sábado, 12 de novembro de 2011

Se não tens bibliotecas ou livrarias, porque não carregas os livros até às crianças?

Hoje vamos à Colômbia. Perceber como um homem consegue fazer chegar livros às crianças...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Branco das Sombras Chinesas e um novo Abysmo que anda por aí

O livro começa assim, com esta primeira frase do primeiro livro:
«Detestava coincidências, simetrias, concordâncias, a facilidade com que as coisas se arrumam por afinidade ou contraste só para afeiçoar um sentido ao seu descomandado fluxo. Sonhava com uma aspirina que todos os dias reavivasse a desordem na flora recôndita do mundo, devolvendo a arritmia à batida cardíaca.»



A editora apresenta-se desta forma: "Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mistério… Escrevê-la com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformá-lo numa superfície banal." Teixeira de Pascoaes 

E eu já fiquei fã.Quase logo à partida pelo conceito e pelo bom gosto do João Paulo Cotrim. Aliciado pelas publicações no Facebook, pelo design e pelas escolhas. A forma como o livro me chega a mão e o objecto per si completam esta descoberta. 

Pelo correio com o livro vem uma espécie de manifesto/ acordo/ contrato para os amygos do abysmo, do qual passo a citar algumas frases: 

"O clube para todos os que não dispensam charuto e brandy e que mesmo que deixem de fumar ou beber não se portarão como arrependidos;"

"Um clube desesperadamente seu e nascido para em rigor estar... Nas suas mãos, como um livro aberto." 

"Eu escolho ser abysmado" 

Procurem no Facebook a página da editora e escolham ser abysmados!

Poemas que dão música - Ornatos Violeta

De que mais gosto nesta música / poema? Do que diz o Victor Espadinha, mesmo a terminar...



"Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!


A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!"


Já agora, os Ornatos celebram 20 anos de músicas com uma edição especial que inclui os cd's “Cão” e “O Monstro Precisa de Amigos”. E mais algumas surpresas... Ver aqui.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

meU amoR


Meu amor traz-me lírios do campo
Lírios do campo
Alecrim aos molhos
Se por sua culpa, chorarem meus olhos.

Meu amor traz-me uma lua cheia
Uma lua cheia
Um sol de Inverno
Que me aquece o corpo quando não está.

Meu amor traz-me peixes do mar
Peixes do mar
Sonhos presos nas redes
Que pega e solta mal me chega à porta.

Meu amor traz-me beijos nas mãos
Beijos nas mãos
Estrelas que brilham
E que pendura no tecto do quarto.

Meu amor traz o sopro do vento
O sopro do vento
O canto da chuva
Com que me embala o sono dos dias.

Meu amor traz as malas nas mãos
As malas nas mãos
A roupa do corpo
Que despe e arruma no armário do quarto.





Herança, Christopher Paolini

Os jovens deliram com esta saga. Mas não são os únicos. Adultos adeptos do género fantástico começaram a perguntar por este livro já nos meses longínquos de Fevereiro e Março.

Pois bem, aqui está ele. Provável fenómeno de vendas no final deste ano. Acreditando na expectativa dos clientes que atendi, não duvido que tem uma palavra a dizer no meio de tantas novidades fortes que o mercado está a lançar para o Natal.


O quarto livro da série de Christopher Paolini, depois de Eragon, Eldest e Brisingir. Edição 1001 Mundos/Asa.

"Há pouco tempo atrás, Eragon - Aniquilador de Espectros, Cavaleiro de Dragão - não era mais que um pobre rapaz fazendeiro, e o seu dragão, Safira, era apenas uma pedra azul na floresta. Agora o destino de toda uma sociedade pesa sobre os seus ombros.
Longos meses de treinos e batalhas trouxeram esperança e vitórias, bem como perdas de partir o coração. Ainda assim, a derradeira batalha aguarda-os, onde terão de confrontar Galbatorix. E, quando o fizerem, têm de ser suficientemente fortes para o derrotar. São os únicos que o podem conseguir. Não existem segundas tentativas.
O Cavaleiro e o seu Dragão chegaram até onde ninguém acreditava ser possível. Mas serão capazes de vencer o rei tirano e restaurar a justiça em Alagaësia? Se sim, a que custo?
Este é o final da Saga da Herança, muito aguardado em todo o mundo por uma legião de fãs ansiosos."

