neste sentido, perceber a contemporaneidade exige necessariamente repensar o papel do passado na construção do presente, indagando a relação entre projectos de dominação como o capitalismo e a escravatura, a industrialização e a modernidade. É necessário perceber de que forma a ideologia racial (e outras) serviram e servem a (re)construção das estruturas económicas e políticas contemporâneas, a (re)construção de espaços geográficos e espaços de identidade, espaços de direito e espaços de poder, espaços de pensamento e espaços de enunciação determinados.

Elegendo a estrutura como o seu objecto de estudo, esta agenda procura debater alguns daqueles que se consideram os alicerces fundacionais, as disposições fundamentais que contribuem para a perpetuação do racismo na actualidade. Neste sentido, a agenda debaterá e problematizará questões relacionadas com as actuais políticas de imigração, designadamente a mercantilização e a criminalização da imigração, os centros de detenção, as políticas (inter-)nacionais de exclusão tais como o Frontex, bem como a elevação de muros, o conflito Israelo-Palestino e os genocídios que continuam a ser perpetrados por uma panóplia de instituições. Paralelamente, discutir-se-ão que elegeu como narrativa nacional o pioneirismo das questões relacionadas com educação e memória, bem como a criação de leis de excepção, a violência policial e a discriminação das comunidades ciganas. Todos estes temas serão debatidos em contexto nacional e internacional, pretendendo abarcar e sinalizar um conjunto de situações transversais a tempos e espaços distintos, dando especial enfoque ao caso português.

Argumenta-se que este debate permitirá igualmente compreender que, embora Portugal tenha vindo a estabelecer-se (teoricamente) como espaço multicultural através do discurso político, mediático e mesmo académico (sem prejuízo para todas as vozes dissonantes), a realidade é que não se priva de elevar barreiras físicas, económicas, sociais e culturais àqueles e àquelas construídos/os politicamente como os/as seus/suas ‘outros/as’. É aqui que o discurso entra em contradição com a prática pública e se torna necessário perceber que o racismo, embora também de expressão individual e esporádica, é essencialmente um fenómeno político-ideológico, estrutural e contínuo, transversal às sociedades contemporâneas e que deve ser debatido e combatido no sentido de se habitarem de justiça os espaços que se/nos constituem."

Clique na imagem para aceder ao site

O presente e o futuro escrevem-se com a mesma palavra: confiança

Começo eu:

Por vezes sinto a necessidade de parar e pensar o projecto... que vou discutindo todos os dias com as pessoas que compõem este espaço. E vou percebendo junto delas que caminho devemos seguir. Onde estamos bem, onde podemos melhorar. Gerir um blogue é isto. Não é só sentar-me na cadeira e produzir um texto. Essa não é a realidade. Nem a minha nem a dos membros do Clube de Leitores.

Há todo um trabalho de bastidores pensado. Há todo um caminho traçado para dar um passo de cada vez. Temos que saber para onde ir a seguir. Sem pressas e com confiança. Não há pressão alguma. Nenhum de nós vive do que escreve. Ou do que encontra e partilha. Esta paixão não paga a conta do médico, da luz ou o talho.

Isso não é sinal de desleixo. Não é desculpa para dizer: "estou cansado, não me apetece". O blogue não pára. Por isso é que quem se compromete... tem que estar. Para quem quer, este é um espaço para demorar, vestir a camisola e divulgar. Não serve para arrendar a desculposos.

Paro aqui o meu discurso e dou lugar às palavras do Pedro Ferreira:

«O projecto Clube de Leitores nasce a partir da vontade de um livreiro extrapolar do seu mundo meramente comercial e dotar as pessoas que gostam de livros e do seu mundo de muitas mais informações, de um espaço de troca e partilha de leituras e experiências.

A partir daí, está aberta a porta para o convite a mais pessoas. Leitores, escritores, livreiros, editores, pessoas que amam os livros, um espaço para toda a gente que queira participar. A dinâmica própria deste meio obriga-nos a crescer e a querer sempre mais. Depois de o Clube de Leitores ter ganho o 1.º prémio de Blogue do Ano 2011 na categoria Livros/ Literatura/ Poesia, atribuído pelo blogue Aventar, esse desafio tornou-se ainda mais aliciante.

