sábado, 20 de dezembro de 2014

Bai'má Benda - os quadradinhos que invadem o clube

Botem-l'uma maunta!!!
 
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Cronicando pela Ásia... Macau e o começo das despedidas

Macau,13 de Maio de 2009
 
 
Macau tem muito para ver. E é com esse espírito que saio bem cedo e me faço à estrada. A calçada portuguesa é o primeiro apontamento que tiro daquelas ruas. E estende-se por várias artérias. Piso a herança portuguesa, algo que é visível em muitas outras coisas.
 
As placas da rua e das lojas são nas duas línguas. É definitivamente uma ajuda para me guiar. O português não se escuta muito, por isso temos que ir de encontro à língua. E é isso que a minha lente regista.
 
 
Ali no largo do Senado aprecio a Igreja de fachada amarela e entro no edifício que traçou os destinos daquela praça. Cristo foi levado para aquelas terras e essa é uma marca importante do território. Algumas placas assinalam a passagem e a importância dos portugueses. As casas coloniais espelham bem a nossa influência.
 
 
 
 
Mas Macau também é casinos. Nascem como cogumelos, assim me dizem. E isso muito pouco de português tem. Pela abundância e sumptuosidade, percebo bem o porquê de Macau ser hoje Chinês. A selva de casinos luxuosos é megalómana, asfixiante. É complicado procurar o céu azul.
 
Pelo meio do meu périplo, passo na Livraria Portuguesa e namoro os livros em português. São caros, não tivessem vindo de tão longe. Na montra há Saramago, entre muitos outros. Passo no primeiro cemitério que vejo na Ásia, um cemitério protestante. Aquele porto de comércio foi também passagem para navegadores Holandeses e Ingleses, entre muitos outros. Estaciono uns tempos num jardim e avisto uma pequena estátua de Vasco da Gama. E ali fico a contemplar as gentes e pássaros.
 
 
 
A noite cai e a cidade ilumina-se. Janto numa tasca, rodeado de amigos. A comida é picante, os camarões estalam na boca. E há caril e muito gengibre. A comida chinesa encontra aí muitas fusões e derivações. E vale muito a pena.
 
As pernas cedem e vamos para um bar calmo ali ao lado das Ruínas de São Paulo. Morei todos aqueles dias numa rua bem ao lado, por isso não estava longe. Depois de uma longa e animada conversa, fomos para casa. É tempo de arrumar as malas, amanhã começa a viagem de volta a Europa.
 


 
Adormeço tranquilo, mas antes ainda penso em tudo o que vivi. Há uma parte de mim que não quer acreditar que amanhã parto.
 
Rodrigo Ferrão 

Your e cards... fictional characters

Foto frase do dia: Machado de Assis


A Lenda de Nogard - Capítulo 3 – Línguas de Serpente

Capítulo 3 – Línguas de Serpente
O sol já brilhava forte através da janela aberta quando Nogard finalmente acordou. A casa de Nogard ficava na parte sul de Ferro Forte, onde todas as outras casas ficavam, afastadas da zona dos ferreiros, pois o barulho dos malhos era ensurdecedor e tedioso, alem de ser extremamente incomodo para as mulheres da vila. O quarto de Nogard era simples, com paredes de madeira e poucos móveis, uma cama de palhas com um cobertor rústico de couro de cabras, um baú aos pés da cama com as vestes humildes de Nogard, apesar de Serena ser costureira ela não tinha muito tempo ou fundos suficientes para costurar roupas novas para Nogard, que não se preocupava muito com isso. A casa de Nogard era forte e estável, com quatro lados iguais, uma muralha baixa de pedras soltas circundavam-na, ali outrora tinha sido o Pátio dos Arqueiros, e era gerenciada pelo Grão Arqueiro Bemiron, pai de Nogard.