Da Turquia, com poesia

2006 - Istambul
Pelas ruas da cidade, 18 bancos de mármore em formato de livro, 18 capas, 18 poemas de poetas turcos. Para memória futura.

[Dez horas depois, de volta aos posts no Facebook]
Esta coisa de ter ido ali num instante à Turquia espreitar uns bancos de rua com poemas traçados no mármore, ilegíveis para nós, portugueses, levou-me um pouco mais longe. E encontrei um poema traduzido daquele que terá sido um dos mais relevantes poetas turcos do século XX, Nazim Hikmet.
Primeiro o poema. Depois a foto e alguns dados biográficos.

"NOSTALGIA

passaram cem anos seu eu ver o teu rosto,
prender a tua cintura,
passar o dia nos teus olhos,
questionar a tua sapiência,
e estar próximo do calor do teu ventre.

passaram cem anos que uma mulher me espera
numa bela cidade.

nós, nós estávamos na mesma rama,
nessa mesma rama.
caímos dessa mesma rama e separámo-nos.
e hoje cem anos nos afastam,
cem anos de caminho.

hoje faz cem anos que
por entre a escuridão
eu a procuro."


* tradução de Pedro Calouste

Nazım Hikmet Ran (20 Novembro 1901 – 3 Junho 1963) foi um importante poeta e dramaturgo turco, conhecido na Europa como o melhor poeta de vanguarda da Turquia. Pertenceu ao Partido Comunista da Turquia e, por isso, foi perseguido pelos defensores da monarquia. Condenado a quinze anos de prisão, refugiou-se na URSS, onde veio a morrer.
Em 1951, o governo turco retirara a nacionalidade turca ao poeta, decisão que aboliu postumamente, a 5 de Janeiro de 2009.



Ficções, Jorge Luis Borges

Acho que defini há poucos dias um tipo de leitor: o que eu era antes de ler Borges e o que sou depois disso... É sem qualquer exagero que aplico esta afirmação. Porque ter o privilégio de encontrar alguém que conheça a escrita deste homem - apesar de estar ao alcance de qualquer um - é raro na minha idade. E é para mim muito difícil exprimir e transmitir o encanto que foi percorrer cada linha, absorvendo a lume brando todo o pensamento.

Tenho a sorte de comprar livros com regularidade. Sem pressa para chegar a determinado autor e obra. O meu quarto é um tesouro de livros que fui juntando com algum sacrifício. Isto para dizer o seguinte: sou absolutamente intuitivo na hora de escolher a próxima leitura. Não me obrigo a ler um livro a ritmos diferentes daqueles que imponho ou determinado título porque é mais consensual de que outros (é natural viver com várias leituras ao mesmo tempo). Como tal, chego aos 28 anos e leio o meu primeiro Borges!


Apesar disso, confesso - é verdade que tinha uma certa inveja daqueles que falavam dele com os olhos de quem leu. Deste mundo mágico e tão próprio de um escritor ímpar. Obviamente fui apanhando pensamentos de Borges pela Internet (alguns publiquei neste espaço). Mas não é a mesma coisa. Porque as suas palavras ganham um contexto numa história. E são muito mais ricas!

Não posso dizer que seja uma leitura acessível. Nem aconselho grandes pressas. O rumo destes contos é para ser levado numa viagem serena. A cultura muito superior de Borges é, antes de mais, um feito a assinalar. E, para tal, toda a concentração é bem vinda. Não é livro para ter dicionário perto. No entanto, fala de mundos que o leitor vai querer explorar e investigar. São impressionantes os temas e a sapiência que este homem utiliza para se expressar. E a forma como nos vai abrindo portas a outras leituras; aos escritores e leituras que ele absorve e expõe na boca das suas personagens.


