sábado, 7 de julho de 2012

Crimes Exemplares ilustrados


Em Portugal pela mão da Antígona chega-nos o livro Crimes Exemplares em edição ilustrada.

Max Aub é autor de mais de 40 títulos, entre os quais Crimes Exemplares, publicado em 1957 e que, em 1981, conquistou o Grand Prix de L'Humour Noir em Paris. São 87 confissões curtas, secas e directas, por vezes muito violentas, outras com uma certa beleza poética e galhofeira, feitas por quem praticou um crime contra a vida de alguém. Crimes de todo o tipo, por envenenamento estrangulamento, etc., em que se constata não só a grande perversidade humana, mas também uma inacreditável ingenuidade.

O livro mantém uma nada surpreendente actualidade, num mundo como o nosso onde a violência real parece cada vez mais ficção. Ou o contrário. Esta edição especial de grande formato apresenta os delitos originais e 32 ilustrações a preto e encarnado, executadas por artistas maioritariamente espanhóis.


A edição original pertence à editora espanhola Media Vaca.

Aqui fica o booktrailor feito pelo Ricardo Castro, para a edição portuguesa da Antígona


António Pinho Vargas e o estado da Europa.....

O conhecido compositor e pianista António Pinho Vargas deixou esta nota na sua página do facebook - que achei digna de reflexão, mesmo não tendo directamente a ver com livros. É sempre uma opinião interessante, passível de ser discutida. 

"Ou me engano muito ou temos mesmo que nos preparar para o pior no que respeita à Europa, ao euro, à austeridade e às suas tremendas consequências na vida das pessoas no seu todo. As consequências - que são tremendas para quem atravessa dificuldades económicas, despedimentos, saídas das casas, falências de empresas e famílias, etc. - infelizmente não se limitam a estes aspectos, já de si catastróficos. Ferem de forma devastadora também as nossas próprias subjectividades mais íntimas, mais próximas do cerne do nosso ser, assustam-nos e enlouquecem-nos. Afectam-nos no nosso trabalho, no nosso comportamento, na nossa lucidez já trémula que resta.

Começo a ter dificuldade em ler os jornais - leitor que sou há muitos anos - face à repetição do mesmo tipo de notícias em variantes cada vez mais assustadoras. A simples repetição é, já de si, assustadora que chegue. Porque significa que os mesmos argumentos continuam válidos um, dois ou três anos depois, de um lado e de outro. Por vezes, surge um texto, um pensamento que ilumina, ou parece iluminar, mas que se revela incapaz de mudar. Em geral, há a mera repetição das análises enquanto, ao mesmo tempo, parece haver trincheiras já escavadas onde só faltam os soldados de 1914-18, para relembrar o mais absurdo começo de uma guerra: todos os países foram para a guerra de uma forma festiva, convencidos da vitória fácil e rápida. Países europeus, repletos de artistas, filósofos, escritores, militantes de direita, militantes de esquerda e sindicalistas. De repente, tudo isso passou para segundo plano e veio um fervor nacionalista que estava latente e semi-oculto . O homem-animal que gosta de se olhar como animal-racional, muitas vezes, é apenas um animal-pouco-racional. A sua estrutura antropológica desfaz a sua construção cultural de séculos num instante fatal e regressa um ser primitivo, capaz dos maiores horrores, das maiores atrocidades. Nem é preciso relembrar Auschwitz, porque, já depois, em poucos anos, vizinhos, parentes, amigos de café dos países da ex-Jugoslávia, passaram para primeiro plano questões religiosas ou identitárias e começaram a matar-se uns aos outros.

Já estivemos mais longe disso e a tal estrutura cultural de base não parece ser capaz de se sobrepor às divergências que vão aumentando. Quando há crises económicas e demográficas - é o caso - a história diz-nos que, as mais das vezes, se resolvem com guerras. E à custa do rol de horrores inimagináveis que sempre as acompanham. Já estivemos mais longe."

*Para quem quiser conhecer Pinho Vargas no mundo dos livros, já aqui falamos de alguns deles: http://www.blogclubedeleitores.com/2012/01/antonio-pinho-vargas-vence-premio-jose.html

Foi assim em Junho... O Bairro dos Livros em filme!

