sexta-feira, 8 de julho de 2011

Escultora de livros...

Su Blackwell é uma artista fora de série...

Percebam porquê:


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Aos Vindouros, se os Houver...

'Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;


computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.'

quarta-feira, 6 de julho de 2011

À Rasca, Retrato de uma Geração - Ana Filipa Pinto

Chegou às livrarias 'À Rasca, Retrato de uma Geração', por Ana Filipa Pinto.


'Eles não são invisíveis. Eles são a geração, entre os 18 e os 39 anos, mais bem preparada e educada de Portugal. Não desenham um projecto pessoal, porque sabem que o trabalho pode acabar a qualquer momento. Não conseguem abandonar a casa familiar, e isso impede-os de construir a sua família. Vão estando por aqui.

A extraordinária investigação da jornalista Ana Filipa Pinto, que não poderia pertencer mais a esta geração, é um esforço de revelação, que nos leva à intimidade de dezenas de membros forçados e assumidos dela, e desvenda uma realidade comum a tantos, feia e triste, feita de sonhos esmagados, oportunidades eliminadas e, principalmente, vazios contínuos, criados pela Incapacidade de agir e pelo desconhecimento total do que vai acontecer.'

É uma publicação Planeta Booket, a um preço acessível e no tamanho certo. Vejamos se esta geração o agarra...

Definir Tristeza...

Há dias perguntei: "Porque existe tristeza?"

Não é consensual, mas as opiniões aproximam-se. De qualquer forma, não sei se chegaria para escrever um livro...

Elsa Martins Esteves: Para darmos valor à alegria... boa noite mano

Rodrigo Ferrão: Daqui a 15 minutos celebramos a tua!

Elsa Martins Esteves: CELEBRAMOS A NOSSA PORQUE A MINHA NÃO É NADA SEM A DOS OUTROS

Rodrigo Ferrão: Gosto do que disseste!

Elsa Martins Esteves: e acredita Rodrigo não é da boca para fora...é sentido e sigo esta filosofia

Nuno Horta: Se não existisse tristeza, não haveria alegria! Um abraço Rodrigo!

Nuno Leão Pimentel Barbosa: porque em tudo na vida existe um lado bom Vs mau.... mesmo nos nossos sentimentos temos a alegria Vs tristeza, como foi dito e muito bem.... se não sentíssemos tristeza de vez em quando, não saberíamos dar valor à alegria, tudo parecia ter um valor sentimental muito próximo da mistura das duas extremidades...

Pedro Conrado: Para celebrarmos a alegria

Ana Almeida: Tanta treta...

Ana Almeida: Amor, vem à arvore e deixa de haver tristeza.

Zé Alberto Ortigão: Faz parte do ciclo da vida e do encontro natural com os outros. O melhor é nem pensar nisso. Abraço

Ricardo De Ascensão Botelho:



Beatriz Sambade: Para existir alegria :)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Afonso Cruz: o senhor que se segue!

O livro de Julho está escolhido: 'A Boneca Kokoschka' de Afonso Cruz.

Afonso Cruz é escritor, realizador de filmes de animação, ilustrador e músico. Nasceu na Figueira da Foz, em 1971.

Fábio Ventura regressa às escolhas para leitura conjunta, um ano depois. Só posso esperar boas sensações, como sempre!


'O pintor Oskar Kokoschka estava tão apaixonado por Alma Mahler que, quando a relação acabou, mandou construir uma boneca, de tamanho real, com todos os pormenores da sua amada. A carta à fabricante de marionetas, que era acompanhada de vários desenhos com indicações para o seu fabrico, incluía quais as rugas da pele que ele achava imprescindíveis. Kokoschka, longe de esconder a sua paixão, passeava a boneca pela cidade e levava-a à ópera. Mas um dia, farto dela, partiu-lhe uma garrafa de vinho tinto na cabeça e a boneca foi para o lixo. Foi a partir daí que ela se tornou fundamental para o destino de várias pessoas que sobreviveram às quatro toneladas de bombas que caíram em Dresden durante a Segunda Guerra Mundial.'

Não Sei se Isto é Amor

Não Sei se Isto é Amor
Por Camilo Pessanha.

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.


Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez o começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Os livros e a crise

Ou "a crise e os livros", depende da forma como analisam a situação.

Para quem não sabe, recentemente lancei-me num novo desafio profissional. Há quase três anos numa busca infrutífera por emprego na minha área (Comunicação), resta-me aproveitar os part-times e trabalhinhos que vão surgindo. Neste momento, trabalho em regime de part-time numa livraria, o que tem sido interessante para analisar uma outra perspectiva do mercado literário do qual faço parte.

Numa altura em que já atendo centenas de turistas portugueses que estão pelo Algarve, tenho tido oportunidade de tirar algumas conclusões nada boas. A primeira é que o mercado dos livros está realmente com uma GRAVE crise. O que é normal, uma vez que em alturas de crise económica e financeira as pessoas começam por cortar com os bens culturais. Porém, essa é uma crise que afecta maioritariamente os livros de ficção. Se observarmos os top's de vendas das maiores cadeias de livrarias, percebemos que, ironicamente, os livros mais vendidos estão relacionados com a crise política, económica, financeira, social, etc. Sei que não posso generalizar a situação de uma loja a todo o país, mas certamente que as centenas de livreiros deste país podem confirmar isto. Afinal, são eles o último "anjo da guarda" de um livro antes de ele chegar às mãos do leitor.