O livro que tenho da Teorema é já uma edição de 1998. Nele estão escritas estas palavras que acho que resumem bem o seu pensamento:

Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 24 de Agosto de 1899 - Genebra, 14 de Junho de 1986) é um dos maiores escritores do nosso século. Por isso, ou apesar disso, nunca recebeu o Nobel, declarando, em 1980: «Não me atribuírem o Prémio Nobel converteu-se numa tradição escandinava: desde que nasci - no dia 24 de Agosto de 1899 - que não mo dão.»

Hoje partilho, absolutamente rendido, não o livro em si. Mas um prazer de leitura.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

a-ver-livros: Mas ela não

Imagens de mulheres a ler são mato na história da arte. Garanto. Numas épocas mais do que outras, claro, que depois veio a rádio e a televisão e a net. Há para todos os gostos. De frente, de lado, sentadas, de pé, deitadas, vestidas até ao pescoço, seminuas, em casa, na rua, acompanhadas, sozinhas, serenas, entusiasmadas, entediadas. Todas elas de livro na mão.

Mas ela não. Ela está ali, concentrada, cabelo preso, cabeça apoiada no braço esquerdo, o corpo alongando-se de forma fluida e ao mesmo tempo controlada nas aguarelas da tela. A ler. Mas sabe-se lá a ler o quê. Apenas a ler, alheada de mim e do mundo, o objecto da sua leitura escondido de nós.

Consigo passar horas a olhá-la – é como uma janela aberta para algo maior do que eu. Num momento imagino-a com uma noveleta banal, para entreter tédios. Noutro acho que aprecia poesia e perco-me na ideia de que terá na mão Whitman ou Auden ou Wislawa. Porque não Pessoa ou Sophia? Noutro ainda adivinho um policial sanguinolento recheado de intriga, logo depois quase consigo ver-lhe na mão um volume de ficção científica, arrastando-a pelo espaço sideral atrás de uma criatura qualquer.

A dada altura torno-me prática e ela está decerto entretida com um livro de viagens, preparando-se para ir correr mundo. Depois melancólica, sei quase de certeza que relê uma carta de amor antiga, daquelas que já não fazem correr lágrimas, apenas doem por dentro.

Ela sou eu, por isso não consigo deixar de a olhar. E não entendo como é que Gershon Benjamin soube pintar-me sem me conhecer.

*** Nascido na Roménia no início de 1899 e imigrado no Canadá com apenas dois anos, corriam já os loucos 20 na louca Nova Iorque quando Gershon Benjamin por lá se instalou com a mulher, Zelda. Com o melhor amigo, o também pintor Milton Avery, e respectiva companheira, Sally, remou contra as marés das tendências artísticas das várias épocas, acreditando apenas na arte como linguagem universal. Um tipo fora do tempo, fora do sítio – que, ironicamente, acabaria por morrer em 1985 ‘catalogado’ como expressionista modernista americano, mais tarde até com direito a uma fundação criada pela viúva e pela filha dela para preservar e divulgar a sua memória.

Rezam os arquivos que era um ávido leitor.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Shaun Tan regressa em finais do mês

Hoje explico-vos porque sou um grande fã de Shaun Tan:

Recordando... aqui.
e aqui.


E é com imenso prazer que vejo o seu regresso marcado para breve, pela mão da Kalandraka Editora. Resta-me dizer que recomendo qualquer livro de Shaun Tan. E não tenho dúvidas que é uma experiência que o "bom leitor" vai querer ter.

As estranhas coincidências...

Entre a literatura e animação, porque estamos sempre ou quase sempre em tempo delas.

