sábado, 4 de fevereiro de 2012

Para aquecer a alma

"Quando Está Frio no Tempo do Frio

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —

Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no fato de aceitar —
No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,

Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo

Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo."

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa


* se alguém souber informar de quem é esta bonita ilustração, agradecia.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Fechar a Claraboia para mostrar o interior escondido


A abordagem que faço à leitura do livro é baseada no sentimento de confiança. Já li bastante da sua obra e gosto e conheço o suficiente para me sentir à vontade. Sabendo que há altos e baixos ao longo de uma obra tão extensa e até diferenciada era curiosidade o que me levava à leitura deste livro.

Já tinha ouvido falar deste livro, não era segredo que Saramago o tinha na gaveta à espera que chegasse a hora. Já se sabia também que essa hora seria sempre póstuma. Depois de o ler parece que foi escrito nos primeiros anos da década de 1950 para ser lido exactamente agora, mais precisamente em Janeiro de 1953, com 30 anos, José Saramago sob o pseudónimo Honorato.

Claraboia é a história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo. Primavera de 1952. Numa rua modesta de Lisboa, o prédio é o cenário principal das histórias simultâneas que compõem este romance da juventude de José Saramago. Os dramas quotidianos dos moradores - donas de casa, funcionários remediados, trabalhadores manuais - tecem uma trama multifacetada, repleta de elementos do consagrado estilo da maturidade do escritor, em especial a mestria dos diálogos e o poder de observação psicológica. As janelas, paredes e corredores do velho edifício lisboeta são testemunhas privilegiadas das pequenas tragédias e comédias representadas pelos personagens.

Acho que o livro não está mal construído, tem uma estrutura bastante diferente do que conhecemos de Saramago. Mais ingénuo talvez, mas não deixando de se notar já, a necessidade de uma critica social e dos comportamentos humanos muito típica na sua obra. Encontramos assim a ironia e o olhar acutilante e certeiro sobre as relações humanas, e somos surpreendidos com a segurança com que o então jovem escritor perscruta o interior destes personagens memoráveis, onde até já se incluem exemplos das mulheres, oprimidas mas fortes, que povoariam os seus romances posteriores.

"Isaura sempre gostava daqueles momentos em que, antes de curvar a cabeça sobre a máquina, deixava correr os olhos e o pensamento. A paisagem era sempre igual, mas só a achava monótona nos dias de verão teimosamente azuis e luminosos em que tudo é evidente e definitivo. Uma manhã de nevoeiro como esta, de nevoeiro delgado que não impedia de todo a visão, cobria a cidade de imprecisões e de sonho. Isaura saboreava tudo isto. Prolongava o prazer. No rio ia passando uma fragata, tão maciamente como se flutuasse numa nuvem. A vela vermelha tornava-se rosada através das gazes do nevoeiro. Súbito, mergulhou numa nuvem mais espessa que lambia a água e, quando ia surdir de novo nos olhos de Isaura, desapareceu atrás da empena de um prédio."

São vários núcleos de personagens, cada um em seu apartamento: irmãs que tem discussões sobre música e livros, um velho casal que sofre com a falta de dinheiro e aluga um quarto para um jovem rapaz, uma moça que é sustentada pelo amante de mais idade… Pouca coisa acontece no enredo do romance, estruturado como pequenos registos fotográficos de momentos comuns da vida dessas pessoas. Há apenas esparsas tentativas de escapar desse esquema narrativo, como o capítulo XIII, que começa com um trecho de diário e segue com um recorte de um romance de Diderot.

As partes de maior impacto emocional do romance geralmente são sabotadas por uma dramaticidade exagerada e por diálogos que revelam demais, como este de Emílio a falar com o filho adormecido: “Sou infeliz, Henrique, sou muito infeliz. Vou-me embora um dia destes. Não sei quando, mas sei que irei. A felicidade não se conquista, mas quero conquistá-la. Aqui já não posso. Morreu tudo… A minha vida falhou. Vivo nesta casa como um estranho. Gosto de ti e da tua mãe, talvez, mas falta-me qualquer coisa”.

O verdadeiro problema de Claraboia talvez resida no facto de que Saramago deixa muito pouco para a imaginação do leitor. O que não está explicitado em diálogos, logo em seguida é tornado claro pelo narrador.