Nogard levantou-se rapidamente, de um salto, lembrando-se de que já deveria estar na forja de Merlon ajudando-o com as lanças de Lord Grum, que seriam enviadas para Pescoço dos Homens na próxima manha, mas quando pôs os pés no chão sentiu seus olhos enchendo-se de lágrimas, suas costas ardiam, seus joelhos e cotovelos estavam ralados e coçavam muito, uma dor incomoda e permanente, seu tornozelo direito estava inchado dos torções que sofreu enquanto carregava os elmos, e seu braço esquerdo tinha uma mancha roxa tão grande e redonda quanto o Lago do Rei. Vestiu-se desajeitadamente, com uma camisa fina e rasgada e um groso colete de couro pesado demais para uma criança, os curtos cabelos estavam desgrenhados e encaracolados, começando a ficarem grandes demais para o gosto de Serena. Ele saiu do quarto e caminhou para as cozinhas na esperança de não ver sua mãe, que já estava dormindo quando ele chegara em casa na noite passada.
Mas suas esperanças foram um sonho bobo de criança.

Sua mãe o esperava, com seus belos cabelos negros e compridos que lhe caiam até a cintura. Serena era uma mulher de meia idade, era bela demais para sua idade e vivia triste demais para sua beleza, vestia um longo vestido cinzento que lhe cobria os ombros, o colo e as pernas, mais reservada impossível, estava na beira do forno, onde assavam alguns pães e fervia um grande bule de leite, Nogard sabia que o bule não estava cheio nem um terço de seu total, mas ele também não ligava para isto. A mesa da cozinha era uma longa tábua plana sobre quatro cavaletes, com dez cadeiras altas de cada lado, e em todos os encostos havia algum Dragão de Andor entalhado, estava completamente vazia, ali onde em outros tempos até vinte arqueiros faziam suas refeições e bebiam suas cervejas em cornos de guerra e canecas de madeira. Bemiron treinava os arqueiros para o Rei e para os Lordes e recebia muito bem por isso, naquele tempo era considerado um dos homens mais ricos das províncias de Pescoço dos Homens, porem tudo se perdeu durante as inúmeras batalhas contra a Longa Sombra do Sul.

- Bom dia Senhor Nogard, dono de seu próprio nariz, senhor de Pátio dos Arqueiros.
 Nogard corou, abaixou a cabeça e caminhou timidamente para a mesa, puxou uma das altas cadeiras de madeira e ela fez um barulho enorme que ecoou por todo o salão, sua mãe lançou-lhe um olhar de reprovação e ele mordeu o lábio. Por fim, mas com muito esforço devido aos ferimentos , sentou-se na alta cadeira.
- Bom dia mãe. – disse timidamente, em um tom de voz de quem sabe que esta errado – Desculpe por ontem.
- Cuidado, está quente, tanto o leite quanto o pão – disse sua mãe colocando seu café da manha à mesa, ignorando seu pedido de desculpas -, onde esteve ontem Nogard?
Ele pensou em mentir mas estava assustado demais para pensar em alguma mentira boa, e levar uma surra machucado como estava não seria nada agradável.
- Estava com Arwen. – o olhar de sua mãe foi o suficiente para que ele soubesse que a resposta não tinha sido suficiente – Estávamos brincando de cavaleiros na clareira do bosque.
Serena sentou-se ao ouvir a desculpa de Nogard, retirou um pequeno pedaço de pão e mordiscou sem tirar os olhos de Nogard, então suspirou tristemente.
- Nogard, você não entende, ser um cavaleiro não é uma brincadeira de bosques, é um serviço perigoso e mal pago, nenhuma das mulheres do reino quer que seus filhos se tornem cavaleiros, seu pai nunca gostou de cavaleiros e não quis ser um deles quando teve a oportunidade, e ainda tem essa maldita guerra que não acaba nunca.

- Mas mãe eu serei um bravo cavaleiro, eu prometo mãe, vou salvar o reino dos wargs e vou matar muitos Bulks.
- E suponho que matará Aquele que Restou e o Falso Rei, com um único golpe de sua lança de galhos não?

