sexta-feira, 12 de setembro de 2014

a-ver-livros: refeição

A poesia mastiga-se
como o pão
devagar
saboreando o pingo
da sardinha fresca
abocanha-se 
devagar
como um osso
por demais desejado
trinca-se 
uma vez e outra
devagar
como um lábio
que traz sorrisos
à tona da pele

Ana Almeida

* para saber mais sobre a pintora francesa Marie Godest
siga o link http://mariegodest.com/

Calvino em São Paulo: dia 2

Italo Calvino, numa exposição de fotografia no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand). "As Cidades Invisíveis" foi o nome da exposição e é também o título de um dos seus livros mais famosos.

foto: Rodrigo Ferrão

Foto frase do dia: Quintana


Poema na madrugada: Mia Couto

"Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
 
a ave magoada  
que se queda  
na árvore do meu sangue

Pergunta-me  
se o vento não traz nada  
se o vento tudo arrasta  
se na quietude do lago  
repousaram a fúria 
  e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me  
se te voltei a encontrar  
de todas as vezes que me detive 
  junto das pontes enevoadas 
  e se eras tu 
  quem eu via  
na infinita dispersão do meu ser  
se eras tu que reunias pedaços do meu poema 
reconstruindo  
a folha rasgada  
na minha mão descrente

Qualquer coisa  
pergunta-me qualquer coisa 
uma tolice  
um mistério indecifrável 
simplesmente  
para que eu saiba  
que queres ainda saber  
para que mesmo sem te responder 
saibas o que te quero dizer'

Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Calvino em São Paulo: dia 1

Italo Calvino, numa exposição de fotografia no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand). "As Cidades Invisíveis" foi o nome da exposição e é também o título de um dos seus livros mais famosos.

foto: Rodrigo Ferrão

O Pullitzer 2014 chegou a Portugal. Está aí «O Pintassilgo» de Donna Tartt

O Pintassilgo
Prémio Pulitzer 2014


Sinopse: Theo Decker, um adolescente de 13 anos, vive em Nova Iorque com a mãe com quem partilha uma relação muito próxima e que é a figura parental única, após a separação dos pais pouco antes do trágico acontecimento que dá início a este romance. Theo sobrevive inexplicavelmente ao acidente em que a mãe morre, no dia em que visitavam o Metropolitan Museum. Abandonado pelo pai, Theo é levado para casa da família de um amigo rico. Mas Theo tem dificuldade em se adaptar à sua nova vida em Park Avenue, e sente a falta da mãe como uma dor intolerável. É neste contexto que uma pequena e misteriosa pintura que ela lhe tinha revelado no dia em que morreu se vai impondo a Theo como uma obsessão. E será essa pintura que finalmente, já adulto, o conduzirá a entrar no submundo do crime.

O Pintassilgo, vencedor do Prémio Pulitzer 2014, é um livro poderoso sobre amor e perda, sobrevivência e capacidade de nos reinventarmos.. Uma brilhante odisseia através da América dos nossos dias, onde o suspense e a arte são dois elementos decisivos para agarrar o leitor.

- O melhor livro do ano 2013 na Amazon.com
- Um dos dez melhores livros de 2013, pelo The New York Times

P.V.P.: 28.80 €
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 896
Editora: Editorial Presença


Prémios
- Prémio Pullitzer, 2014
- Andrew Carnegie Medal for Excellence in Fiction, 2014

Citações
«Uma obra-prima.» | The Times
«O Pintassilgo é um daqueles livros raros que aparecem uma meia dúzia de vezes por década; um magnífico romance literário capaz de tocar tanto o coração como a mente… Donna Tartt criou uma extraordinária obra de ficção. » | Stephen King, The New York Times Book Review
«Uma obra surpreendente… Se alguém perdeu o gosto pela leitura, irá reencontrá-lo com O Pintassilgo.» | The Guardian
«Deslumbrante… [Um] romance poderoso na linha de Dickens, que reúne os notáveis talentos narrativos de Donna Tartt numa sinfonia arrebatadora, lembrando ao leitor o prazer de ficar acordado durante toda a noite a ler.» | The New York Times

O impossível de Borges


terça-feira, 9 de setembro de 2014

a-ver-livros: da noite para o dia

E à medida que a noite
cai 
cai
o que resta
do fruto
no curso 
das águas
rio 
corrente de lágrimas
felizes

E à medida que o dia
chega
chega 
o sorriso 
em flor

Ana Almeida

* desconheço o autor. Se souberem digam. Obrigada.

