sábado, 21 de julho de 2012

Helena Cidade Moura partiu hoje... E Ruy Belo tem um poeminha assim: às Helenas!

Informa o Jornal Público: «Helena Cidade Moura, responsável pela maior campanha de alfabetização organizada em Portugal no pós-25 de Abril, faleceu esta sexta-feira, aos 88 anos, disse à Lusa o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço.»

«Helena Cidade Moura acompanhou mais de 400 cursos de alfabetização e foi deputada à Assembleia da República na I, II e III legislaturas.
Publicou ainda várias obras, entre as quais o “Manual de Alfabetização”, em 1979.
Para Vasco Lourenço “Portugal fica mais pobre com o seu desaparecimento”.»


E hoje, em jeito de memória, o blog escolhe este poema de Ruy Belo. Serve de homenagem a Helena Cidade Moura e fica para todas as Helenas...

To Helena

"Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
A maneira mais triste de se estar contente
a de estar mais sozinho em meio de mais gente
de mais tarde saber alguma coisa antecipadamente
Emotiva atitude de quem age friamente
inalterável forma de se ser sempre diferente
maneira mais complexa de viver mais simplesmente
de ser-se o mesmo sempre e ser surpreendente
de estar num sítio tanto mais se mais ausente
e mais ausente estar se mais presente
de mais perto se estar se mais distante
de sentir mais o frio em tempo quente
O modo mais saudável de se estar doente
de se ser verdadeiro e revelar-se que se mente
de mentir muito verdadeiramente
de dizer a verdade falsamente
de se mostrar profundo superficialmente
de ser-se o mais real sendo aparente
de menos agredir mais agressivamente
de ser-se singular se mais corrente
e mais contraditório quanto mais coerente
A via enviesada para ir-se em frente
a treda actuação de quem actua lealmente
e é tão impassível como comovente
O modo mais precário de ser mais permanente
de tentar tanto mais quanto menos se tente
de ser pacífico e ao mesmo tempo combatente
de estar mais no passado se mais no presente
de não se ter ninguém e ter em cada homem um parente
de ser tão insensível como quem mais sente
de melhor se curvar se altivamente
de perder a cabeça mas serenamente
de tudo perdoar e todos justiçar dente por dente
de tanto desistir e de ser tão constante
de articular melhor sendo menos fluente
e fazer maior mal quando se está mais inocente
É sob aspecto frágil revelar-se resistente
é para interessar-se ser indiferente
Quando helena recusa é que consente
se tão pouco perdoa é por ser indulgente
baixa os olhos se quer ser insolente
Ninguém é tão inconscientemente consciente
tão inconsequentemente consequente
Se em tantos dons abunda é por ser indigente
e só convence assim por não ser muito convincente
e melhor fundamenta o mais insubsistente
Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
O mar a terra o fumo a pedra simultaneamente."

Contalá, um projecto de livros e histórias para os mais pequenos

Clique na imagem para aceder ao site

O Contalá é um site sobre livros e leitura voltado para o público infantil. Nos vídeo-books, são lidos livros infantis pela contadora de histórias, a Elsa Serra. O Contalá pretende incentivar a leitura, estimular o imaginário infantil e divulgar os livros ilustrados de que tanto gostámos! Ouve uma história! E diverte-te!

As histórias em voz alta
Contar histórias é partilhar, é dar de nós, é dar ao mundo, conhecer , e descobrir... a nós e aos outros. Falando-nos dos nossos medos, descobertas, alegrias, receios, tabus, o lado bom, o lado mau da vida, e as paixões. As histórias espelham-nos, dão-nos identidade, força, e fazem com que nos encontremos connosco e com os outros. E que nos encontremos com a “nossa” sociedade.

Quem é o contador de histórias?
É uma voz... De uma mãe, de um pai, de um irmão, de uma irmã, de um professor(a), de uma avó ou de avô, de uma contadora que vai à escola ou à biblioteca ou de uma fiandeira de outros tempos. É quem conta uma história olhos nos olhos, de pé ou sentado, em movimento ou parado, é quem transporta consigo a paixão pelos contos tradicionais, pelas histórias, pelos livros e tudo mais. E com a generosidade de dar um “bocado” de si, num momento de partilha. É um momento de cumplicidade, de comunhão.

Tudo isto se passa no novo edifício da Fundação Champalimaud está localizado em Belém, à beira do Rio Tejo. Este centro de investigação científica tem investigadores e académicos, cientistas e médicos, nacionais e estrangeiros, a desenvolverem projectos nas áreas das neuro-ciências e da oncologia. Os jardins, um anfiteatro ao ar livre e uma zona de restaurantes que estão abertos ao público.