O livro que anda nas minhas mãos, sacos, mochilas e mesas nestes dias é o recém editado Clarabóia, de José Saramago. Um livro que tinha andado esquecido e que Saramago não fez questão de editar mais tarde porque achava que já não tinha que ver com o seu modo de ser.

Sem falar muito do livro porque mais tarde haverá oportunidade para isso, gostava só de deixar uma dica e não ser desmancha prazeres. Quem o estiver a ler ou já tiver lido perceberá melhor.

Pelo Cinanima 2011 vai passar uma curta metragem de animação que tem andado por aí e a recolher prémios, de nome "O Sapateiro", de David Doutel e Vasco Sá. Deixo-vos a trailer, se puderem vejam no Cinanima e se não puderem (eu não disse isto!) procurem no youtube ;)



Fazendo agora a ligação final e quando conhecerem os dois, digam lá que não há aqui qualquer coisa....

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Torga, para o serão

"Inocência"

Vou aqui como um anjo, e carregado

De crimes!

Com asas de poeta voa-se no céu...

De tudo me redimes,

Penitência

De ser artista!

Nada sei,

Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!

Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um sol fecundo
Que adoça e doira, tendo

Calor apenas.

Puro,

Divino

E humano como os outros meus irmãos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança

Que faz milagres a bater as mãos."

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'


Némesis é o livro do mês de Novembro

"Apesar de Némesis nascer na família da maioria dos deuses trevosos, vivia no monte Olimpo e figurava a vingança divina."

"Némesis representa a força encarregada de abater toda a desmesura (Hibrys), como o excesso de felicidade de um mortal, ou o orgulho dos Reis, etc. Essa é uma concepção fundamental do espírito helénico:

«Tudo que se eleva acima da sua condição, tanto no bem quanto no mal, expõe-se a represálias dos deuses. Tende, com efeito, a subverter a ordem do mundo, a pôr em perigo o equilíbrio universal e, por isso, tem de ser castigado, se se pretende que o universo se mantenha como é.»"

"Actualmente, o termo Némesis é usado para descrever o pior inimigo de uma pessoa, normalmente alguém ou algo que é exactamente o oposto de si, mas que é, também, de algum modo muito semelhante a si."

Bem, tudo isto pesquisei na internet, sem abrir o livro que trouxe hoje para casa.


(Némesis foi publicado este ano pela Dom Quixote)

Com o livro de Philip Roth a descoberto, experimento passar os olhos pela sinopse:

"No «calor demolidor da Newark equatorial» grassa uma epidemia aterradora que ameaça de mutilação, paralisia, incapacidade irreversível e mesmo de morte as crianças da Nova Jérsia. É este o tema surpreendente e lancinante do novo livro de Roth: uma epidemia de poliomielite em tempo de guerra, no verão de 1944, e o efeito que tem sobre uma comunidade de Newark, coesa e assente nos valores da família, e nomeadamente sobre as suas crianças."

Um pouco mais abaixo, colocam-se perguntas: "Esta narrativa é atravessada pela questão obsidiante que perpassa todos os romances mais recentes de Roth - Todo-o-Mundo, Indignação, A Humilhação e, agora, Némesis: que decisões moldam fatalmente a vida de uma pessoa? Até onde vai a nossa impotência ante a força das circunstâncias?"


Prossigo mais um pouco, investigando a leitura que nos espera: "No centro de Némesis está Bucky Cantor, de vinte e três anos, monitor de um recinto de jogos, lançador do dardo e halterofilista, profundamente dedicado aos jovens que tem a seu cargo e desiludido consigo mesmo porque os problemas de visão o impediram de combater na guerra ao lado dos seus contemporâneos. Concentrando-se nos dilemas de Cantor quando a pólio começa a assolar o seu recinto de jogos - e nas realidades quotidianas que se lhe deparam -, Roth conduz-nos pelo itinerário meticuloso das emoções que semelhante epidemia pode gerar: o medo, o pânico, a revolta, a incredulidade, o sofrimento e a dor.