Nogard sentiu o choro vir aos olhos mas prendeu-o com todas as suas forças.
Sua mãe notou.
- Você não chora meu filho, como eu me orgulho de você – Nogard olhou-a surpreso e viu as lagrimas escorrendo pelo rosto de sua mãe -, eu te amo com todas as minhas forças e beijaria as chamas dos Dragões para não perde-lo, mas há coisas que ninguém consegue derrotar, a vida vai tira-lo de mim e não importa o que eu faça isso não vai mudar. – disse Serena, levantou-se da mesa e foi em direção aos armários da cozinha.

Nogard não entendeu muito bem o que sua mãe disse, mas não quis discutir, já estava enrascado demais até aquele ponto.
- Não terá mais aniversário amanha? – perguntou Nogard
- Não, não meu filho, mas não é devido a sua travessura de ontem – Serena limpou os olhos com a manga do vestido e respirou profundamente -, não terá aniversário porque você não estará aqui, Merlon esteve aqui hoje mais cedo, amanha você irá com ele para Pescoço dos Homens, esta na hora de você aprender como funciona esse comércio, e se os Dragões me protegerem você vai se tornar um ferreiro e não um maldito cavaleiro.

Nogard ficou maravilhado com o que sua mãe lhe disse, faria onze anos no próximo dia e imaginava uma festa para as crianças da vila naqueles salões, talvez sua mãe não tivesse os fundos suficientes para pagar as despesas do festejo e não houvesse festa alguma, porem depois de ouvir que iria para Pescoço dos Homens não pode pensar em presente melhor para aquele aniversario. Levantou-se e foi em direção à porta e então viu sua mãe pegando um pote de Línguas de Serpente em conserva, uma planta que era comumente usada pelos Curistas do reino para desinfectar os ferimentos das pessoas, e era conhecida por arder e queimar dolorosamente.
- Mãe já estou ind...
- Sente-se aqui cavaleiro, vamos cuidar dessas feridas.
Arwen você me paga garota, pensou Nogard antes de começar a choramingar e reclamar das Línguas de Serpente.
 
*Por Marco Antonio Febrini Júnior

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Eu poético: «Lições»

Lições

visto o meu melhor sorriso
(amarelo)
e saio.
é assim que todos os dias
combato a minha insignificância.
sim,
conheço perfeitamente o que dizes
nas minhas costas.
sei com quem falas
e quem consegues convencer
-
a
merda
que
sou.

não presto.
sei bem o quanto não presto
e que peso tem todo esse ódio.
é tão bom descobrir
pelos outros tudo aquilo
que a tua falta de coragem
não me sabe dizer.

também vestes o teu melhor sorriso
(podre)
e encaras-me.
é assim todos os dias
que afirmas a tua superioridade.
sim,
sabes bem o que fazes
nas minhas costas.
sabes quem são as tuas cunhas
mas não sabes quem te trai
-
a
merda
que
és.

tu é que não prestas.
sei bem o quanto não prestas
e o medo que isso me deu.
é tão bom sentir que já não deixas mossa.

sou mais forte do que isso
e sei algo que tu não sabes:
a felicidade dá trabalho.

(acredita,
sabe tão bem).

se um de nós está a mais,
se já não resta uma única esperança na tua mudança,
então
saio.
não
preciso
de
mais
lições.

Rodrigo Ferrão


Foto: Rodrigo Ferrão

a-ver-livros: ilusão

O desejo é uma besta
de telhas e venetas 
birras de corpo intranquilo
ardis de brutos
carnais e selvagens
na profundeza da floresta
pejada de sombras
O desejo é uma anta
descortês e alarve
O desejo é uma palavra
cega de insolências 
e a floresta uma ilusão
de lençóis


Ana Almeida

* para saber mais sobre o ilustrador italiano Matteo Brogi
siga o link http://www.matteobrogi.it/

Foto frase do dia: John Lanchester

Poesia em matéria fria: Manoel

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Gonçalo Viana de Sousa - o flâneur das sensações




