sábado, 23 de outubro de 2010

A casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

Luxúria - pecado capital. Significa: «Deixar-se dominar pelas paixões». A casa dos Budas Ditosos é um livro com bola vermelha no canto. Proibido a pessoas sensíveis e que entrem facilmente em choque.

A linguagem é muito forte e crua: retrata a vida de uma mulher e das suas aventuras sexuais. Com mulheres, familiares, amigos, em grupo, casados ou solteiros.

Numa entrevista ao jornal Público, João Ubaldo Ribeiro afirmou: « Eu não me importo que digam que (o meu livro) é pornográfico. Posso não gostar. Mas quem tem boca diz o que quer. Eu escrevi o que quis. Os leitores que decidam. Houve algumas críticas extremamente desfavoráveis mas houve também uma grande repercussão positiva. Aqui no Brasil, o livro está sendo levado a sério. Ainda agora estive na Sociedade de Psicanálise, num debate. E comecei a receber um tal volume de correspondência de mulheres que gostaram da protagonista...»


A casa dos Budas Ditosos é um livro erótico sobre sexo - nu e cru. Obviamente exagerado e excessivo, mas muito bem escrito. Condenável para muitos, admirado por tantos outros. Em Portugal foi proibida a sua venda em duas cadeias de supermercado quando foi publicado.

Um livro para ler pelo buraco da fechadura...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Alberto Caeiro


«Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso eu do mundo?
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho eu sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é o mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.

Mas que melhor metafísica que a delas
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber o que não sabem?

“Constituição íntima das cousas”…
“Sentido íntimo do Universo”…
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentando, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.»

(reparem na foto)...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Como Deus Manda, Niccolò Ammaniti

Esta é história de um assalto a um banco.

Tem como narrador um menino de treze anos, Cristiano Zena, sendo os assaltantes o seu pai e dois amigos seus, as únicas pessoas que também Cristiano vê como amigas.

Mas este livro é tudo menos a história de um assalto a um banco, e não porque essa empresa tenha tido uma falência atroz e relativamente cómica, porque por paradoxo, é possível encontrar comicidade no limite da desgraça, mas porque são as personagens que nos deixam perplexos e mesmo impotentes.

O pai, Rino Zena “tinha todo o género de dificuldades na vida menos o de encontrar com quem foder e com quem andar à pancada”.

E no entanto pai e filho funcionam, encontramos cumplicidades, mas principalmente encontramos amor, um amor tão completamente pragmático, um amor capaz de com um tiro matar o cão do vizinho, um amor capaz de livrar-se do corpo sem vida de uma menina de 13 anos.

Qual o momento exacto em que tudo muda numa vida?

Quando o amor se perde... a mulher de Rino, a mãe de Cristiano deixou-os.

Quando não conseguimos arranjar trabalho... “Tem calma... Isso mesmo, tinha de ficar calmo. Tranquilo. Sereno. Mas como é que se consegue ficar sereno quando, com a regularidade de um pêndulo, te enfiam um limão pelo cu acima?

Quando nunca somos chamados pelo nome, mas pela alcunha ganha à custa da nossa pizza preferida: Quattro Formaggi.

Quando somos capazes de matar... “Rino sabia que o mito que se contava acerca de Quattro Formaggi de que ele jamais faria mal a uma mosca era um disparate tão grande como dizer que os impostos iam baixar. Não passava um único dia sem que alguém, por um motivo ou por outro gozasse com ele, o imitasse, lhe desse menos sopa na cantina dos pobres, o fizesse sentir-se um idiota, e ele não levava a mal, sorria, e toda a gente a dizer que Quattro Formaggi era um tipo superior a isso tudo. Superior o caralho! Aquele sorriso a meia boca, que lhe saía depois de alguém o ter imitado e chamado epiléptico, não era sinal de que Quattro Formaggi era um santo, mas que o insulto o atingira em cheio, penetrara numa parte sensível e que a dor ia engrossar uma parte do seu cérebro onde pulsava algo de infectado, de desviante. E num dia ou noutro, mais cedo ou mais tarde, aquela coisa má viria ao de cima. Rino pensara nisso um milhão de vezes, e um milhão de vezes dissera que tinha esperança de se enganar.