Fiquem aqui com um exemplo de uma leitura, "Onde moram as casas" de Carla Maia de Almeida

a-ver-livros: ler o verão com Jonathan Burton

Faz de conta que sou a tua leitura de verão,
o livro adiado à espera de um dia de sol.
Faz de conta que sou a página que te deixa preso
e relês vezes sem conta.
Faz de conta que há um jardim assim.
 
Não sabes que o maior prazer das árvores
é ver os seus mortos transmutados em livros?


* para conhecer melhor o pintor britânico Jonathan Burton (a viver em França) é só seguir o link www.jonathanburton.net

Só para memória futura, este quadro é uma homenagem a Seurat, recriando um seu quadro para um editorial sobre sugestões de leitura para a revista Nature.
www.jonathanburtonblog.net/2009/07/hommage-seurat

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Poema à noitinha... António Ramos Rosa

Um Ofício que Fosse de Intensidade e Calma 

«Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo
Que a palavra fosse sempre a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprio.»


*António Ramos Rosa nasceu em Faro, no ano de 1924. 

Livros com prazo de validade, mantenha as suas leituras em dia

Chama-se «El Libro Que No Puede Esperar», é lançado por uma editora argentina e é impróprio para pessoas que demoram uma eternidade para ler um livro. Esta “invenção” foi desenvolvida por um grupo de autores argentinos, e tem um “tempo de vida” de aproximadamente 4 meses.

Na impressão utilizaram uma tinta que evapora ao fim de algum tempo, quando é exposta ao ar ou à luz. Segundo os autores, as letras começam a desaparecer passados dois meses depois de retirado da embalagem (vem lacrado a vácuo), passados 4 meses apenas existem páginas em branco.

Se não queres perder o conteúdo, deves ler obrigatoriamente o livro durante esse tempo. Esta ideia foi um sucesso de vendas e tornou a editora «Eterna Cadencia» famosa.

1º Parágrafo: A Guerra Civil


Os dois emigrantes, a bordo da escuna Le Dragon zarpando de Belém, sabem que os príncipes ainda não aprenderam o exemplo de bem morrer.



* Álvaro Guerra, pseudónimo de Manuel Soares (Vila Franca de Xira, 19 de Outubro de 1936 - Vila Franca de Xira, 18 de Abril de 2002), foi jornalista, fundador do jornal “A Luta”, politico e diplomata, embaixador de Portugal em Estocolmo.
* Combateu na Guerra do Ultramar, entre 1961 e 1963, na Guiné-Bissau, crítico do salazarismo, gabava-se de ter sido um dos primeiros autores a escrever sobre esta guerra.


a-ver-livros: à janela com Loreto Salinas

Escolhe uma janela e abre-a de par em par.
Podia ser um livro.
Podia ser a tua mente.


* para conhecer melhor a ilustradora chilena Loreto Salinas é só seguir o link www.loretosalinas.com

Poema à noitinha... Johann Wolfgang von Goethe

Feliz Só Será

«Feliz só será
A alma que amar.

'Star alegre
E triste,
Perder-se a pensar,
Desejar
E recear
Suspensa em penar,
Saltar de prazer,
De aflição morrer —
Feliz só será 
A alma que amar.»



*Goethe nasceu na Alemanha e viveu entre 1749 e 1832.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Um Piano Para Cavalos Altos, no Ler Mais Ler Melhor

Ler Mais, Ler Melhor é um programa dedicado ao mundo dos livros. O programa tem como objectivo promover a leitura e divulgar todas as novidades da edição livreira nos mais diversos géneros e para todas as idades. LER Mais, Ler melhor ouve a opinião de especialistas ligados ao livro e à literatura, desde escritores a editores, passando naturalmente pelos críticos. 

Neste programa abordam a obra "Um Piano Para Cavalos Altos" de Sandro William Junqueira, que é a nossa escolha para livro do mês aqui no blogue, por sugestão e leitura da Elsa Martins Esteves.

Aqui fica para verem:

1º Parágrafo: Opus Pistorum


Deus sabe que já vivi em Paris o tempo suficiente para não me sentir surpreendido com coisa alguma. Aqui não é necessário procurar deliberadamente aventuras, tal como acontece em Nova Iorque... só é preciso ter um pouco de paciência e aguardar; a vida virá ao nosso encontro nos locais mais incríveis e obscuros e as coisas passam-se aí.