Movimentando-se entre as ruas abrasadoras e pestilentas de uma Newark sitiada pela epidemia e Indian Hill, um imaculado campo de férias para crianças situado no alto de Poconos - cujo «ar da montanha estava puro e livre de todos os contaminantes»-, Roth descreve um homem íntegro e vigoroso que, imbuído das melhores intenções, trava uma guerra pessoal contra a epidemia. Roth caracteriza com delicada exactidão cada ponto da caminhada de Cantor para o desastre pessoal e, ao mesmo tempo, a condição da infância."

As cartas estão dadas. Motivos não faltam para agarrarem o livro e acompanharem o que por aqui vai ser dito nos próximos tempos...

A Deriva traz-nos: O Homem que via passar as estrelas






A propósito do lançamento  de O Homem que Via Passar as Estrelas, um texto de teatro para a infância e juventude de Luís Mourão (texto), Sandie Mourão (figurinos/ilustração); manual de exploração pedagógica  de Paulo Simões e prefácio de Máximo Ferreira, publicado pela Deriva Editores, recuperámos um artigo de  Ana Paula Couceiro Figueira  publicado  originalmente na revista Psychologica.


O Palco da Vida: A expressão dramática enquanto instrumento operatório do desenvolvimento das competências sociais  | Ana Paula Couceiro Figueira

[...] Ajudar os alunos a serem sujeitos independentes/autónomos, criativos, expressivos, auto-afirmativos, assertivos, desinibidos, comunicativos, capazes de tomar decisões, a saberem resolver problemas, em suma, a serem auto-regulados e autocontrolados, deverá ser a maior prioridade educacional, hoje.
       
Julgamos que todos os membros da equipa educativa deverão envidar esforços no sentido de, simultaneamente à preocupação sobre os conteúdos estritamente escolares, formais, e dos meios que facilitam a sua aquisição, enquadrar nos seus programas, projectos ou acções, temáticas relacionadas com as condições que propiciam a aprendizagem (motivação, controlo das emoções e estados de humor, percepção de competência e de capacidade, expectativas, aspirações, atitude positiva face à escola, estabelecimento de objectivos de aprendizagem, percepção da instrumentalidade dos conteúdos, métodos e condições de estudo, aptidões sociais, …). No mesmo sentido, consideramos que, igualmente, uma forma possível de poder realizar este princípio, poderia ser ou existir, não a título facultativo, mas com cariz curricular , a disciplina de Expressão Dramática, desde a Educação de Infância ao Ensino Superior.    [...]

A Expressão Dramática entendida, não na sua vertente terapêutica (ex. Psicodrama), de remediação ou recuperação, nem como mera estratégia para veicular mensagens formais, antes, no seu vector preventivo/profiláctico, como instrumento de aprendizagem e de desenvolvimento, propiciador de experiências relacionais/sociais.

Em rigor, a Expressão Dramática    [...]  parece cumprir, julgamos, os objectivos de desenvolvimento social. [...] De facto, a Expressão Dramática, tendo em consideração os aspectos afectivo/sociais, cognitivo/linguísticos e psicomotores de desenvolvimento, perspectiva-se como um instrumento de actualização e potenciação das aptidões sociais. Tendo em conta, igualmente, comportamentos verbais e não verbais, encerra os componentes fundamentais das competências sociais. É uma prática que põe em acção a totalidade da pessoa, favorecendo, através de actividades lúdicas, o desenvolvimento e uma aprendizagem global (cognitiva, afectiva, sensorial, motora, estética). Neste sentido, ela partilha das intenções da finalidade geral da educação que é o desenvolvimento global da personalidade (Landier & Barret, 1994).
       
Consideramos que todas as outras disciplinas curriculares podem potenciar ou fomentar as capacidades sociais dos indivíduos. Todavia, para além de serem esses os seus objectivos mais específicos e prioritários, são os professores de Expressão Dramática aqueles que, por “não terem preocupações de conteúdos estritos escolares”, estão em melhor posição, teoricamente, têm mais disponibilidade para o desenvolvimento holístico do indivíduo. [...]