Sympathy, por Paul Laurence Dunbar

Paul Laurence Dunbar foi um poeta, dramaturgo e escritor Afro-Americano dos finais do século XIX, inícios do século XX. A morte colheu-o cedo (aos 33), ceifado pela tuberculose. Dunbar escrevia no chamado Negro dialect, isto é, um Inglês vernáculo Africano desenvolvido nos Estados Unidos - uma mistura de crioulos com o Inglês falado no Sudoeste Americano. A sua escrita fez com que se tornasse num dos primeiros escritores Afro-Americanos reconhecidos pela nação.*

Fiquem com um belo poema. Não me aventuro a traduzi-lo para não perder a sua essência. Agradeço a quem me fez chegar, por mail. E quem me deu a conhecer Dunbar.


Sympathy

"I know what the caged bird feels.
Ah me, when the sun is bright on the upland slopes,
when the wind blows soft through the springing grass
and the river floats like a sheet of glass,
when the first bird sings and the first bud ops,
and the faint perfume from its chalice steals.
I know what the caged bird feels.

I know why the caged bird beats his wing
till its blood is red on the cruel bars,
for he must fly back to his perch and cling
when he fain would be on the bow aswing.
And the blood still throbs in the old, old scars
and they pulse again with a keener sting.
I know why he beats his wing.

I know why the caged bird sings.
Ah, me, when its wings are bruised and its bosom sore.
It beats its bars and would be free.
It's not a carol of joy or glee,
but a prayer that it sends from its heart's deep core,
a plea that upward to heaven it flings.
I know why the caged bird sings."

*esta breve introdução biográfica é uma adaptação minha directa da Wikipedia.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Wislawa: daqui para a nuvem

Descobri-a há tão pouco tempo, não estava preparada para esta despedida. Mas a verdade é que Wislawa Szymborska partiu ontem de Cracóvia para a terra dos poetas. Tinha 88 anos, uma vida inteira de fumadora e um cancro de pulmão para o provar, uns 400 poemas publicados ao todo, um Nóbel da Literatura ganho em 1996.

Os amigos, conta agora quem lidou de perto com a muito privada senhora polaca, referiam-se-lhe como "a tragédia do Nobel", já que durante anos não escreveu nem mais um poema.


Na sua aceitação do prémio sueco, Wislawa brincou com o potencial cinematográfico da vida dos poetas, parcas em material. "O trabalho dos poetas é muito pouco fotogénico. Alguém sentado a uma mesa ou afundado num sofá, olhando estático para uma parede ou para o tecto. De vez em quando escreve sete linhas, apenas para, quinze minutos depois, riscar uma, e depois passa mais uma hora sem acontecer seja o que for." Quem aguentaria assistir a este filme, perguntava-se.

Por mim, imaginei-a envolta numa nuvem de fumo, aparentemente impávida, fervilhando por dentro, ecoando vozes de tudo quanto é complexamente simples. Agora imagino-a fumando nuvens, algures nos céus de azul para que passo a vida a olhar.


Outros poemas haverá - não os conheço todos, quem dera - que falem melhor de despedida. Eu adoro este que se segue. E com ele faço o meu luto. Obrigada Wislawa, por teres vivido.

"Nuvens

Para descrever as nuvens
muito teria de apressar-me,
pois numa fracção de segundo
deixam de ser estas e começam a ser outras.

É sua propriedade
não se repetir
nas formas, tonalidades, poses e configurações.

Sem o peso de qualquer lembrança,
pairam sem dificuldade sobre os factos.

Mas nem testemunhá-los podem,
pois logo se dissipam em todas as direcções.

Comparada com as nuvens,
a vida afigura-se firme,
quase duradoura, eterna.

Perante as nuvens
até uma pedra parece nossa irmã,
na qual se confia,
mas elas, enfim, umas levianas primas afastadas.

As pessoas que existam, caso queiram,
e depois morram uma por uma,
as nuvens não têm nada a ver com
coisas
tão estranhas.

Sobre toda a tua vida
e sobre a minha, ainda não toda,
desfilam com pompa, como desfilavam.

Não têm obrigação de morrer connosco.
Não precisam do nosso olhar para navegar."


Deixo-vos ainda um vídeo sobre a versão original deste poema. É só seguir o link e, pelo menos, ouvir a música enquanto se relê esta tradução. Bem melhor do que um Te Deum.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=fhv5yu7nUPk#!