Estamos a crescer e estamos a mudar para melhor, sempre. Mudanças no design do blogue e optimização das ferramentas de busca e consulta dos seus conteúdos, bem como na fixação de rubricas sobre os mais variados temas. Ainda assim, não deixamos de ter espaço para a criação e para novos talentos no mundo dos livros. E é nesta parte que queremos também a vossa participação.» 


Agora regresso:

Significa isto que estamos oficialmente à procura de dotar o blogue de ferramentas de divulgação. A meu ver, o nosso blogue tem que equilibrar os 3 vectores que o sustentam: criatividade dos membros / leituras / divulgação. 

E este é, seguramente, um espaço onde a criação é muito bem explorada. As nossas leituras passam para o público e arrastam discussões no Facebook. Mas estamos a cair um pouco na divulgação. E por uma razão simples: nenhum de nós está activamente ligado ao mundo "profissional" dos livros. 

Volto ao Pedro:

A aposta passa pela «divulgação de actividades como lançamentos, apresentações ou conferências; mas também abrir espaço para entrevistas com autores, editores, designers, ilustradores, pessoas que importam na elaboração dos livros. Neste objectivo inclui-se também a busca de parceiros que possam e queiram participar connosco nas actividades em que estamos envolvidos.

Da parte do Clube de Leitores prometemos o que podemos prometer. Dedicação ao que fazemos por amor aos livros e à leitura bem como ao inconformismo de não nos deixarmos adormecer. Honestidade nas nossas opiniões e empenho na nossa participação naquilo a que nos propomos.»

E assim terminamos! 

Celebramos em conjunto todos os passos que damos. O presente e o futuro escrevem-se com a mesma palavra: confiança!

1º Parágrafo: Do Fim do Mundo


O dr. Túlio Gomes Vítor, Raios X, chegou ao Cais do Sodré às dezanove horas e quinze minutos. Olhou para o pulso esquerdo quando começava a subir os degraus da estação terminal e viu que tinha um quarto de hora para comprar bilhete no rápido das dezanove e trinta.


* Primeira edição: O Jornal, 1990

a-ver-livros: ecoando Almada Negreiros

Perante a arte de mestre Almada Negreiros, curvo-me e cito-o.
Para quê atrever-me à poesia quando a dele existe e merece ser lembrada?

* para conhecer mais da pintura de Almada Negreiros siga o link www.educ.fc.ul.pt/almada/pintor
"Canção da Saudade

Se eu fosse cego amava toda a gente.

Não é por ti que dormes em meus braços que sinto amor. Eu amo a minha irmã gémea que nasceu sem vida, e amo-a a fantaziá-la viva na minha edade.


Tu, meu amor, que nome é o teu? Dize onde vives, dize onde moras, dize se vives ou se já nasceste.


Eu amo aquella mão branca dependurada da amurada da galé que partia em busca de outras galés perdidas em mares longíssimos.


Eu amo um sorriso que julgo ter visto em luz do fim-do-dia por entre as gentes apressadas.


Eu amo aquellas mulheres formosas que indiferentes passaram a meu lado e nunca mais os meus olhos pararam nelas.


Eu amo os cemitérios - as lágens são espessas vidraças transparentes, e eu vejo deitadas em leitos floridos virgens nuas, mulheres bellas rindo-se para mim.


Eu amo a noite, porque na luz fugida as silhuetas indecisas das mulheres são como as silhuetas indecisas das mulheres que vivem em meus sonhos. Eu amo a lua do lado que eu nunca vi.


Se eu fosse cego amava toda a gente.
"



Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Poema à noitinha... José Agostinho Baptista

Despedida

«Uma harpa envelhece.
Nada se ouve ao longo dos canais e os remadores
sonham junto às estátuas de treva.
A tua sombra está atrás da minha sombra e dança.
Tocas-me de tão longe, sobre a falésia, e não sei se
foi amor.
Certo rumor de cálices, uma súplica ao dealbar das
ruínas,
tudo se perdeu no solitário campo dos céus.
Uma estrela caía.
Esse fogo consumido queima ainda a lembrança do
sul, a sua extrema dor anoitecida.
Não vens jamais.
O teu rosto é a relva mutilada dos passos em que me
entristeço, a absoluta condenação.
Chove quando penso que um dia as tuas rosas floriam
no centro desta cidade.
Não quis, à volta dos lábios, a profanação do jasmim,
as tuas folhas de outubro.
Ocultarei, na agonia das casas, uma pena que esvoaça,
a nudez de quem sangra à vista das catedrais.
O meu peito abriga as tuas sementes, e morre.
Esta música é quase o vento.»