* Tradução de José Jacinto da Silva Pereira
* Henry Miller escreveu, em Paris, Trópico de Câncer  (1934), cuja publicação esteve proibida nos EUA até1961. Foi também em Paris que conheceu os escritores Lawrence Durrell e Anais Nin, que marcaram a sua vida e obra. 

a-ver-livros: à deriva com Carlos C. Lainez

Perdi-te.
Segues à deriva, perdido nas águas do livro que te dei.
Nem me vês aqui, 
a acenar directamente das areias da praia.
Fica o orgulho de ter escolhido um livro que te faz navegar.

* para conhecer melhor o pintor espanhol Carlos C. Lainez é seguir o link carlosclainez.blogspot.pt

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Eu, os peixes e o bairro!

Foto: Bairro dos Livros (para ver mais fotos do evento clique nesta foto)


Fui chamada. Aceitei. Fui ler um texto, uma small song, da Raquel Serejo Martins.

O texto em tudo era a minha cara. Falava em atuns (e caso se lembrem, se eu fosse um animal era um atum) e peixes… não no Nemo em particular, mas em muitos e vários peixes.

A questão é que, exceptuando uns sete casamentos, nunca tinha lido nada em público.

Conclusão: “paniquei”.

Sábado, perto das 15h00, chegava eu no meu salto 13 à praça Carlos Alberto. Estacionei com a preciosa ajuda de um arrumador dedicado um pouco mais distante do habitual. Demorei alguns minutos a relocalizar-me e a encontrar o café Piolho (note-se que sou nascida e criada nesta cidade). Lá encontrei o Piolho, o Pedro (“sócio” do nosso desejado blogue até à data não conhecido pessoalmente), e as meninas da Errata (projeto de teatro).

Mais pânico.

Voltando ao meu salto. Quem é que vai para a baixa, cujos paralelos da calçada são autênticas armas de suicídio, com salto alto?? Melhor… Quem vai nestes preparos para este cenário a super “panicar” e encontrar-se com freaks e malta das artes (e não estou a cometer uma rotulagem, escrevo porque sempre trabalhei em circuitos artísticos)?

Apresentações feitas e desabafos lançados, o pânico.

Chego à livraria, com os referidos acompanhantes, e assumo a postura artística. Tiro os saltos. Descalça, senti melhor o chão sujo e o nervosismo. Tinhas as unhas pintadas. E bem!

Sem que eu desse por ela, os lugares vazios desapareceram. Até o mesmo chão fez de cadeiras. E mais gente chegava. Já quase terminava a minha garrafa de água quando dei o meu último pequeno gole, já observada, mesmo antes, de começar a leitura, tinha que me entalar ou pior engasgar (engasgar é pior)!!! Acho que aquela aguinha também tinha nervos. E eu que não me tinha espatifado com os saltos, acabo entalada com um mísero gole de água.

Comecei a ler. Os nervos continuaram a fazer tremer o papel que segurava, desconfio que era o bater do meu coração encaracolado. Mas a voz esteve calma, segura e rouca. As cabeças dos que ouviam seguiam com sorrisos.

O texto com voz acabou comigo descalça e com palmas. Tantas palmas.

1º Parágrafo: Absalão, Absalão!


Das duas horas soadas até quase ao pôr do sol daquela tarde quieta, longa tarde, quente e morna, penosa tarde em Setembro, ficaram eles sentados no que Miss Coldfield ainda chamava o escritório porque seu pai usara chamar-lhe assim – uma saleta abafada, quente e escura, onde há quarenta e três verões se corriam e serravam as tabuinhas porque, sendo ela menina, dissera alguém que a luz e a viração do ar trazem a calma de fora e a frescura sempre está onde houver obscuridade, a mesma (entretanto ardia o sol mais e mais sobre essa parte da casa) que se adufafa já de louras feridas com as muitas partículas de pó que o próprio Quentin julgou serem escamas de tinta revelha e seca, lascada, trazidas ali por improvável vento das tabuinhas de fora. Uma glicínia floria pela segunda vez nesse Verão, posta à janela nas ripas de uma latada, que os pardais visitavam em revoadas de acaso, e num bulício vigoroso e seco depois abandonavam: e, frente a Quentin, Miss Coldfield, de eterno luto como há quarenta e três anos o pusera, se por irmã ou pai ou marido que o não foi ninguém o sabe, sentava-se muito aprumada na simples cadeira de recto espaldar, cadeira tão alta que as suas pernas pendiam verticais e rígidas, como se fossem de ferro canelas e tornozelos, sem tocar o chão, nessa raiva impotente e estática dos pezinhos das crianças, e falava, numa voz soturna, alucinada, voz de assombro, até que desespera o esforço de escutá-la, o ouvido confuso mal percebendo as palavras, e o objecto da sua frustração impotente, sim, mas indomável, esse que há tanto tempo morrera, então ressurgia, como se pela ultrajada insistência dela fosse conjurado, sereno e manso, impassível, da poeira povoada, vitoriosa, eterna.