Com Claraboia reconciliei-me com Saramago


A Claraboia abre também outras janelas. Foi assim durante o mês de leitura do livro e é assim para o terminar. Desta vez para além do texto da pessoa que o escolhe, neste caso eu, há também uma surpresa. Hoje uma leitora, que segue o blogue e o nosso grupo no Facebook e também minha amiga aceita o desafio. Foi este o livro que acabou de ler e o texto que se segue é da sua autoria, a sua opinião sobre o mesmo. Brevemente as minhas opiniões também aqui.

Lembro-me de estar no 12º ano e de ler duas grandes obras: Aparição de Vergílio Ferreira e Memorial do Convento de Saramago. E no 'braço de ferro' entre estes dois escritores o primeiro levou a melhor.

Depois, mais tarde, recordo que abandonei outro livro do escritor da Azinhaga — A Caverna — possivelmente pela minha imaturidade na altura. E durante muito tempo não voltei a pegar em mais nenhum. Mas talvez porque Claraboia foi “a obra rejeitada” decidi dar-lhe agora uma oportunidade.  E devo dizer que a li de chofre, em menos de uma semana.

Saramago afirmou que este era um romance ingénuo — talvez como ele próprio seria quando o escreveu. Mas creio que falo verdade quando digo que Claraboia é um grande romance e não desmerece a obra do Prémio Nobel.  

E parece que é mesmo através dessa estrutura envidraçada — a claraboia — que conseguimos ver a vida dos personagens deste romance que habitam um prédio de Lisboa. Este prédio é, na verdade, um microcosmos da sociedade lisboeta dos anos 50.

Aqui são retratadas seis famílias: Silvestre, o sapateiro filósofo, e a sua mulher Mariana, tão bondosa quanto gorda; Lídia, uma “mulher por conta” que ganha com o corpo o seu sustento; Adriana, Isaura, Cândida e Amélia, quatro mulheres avulso que definham sem o amor de um homem. Quatro mulheres que vivem uma vida com “janelas sem horizontes” e que encontram na música uma réstia de alegria. Saliente-se que é através de uma destas mulheres — Isaura — que Saramago ousou tocar na questão da homossexualidade. E será através das leituras, nomeadamente d’ A Religiosa, de Diderot, que ela acaba por descobrir a sua orientação sexual.

Vivem ainda neste prédio: Justina e Caetano, um casal que se odeia mutuamente e que se agride até no silêncio; Anselmo, Rosália e a filha Maria Cláudia, que querem subir na vida a todo o custo; e Emílio e Carmen, um português e uma espanhola casados como que por “engano”, pais de Henriquinho.

Por fim, há Abel — que será o próprio Saramago. Ele é um jovem “livre” que se torna inquilino do sapateiro. Um jovem que lê e que se interrroga sobre a vida: “Queriam-me casado, fútil e tributável?, perguntara o Fernando Pessoa. É isto o que a vida quer de toda a gente?, perguntava Abel.”

E é ao longo das conversas de serão entre Abel e Silvestre que são abordadas questões filosóficas como a busca do sentido da vida — que, segundo o sapateiro, reside no verdadeiro amor.

Em Claraboia, Saramago faz-nos entrar casa e vida adentro destes personagens. E, com um certo voyeurismo, somos levados a conhecer, sem qualquer pudor, os desejos, os anseios, os medos, os sonhos, as desilusões e os segredos dos inquilinos deste prédio. As suas vidas são postas a nu sem qualquer delicadeza. E todas estas histórias nos parecem verdadeiras, todas estas vidas podiam “ser de verdade”. Acredito até que alguns destes personagens nos façam lembrar algum vizinho na vida real.
Claraboia é um romance simples (não quero que isto pareça redutor) e divertido — há ironia à colher. Mas também é sério. Muito sério. Porque, afinal, fala-se da vida.

Quando terminei o livro fiquei seriamente a pensar na(s) vida(s) de todos os personagens. E na minha também. Com Claraboia sinto que me reconciliei com Saramago.

Gina Macedo
gina.avila.macedo(at)gmail(ponto)com

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Quando se vai à luta...

Como se começa um texto de agradecimento?

- Exaltando à glória?
- Cumprimentando os vencidos?
- Sendo excessivamente modesto ou demasiado convencido?
- Falando em nome de quantos?
- Quais as emoções mais importantes?


Sou inexperiente na arte de "agradecer" a um público vasto. Nunca tive que o fazer em nome de um projecto... Mas aqui estou, três dias depois de saber que o blogue que fiz nascer ganhou um concurso numa categoria à qual concorreu (porque foi inscrito por um amigo meu).