*José Agostinho Baptista nasceu em 1948. É poeta e tradutor. Este poema é retirado do seu livro “Paixão e Cinzas”, publicado pela Assírio & Alvim.

Eva, gomo a gomO


E se Eva,
não uma maçã.
Uma pêra, uma laranja.
Uma tangerina!

Uma menina.

Os girassóis pendentes
da tangerina.
Campos e campos de girassóis
infinitos,
ao nosso olhar finito.
E a tangerina.

Gomo a gomO.

Os girassóis
perdidos
desorientados,
desnorteados,
nem sul, nem ocidente.

Um acidente!
Uma tragédia.

Gomo a gomO.

Os girassóis imóveis.
Como se feridos.
Feridos na função.
Feridos no brio.

O mundo indiferente,
a girar.
Há um pôr-do-sol a cumprir.

Eva a crescer.
A anoitecer.
A deixar de ser menina,

Gomo a gomO


1º Parágrafo: Estação


O riso alarve é imediatamente muito forte, por ser colectivo e militante. Se penso em Cidre, é como se alguém pusesse a funcionar um gira-discos de tasquinha modernaça: um som estridente vem devorar-me os horizontes, o coro de gargalhadas ferozes, que hoje ainda me aterra mais do que me aterrava quando agredia directamente os meus ouvidos e os meus nervos, e a imagem de Cidre se avolumava num progressivo insulto ao que de legitimamente sensível há em mim. Assim, como o recordo o escrevo. E o meu direito existe, porque não pouparei ninguém.


* Primeira edição: Assírio & Alvim, 1984

a-ver-livros: no fundo com Dan-ah Kim

Refundo-me no fundo da floresta
folheando o livro que me deste

Fácil fugir assim para dentro de nós

* para conhecer mais do trabalho da sul-coreana Dan-ah Kim
basta seguir o link www.dkim-art.com

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cronicando pela Ásia... O Hino Nacional na Tailândia

Um dos dados mais importantes a assinalar na minha viagem ao Sudeste Asiático é o Hino Nacional da Tailândia.

Às oito da manhã os locais públicos passam o Hino e todos se levantarem e cantam - sinal de respeito pela nação. Nós "estrangeiros" obedecemos (sem abrir boca).


O vídeo que aqui publico mostra a estação central de Banguecoque, pela manhã. Também me lembro de ter ouvido o Hino no Norte do País, mais propriamente em Chiang Mai. Só que foi às seis da noite.

Mais tarde, chegado a Portugal, investiguei. E descobri que a canção da nação é de 1939 e foi composta por Phra Jenduriyang. O hino é obrigatório na Tailândia desde essa data.


«Thailand embraces in its bosom all people of Thai blood,
Every inch of Thailand belongs to the Thais.
It has long maintained its sovereignty,
Because the Thais have always been united.
The Thai people are peace-loving, But they are no cowards at war.
Nor shall they suffer tyranny.
All Thais are ready to give up every drop of blood,
For the nation's safety, freedom and progress.»

Rodrigo Ferrão

1º Parágrafo: Square Tolstoi


O pressentimento de estar tropeçando no destino. Sabem como é?



* Primeira edição: Assírio & Alvim, 1981

a-ver-livros: dizer com Pascal Blanchet

O cantar dos pardais
são os teus poemas, poeta
que os distingo no seu piar

Como os reconheceria
debaixo de água
nas bolhas respiradas
pelos peixes


Tal qual os digo quando uivo
loba ferida
à lua

* para conhecer mais do trabalho de Pascal Blanchet
siga o link  www.pascalblanchet.com

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O maravilhoso mundo dos livros e um pinguim


O maravilhoso mundo dos livros e um pinguim A Penguin não se cansa de encher o mundo de beleza! Para comemorar o lançamento do Penguin English Library, só com clássicos da literatura em língua inglesa, a editora encomendou esta animação ao premiado realizador Woof Wan-Bau (vencedor do Grande Prémio de Animação, em 2005, no Festival de Curtas de Vila do Conde), sobre a peculiar viagem alucinante de um particular pinguim. Sem dúvida mais um trabalho excepcional condizente com o que tem sido a evolução da imagem gráfica da editora.      
              

