sábado, 10 de agosto de 2013

Memórias Póstumas de Brás Cubas: o Primeiro Parágrafo

Capítulo I
ÓBITO DO AUTOR

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo principio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. 

Regar o cérebro com um livro...

Livros... a melhor maneira de regar o cérebro.


Retirado da página do Facebook: Improbables Librairies, Improbables Bibliothèques 
(cedido por Mustapha Oulmane)

Cronicando pela Ásia... Rumo à ilha do James

Mar da Tailândia, 
30 de Abril 2009

Como é costume na Tailândia, qualquer cidadão combina uma hora e o serviço chega dez minutos mais cedo. Eram oito e dez da matina quando o motorista da minha jornada bateu à porta. Estava na hora de embarcar para a Ilha do James Bond.

Quem vinha na carrinha ficou estupefacto com o hotel onde estava. Toda a gente vinha de grandes hotéis ou resorts e eu ali... naquilo que parecia um velho hospício. Afirmava convictamente perante todos a certeza de ser um verdadeiro viajante, o único de mochila às costas.


Quando ia tranquilamente galgando mar, já de creme solar posto, cai uma mulher à água! De repente parecia que estava num filme... o marido lançou-se em grande estilo e salvou a princesa. O povo aplaude o herói e ele enche o peito de orgulho.

As águias rondavam o barco e a tripulação assobiava e atirava comida. Elas picavam o voo para apanharem pão, a uma enorme velocidade. A ilha estava próxima, a excitação subia e o sangue pulsava de ansiedade para ver um dos locais mais míticos do país...

A Ilha do James Bond aguarda-me.


Rodrigo Ferrão

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cesariny de Segunda a Sexta: «Dorme Meu Filho»

Dorme Meu Filho

Dorme meu filho
dezenas de mãos femininas trabalham
a atmosfera
onde os namorados pensam
cartazes simples
um por exemplo
minúsculo crustáceo denominado ciclope
por baixo da pele ou entre os músculos

Dorme meu filho
o amor
será
uma arma esquecida
um pano qualquer como um lenço
sobre o gelo das ruas


*Mário Cesariny, in Pena Capital - Assírio & Alvim

*um prémio a quem adivinhar a criança...

O Clube de Leitores veio no jornal!

O Clube de Leitores veio no jornal! Pois é, na edição desta semana no Semanário Grande Porto há um espaço para o Clube e para os seus 3 anos de livros e leituras; acompanhados de tantas e tantas pessoas. Este espaço no jornal é da responsabilidade do Bairro dos Livros ao qual estendemos também o nosso agradecimento.

A lua está no chão, Urbano

A notícia triste do dia é tão simples quanto a morte.
Urbano Tavares Rodrigues já não vive.



Sobre o seu currículo, transcrevo o texto do jornal "Diário de Notícias":

"Catedrático jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa, membro da Academia das Ciências, tem uma obra literária e ensaística muito vasta e traduzida em inúmeros idiomas, do francês e do espanhol ao russo e ao chinês. Obteve diversos prémios, entre eles o de Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores, o prémio Fernando Namora, o Ricardo Malheiros da Academia das Ciências.

Entre os seus livros, destaque para 'A Noite Roxa', 'Bastardos do Sol', 'Os Insubmissos', 'Imitação da Felicidade', 'Fuga Imóvel', 'Violeta e a Noite', 'O Supremo Interdito', 'Nunca Diremos Quem Sois' ou 'A Estação Dourada'.
Urbano Tavares Rodrigues, que foi afastado do ensino universitário durante as ditaduras de Salazar e Caetano, participou activamente na resistência. Impedido de leccionar em Portugal, foi leitor de português nas universidades de Montpellier, Aix e Paris entre os anos de 1949 e 1955. E foi preso por várias vezes nos anos sessenta.
Doutorou-se em 1984 em Literatura com uma tese sobre a obra de Manuel Teixeira Gomes."

Mas foi tão mais do que isso. Foi um pai com um olhar especial, como recorda a filha, Isabel Fraga, que gere também a página de Facebook que lhe é dedicada:

"Lembro-me de um dia, por volta dos meus 7 ou 8 anos, ter recebido como presente uma caixa de guaches de todas as cores.
O desenho nunca foi o meu forte, mas julgo que nessa altura ainda não tinha tido oportunidade de chegar a essa triste conclusão e haviam-me criado condições para montar o meu pequeno atelier no quarto da costura da enorme casa dos meus avós.
Não sei que outras obras de arte teria feito antes, mas quando entraste na sala, nesse dia, estava eu a terminar o vestido radioso de uma menina que habitava uma paisagem campestre, cheia de árvores e flores.
Era minha intenção acrescentar inúmeras bolinhas brancas à sua saia rodada, mas mergulhara desordenadamente o pincel na tinta e um enorme borrão tinha caído no chão do desenho, manchando também o meu momento.
Tu aproximavas-te da secretária.
Era tão raro visitares-me enquanto brincava!
Rodei as cerdas do pincel em círculos rápidos e meticulosos, de aparente concentração.
— Que é isso — perguntaste. — Que estás a pintar?
— Uma menina — disse, sem desviar os olhos do trabalho. — Uma menina no campo.
—Ah, muito bem — ias concluir já de saída, quando um meio sorriso um pouco condescendente te reteve mais um pouco.
— E isto? — quiseste saber, apontando para o borrão de tinta branca que eu não parava de aumentar.
— Isto é a lua — respondi.
— A lua no chão? — estranhaste.
— Sim, a lua no chão.
O teu rosto tornou-se então grave. Sério. — A lua no chão — repetiste.
— Mas isso é lindíssimo! — e saíste triunfante, a folha de papel almaço entre as mãos, declarando naquele teu tom de voz quase em contralto que termina num murmúrio de verdadeiro êxtase:
— Isto revela um imenso sentido poético!
Dias depois o meu «quadro» surgia emoldurado. Andou por essa casa durante anos e anos. «A tua lua no chão» como sempre lhe chamaste.
Ainda hoje penso muitas vezes se as coisas belas o têm de ser obrigatoriamente à partida — enquanto ideia, elemento estético — ou se podem construir-se no material dos erros, dos borrões, rodando as cerdas dos afectos em longos círculos de tinta branca. Criando luas.
Julgo que sim.
Mas julgo também que, para que tal aconteça, é necessário que alguém, alguma vez, tenha sido capaz de olhar para o nosso trágico engano, para a nossa pinta derramada do vestido, emoldurá-lo, dar-lhe um pedacinho de parede e murmurar nesse exagero alquímico dos afectos «Isto é lindíssimo!»
Eu tive essa sorte."


Urbano com a filha, Isabel, e o escultor Francisco Simões

A lua está no chão, Urbano. E ainda há, além de tudo, a tua poesia.

"Destino

I
Trago na fonte
e estrela do fogo
da minha revolta
Nunca aceitaria qualquer tirania
nem a do dinheiro
nem a do mais justo ditador
nem a própria vida eu aceito...
tal como ela é
com todas as promessas
do amor e da juventude
e a parda doença
de envelhecer
a morte em cada dia
antecipada

II
Na mais lebrega alfurja
ou na cama de folhas macias
da floresta
onde a chuva te adormeceu
há sempre um idamante de sol
cujos raios te penetram de
ventura
ao sonhares a palavra
liberdade

III
Quando a terra poluída
tiver sorvido
toda a água dos lagos e das
fontes
hei-de levar o meu fantasma
até ao porto sonoro
onde a esperança cai a pique
sobre o mar dos desejos sem limite"

UTR in "Horas de Vidro"

a-ver-livros: momento e Karin Jurick

As nuvens deslizam
sanguíneas
na tela de azuis
e um lobo monta guarda
ao cio de uma estrela

Os meus olhos espalham-se
no verde que cresce
e uivo por dentro

* para saber mais sobre a pintora Karin Jurick
siga o link www.karinjurick.com

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Quem leu Mary Poppins? Pois.

Pois. Provavelmente toda a gente viu o filme. Mas... um livro? O mais certo é a maioria nem saber que, antes de ser um filme, "Mary Poppins" foi um livro. Na verdade, o primeiro de uma colecção de oito, destinados a crianças e jovens, escritos nos anos 30 por P. L. Travers, leia-se Pamela Lyndon Travers, uma actriz, jornalista e escritora australiana. 

Quanto ao filme, surgiu em 1964, pela mão dos estúdios Disney, depois de Walt himself ter levado duas décadas a tentar convencer Pamela a permitir a adaptação. Que não a deixou satisfeita, diga-se de passagem. Acima de tudo porque, na verdade, a ama Poppins interpretada por Julie Andrews é no filme bem mais doce, boazinha, mágica e divertida do que no livro, em que surge rude e azeda. 

E porque vem isso a propósito agora? Porque a jornalista australiana Valerie Lawson escreveu "Mary Poppins She Wrote", livro em que conta a história da vida da escritora, principalmente essa parte relacionada com o livro e o filme - e os estúdios Disney acabam de fazer dele uma versão cinematográfica para estrear em Dezembro próximo. Ao que consta, bem mais honesta do que a que fizeram de "Mary Poppins". E contando com Emma Thompson e Tom Hanks nos principais papéis.