E foi assim que o Bairro dos Livros se apresentou em Junho. Com o lema "ler é fixe", que demos eco no blog. Podem recordar o programa aqui. Para quem ainda não foi a nenhum Bairro, o convite para se dirigirem ao Centro do Porto e acompanharem esta excelente iniciativa. Este vídeo representa o tipo de actividades que este Movimento promove. Nós - aqui no blog - passaremos sempre a programação e as futuras datas. Venham connosco!


a-ver-livros de marisco: Catrin Welz-Stein

As palavras entram olhos adentro
e dividem-se nos cabelos revoltos
em pensamentos aquáticos

O crustáceo vem
e pede para irmos brincar



* para conhecer melhor a ilustradora alemã (a viver na Malásia) Catrin Welz-Stein é seguir o link catrinwelzstein.blogspot.pt

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Gerrit Komrij: descoberta póstuma

Descoberta póstuma, chamou-lhe alguém por estes dias. Por mim, faço-me eco.
Nunca ouvira ou lera o nome de Gerrit Komrij antes dele merecer um obituário, que morreu ontem. Ao que parece é nome grande na Holanda. E vivia desde os anos 80 por cá, praticamente incógnito, primeiro numa pequena aldeia perdida de Trás-os-Montes, mais tarde em Vila Pouca da Beira, ali para o concelho de Oliveira do Hospital.
Ao que parece, era um pró-classissista na forma e um anti-lírico no conteúdo.
Ao que parece, a sua poesia revela um humor sarcástico, cáustico, polémico.
Ao que parece, recebeu o maior prémio de poesia da Holanda em 1993.
Ao que parece. Hei-de descobri-lo melhor um destes dias. Para já, in memoriam, fica um poema seu, traduzido por Fernando Venâncio.

 "Máscaras

O homem com a máscara brincando
Até chegar a hora em que o seu rosto
Partilhava com ela uma só vida:
Já miúdo a história me punha indisposto.

Negava-me a aceitar. Quando crescesse,
Ia mostrar que outra maneira havia:
Que cada máscara, sem dor ou risco,
Como um capuz tirar-se podia.

Fiz disso muito tempo um firme credo.
Escondi, confiante, a minha natureza.
Extinto o fulgor do jogo que eu fazia,
Teria ela a original pureza.

Hoje sou velho, só para admitir:
A história é real. A máscara agarrou-se´.
É como habituares-te ao inferno.
Como se olhar vazia cova fosse.
"

Gerrit Komrij (30.03.1944 - 05.07.2012)
 

1º Parágrafo: O Amor nos Tempos de Cólera


Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas recordava-lhe sempre o destino dos amores contrariados. O Doutor Juvenal Urbino sentiu-o assim que entrou em casa, ainda mergulhada na penumbra, onde fora de urgência para tratar de um caso que, para ele, já tinha deixado de ser urgente há muitos anos. O refugiado antilhano, Jeremiah Saint-Amour, inválido de guerra, fotógrafo de crianças e o seu mais tolerante adversário de xadrez, tinha-se posto a salvo das inquietações da memória com um defumador de cianeto de ouro.


* Tradução de Margarida Santiago
* A produtora Stone Village Pictures comprou os direitos para adaptação ao cinema, e escolheu Mike Newell para realizador. A filmagens tiveram início em Setembro de 2006 na cidade de Cartagena, Colômbia. A cantora Shakira, também colombiana, a convite do próprio García Marquez, colaborou na banda sonora, com três canções, "La Despedida", "Pienso en ti" e "Hay amores".




Crimes Exemplares de Max Aub na Casa do Infante no Porto

E tu já mataste alguém hoje?

"Crimes Exemplares" de Max Aub estreia no próximo dia 6 de Julho na Casa Do Infante.

No próximo Bairro dos Livros eles são os nossos convidados. À boleia deste pretexto o blogue vai-se encher de Max Aub, vamos descobrir vida e obra deste controverso autor que ainda não nos é assim tão familiar em Portugal. Em parceria com este jovem grupo de teatro vamos trazer-vos mais novidades brevemente. Para já não deixem de ir ver o espectáculo!


Este é um dos motes para o convite para esta peça de teatro.