Quando a filha nos morre no banco de trás do carro sufocada pela tampa de uma embalagem de champô maçãs verdes anti-caspa, presa à cadeirinha porque “... a maldita fivela não se abria, tinha dois botões enormes, cor de laranja, em que era suficiente carregar ao mesmo tempo, coisa que ele fizera cem vezes, abrindo-se sempre perfeitamente, uma fivela alemã estudada pelos melhores engenheiros do mundo...”.

Quando se tem 13 anos e “...vontade de chorar, mas mais do que chorar queria era arrancar os olhos das órbitas.”

E encontramos mais personagens, tantas!... mas todas as histórias são tristes, e no entanto, comovidos, lemos o que nos conta este menino e entra-nos na alma uma estranha esperança.

Deve ser por causa das pequenas ternuras... tão facilmente entranháveis, como as húmidades e as águas, numa história que se desenrola num tremendo dia de tempestade.


Escrever...

Ora aí está uma questão quase existencial e indissociável do meu ser... Escrever.

Para quem escrevo eu?
Para ninguém. Ser lido ou não, pouco importa. Escrever é o que importa. Sabe-me bem, liberta o meu espírito.

Sim, não fico minimamente preocupado em saber se me lêem. Vou vendo as estatísticas dos que passam no blogue, dos que nos acompanham no facebook. Obviamente que fico contente com a participação de todos, mas não trabalho em função disso. Atenção: isso não é sinónimo de não divulgar, tentar que intervenham, organizar debates, pôr mais e mais gente a ler os livros de leitura conjunta. Será sempre o meu objectivo.

Aliás, o propósito deste blogue e do grupo que criei é este: '...pôr jovens a escrever sobre livros. Sem procurar demasiados cuidados com os textos ou vincular opiniões copiadas de outro lado.'


Escrever deve ser visto como um exercício. Na minha opinião, o melhor que existe para mantermos a coerência, para explanar sentimentos, partilhar gostos e paixões. E uma arma poderosa: o que foi escrito não permite voltar atrás... Escrever é uma excelente forma de não mentir, de recordar, de exercitar a memória...

Será uma forma de arte? Eu pinto parte da vida a ler e a escrever...

O que pergunto hoje é um pouco difícil... Se um dia vos desse na telha escrever um livro, qual seria a história?

Era uma vez...

domingo, 17 de outubro de 2010

Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro, Carlos Moreno

Ora aqui está uma novidade que promete incendiar o nosso país durante uns tempos e deixar uma grande área de floresta ardida...

Hoje apresento um livro polémico. Não é muito o meu estilo, mas sei que vai dar que falar. É fácil perceber estes fenómenos: o livro esgotou num ápice!


"Todos os dias entregamos ao Estado uma parte substancial dos nossos rendimentos sob a forma de impostos. E acreditamos que o Estado vai gerir esse dinheiro de forma conscienciosa, em obediência aos critérios da boa gestão financeira. Não é, porém, o que acontece. Mais vezes do que seria aceitável, o capital que tanto nos custou amealhar é usado em negócios ruinosos com o sector privado; ou desbaratado em obras públicas que economicamente não fazem qualquer sentido. Não só pagamos os impostos, como a factura da sua má gestão. Ao gastar alegremente mais do que tem, o Estado acumula uma dívida. E quem tem de a assumir somos nós, os contribuintes, que pagamos o descontrolo das finanças estatais com novos impostos, e ainda mais sacrifícios. É um ciclo vicioso chocante, consequência de um festim de maus gastos públicos sem fim à vista. E uma realidade que Carlos Moreno acompanhou de perto enquanto Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas. Ao longo de 15 anos assinou mais de 100 relatórios de auditoria, passou a pente fino os gastos com a Expo 98, com as famigeradas SCUT, os Estádios do Euro 2004, a Casa da Música, o Túnel do Rossio, o terminal de contentores de Alcântara."