 

No canal do Vimeo da Penguin está também disponivel um vídeo com o making-of e entrevista com o realizador.

1º Parágrafo: Directa


O homem acordou apavorado, porque a companhia não era a do despertador. Mas no gesto de sempre que acordava, estendeu o braço esquerdo, e a mulher não estava ao lado dele. Isso acabou de puxá-lo para fora do sono, e então percebeu que era a campainha do telefone.



* Primeira edição: Moraes Editores, 1977

a-ver-livros: uma manhã com Quint Buchholz

Uma manhã em Novembro
e partirei

sem medo de nunca chegar
a lado algum
que a viagem tem prazer no caminho 
mais que na meta
e sempre gostei de prazeres assim
rascunhados nos dias de chuva
em que os silêncios ecoam tonitruantes
cá dentro


* para conhecer mais do trabalho do alemão Quint Buchholz
é só seguir o link www.quintbuchholz.de

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Poema à noitinha... Charles Baudelaire

Spleen

«Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos errantes
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo;

Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!»


*In «As Flores do Mal» de Charles Baudelaire - publicado pela Relógio D` Água. O poeta, escritor e crítico nasceu em França em 1821. Faleceu em 1867.

1º Parágrafo: A Noite e o Riso


Criado embora entre hálitos de faisão, cedo me especializei na arte de estender os braços. Dia após dia os mais laboriosos, cansativos forcejos projectavam meus membros anteriores em-frentemente. E isto assim até que perdi as mãos de vista.



* Primeira edição: Moraes Editores, 1969

a-ver-livros: aos pés de Carmel com Jon Falkenmire

Podia ter-se sentado
noutro sítio
o livro não se queixaria do frio

mas não há nada como a proximidade de um aquecedor

* para conhecer mais do trabalho do australiano Jon Falkenmire
siga o link cajo.com.au

domingo, 18 de novembro de 2012

D.Elvira deu voltas à vida

(ao domingo) Letras Focadas

“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas”

D. Elvira foi em tempos, moça de olhar matreiro, corpo reboliço e apetitoso.
Os rapazes da aldeia disputavam o troféu de ter Elvira nos braços, nos bailaricos na praça junto à Igreja.
Ao domingo, a juventude reunia-se e ao som do acordeão, reinava a alegria. Os bailes eram a única possibilidade dos corpos se tocarem à vista das beatas que, sentadas em fila, decidiam quantos centímetros de distância, ancas e pernas, deveriam rodopiar.

Elvira era a rainha do baile. Só lhe faltava o livrinho de debutante para anotar os nomes dos rapazes que, em fila, aguardavam a sua vez para ter Elvira em seus braços.
Na vida de Elvira sempre tinha existido um companheiro. Nunca a aldeia percebeu esta relação. Era tema de conversa, em surdina, este mundo estranho de Elvira.

Dia e noite, na vida dura do campo ou em festa domingueira, Elvira e seu fiel amigo eram inseparáveis. Reinava até o boato que aquela relação doentia só poderia ser explicada pela loucura que muitos julgavam ter assaltado a pobre cabeça da moça bela que vivia no casarão à entrada do povoado. Quem por lá passava ouvia sair das portadas abertas, a música da velha radiofonia e a voz de Elvira a dizer:

- Romeu…agora uma voltinha…assim não…para a direita…lá…lá..lá..lá

Romeu era um cão, ainda por cima rafeiro e que devia muito à beleza. No entanto, nada devia à inteligência e à bondade. Sem entendimento humano, o que é facto é que entre ambos havia diálogo. Elvira percebia os humores de Romeu, como Romeu sabia as horas de silêncio que Elvira necessitava para acalmar a dor da alma.

- Aquilo só pode ser coisas do diabo – Afirmava de forma peremptória D. Esmeralda, a beata mor.

E, entre as tentações do diabo e a bênção divina, Elvira consumia os seus dias de moça em estado ardente na companhia do seu Romeu, na mais pura indiferença que os dias tivessem horas, minutos ou segundos. O tempo para eles era outro, tudo o resto, era uma povoação perdida no meio da serra.


Hoje D. Elvira vive na cidade. Mora na Rua Direita que de direita só tem mesmo o nome.
As portadas da sua casa, outrora grandes e arejadas, são agora tão estreitas que Elvira e Romeu não podem passar lado a lado. À frente da humilde casa há um coreto feito de ferro rendilhado, relíquia de outros tempos.