O filme promete, dizem os críticos. "Saving Mr. Banks", assim se chama, junta a teimosia de Pamela Lyndon Travers, que só cedeu à adaptação do livro quando este começou a vender menos e o dinheiro começou a faltar, ao entusiasmo perseverante de Walt Disney, que queria satisfazer um desejo da filha, que adorava ver em filme um dos seus livros preferidos. Eu vou metê-lo na agenda de Natal.


Ah, pois. E o livro? Quem quiser lê-lo tem que o mandar vir em inglês. Em Portugal, depois da aposta que foi recuperar Enid Blyton, ninguém se lembrou - que eu saiba, avisem-me se estiver errada - de fazer uma edição em português. Talvez surja lá mais para o Natal, pois.



É do borogodó: trocando em miúdos com Alice Vieira

Por que não chamar as crianças de miúdos já que são elas as mais pequeninas?

Os dias parecem calmos e ensolarados junto da amiga Alice Vieira. Passo a explicar os adjetivos que só fazem atrapalhar todo o texto, mas eu não deixaria de fazer esta piada com a amiga. Pois, calmos os dias porque as conversas se estendem sem percepção de tempo, esquecidas de qualquer cansaço. Curiosa, pergunto disso e daquilo o tempo todo. Alice conta a história e satisfaz meu desejo de saber sobre Portugal, Lisboa, nossa língua. Quanto ao efeito ensolarado da amizade, há fartura de risos e abraços com Alice Vieira e isto explica todo calor em Lisboa.

Com grande satisfação comento com a amiga autora minha leitura de "Os Olhos de Ana Marta", obra que aprecio demais quer pela clareza do texto, quer pelo carisma da protagonista, quer pela coragem de se por à prova.

Neste livro, a menina Marta confessa de pronto sua desconfiança acerca de uma tragédia quando do seu nascimento:
“Trocaram-me de mãe no hospital. Como nos filmes, sabes.”


Trocamos, eu e Alice, a edição brasileira cujo prefácio foi escrito pelo poeta Bartolomeu Campos de Queirós, pela edição portuguesa que partirá daqui comigo. Nada poderia eu falar sobre este livro depois do texto convincente que ocupa o prefácio da edição brasileira.

Diz Bartolomeu Campos de Queirós: “… as transformações dos personagens nos convidam a um estado mais humano de compreensão. Passamos a ignorar a distância entre o bem e o mal. Há uma justa causa para que o olhar de Ana Marta encontre justificativas para melhor se relacionar… É que todos carregam perdas, lutos, desejos e mais os deslumbramentos com a experiência da posse da própria humanidade. E tudo acontece entre sombras que aos poucos ganham cores por meio da palavra.”.

Afinal, era o que eu havia dito sobre dias calmos e ensolarados ao pé de quem sabe fazer das palavras música de embalar sonhos, compreender a alma, transpor mundos e ir um bocado além de si mesmo.
No mais, há uma paisagem que estende o Tejo brando desenhando um abraço na Cidade de Ulisses; tenho dias de descoberta de literatura e deslumbramento pela pessoa de Alice Vieira.


PS: Sobretudo prefiro pessoas às suas obras, mas neste caso, as obras confirmam o carisma da autora, o que torna ainda mais indispensável procura pela edição brasileira de "Os Olhos de Ana Marta", de Alice Vieira, publicado pela SM Editores de São Paulo, aqui no Brasil.

Penélope Martins

[ para ler este artigo completo, primeiro publicado no blog Toda Hora Tem História, siga o link ]

Cesariny de Segunda a Sexta: «Para os Lábios que o Homem Faz»

Para os Lábios que o Homem Faz

Para os lábios
que o homem faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão

Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo

Olhos
a exigir
uma floresta 


*Mário Cesariny, in Pena Capital - Assírio & Alvim. 


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Agosto e Assis...

Memórias Póstumas de Brás Cubas - está escolhido o livro para o Cube de Leitores no mês de Agosto. Machado de Assis é um dos meus autores de eleição e gostava de partilhar convosco esta história. 

Não tenho dúvidas que nos vamos divertir muito. Seguem aí à frente as primeiras notas de introdução à leitura. Espero que vos abra o apetite!

Boas leituras.


Memórias Póstumas de Brás Cubas representa um marco decisivo tanto no desenvolvimento da obra do seu autor como na evolução da literatura brasileira. Rompendo com o estilo Romântico dos anteriores livros de Machado de Assis, é considerado o romance inaugural do Realismo brasileiro.

Publicado originalmente em folhetim, em 1880, na Revista Brasileira, saiu em livro em 1881, causando espanto à crítica da época: a obra era extremamente ousada do ponto de vista formal e apresentava as mais radicais experimentações na prosa brasileira até então, rompendo definitivamente com as fórmulas consagradas pelo Romantismo.