“Errata 
Onde se lê:
 Matei-a porque me pertencia
 Deve ler-se: 
Matei-a porque não me pertencia”
 O que motiva o ser humano? O que o leva a agir, a amar, a odiar? A cometer os actos de maior loucura? O instinto, a razão ou algo ainda maior?

Este é um teatro sobre o Homem e como tal, não pode ser diferente do Homem: absurdo. 
Estamos todos muito ocupados: não temos tempo de nos divertir, ser felizes, amar, experimentar, aprender.

Há que trabalhar que foi para isso que nascemos e ai de quem pare para pensar! Existo logo penso. Há um plano que já era nascido antes de nascermos e ao qual temos de nos ajustar “para ter uma boa vida” e “porque é assim”.

E esse plano por vezes leva-nos à loucura.
“Nunca mataste ninguém por tédio, porque não sabias o que fazer? É divertido.”

DATAS E PREÇOS

6 a 22 de Julho – Crimes Exemplares
De terça a sábado ás 21:45
Domingo ás 18:30
Folga às segundas-feiras.
Preço normal: 5 €
Desconto para escolas de teatro: 4 €
Faixa Etária: M/16

Ficha artística:
Texto: 
A partir de Crimes Exemplares de Max Aub
Adaptação: Colectiva
Tradução : Errata
Encenação: Pedro Fiúza
Interpretação: Laura del Rio*; Maria João Monteiro*; Edi Gaspar; Maria Teresa Barbosa; Élio Ferreira
Cenografia e Adereços *: Ana Maio Graça; Filipa Soares; Joana Ribeiro,
 Luma Breves e Sara Lança
Figurinos: Diana Pinheiro
Desenho de Luz: Hugo Moedas
Desenho de Som: Alexandre Castro
Desenho gráfico: Manuel Costa
Fotografia: Jonas Nunes
Produção: Errata
Divulgação:  Errata
Apoio à Divulgação: Casa do Infante, ACE – Escola de Artes.

Apoios: ACE – Escola de Artes

a-ver-livros: escondida sob Joy Hester

Uso o livro como uma capa de invisibilidade.
Escondo-me lá dentro,
espero que o tempo passe
e se esqueça de mim

Os meus olhos contam
a história
que nunca lerás


* para conhecer melhor a arte crua e expressivamente poderosa da pintora australiana Joy Hester (1920-60, a maioria deles a combater o cancro até à derrota final, em paralelo com uma carreira artística que nunca existiu, à sombra do marido) há que fazer uma pesquisa de imagens com o seu nome e seguir o link www.fernartz.com/JoyHester para obter informação biográfica

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Continuamos à procura do melhor remédio... este será o prémio



Revelamos então o Prémio para o nosso passatempo. o livro PESTE BUBÓNICA, de Ricardo Jorge, editado pela Deriva.

- Que livro recomendam como posologia para cada doença?
Indiquem exactamente uma doença que exista ou que seja inventada e a sua respectiva cura através de um livro específico. Os mais criativos serão aviados pelos livreiros/farmacêuticos desta casa com um medicamento à altura. As respostas devem ser enviadas para: clubedeleitores @ blogclubedeleitores.com
Ah! E não se esqueçam de que, para participar, têm que Gostar! na página de Facebook do Clube de Leitores
Continuem a participar!


Já que o mote do tema é "Ler é o melhor remédio", nada melhor que pegar em saúde pública e falar sobre o Doutor Ricardo Jorge, professor de medicina, médico municipal e promotor da saúde pública na cidade e no país. Deixou-nos um legado de combate pela saúde que passou também pelos livros. Ricardo Jorge escreveu sempre num registo que ultrapassava a linguagem técnica e deixou descrições de análise sociológica e histórica da cidade destes tempos.

A Peste Bubónica no Porto é, na realidade, um relato simples, originalmente dirigido às autoridades públicas, mas muito elucidativo, sobre a natureza e a gravidade de um dos muitos problemas de saúde enfrentados pela cidade nesse momento da sua história. No livro em causa, o autor defronta a sua própria perplexidade inicial com o teor do problema que começa a descobrir e convida o leitor a acompanhar o seu percurso em torno do reconhecimento, trezentos anos depois, do insólito e sofrido regresso da peste. Documentando, depois de debater com colegas nacionais e estrangeiros, os aspectos clínicos, epidemiológicos, bacteriológicos e estatísticos da doença, o livro destaca-se pelo que poderíamos classificar como uma descrição densa dos casos de doença identificados, dos inicialmente surgidos na Fonte Taurina aos que se vão progressivamente declarando na parte superior da cidade, e pelo que revela do envolvimento vivido do autor com a cidade, num registo de escrita, como já demonstrara noutros dos seus trabalhos dedicados à cidade do Porto, com traços naturalistas.