Ao domingo a banda toca no coreto.
Elvira e seu Romeu sentados no banco em frente, aguardam que a música comece.
E tudo acontece agora, como há cinquenta anos atrás: diálogos pouco prováveis entre Elvira e um cão chamado Romeu não são coisas do diabo, são coisas do coração.

Elsa Martins Esteves

Foto: emefeelingflashes

Cronicando pela Ásia... Banguecoque (Capítulo V)

Banguecoque, 17 de Abril 2009
Capítulo 5

Abandonei a parte nova da cidade e segui num táxi com o objectivo de ir à estação de comboios comprar um bilhete para o Cambodja. O bilhete foi estupidamente barato. Se eu disser que uma viagem destas fica por um café e um bolo alguém acredita?

Anoitecia rapidamente. Caiu uma chuva tropical quente e de lágrimas grossas. Depois da estação e do bilhete, mais um taxista. A fome era enorme e a desidratação arrancava pedaços de energia ao corpo. Estava na altura de regressar ao quarto, tomar um banho e jantar.

O taxista devia ser novo na cidade. Enganou-se umas quantas vezes. Como era impossível comunicar com ele, fiquei a meio do caminho e fui o resto a pé. Já não faltava assim tanto. E encontrei forças, mesmo estando sem elas.


O jantar foi animado. Foi oficialmente a minha primeira refeição Ocidental - pizza. Antes disso, uma passagem pela pensão para uma mangueirada de água fresca.

O comboio era de madrugada. Não havia muito a fazer a não ser aguardar. Tempo para olhar para a rua, mas de noite. Perceber como se comporta a cidade e o seu frenesim inesgotável.

Qual é a probabilidade de ouvirmos James Blunt cantado por um Tailandês? Khao San Road é a rua dos prodígios tailandeses, daqueles que nos tentam conquistar os bolsos. As vendas de artefactos, recuerdos e trapinhos encontram-se por todo o espaço possível. Mas há uns furos preenchidos pelos artistas de rua. À espera da fama... ou simplesmente de algum dinheiro para sustentar a casa.

A espera pelo comboio tinha que ser combatida de alguma maneira. A rua e o luar pareceram-me lindamente. Não havia energia para grandes cavalgadas.

Assisti ao concerto do "James Thai". Ali... à porta do supermercado. O cantor percorreu um repertório impressionante. Bandas britânicas e americanas, grandes sucessos. Das mais actuais a grandes clássicos.

O supermercado deixa de vender álcool depois da meia noite. A ideia era beber uma cerveja, porque fica mais caro usar os bares da rua. Andei um pouco mais e encostei a observar um tailandês fã de rock. Estava sentado numa cadeira a ouvir rock do mais puro e pesado que existe! E foi desta maneira que, ao som de Guns and Roses, passei o resto da noite. Tirando fotografias, cantando e batendo palmas. Sentado no chão, à porta de um pequeno restaurante.


Assim foi até ir levantar as malas e partir para a estação. O comboio para o Cambodja partia bem cedo... 

P.S. - Ainda houve tempo para observar a natureza urbana. A noite mostrava centenas de baratas na rua e alguns roedores. Nada que assustasse o "James"... que continuava a dar concerto!

Rodrigo Ferrão

18ºs Encontros Luso-Galaico-Franceses do Livro Infantil e Juvenil no Porto

Clique na imagem para aumentar


Os 18ºs Encontros Luso-Galaico-Franceses do Livro Infantil e Juvenil vão realizar-se nos dias 6 e 7 de Dezembro próximos na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto. 


O programa está a ser ultimado e será divulgado em breve, mas o tema já pode ser anunciado e andará em torno da relação entre a literatura infantil e a educação literária. 

Contará com uma homenagem a Manuel António Pina, para além das conferências, comunicações, encontros com escritores, apresentações de livros, atelier e muito mais.
Até mais pormenores aqui fica a nota para a agenda com a certeza de que vale mesmo muito a pena!

a-ver-livros: a verdade e Nouréddine Zekara

Os olhos dela dizem que há poesia na dor. 
Mas durante a dor não se adivinha a verdade.

* para conhecer mais do trabalho do pintor argelino Nouréddine Zekara
siga o link zekara.free.fr