 Narrado por um defunto, o romance apresenta uma visão irónica do mundo e das pessoas, numa crítica mordaz à hipocrisia reinante. Livre e descomprometido com a sociedade, Brás Cubas, o narrador, revela e analisa não só os motivos secretos do seu próprio comportamento como também põe a nu as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu. Um retrato da elite carioca do final do século xix: uma burguesia rica com anseios de nobreza.

Fiel ao humor, à ironia e também à liberdade do texto machadiano, e antecipando procedimentos modernistas e descobertas da psicanálise, Memórias Póstumas de Brás Cubas elevou a literatura brasileira a um patamar que esta jamais havia atingido.


Cesariny de Segunda a Sexta: «Faz-se Luz»

Faz-se Luz

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca

*Mário Cesariny, in Pena Capital - Assírio & Alvim

a-ver-livros: hipérbole e Oliver Jeffers

Eu amava-te
e tu amavas livros
e manhãs claras
meia dúzia de bagos de uva
entre uma página 
e outra
e aquele cheiro a papel
recheado de guloseimas
metonímias e disfemismos 
a ocasional parábola

Até que uma mão se toca
na ausência de espaço
e há um volume ao acaso
amaste-me então 
em linhas corridas
pontuadas de espuma
e hipérbole
 

* para conhecer mais sobre o ilustrador Oliver Jeffers
siga o link www.oliverjeffers.com

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cesariny de Segunda a Sexta: «Em Todas as Ruas te Encontro»

Em Todas as Ruas te Encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto  tão perto  tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco


*Mário Cesariny, in Pena Capital - Assírio & Alvim

É do borogodó: descompassos do tempo

os encontros se davam em descompassos de tempo,
enquanto ela dormia ele a vigiava com dores de ausência
Penélope Martins

a-ver-livros: subsolo e Adam Niklewicz

Escondem-se palavras
no subsolo de mim
que as li por aí nos dias
de antes

Escondem-se 
na metamorfose das águas
e na combustão da luz
Ecoam à tona
sem querer


* Para conhecer mais sobre o polaco-americano Adam Niklewicz
como ilustrador é só seguir para www.illustratorusa.com.
Como escultor www.adamniklewicz.com

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cesariny de Segunda a Sexta: «Ortofrenia»

Ortofrenia

Aclamações
dentro do edifício inexpugnável
aclamações
por já termos chapéu para a solidão
aclamações
por sabermos estar vivos na geleira
aclamações
por ardermos mansinho junto ao mar
aclamações
porque cessou enfim o ruído da noite a secreta alegria por escadas
de caracol
aclamações
porque uma coisa é certa: ninguém nos ouve
aclamações
porque outra é indubitável: não se ouve ninguém


*Mário Cesariny, in Planisfério.

Livrarias do Mundo: Cambridge

Um desfile de livrarias - Cambridge.
Gostei particularmente da The Haunted Bookshop. 




a-ver-livros: sol a sul e Jeffrey Larson

Sol suave
sensação de sanidade
junto ao sal
sétima a onda 
de saudade
sul

* para conhecer mais sobre o pintor Jeffrey Larson
siga o link www.jeffreytlarson.com

domingo, 4 de agosto de 2013

Ler liberta? - conheça o projecto 'Palavra Chave'

O projecto "Palavra Chave" vai levar livros e outras actividades a diversos estabelecimentos prisionais do país a partir de meados de Setembro, em acções de voluntariado de apoio ao processo de reintegração social dos reclusos. 


A fase inicial vai ter lugar em Bragança, Lamego, Elvas, Grândola e Ponta Delgada, defendendo a utilização do livro como ferramenta de desenvolvimento pessoal e de integração social. 


Quem acredita no formidável poder dos livros levanta o dedo.

E quem quiser ler todo o artigo que fala deste interessante projecto, basta seguir o link que hoje vos deixo para terminar este dia de domingo. 

Ciclo Júdice: «Tempo Livre»

Tempo Livre

Numa tarde de domingo, em Central Park, ou
numa tarde de domingo, em Hyde Park, ou
numa tarde de domingo, no jardim do Luxemburgo, ou
num parque qualquer de uma tarde de domingo
que até pode ser o parque Eduardo VII,
deitas-te na relva com o corpo enrolado
como se fosses uma colher metida no guarda-
napo. A tarde limpa os beiços com esse
guardanapo de flores, que é o teu vestido
de domingo, e deixa-te nua sob o sol frio
do inverno de uma cidade que pode ser
Nova Iorque, Londres, Paris, ou outra qualquer,
como Lisboa. As árvores olham para outro sítio,
com os pássaros distraídos com o sol
que está naquela tarde por engano. E tu,
com os dedos presos na relva húmida, vês
o teu vestido voar, como um guardanapo,
por entre as nuvens brancas de uma tarde
de inverno.

*Nuno Júdice, in Meditação sobre Ruínas - Quetzal