É do borogodó: a espera

pequenas folhas secas
ramos de flores violetas
boca nua, sedenta
:
a espera

Penélope Martins

O ponto final de Oscar Wilde


O mundo aguarda com expectativa a chegada do livro 3 da Triologia «O século» - Ken Follett está de volta

P.V.P.: 29,99 €
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 589
Editora: Editorial Presença

Sinopse:

"Enquanto as decisões tomadas nos corredores do poder ameaçam extremar os antagonismos e originar uma guerra nuclear, as cinco famílias de diferentes nacionalidades que têm estado no centro desta trilogia O Século voltam a entrecruzar-se numa inesquecível narrativa de paixões e conflitos durante a Guerra Fria.

Quando Rebecca Hoffmann, uma professora que vive na Alemanha de Leste, descobre que anda a ser seguida pela polícia secreta, conclui que toda a sua vida é uma mentira. O seu irmão mais novo, Walli, entretanto, anseia por conseguir transpor o Muro de Berlim e ir para Londres, uma cidade onde uma nova vaga de bandas musicais está a contagiar as novas gerações. Nos Estados Unidos, Georges Jakes, um jovem advogado da administração Kennedy, é um ativo defensor do movimento dos Direitos Civis, tal como a jovem por quem está apaixonado, Verena, que colabora com Martin Luther King. Juntos partem de Washington num autocarro em direção ao Sul, numa arriscada viagem de protesto contra a discriminação racial. Na Rússia, a ativista Tania Dvornik escapa milagrosamente à prisão por distribuir um jornal ilegal. Enquanto estas arriscadas ações decorrem, o irmão, Dimka Dvornik, torna-se uma figura em ascensão no seio do Partido Comunista, no Kremlin.

Nesta saga empolgante que agora se conclui, Ken Follett conduz-nos, em No Limiar da Eternidade, através de um mundo que pensávamos conhecer, mas que agora nunca mais nos parecerá o mesmo."


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Foto frase do dia: Joanne Harris


O leitor precisa de terapia?

Encontrado na página Improbables Bibliothèques, 
Improbables Librairies. A não perder por nada! 

Apetites literários

Sendo que a 'poesia' de hoje chama-se mesmo é trabalho final do curso, ofereço-vos a partilha de informação a reter: a lista de lançamentos anunciada há dias pela Porto Editora. 

O grande destaque vai para a publicação do inédito de José Saramago: "Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas".

Foram anunciadas também obras de outros grandes autores portugueses.

Nomeadamente uma coleção de livros infantis da autoria de Valter Hugo Mãe, cujo primeiro título será "O paraíso são os outros", 
o mais recente romance de Gonçalo M. Tavares, "Uma menina está perdida no seu século à procura do pai", 
e ainda, num registo de não-ficção, "Quem disser o contrário é porque tem razão", de Mário de Carvalho, um guia prático para a escrita de ficção.

Destaque também para publicação, pela chancela Sextante, de uma nova obra do escritor brasileiro Rubem Fonseca, intitulada "Amálgama". Pela Assírio & Alvim, ênfase a "Poesia Presente – Antologia", de António Ramos Rosa, preparada pela filha do poeta, com um prefácio de José Tolentino Mendonça.
 
A saberem ainda: em 2015 toda a obra de Maria Alberta Menéres passa também para a Porto Editora. A primeira publicação, agendada para o segundo semestre, será de "Conversas com Versos", uma edição ilustrada e acompanhada de um CD em que Eugénia Melo e Castro interpreta 11 canções baseadas em poemas do livro, contando até com a participação de Ney Matogrosso. 

Qual destas obras vos abre mais o apetite literário? 