A alegria por tal feito não se explica ou escreve. É um sentimento. Difícil de medir com uma balança, regra e esquadro ou um termómetro. Não se pesa. Não se quantifica. Não se mede. É uma emoção única. No meu caso, vivida pela primeira vez.

Quando falo nesta conquista, sei que não é só minha. É de um grupo. Em todos os dias do concurso trocámos ideias, combinámos textos a publicar... E lá saltava mais uma surpresa! Um vídeo no youtube, uma foto de campanha, um texto a apelar a mais um voto...


Foi este o segredo da vitória? Não sei. Nunca saberei. Só falo do concreto. O Clube de Leitores venceu a categoria Livros / Literatura / Poesia com 933 votos, representando um universo de 37.19% de preferências entre os cinco finalistas. Venceu com 170 votos de diferença para o segundo classificado: A livreira anarquista.

Foi uma competição renhida. Começámos atrás. Estivemos em segundo, a mais de 50 votos. Mas a quarta feira e a quinta viraram o jogo. A partir daí, nunca mais nos conseguiram parar. Toda a estratégia, todo o material criado, todas as pessoas contactadas começaram a perceber a importância que este concurso ganhava nas vidas de quem agarrou e vestiu a camisola pelo blogue.

Houve imensas dúvidas... Como se votava? Se se podia votar mais do que uma vez? Todos os dias? Houve imensa gente que não percebeu que isto teve duas fases... Informação e contra-informação.


No meio de tanta coisa, fomos fazendo o que podíamos para passar a mensagem. Na primeira fase deixámos para trás verdadeiros "monstros" dos blogues de literatura em Portugal. Estou a lembrar-me do Bibliotecário de Babel ou do Blogtailors. Acho que pouco importa se fizeram ou não campanha, se souberam ou não do concurso e que importância lhe deram. O certo é que partiram nas mesmas condições que nós. Portanto, se não foram à final é porque não estiveram atentos ou não lhe deram crédito.

Falando na final... sabíamos que o blogue da Livreira Anarquista era o principal rival. Porque é conhecido no meio, porque é humorístico, tem um ar vintage / pin-up apelativo. Conheço este blogue, sou amigo no facebook da livreira e acho que ela faz um excelente trabalho. Reconhecido, inclusive pelos meios de comunicação social (como, por exemplo, nesta entrevista ao jornal Público).

Portanto, a nossa vitória é ainda mais especial. Tem mais razões para ser celebrada. Independentemente do prémio não ser dinheiro ou qualquer patrocínio. Porque o verdadeiro prémio foi conseguirmos trabalhar em equipa, fazermos chegar a palavra, acreditar que era possível... E dar a conhecer este espaço que nos une.


Na semana de votações quebrámos todos os recordes de audiência. Tivemos 800 visitas num só dia, passámos de 163 seguidores para 195. O grupo livros no facebook (motor do blogue nesta rede social) passou de 3143 para 3166 pessoas. Terminámos o mês com 9826 visitas, máximo absoluto.

Querem maior vitória que esta?

Não posso deixar de partilhar convosco alguns momentos... As estratégias da Ana Almeida. As montagens do Pedro Ferreira. Os textos doces da Raquel Serejo Martins. O texto épico da Constança Barras Romana (Com o Sonho nas Mãos!). A Carla Valério e o seu regresso à escrita activa no blogue. O Bruno Malheiro que se viu aqui caído, mas que usou o seu mural, criou um evento a apelar ao voto, falou de nós no seu blogue. À Cristina Correia, Elsa Martins Esteves e Ubik: incansáveis na hora de partilhar, deixar comentário, pedir mais um voto (mensageiros da palavra). A todos os que aqui refiro pelas conversas horas a fio, por vezes até de madrugada... Uma semana de sonho! Muito obrigado.


Valeu a pena!

Como "Pai" deste projecto, recebi apoio de amigos. Desde pessoas que encaminharam mensagens pelos seus mails pessoais. Amigos que partilharam no mural do facebook esta votação. Mensagens recebidas por telemóvel. Telefonema de uma Tia que não sabia como votar e que ajudei a chegar lá... Muitos primos, tios, as minhas irmãs. Alguns anónimos, um blogue que torceu por nós! Muitas mensagens de força, carinho. Muita força unida neste objectivo. Tanta e tanta gente!