É que:

A expressividade da pessoa humana implica o corpo como condição da tradução dessa expressividade; implica o enquadramento ambiental como possibilidade de diálogo existencial na personalidade estruturada e amadurecida e na personalidade em estruturação e amadurecimento progressivo (…)
Miranda Santos, 1972, pp. 314-315.

e

É tão importante o contributo do corpo para as expressões humanas que se poderia falar duma colaboração indispensável do mesmo para essas expressões ou até duma “intencionalidade corporal”.
Miranda Santos, 1972, p. 317.
 

Nick Vujicic

Hoje não deixo qualquer tipo de comentário. Vejam o vídeo e percebam porquê.



"Nick Vujicic nasceu sem pernas e sem braços, tinha apenas um pequeno pé. Cresceu assim, diferente de todos. Enfrentou uma enorme e sufocante solidão, pensamentos depressivos, chegou a tentar o suicídio. Um dia, porém, apercebeu-se de uma coisa extraordinária.

Nascer assim não fora obra do acaso. Havia um Plano à sua espera, tudo o que precisava era de aprender a viver com o que tinha. Nick aprendeu. Começou a erguer o seu pequeno corpo, a pô-lo à prova, a dar-lhe vida. Aprendeu a andar de skate, a fazer surf e a tocar bateria. E descobriu que o seu exemplo valia mais do que mil palavras. Apercebeu-se de que, sem querer, se tinha tornado num exemplo para todos os que o rodeavam: ele era feliz.

E se ele era feliz, perguntou-se, porque é que as outras pessoas não podiam ser? Hoje, Nick leva essa mensagem aos quatro cantos do globo. Percorre o mundo munido apenas do seu infinito optimismo e da sua contagiante alegria de viver. E em todos os países é recebido por multidões, milhares e milhares de pessoas que apenas o querem ouvir, que apenas o querem abraçar, que apenas querem conhecer os segredos de uma Vida Sem Limites."



Vida Sem Limites é uma publicação da Editora Caderno.

domingo, 6 de novembro de 2011

Insónia

Vencedor de um prémio Pulitzer, nomeado para um Oscar e para dois Tony, dramaturgo, actor, realizador, músico e até ex-cowboy de rodeos. Morre de medo de voar, não se sente confortável perante grandes audiências, tem duas irmãs, inúmeras ex-namoradas, uma ex-mulher com quem se casou a 9 de Novembro e a 9 de Novembro se divorciou quinze anos depois, uma actual bastante famosa, três filhos no total - que se saiba.

Algures no meio disto tudo, Sam Shepard teve tempo para a insónia.



"Insónia é uma grilheta
Insónia é uma prisão
Insónia é um círculo vicioso

Precisamente neste momento

Dentro da minha cabeça

Dentro dos ossos


O meu pescoço roda

Cartilagens movem-se
Gosto do som dos meus próprios ossos

No meio desta emergência

Penso em ti

E só em ti

No meio de todo este sangue insone

Os teus lábios rosa
Os teus braços espreguiçando-se


Não consigo respirar sem ti

Mas este monte de costelas
Lá vai funcionando
Mecanicamente"

in "Crónicas Americanas", Difel

Philip Roth

Pareceu-me evidente que, mais cedo ou mais tarde, íamos falar de Philip Roth no blogue. Se é verdade que tenho alguns livros dele aqui em casa, nunca publicamente me debrucei sobre eles neste espaço.

Ubik, distinto membro da nossa equipa de amantes de livros, andou hesitante entre escolher Roth ou outras leituras. Mas, como já leva algum avanço nesta e está tudo a correr bem, optou por eleger um dos maiores escritores americanos da actualidade. Claro, só podia ficar contente e entusiasmado com esta escolha.