Obviamente que o público (e até os autores) não se apercebem, mas tenho a certeza que nos bastidores do mercado literário, editores, distribuidores e livrarias têm tido umas valentes dores de cabeça para tentar superar uma crise que se avizinha duradoura e ainda mais dura do que é agora. É realmente um grande desafio o de quem trabalha no mundo dos livros. Que estratégias e desafios podem as editoras adoptar para se adaptarem a estas mudanças no nosso país se querem que o mercado literário se mantenha vivo e dinâmico como tem sido até agora?

No entanto, a minha maior preocupação é outra: os autores. Onde ficam os autores no meio desta crise? Qual o seu papel? Obviamente que não estou a falar dos gigantes portugueses cujo nome ainda consegue vender mais facilmente que o próprio livro. Estou a falar de autores que, tal como eu, não têm uma poderosa máquina de marketing por trás e que se debatem diariamente para dar a conhecer os seus trabalhos, para estar a par dos seus desafios, para divulgar as obras na web e em eventos literários, tudo para no final do dia perceberem que as coisas não estão nada, nada fáceis e que os obstáculos são mais que muitos.

Sinceramente, esse é um problema para o qual não vejo uma solução imediata. E digo-o enquanto autor, leitor e, agora, livreiro. Talvez fosse uma boa altura para pôr de lado divergências, discussões, competições e afins e propor mais espírito de união entre autores, editores, tradutores, livreiros, etc. para tentar superer os efeitos nefastos da crise. Tudo para e pelos livros e autores nacionais.

Ou então a minha utopia é grande demais para um pequeno país que se está a fechar sobre si próprio...

Praça de Londres, conto III - Branca de Neve ou o bom senso imponderavel



Branca de Neve, o terceiro conto de Praça de Londres, é um verdadeiro mito urbano. O mito da ingenuidade e a disparidade entre a segurança de uma vida profissional, a intocável rectidão, maturidade e responsabilidade. E esta é a nossa história e o nosso maior medo. A não conformidade entre o percurso laboral e a redoma das nossas quatro paredes de princípios. A inabalável competência e candura ingénua das boas almas.

Tomemos Lisboa como palco até porque o é de facto neste conto. Mas podia ser outra cidade qualquer, em Portugal ou fora dele. Primeira premissa, somos seres duais. Segunda premissa, o equilíbrio entre o eu para os outros e o eu de nós é uma luta constante. Logo, a dualidade é luta, é disparidade. Ela, jovem com uma carreia de sucesso, brilhante e segura. A mesma jovem que dura será na sua prática profissional, dificilmente não se imbuirá da razão nas questões que equaciona,  não antecipará imponderáveis, não será precisa e eficaz nas decisões que toma. Reflectida e reflexiva. Notoriamente pragmática. A maturidade sincrónica. E a vida lá fora? A vida onde não é responsável por nada nem ninguém a não ser por ela mesma? Essa não se antevê na consagração diária do planeamento eficaz. Nada. Essa vagueia no processo de aprender aprendendo. Vivendo, experimentando. Não há regra nem conselho.

Quem não saberá, por decreto do bom senso, que andar sozinha em ruas desertas, a horas tardias é movimento seguro “até ao dia”? Seguramente o mito é adequado nesse mesmo dia. Sozinha, na rua, a horas tardias. Uma criança, outra, mais uma. Um bando. Noite fria, pobres meninos que procuravam nela a segurança, tanto que ela até ponderou leva-los a casa. De tanto não querermos andar com as defesas nos bolsos, sucumbir ao efeito externo da constante desconfiança, tornamo-nos absolutamente irresponsáveis nas coisas simples. Muitas vezes porque consideramos que perdemos a liberdade. A questão? Liberdade também é segurança, pés na terra, lidar com o real e não com o idílico. O Mundo seria fantástico se não houvesse violência nem fome. Nem crianças a cometerem assaltos, nem gente má, nem falsidade nem segundas intenções. Mas o Mundo é feito por cada um, cada grupo, sub-grupo e todos. Claramente, se continuarmos a pairar na frase estanque “ um dia vou ser feliz” dificilmente seremos e facilmente encontraremos candura, mais por desejo do que na acção em construi-la. Não precisamos de andar com a defesa nos bolsos mas precisamos de falar e conversar com os outros. De ter noção de nós e dos outros, da vida, do que se passa lá fora. Dos limites, da realidade, da construção, das dúvidas, da procura de certezas. A coerência, essa palavra esquisita, tão silogística.