Alguns não perceberam que estávamos a concurso noutra categoria: Autor / blogger do ano. Aí conquistamos um honroso 4.º lugar (tendo em conta que passámos duas fases e os adversários eram muito fortes). Nesta categoria contamos com 456 votos, um número muito estimulante.

O Pedro Ferreira fez cartazes, fez um vídeo para o youtube. Todos partilhámos um discurso de vitória... Atirámos os foguetes ao ar! Celebrámos até cair!



Agora chega o momento de corresponder. De estar à altura deste reconhecimento. De estar preparado para chegar ainda mais longe. Convidando mais gente a unir-se ao nosso projecto. Dando a conhecer livros que lemos, textos que encontramos, divulgando o que vai sair, animações que são feitas, pinturas que ilustram a leitura... Tanta e tanta matéria que nunca se esgotará.

"O nosso propósito é aproximar as pessoas pelas letras." Fizemos acontecer! Ganhamos e merecemos a vitória e os parabéns! A partir daqui... esperar sempre o melhor.

Em nome de todos os que se envolveram, muito obrigado. Ao blogue AVENTAR, parabéns pela iniciativa.

E a todos... Parece que estamos juntos para mais e mais conquistas!

P'lo Clube de Leitores,
Rodrigo Ferrão

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

in Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios


"Lavínia correu o dedo pela lombada dos livros. Deteve-o no Tratado sobre a tristeza; chegou apuxar o volume mas não se aventurou a abri-lo. Fotografei o autor numa das suas viagens ao Brasil, um psicanalista italiano. Grande beberrão. Entendia tudo de tristeza, mas não era triste. Ao contrário: tinha motivos de sobra para viver alegre. Viajava acompanhado de uma ninfeta, um pequeno terremoto de pele sardenta e cabelo avermelhado. Cheguei a achar que era sua filha, até ver os dois se beijando com furor."


Fui procurar o livro... o Livro dentro do Livro... pareceu-me de utilidade um tal tratado...

... fui procurar, que é como quem diz, fui googlar...
E encontrei um psicanalista italiano a versar sobre a tristeza, Contardo Caligaris, nascido em Milão (1948), radicado no Brasil, colunista da Folha de S. Paulo desde 1999, em que, basicamente como crítico cultural analisa filmes, livros, peças de teatro e outras formas de expressão culturais sob teorias da psicanálise, linguagem, filosofia, etc., passando em contraponto por assuntos, digamos mais clássicos, como relações, adolescência (um clássico), guerra, dia-a-dia, e autor de vários livros...Hipótese sobre o fantasma, Crónicas do individualismo quotidiano... mas, aparentemente de nenhum tratado...

Se entretanto encontrarem o livro ou o autor... digam-me coisas!


O comunismo Indiano: voltando a 'O Deus das pequenas coisas'...

Tenho um sublinhado a acrescentar ao muito que se escreveu neste blogue acerca da obra de Arundhati Roy:

"- Viva a Revolução! - gritavam eles. - Trabalhadores de Todo o Mundo Uni-Vos!

Nem mesmo Chacko encontrava uma explicação cabal para o facto de o Partido Comunista ter mais sucesso em Kerala do que em qualquer outra região da Índia, à excepção, talvez, de Bengala.


Havia várias teorias rivais. Uma era que tudo tinha a ver com o elevado número de cristãos do Estado. Vinte por cento da população de Kerala era constituída por cristãos sírios que acreditavam ser os descendentes da centena de brâmanes convertidos ao cristianismo pelo Apóstolo São Tomé quando este viajou para o Oriente após a Ressurreição. Estruturalmente - prosseguia esta linha argumentativa algo rudimentar -, o marxismo era um substituto simples do cristianismo. Substitui-se Deus por Marx, Satã pela burguesia, o Céu pela sociedade sem classes, a Igreja pelo Partido, e a forma e o fim da viagem permanecem idênticos. Uma corrida com obstáculos, com direito a prémio no final. Ao passo que a mente hindu tinha de proceder a ajustamentos maus complexos.

O problema com esta teoria era que, em Kerala, os cristãos sírios eram, em larga medida, os senhores feudais, ricos, proprietários (gerentes-de-fábricas-de-pickles), para quem o comunismo representava um fim pior do que a própria morte. Sempre votaram no Partido do Congresso.