* Tradução de Maria Jorge de Freitas

a-ver-livros: amor perfeito de Eva Vázquez

Beijos roubados na sombra?
Que é deles? Esqueci-os.
Lembro o frescor da juventude e as nossas sombras, lado a lado, livros na mão.
Foi o Verão perfeito, sabias amor?


* para conhecer melhor a ilustradora madrilena Eva Vázquez é seguir o link evavazquezblog.blogspot.pt/

terça-feira, 17 de julho de 2012

José Saramago em dicionário, para descobrir de A a Z


Se conhece a obra de José Saramago, certamente identifica com rapidez nomes como Blimunda, a Mulher do Médico ou o Elefante. Mas Se precisar de localizar o Rapazinho Estrábico ou o José Pequeno, vai gostar de ter à mão o "Dicionário de personagens da obra de José Saramago" que a académica brasileira Salma Ferraz apresentou no passado dia 13 de Julho, na Casa dos Bicos.

O dicionário reúne 354 personagens, depois de um trabalho exaustivo de cujo resultado a autora, no prefácio, se diz insatisfeita: "Não estou contente, persigo a perfeição e já visualizo várias revisões em futuras edições". A obra é publicada pela editora universitária brasileira Edifurb, e inclui a reprodução do discurso do escritor na aceitação do Prémio Nobel, em 1998, e ainda «uma curta biografia de José Saramago, a respectiva bibliografia, a lista de prémios, condecorações e doutoramentos honoris causa».

A investigadora, que tem uma vasta obra ensaística e literária, é professora associada de Literatura Portuguesa na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, onde acompanha a pós-graduação de Literatura com a linha de Pesquisa Teopoética - estudos comparados de Teologia e Literatura. Formou-se em Letras pela Faculdade Hebraico Brasileira Renascença e especializou-se em Literatura Brasileira e Literatura Infantil na Faculdade Severino Sombra do Rio de Janeiro. Cumpriu mestrado e doutoramento em Literatura Portuguesa na Universidade do Estado de São Paulo e prosseguiu os estudos, com um pós-doutoramento em Teologia e Literatura Na Universidade Federal de Minas Gerais.

1º Parágrafo: Quem Matou Palomino Molero?


- Filhusdumagrandessíssima – balbuciou Lituma, sentindo que ia vomitar. – Como te deixaram, franzino.


* Dois polícias, um tenente e um guarda investigam o crime.
* Tradução de António José Massano

a-ver-livros: na praia com Giselle Porter

Derrete-se aqui.
Escorre-se lentamente, linhas e letras e tudo, para um mar-sopa que mal refresca.
Diz que é Verão e que o sol na moleirinha causa alucinações.
Eu não vejo um cão, vejo um rato de estimação.


* para conhecer melhor a ilustradora Giselle Potter é seguir o link www.gisellepotter.com

«Milagre» de R. J. Palacio é novidade nas livrarias



"Milagre", o livro que se tornou símbolo anti-bullying nos EUA, saiu esta semana em Portugal: «August nasceu com uma deficiência genética que faz com que o seu rosto seja completamente deformado. Aos 10 anos, enfrentar o maior desfio da sua vida. A escola. Um livro da estreante R.J. Palacio que está a causar grande sensação entre os média e as edições internacionais sucedem-se.»

Conheça aqui a campanha “Choose Kind” lançada pela Random House Children em torno deste livro (conhecido como "Wonder" na versão original): http://choosekind.tumblr.com/

A ASA, editora do livro em Portugal, adaptou também o breve vídeo sobre este livro, que vale a pena ver aqui.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Menino de Olhos Tristes


(ao domingo) Letras Focadas


“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas” 
Este menino que me olha tem a cor da noite sem luar!
Tem rosto sem sorriso...
Tem a alma escondida...

Olho-te...
Vejo-te...

Que histórias tens tu dentro desse olhar?

Quero pegar nesse olhar
E  no meu colo o embalar!
Quero pegar no teu rosto
E no meu abraço,
Contar-te histórias de encantar!
Foto de José Neves

Quero-te dizer que os homens não matam...
Quero-te dizer que os homens plantam na tua terra   sementes de esperança...
Quero-te dizer que os homens trazem nas mãos armas carregadas de fraternidade...
Quero dizer que amanhã quando acordares os campos estarão repletos de minas floridas de girassóis!
Quero-te contar uma história de sonhos para que o teu acordar não seja um pesadelo!