Meu querido José,

Depois de duas semanas, eis-me de volta. Sinto-me, novamente, parte do mundo e do movimento constante. Ah! O que é a vida senão esse viajar e este cosmopolitismo que muitos vêem como diletante! Cidades, amo, jovem José, como o senhor Reis amou as rosas. As rosas e Lídia, pois não acredito que tivessem somente enlaçado as mãos, até porque um tio meu, Francisco de Sousa, chegou a conhecer essa tal Lídia na flor dos seus trinta e poucos anos!
Pois bem, viajei, li, comi, conheci! Eis o resumo destas duas semanas. Revisitei amigos e lugares. Eis a Europa! Eis a civilização. O Efraim disse-me que escreveu emails para a minha caixa de correio virtual, mas não os li, nem um! Enfim, lá lhe respondi um “estou bem”. Melhor dizendo, respondeu o Efraim por mim, já que sabe bem da minha aversão às bugigangas deste século de betão armado, escândalos e vigarices!
Envio-lhe um dos mais breves textos do sempre impublicável Cadernos de Nicosia, até porque outros textos são muito longos e o Efraim também precisa descansar, não vou mandar o pobre semita copiar manuscritos quando nem quatro horas dormiu. Além do mais, estimo-o, e nunca fui masoquista, senão comigo mesmo.
Pois bem, jovem pós-moderno, (ou prefere que escreva post-moderno, pois já notei que escreve com o prefixo latino, doidices!) aqui vai o texto. Venha cá jantar, amanhã, traga (…). Mande resposta assim que puder.
Um abraço do Efraim que já deve roncar.
Outro meu, do seu

Gonçalo V. de S.


"Descida ao piano"

            Desço a escadaria que me leva aos propósitos que um dia semeei. De lá, passo por entre os jardins pintados em atmosferas interiores e íntimas, com um desejo de lampiões de gás numa cidade quadro de Cesário. Cidade que não Lisboa. Esmago qualquer ânsia de voar mais alto, mais alto do que todos os voos de uma primeira juventude. Que fiz eu da minha primeira juventude? Espingardas mentais, revoluções e metafísica.
            Cresci entre os tons verdes e azuis, numa casa caiada de sol e de muito céu. Um céu grandiosamente azul. Um azul de todas as cores. Mas nada disto interessa. O piano é uma paisagem de fundo, de azuis esfumados e pensativamente reais. Tudo fica sempre pela metade, como um ante-intervalo.
  A minha casa fica para lá deste hotel, para lá de todo este mar e de todos os montes peninsulares que adormecem virados para Oriente. Para o Oriente que é o Ocidente do Oriente em que me encontro.
Nicosia é este ante-estar, este entre-estar, fenda de mundos e civilizações.
Em tons impressionistas, calco as folhas do jardim do hotel, quando a noite pinta a tela que é o mundo com cores diáfanas, calmas, líquidas.
Que fiz eu da vida Efraim? (Efraim enche-me o copo outra vez).
Sinto-me numa constante descida ao piano. A um piano que existe em noites como estas, religiosamente quentes e longas. Noites que duram para sempre.
Qual o propósito de tudo isto? Lembro-me da liberdade proclamada em tons vivos e vermelhos, de um vermelho de sangue que jorra compulsivamente. Que fizemos nós da liberdade?
Sinto-me demasiado filosófico e nunca tive senão respeito e distância por todas as filosofias. Sorvê-las até certo ponto, como um beija-flor que recolhe o néctar de todas as plantas do mundo, não sendo portador exclusivo de uma só. Assim deveríamos ser na vida. Mas se penso nisto filosofo e não mo posso permitir. Por vezes até me lembro do pastor dos rebanhos que eram ficções e acabo por sorrir enquanto sorvo o último hausto deste líquido âmbar, filho de gerações perdidas e de segredos semi-guardados.
Estou como o Carlos e como o Ega, “tenho a alma numa latrina. Preciso de um banho por dentro.”
Mas tudo é mentira. Pelo menos, tudo parece mentira. Não interessa.