"Grande parte da obra de Roth explora a natureza do desejo sexual e a autocompreensão. A marca registrada da sua ficção é o monólogo íntimo, dito com um humor amotinado e a energia histérica por vezes associada com as figuras do herói e narrador de «O complexo de Portnoy», a obra que o tornou conhecido."

"Recebeu o Prémio Pulitzer na categoria de ficção por Pastoral Americana em 1998. É conhecido sobretudo por seu alter-ego, Nathan Zuckerman protagonista de diversos dos seus livros. Foi galardoado com o prestigioso Prémio Internacional Man Booker em 2011."


"Escritor norte-americano, Philip Milton Roth nasceu a 19 de Março de 1933, na cidade de Newark, no estado da Nova Jérsia. Filho de um mediador de seguros de origem austro-húngara, tornou-se num grande entusiasta de baseball aos sete anos de idade. Descobriu a literatura tardiamente, aos dezoito.

Após ter concluído o ensino secundário, ingressou na Universidade de Rutgers mas, ao fim de um ano, transferiu-se para outra instituição, a Universidade de Bucknell.

Interrompeu os seus estudos em 1955, ao alistar-se no exército mas, lesionando-se durante a recruta, acabou por ser desmobilizado. Decidiu pois retomar os seus estudos, trabalhando simultaneamente como professor para poder prover ao seu sustento, tendo-se licenciado em 1957, em Estudos Ingleses.

Inscreveu-se depois num seminário com o intuito de apresentar uma tese de doutoramento, e perdeu o entusiasmo, desistindo deste seu projecto em 1959.

Preferindo dar início a um esforço literário, passou a colaborar com o periódico New Republic na qualidade de crítico de cinema, ao mesmo tempo que se debruçava na escrita do seu primeiro livro, que veio a ser publicado nesse mesmo ano, com o título Goodbye, Columbus (1959). A obra constituiu uma autêntica revelação, comprovada pela atribuição do prémio literário National Book Award. Mereceu também uma adaptação para o cinema pela mão do realizador Larry Peece.

Seguiram-se Letting Go (1962) e When She Was Good (1967), até que, em 1969, Philip Roth tornou a consolidar a sua posição como romancista através da publicação de Portnoy's Complaint (1969, O Complexo de Portnoy), obra que contava a história de um monomaníaco obcecado por sexo. O autor passou então a optar por fazer reaparecer muitas das suas personagens em diversas narrativas. Depois de The Breast (1972), romance que aludia à Metamorfose de Franz Kafka, David Kepesh, o protagonista que se via transformado num enorme seio, torna a figurar em The Professor Of Desire (1977) e em The Dying Animal (2001). Um outro exemplo de ressurgência é Nathan Zuckermann, presente em obras como My Life As A Man (1975), Zuckermann Unbound (1981), I Married A Communist (1998, Casei Com Um Comunista ) e The Human Stain (2000).

Tendo dado início a uma carreira docente em meados da década de 60, e que incluiu a sua passagem por instituições como as universidades de Princeton e Nova Iorque, Philip Roth encontrou muita da sua inspiração em incidentes e ambientes da vida académica.

Em 1991 publicou um volume dedicado à história da sua própria família, Patrimony , trabalho que foi galardoado com o National Critics Circle Award no ano seguinte, uma entre as muitas honrarias concedidas ao autor. Em 1997, Philip Roth ganhou Prémio Pulitzer com Pastoral Americana. Em 1998 recebeu a Medalha Nacional de Artes da Casa Branca e em 2002 o mais alto galardão da Academia de Artes e Letras, a medalha de Ouro da Ficção, anteriormente atribuída a John dos Passos, William Faulkner e Saul Bellow, entre outros. Ganhou duas vezes o National Book Critics Award. Em 2005, Roth tornar-se-á o terceiro escrito americano vivo a ter a sua obra publicada numa colecção completa e definitiva pela Library of America. A publicação do útimo dos oito volumes está prevista para 2013."