A segunda teoria defendia que tudo tinha a ver com o nível relativamente elevado de alfabetização no Estado. Talvez. Não fosse o facto de esse elevado nível de alfabetização ser resultado do movimento comunista.

O verdadeiro segredo era que o comunismo se infiltrara em Kerala insidiosamente. Como um movimento reformista que nunca questionou abertamente os valores tradicionais que reagiam o sistema de castas de uma comunidade extremamente tradicional. Os marxistas trabalhavam dentro das divisões comunitárias, nunca as questionando, nunca parecendo não o fazer. Ofereciam uma revolução-cocktail. Uma mistura inebriante de marxismo oriental e hinduísmo ortodoxo, enriquecido com uma injecção de democracia."

O Livro é uma arma (de instrução massiva)


Raul Lemesoff é um artista. E a sua maior obra é a Arma de Instrução Massiva (ADIM): um Ford Falcon 79 das forças armadas argentinas que transformou num tanque carregado de livros que são distribuídos gratuitamente em bairros, escolas e vilas de Buenos Aires. 

O projeto de Lemesoff nasceu nos EUA durante o governo de George W. Bush, na época em que o então presidente iniciou uma forte campanha contra as ações militares do governo iraquiano, denunciando a presença de armas de destruição em massa. A primeira ADIM pecorreu 18 estados norte-americanos com o objetivo de espalhar mensagens de paz. 

De volta à Argentina, o artista decidiu formar um exército mundial de Armas de Instrução em Massa e começou o recrutamento transformando um veículo que já esteve a serviço da repressão militar em uma escultura móvel a serviço da literatura. 

Como o site oficial desta iniciativa se encontra em baixo, vejam também esta reportagem:

  

Bem que precisavamos de um projecto semelhante por terras lusas, não?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

a-ver-livros: Germana, de azul

Sento-me aqui e perco-me no azul, como quem se perde de si mesma, olhos postos num céu que muda de tonalidade ao longo do dia, cada uma perfeita.

Sento-me aqui e lá fora sei o sol que se lhe reflete no braço, que cria as sombras na parede, que torna as flores que morrem mais vivas na jarra. Um final de tarde junto à janela, quem sabe.

Sento-me aqui e perco-me nestes azuis como num bom livro. Não necessariamente um livro de amor. Falaria quiçá de tranquilidade, de paz interior, reflectida naqueles olhos grandes, expressivos.

Sento-me aqui a-ver-livros e descubro Felice Casorati e este “Retrato de Germana”, de 1952.


Pintor e escultor italiano (1883-1963), nascido em Novara, começou por estudar piano e depois Direito na Universidade de Pádua, para agradar aos pais. Mas quando um dos seus quadros foi exposto na Bienal de Veneza, corria 1907, Felice Casorati decidiu seguir o coração.
Serviu na Primeira Grande Guerra, chegou a ser preso nos anos 20 por envolvimento num grupo anti-fascista, e pintou, pintou, pintou, com enfâse na clara geometria dos dias, levando a que alguns achassem o seu trabalho frio, cerebral, académico. Não quis saber.
Ainda assim, a partir dos anos 30, já casado com a ex-aluna Daphne Maugham – que lhe daria um filho, Francis –, e muito envolvido na área da cenografia no Scala de Milão, o seu estilo suavizou-se, a sua paleta de cores iluminou-se. E assim foi até morrer, em Turim, cerca de um ano depois da perna esquerda lhe ser amputada na sequência de uma embolia.

Vale a pena

Terminada a eleição de blogs do ano organizada pelo Aventar, é com imensa alegria que vos dizemos que o Rodrigo Ferrão ficou num honroso quarto lugar como Blogger do Ano e que o blog Clube de Leitores venceu a categoria Livros / Literatura / Poesia.


Esta vitória é, acima de tudo, a recompensa pelo esforço de um colectivo que todos os dias faz do Clube de Leitores um veículo de promoção dos livros e da leitura, em todas as suas manifestações, e uma demonstração inequívoca do apoio a este objectivo por parte de todos vocês, amigos nossos e amigos das letras. A todos muito obrigado!

A leitura está viva e recomenda-se. E é isso, acima de tudo, que hoje festejamos!
Deixem-nos também aproveitar para dar os parabéns ao Aventar, que lançou a iniciativa, a todos os blogs participantes, alguns que já conhecíamos e outros que tivemos o prazer de conhecer ao longo desta eleição.