 Calo-me e as palavras deixam de existir. Para Sempre.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Foto frase do dia: Lispector


a-ver-livros: resquícios

arranca-me a poesia
do peito
que não a consigo escrever
arranca-me o medo
e o rasto das noites escuras
a pingar saudade
rasga o que resta 
da biblioteca que sou 
queima o livro 
que ainda não fiz
na fogueira deste epitáfio
em vida
arranca-me as vísceras
que citam o Campos e aceleram 
partículas
resquícios de dias 
em que julgava um templo
o arco dos corpos

Ana Almeida

* para saber mais sobre a pintora Vanessa Bell, irmã da escritora Virginia Woolf
siga o link http://www.blogclubedeleitores.com/2012/03/ver-livros-vanessa-pinta-virginia.html

A Língua Morta de - José Carlos Barros

José Carlos Barros, "O Uso dos Venenos" (Língua Morta)

Poesia em matéria fria: manifesto poético de Leminski

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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Nos tempos das enchentes...

Ainda acham possível?
 
Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder por nada! 

É do borogodó: cânhamo


Meu corpo é cânhamo
virgem
à espera do bordado
Teu corpo é agulha a espera da linha
Meu corpo sofre a delícia da primeira bainha
aberta
Teu corpo alinhava em vermelho o branco
do meu
Meu corpo se contorce a cada entrada
de seu ponto
atrás
Teu corpo em pontos de laçada
Meu corpo se ajusta aos menores entremeios
Teu corpo (em grand finale) decide o ponto

E nossos corpos se enlaçam no êxtase
do
ponto cruz.

* poema de Karin Krogh.
** fotografia Dora Maar, por Man Ray, 1936.
*** escolhido por Penélope Martins

Valter Hugo Mãe vai ser Snob na próxima Sexta

Na próxima sexta-feira o paraíso desloca-se para a Snob. Apresentação da ultima obra de Valter Hugo Mãe, "O Paraíso são os Outros".

Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. 

Evento em: https://www.facebook.com/events/1520777744847219/

Foto frase do dia: Saramago


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Fernando Guimarães é o novo prémio de Poesia Teixeira de Pascoes

Amarante, Porto, 12 dez (Lusa) -- O escritor Fernando Guimarães recebe hoje, em Amarante, o Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes, pela obra "Os Caminhos Habitados", numa cerimónia às 18:30, no salão nobre da câmara municipal.

O Grande Prémio, no valor pecuniário de 12.500 euros, foi decidido por unanimidade por um júri constituído pelos escritores António Mega Ferreira, Fernando J. B. Martinho e José Manuel Mendes.
Segundo a ata do júri, este "é um livro que exprime, na renovação e no aprofundamento, a consistência de toda uma obra, aqui conseguida segundo uma precisão até organizativamente notável".

Notícia: http://visao.sapo.pt/fernando-guimaraes-recebe-em-amarante-premio-de-poesia-teixeira-de-pascoaes=f804322#ixzz3M04vKFlD

 

Árvore

Conheço as suas raízes. É tudo o que vejo.
Há um movimento que a percorre devagar. Não sei
se ela existe. Imagino apenas como são os ramos,
este odor mais secreto, as primeiras folhas
aquecidas. Mas eu existo para ela. Sou
a sua própria sombra, o espaço que fica à volta
para que se torne maior. É assim que chega
o que não passa de um pressentimento. Ela compreende
este segredo. Estremece. Comigo procuro trazer
só um pouco de terra. É a terra de que ela precisa.

Fernando Guimarães, in Limites para uma Árvore

a-ver-livros: correspondência

Enfio-me no envelope
envio-me para longe 
desafio a carta a fugir ao destino
que soçobra dos dias
abismada com o peso
a mais
os selos a menos
a morada errada
a letra que não se entende
no envelope amarrotado
pelo espaço
pelo tempo a menos 
para encontrar a esquina certa
em que esperar o sol
que demora a chegar

Ana Almeida

* para saber mais sobre a pintora finlandesa Helene Schjerfbeck
siga o link http://www.wikiart.org/en/helene-schjerfbeck

Foto frase do dia: Edward Gorey


Poesia em matéria fria: Gonçalo M. Tavares

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domingo, 14 de dezembro de 2014

I'm so completely Snob!