 Ana Almeida



domingo, 7 de setembro de 2014

Conheçam Diogo, o menino que lançou o seu primeiro livro de poesia e vive com uma doença rara


Diogo tem 14 anos e quer fundar uma associação nacional para a doença rara de que sofre

Portador de Charcot-Marie-Tooth, uma doença rara, Diogo lança o seu primeiro livro de poesia para angariar fundos.
Quando era mais pequeno, chamavam-lhe coxo e não o deixavam jogar à bola. “Tu não serves”, diziam-lhe. Hoje, Diogo Lopes tem 14 anos, sabe por que é coxo: é portador de Charcot-Marie-Tooth (CMT), uma doença rara, e vai lançar o seu primeiro livro de poesia, Contrabaixo. O seu objectivo é que a venda do livro permita criar uma associação. “Quero mostrar aos portadores de CMT que são capazes de lutar pelos seus objectivos e que a solidariedade pode trazer grandes mudanças”, diz.
Aventurou-se na poesia porque se fartou da prosa. Juntou uns tantos poemas e decidiu enviá-los para a Editora Alfarroba. Algum tempo depois, soube que aquela iria publicar o seu primeiro livro, que é apresentado hoje às 21 horas na Escola de Música do Conservatório Nacional (EMCN), em Lisboa.
A falta de informação com que se deparou quando descobriu a doença, a possibilidade de ajudar outras pessoas e o desconhecimento demonstrado pelos médicos são as principais razões que levam Diogo a querer ser presidente da primeira associação do género em Portugal. “Quero captar a atenção médica e de investigadores que se entusiasmem pela busca de uma cura para a doença”, explica.
Os planos são muitos e Diogo prevê criar um programa para ajudar jovens doentes através da música e de outras artes. “Estamos ligados a muitas pessoas de outros paíse e reparamos que os portugueses são muito silenciosos, enquanto outros grupos comunicam diariamente. Os portugueses vivem a doença como um peso e é isso que ele quer mudar”, explica a mãe, Susana Moura.
Andava com a ponta dos pés
É sexta-feira. Susana e Diogo saem de casa, em São Domingos de Rana, e dirigem-se para o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão. É lá que, todas as semanas, Diogo faz fisioterapia. Começou quando tinha dez anos, altura em que lhe foi diagnosticada uma doença, da qual nunca tinha ouvido falar. “Disseram-me que tinha Charcot-Marie-Tooth. Ao início não tinha noção de como me poderia afectar”, recorda.
Já em criança apresentava algumas dificuldades que outros não tinham. “Sempre andei de médico em médico e eles diziam-me que eu tinha aprendido a andar mal”, explica Diogo.
“O Diogo andava com as pontas dos pés. Caia constantemente e, enquanto uma criança cai e tem um hematoma normal, ele ficava automaticamente inchado”, acrescenta Susana.
A CMT é uma doença rara, mas é a mais comum das doenças neuromusculares degenerativas hereditárias. É caracterizada por uma lenta e progressiva destruição das fibras motoras e sensitivas dos nervos periféricos, o que leva à perda de força e sensibilidade nos pés, mãos, pernas e braços.
A longo prazo, pode levar o doente a uma cadeira de rodas, à incapacidade de segurar em objectos e ao aparecimento de problemas respiratórios.
Segundo o relatório “Prevalência das doenças raras: dados bibliográficos”, publicado em Junho de 2013 pela Orphanet, estima-se que 22 em cada 100 mil portugueses sejam portadores de CMT, o que significa que, no total, 2332 portugueses sofrem desta doença. “O grande problema é que os médicos não a conhecem. Acharam que ele tinha outra doença muito esquisita. Fez uma fisioterapia completamente normal, o que não ajudou nada”, lembra Susana Moura.
“Sendo uma doença rara é natural que os médicos de família não tenham intimidade com esta condição clínica”, justifica o neurologista Mamede de Carvalho, do Serviço de Neurofisiologia do Departamento de Neurociências do Centro Hospitalar Lisboa-Norte.
Com a diversidade de doenças raras, torna-se difícil estar a par de todas elas. De acordo com a Raríssimas - Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras, estima-se que existam cerca de oito mil doenças raras, sendo que a cada ano se identificam mais. Calcula-se que 6% a 8% da população portuguesa seja portadora de uma destas doenças, ou seja, entre 600 mil e 800 mil pessoas.
Uma doença sem cura