Curiosa a forma como o conto termina. O momento de desconfiança do dia, horas antes, penetrou-lhe a pele. A segunda intenção dele, metaforizada numa garrafa de vinho com o incómodo da expressão “ouro da inocência”. E o fim do dia dela marcado por um assalto, brindado pelo ouro da ingenuidade. Ah, vã dificuldade em lidar com os entes próximos na inversa proporção de confiar na candura de estranhos. É mais simples sim. Em princípio não nos põe à prova, não nos faz lidar com o continuum. Esgota-se ali. “Até ao dia”…

Branca de Neve? Temos esta figura na “roupa”… em demasia. Ah… Lídia Jorge…

domingo, 3 de julho de 2011

40 anos depois e continua tão real

Há 40 anos, morria em Paris o lendário vocalista dos The Doors. Quatro décadas depois da sua morte, Jim Morrison continua a mobilizar multidões e o cemitério parisiense do Père-Lachaise. O artista é ainda hoje considerado como um dos mais carismáticos vocalistas de todos os tempos e consta no número 47 da lista dos 100 Melhores Cantores de Sempre elaborada pela revista “Rolling Stone”.


"Contigo torno-me real" foi editado em Portugal em 2003 pela editora Afrontamento como uma obra sobre o culto a Jim Morrison, vocalista do grupo norte-americano Doors, falecido em 1971 aos 27 anos.
Em Março de 2008, Rui Pedro Silva reeditou uma segunda versão desta obra, contando não só a história de Jim Morrison, mas também dos Doors, enriquecendo-a com mais testemunhos e documentos inéditos, ultrapassando agora as 500 páginas.
"Contigo torno-me real" (tradução adaptada do tema "You make me real" do álbum "Morrison Hotel") conta ainda com testemunhos inéditos dos membros fundadores dos Doors, assim como depoimentos de figuras como Michelle Campbell, fotógrafa oficial dos Doors em Paris, e dos dois biógrafos da banda, Jerry Hopkins e Danny Sugerman.
Há ainda participações de músicos portugueses, que falam da importância dos Doors na sua formação musical, como Zé Pedro, Pedro Abrunhosa, Jorge Palma, Rui Reininho, Tiago Bettencourt e a fadista Mariza.

Esta versão alargada de "Contigo torno-me real" é que foi distinguida pelo Festival do Livro de Londres.

O autor, com formação em jornalismo e eleito em 2003 o maior fã português dos Doors, dedicou seis anos de trabalho ao grupo norte-americano, focando as diferentes facetas da banda e reunindo vários testemunhos.

A Palavra Mágica

'Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.


Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.'

Praça de Londres, conto II: La Rue du Rhone, um passeio ao Louisiana pelo mapa de Genéve.

Auxiliares de memória:
 Louisiana, Estado Norte-americano cuja história, economia e cultura estão ladeadas pelo Rio Mississípi. Pelo seu Delta. Furacão Katrina. Pântanos e lagos incluídos na descrição. E Répteis, alligator mississippiensis v.g, crocodilos, v.g, matéria prima para acessórios vários.
Genebra ou Genéve, cidade Suiça e capital do cantão com o mesmo nome. Classificada em 2009 como a quarta cidade mais cara do mundo, tem o rio Ródano a soltar-se do lago  Léman.  A sua história, para além de um Italo Calvino, viu nascer um certo Jean-Jacques Rousseau que enunciou um dia que ”o homem nasce naturalmente bom, a sociedade é que o transforma”

Elas. Quatro. A anfitriã da Loja finíssima de la Rue du Rhone, Genéve, Suíça. As duas clientes concentradíssimas no êxtase da rua mais cara da cidade. A mala, em pele de crocodilo.
O diálogo, a perdição feminina ou a conotação da mesma numa metáfora mais abrangente. Será o tema a futilidade? Não. Isso não é tema nem temática, é dado certo de todo e de cada um, valham-nos momentos desses. Quiçá um apelo à sensibilidade sobre o direito dos animais, tal é descrição do dito alligator e todo o encanto frio sobre os acessórios vários, ou a vista que uma peça verdadeira, feita de pele verdadeira, daquele animal que nasceu para dar o cunho verdadeiro à vaidade e ao glamour? Também não. Não tropeçamos no processo de caça de crocodilos, nem na dor ou sofrimento de animais. Tropeçamos na importância do fenómeno e da imagem,  isso sim. Esse é o tema, que desagua no orgulho. A história resume-se a uma peça caríssima e duas almas que se afogam na autenticidade da mesma. Não interessa se é bonita ou feia, se é útil ou irresistível. É única e faz “um vistão”. E a matéria prima vem de Louisiana. E encontra-se ali, transformada à medida, na tal quarta cidade mais cara do mundo, na rua mais cara da mesma cidade com Léman a banha-la. A cegueira do deslumbre olvida a noção do preço. O Orgulho, esse valor inultrapassável e de importância vital paga qualquer preço para não sair ferido. E a história é esta. E podia ser uma mala como outra coisa qualquer. Podia até ser uma discussão sobre política numa mesa de café. Certamente “café” não seria o líquido, apostaria num vinho caro. Não interessaria desde que o orgulho saísse bem alimentado.
O homem nasce naturalmente em bruto. E cria a sociedade num palco de orgulho desnecessário.