No r/ch do n.º 210 da Rua D. João I, em Guimarães, existe uma livraria, a Livraria SNOB, sonho e audácia de uma troika boa, três mosqueteiros dos livros – a Emília Araújo, o Eduardo Fernandes e o Duarte Pereira – onde na noite do Domingo que passou mais uma vez o Pretérito Perfeito foi motivo de conversa, um presente que se faz passado, aos meus olhos perfeitos.


E porque sobretudo as pessoas, fico sem palavras (quando o que nos junta são as palavras) para dizer o quanto gosto das pessoas.
Não fico.
Morro de ridícula na tentativa.

Assim ao meu lado dois pilares perfeitos, Suzana Costa, advogada, fiscalista, professora universitária, cantora num Combo e num Coro curiosamente também fundados em Guimarães, e  Rodrigo Ferrão, jurista, bloguer premiado, poeta.

No meu outro lado, mais amigos, centenários e incontornáveis, como o Eduardo Miguel, o Ricardo Pereira, o Manuel Oliveira, mais os outros, que parece que sempre ali estiveram, a Ana Christelo, comovedora a fotografar solidões, que cumprindo os conselhos do Zeca, consigo trouxe dois amigos também, e a Clara Amorim em relação à qual me atrevo a dizer, como aprendi com a minha amiga Ana Saragoça, escritora que merece leitura, nós sempre fomos amigas mas só agora é que nos conhecemos.
E a novidade de um poeta na plateia, Vinícius de Moraes, copo de whisky na mão, diria saravá Hélder Magalhães!

E o que foi bonito de bonito, tudo o que ouvi dizer sobre o livro, sobre o Vasco, personagem principal de quem se falou como se de gente se tratasse.

E mais bonito de bonito, os olhares atentos e curiosos, e depois os gestos, o carinho devotado que tanto me comove.

Depois um pão-de-ló, a Clara Amorim levou um pão-de-ló, méritos da irmã, Cristina Amorim, esclareceu; um gesto doce em todos os sentidos, e mais me ofereceu flores, um ramo de tulipas encarnadas ainda em botão, flores que por instantes me fizeram viajar, agora, depois da Índia, para a Índia, chão onde mais me cruzei com cabeças de turbante, antes, para a Turquia, um dos meus primeiros países estrangeiros, a Clara sem saber comigo a viajar, porque me lembrei, lembro-me sempre, que o nome tem origem na palavra turca/otomana (não sei precisar) tulbend, que significa turbante.


Depois, sentada na esplanada central da livraria, as mesas cheias de livros, bebi um chá, aqueci o corpo, passei para o vinho, e acabei a noite leitora encantada por um encantador de leitores, porque o Duarte é isso, sem flauta nem relógio de bolso, um encantador de leitores.

Tens de ler este, e este e mais este, e já leste este?

Ora porque o autor, ora porque o tradutor, ora porque a história, ora porque a edição.

Os tantos livros que trouxe, quase uma dúzia, como as sardinhas, mais a Sesla, revista de poesia, oferecida pelo Rodrigo, e onde viu o seu primeiro poema publicado em papel. Sem papel há todo um “Eu poético” para ler aqui, no Clube de Leitores

Assim, entrámos pela madrugada a falar de livros, de livrarias, de editores, de livreiros, de autores, coscuvilhámos com curiosidade, carinho, admiração e por vezes tristeza que também as há no mundo dos livros.
Esquecemos o tempo.
E se ser Snob é isto... eu sou tão completamente SNOB.


* Fotos de Ricardo Figueiredo de Carvalho

A Língua Morta de - Marquês de Sade

Foto frase do dia: Desiderius Erasmus Roteordamus



Apanhei-te a ler... dia 31

Elizabeth Taylor
 
Encontrado no Pinterest.