Em Alcoitão, numa sala repleta de brinquedos, colchões e máquinas, está o fisioterapeuta Miguel Relvas. Diogo troca de roupa e deita-se para começar a fazer alongamentos. “Já estabelecemos uma rotina. Alongamos os membros inferiores e o tronco. Depois trabalhamos o equilíbrio, a resistência muscular e a força”, descreve o técnico, que acompanha Diogo há cerca de três anos.
Esta é apenas uma das fases do tratamento do rapaz, que inclui consultas de neurologia, fisiatria e psicologia, mas é o fisioterapeuta que tem mais contacto com ele. “É o Miguel que melhor o conhece porque está com ele todas as semanas”, revela a mãe.
Apesar dos esforços, não é possível pensar-se em grandes melhoras. “Não há cura, independentemente do tipo CMT”, afirma Luís Negrão, do Serviço de Neurologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Segundo o especialista, o tratamento passa por tentar “minimizar as consequências das manifestações motoras nas actividades diárias, utilizando ajudas técnicas quando necessário” e procurar “impedir que determinadas manifestações clínicas se exprimam ou atinjam proporções significativas, recorrendo à cirurgia”.
Diogo nunca foi operado. Para já, utiliza umas palmilhas desenhadas em Alcoitão, que lhe compensam o vazio criado pelo arco que tem no pé, e osfoot-ups, uma espécie de caneleira colocada no tornozelo que permite aliviar a força que tem de fazer para se mover.
Ao longo da consulta, Diogo insiste em pôr música no telemóvel. Ouve-se System of a Down e Gary Jules. É assim todas as semanas, em todos os lugares, seja na escola, no carro ou em casa. O fisioterapeuta pergunta-lhe: “Já conheces o novo álbum dos Queen of The Stone Age?”.
A terapia do piano
Aos cinco anos, Diogo começou a tocar piano. Aos nove, entrou na EMCN, onde se mantém. E sonha, um dia, frequentar a Berklee College of Music, especializada em jazz, em Boston, nos Estados Unidos. ”Tocar piano é uma forma de terapia”, declara Diogo.
“Na minha opinião, nós damos importância ao que queremos. O que é que é importante para mim? A minha felicidade ou o facto de me estar a doer o dedo mindinho?”, resume o jovem, mesmo sabendo que um dia poderá ter de mover-se numa cadeira de rodas.
Para Diogo, tocar piano é mais do que uma terapia da mente. “Eu tive sorte em começar a tocar desde cedo, porque isso acabou por funcionar como uma espécie de fisioterapia que me ajudou a manter os músculos das mãos”, acredita.
“Não há nenhuma evidência científica que suporte esta interpretação”, diz, por seu lado, o médico Mamede de Carvalho.
Mas, apesar de a ciência não ser conclusiva quanto aos benefícios de tocar piano, tudo indica que tem sido importante para travar o aumento da fraqueza nas mãos de Diogo, consideram a mãe e o fisioterapeuta.
“Já chegou ao pé de mim e disse-me que naquela semana tinha estudado menos. E isso reflecte-se porque a massa muscular regride imediatamente quando não é permanentemente trabalhada”, observa João Vale, professor de piano na EMCN.
Apesar de ainda não estar numa fase avançada, com a perda de força e destreza nas mãos, Diogo poderá, a determinada altura, deixar de tocar piano, uma das coisas a que se dedica mais horas por dia.
Habituado a planear a sua vida, Diogo coloca essa hipótese quase como uma certeza. ”Arranjaria sempre forma de não sair do ramo da música. Pode não ser propriamente a tocar. Pode ser a compor, a dirigir uma orquestra ou um coro”, considera.
Por enquanto dedica-se a aprender o máximo possível. Foi por isso que, em 2012, se inscreveu na Big Band Junior do Hot Club. “Quando chegou o jazz tudo se revitalizou”, refere Diogo, que se encontrava cansado do reportório clássico que lhe ensinavam no conservatório.
Foi assim que todas as segundas-feiras passou a ter ensaios na orquestra de jazz do Hot Club, que inclui jovens dos 12 aos 16 anos. É lá que se sente em casa e encontra a melhor cura para a sua condição. “Com a mente no sítio certo já ganhamos metade da batalha”.

Antilogia

Antilogia

"A poesia em geral ainda tem como único processo de produção um levantar inspirado da cabeça. Em forma de 
pombo
pavão
ou avestruz."

Anti-antologia de poesia, um livro em formato livre.

Poetas participantes: Ariane Stolfi, Bruno Schiavo, Carlos Arouca, Daniel Scandurra, Diogo Mitzreal, Fernanda Vieira, Gabriel Kerhart, Gerlado Figueiredo, Igor Adorno, James Martins, Jorge Augusto, Odi Diasa, WalterVeto

Foto frase do dia: Antoine


Apanhei-te a ler... dia 18

George Harrison lê sobre Bob Dylan.

Encontrado no Pinterest.