Nos teus olhos quero ver o brilho da inocência!
No teu rosto quero ver o sorriso da justiça!

Deixa-me, menino de olhos tristes,
Resgatar o teu olhar
Para que eu possa continuar a acreditar!

Elsa Martins Esteves

1º Parágrafo: O Outono em Pequim


Amadis Dudu seguia sem convicção nenhuma pela estreita ruela que representava o atalho mais longo para chegar à paragem do autocarro 975. Todos os dias tinha de apresentar três bilhetes e meio, pois descia, com o autocarro em andamento, antes da paragem; tacteou o bolso do colete para ver se ainda tinha algum bilhete. Sim. Viu um pássaro empoleirado num monte de lixo, a bicar em três latas de conserva vazias o que conseguia reproduzir o início dos Barqueiros do Volga; parou, mas o pássaro deu uma fífia e, furioso, levantou voo, resmungando, entre bico, umas obscenidades à pássaro. Amadis Dudu retomou o caminho, cantando o resto da música; mas deu também uma fífia e começou a praguejar.


* Tradução de Luísa Neto Jorge
* Na contracapa da 2ª Edição francesa pode ler-se “Esta obra não trata, naturalmente, nem do Outono, nem da China. Qualquer relação com estas coordenadas espaciais e temporais seria uma mera coincidência involuntária.”
* Barqueiros do Volga é uma música tradicional russa





a-ver-livros: é segunda, Andrew Hughes

Dobro-me sobre mim
mesma
mal respiro
para caber nas
páginas do livro
que leio

Que dores estranhas terei
chegando
a última página?


* para conhecer melhor o pintor britânico (de Liverpool, a terra dos Beatles) Andrew Hughes é seguir o link www.andrew-hughes.co.uk

Poema à noitinha... José Tolentino Mendonça

Da verdade do amor

«Da verdade do amor se meditam
relatos de viagens confissões
e sempre excede a vida
esse segredo que tanto desdém
guarda de ser dito

pouco importa em quantas derrotas
te lançou
as dores os naufrágios escondidos
com eles aprendeste a navegação
dos oceanos gelados

não se deve explicar demasiado cedo
atrás das coisas
o seu brilho cresce
sem rumor»


*José Tolentino Mendonça é Poeta, Padre e Teólogo. Este poema está publicado na sua obra «Baldios», da Assírio & Alvim.


domingo, 15 de julho de 2012

Olha nós no Bairro dos Livros

As imagens valem por mil palavras. Não há palavras que cheguem para descrever este dia. Fomos à rua, fomos ao Bairro, aquele, o dos Livros. Fomos conhecer esta família e rapidamente nos sentimos adoptados por quem partilha também o amor pelos livros. Leitores, curiosos, organização, livreiros, tantas caras e tanta felicidade. 

Nada de especial: é só um dia especial. Entramos e já não queremos sair. Entramos para ficar e já fervilhamos de ideias para o próximo Bairro dos Livros. Curiosos... mantenham-se atentos porque novidades não vão faltar!

O desafio era o de prescrever leituras, livros e autores, porque Ler é o melhor remédio. Pegamos em Max Aub e, toda a semana, descobrimos, reinventamos, adaptamos e enchemos o blogue deste medicamento aplicado em doses diárias. Porque a solução medicamentosa não era suficiente, adicionamos um tratamento teatral. Vamos lá ver Aub em cena. Parceria com a Errata, um grupo de jovens de teatro que estiveram connosco e esperemos voltar a tê-los por perto.

As fotos - aquelas que falam tudo e explicam tudo -  são do dia maior deste tratamento. Chegamos ao fim e toda a gente teve alta. Um jantar e um arraial para terminar em grande.

A servir de legenda às fotos. Mariana Jones leu o "Crime em small song" da Raquel Serejo Martins e eu (Pedro Ferreira) fiz a ponte para as meninas do Errata que apresentaram um excerto da sua peça.

Mais e melhor só mesmo para quem lá esteve! ;)


*quanto ao texto lido pela Mariana e da autoria da Raquel, vale a pena recordar aqui.


 Clique nas imagens para ver maior


a-ver-livros: ao domingo com Antonio Guzman Capel

Era uma vez
as manhãs de domingo
a tua cama, o mano
e aquele livro

Lembro-me como se fosse hoje. e hoje. e hoje. e hoje


* para conhecer melhor o pintor espanhol Antonio Guzman Capel é seguir o link www.antoniocapel.com