[do prefácio de Virgílio Borges Pereira]:

"No dia 4 de Julho de 1899, era Ricardo Jorge alertado para uns estranhos falecimentos ocorridos na Rua da Fonte Taurina.  Apesar de aparentarem ter sido causados por “moléstias banais”, uma visita pessoal do médico ao local deixou nele a convicção de “estar em frente dum foco epidémico de moléstia singular e nova”. A obra A peste bubónica no Porto recolhe os relatórios médicos redigidos por Ricardo Jorge entre Julho e Agosto desse ano e destinados exclusivamente às autoridades civis. Eles são escritos enquanto grassa a epidemia na cidade, dando conta da impressão causada no imediato pela sucessão dos acontecimentos. O estilo realista das observações realizadas, o registo minucioso das vicissitudes provocadas pela propagação da peste, as anotações acerca das circunstâncias da vida e da morte de cada infectado, contribuem para formar  uma descrição percuciente do prosaísmo da existência das classes populares nessa época. Por detrás das observações clínicas, Ricardo Jorge realiza uma autópsia social da cidade laboriosa. A distribuição geográfica da morte é sensível à morfologia social do Porto. A prospecção de terreno sobre as condições da doença constitui uma sociografia da vida de todos os dias das classes populares, mostrando impressas em letra de forma a luz, o cheiro, o ruído das suas condições de habitações, de alimentação, de trabalho."

1º Parágrafo: O Fim da Aventura


Uma história não tem princípio ou fim: escolhemos arbitrariamente o momento da experiência, de onde olhar para trás, ou olhar para diante. Digo “escolhemos”, com o impreciso orgulho de um escritor profissional, de quem – quando a sério o consideram – louvam a capacidade técnica; mas será de facto por minha livre vontade que eu escolho essa negra e chuvosa noite de Fevereiro de 1946 e a visão e Henry Miles atravessando obliquamente o vasto rio de chuva, ou estas imagens me escolheram? É conveniente, e até conforme com as regras da minha arte, começar exactamente por aí; mas acreditasse eu então em um Deus, e também acreditara que uma mão segurara o braço e alguém me sugerira: “Fala-lhe: ele ainda não te viu.”


* Tradução de Jorge de Sena
* Graham Greene formou-se na Universidade de Oxford, foi jornalista e sub-editor do The Times
* O livro foi adaptado ao cinema (1999) pelo realizador Neil Jordan, com Ralph Fiennes e Julianne Moore respectivamente nos papéis de Maurice Bendrix e Sarah Miles


a-ver-livros: olho de peixe de Taeeun Yoo

O peixe olha-me de forma inquisitiva
e sei-me nas páginas de um livro,
forma de letra.

Assusta-me perceber como me lê.
Tão melhor do que tu.



* para conhecer melhor o ilustradora koreana (a viver em Nova Iorque) Taeeun Yoo é seguir o link www.taeeunyoo.com e já agora também o da sua loja na Etsy.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Leitura do mês de Julho




No mês em que a maioria dos portugueses entra de férias, trago ao Blog um livro de um jovem escritor português - Sandro William Junqueira.

Fazendo parte da nova geração de escritores, Sandro lança-nos um desafio neste "UM PIANO PARA CAVALOS BRANCOS" ao "obrigar" o leitor a ser muito mais que um mero assistente da história que nos conta.
Os lugares, as personagens - sem referência específica e concreta - levam o leitor a desempenhar um papel de intervenção no próprio enredo. A floresta, lugar onde habitam todos os medos, pode ser qualquer floresta, podem ser os nossos próprios medos. Não há lugar para um distanciamento: o leitor é parte integrante da história.
As personagens são referenciadas por aquilo que representam e não por aquilo que são.

A surpreendente estrutura do livro que, em vez de capítulos, é composta por Sonata de Inverno e Concerto de Verão, tem em Satie a inspiração: a história decorre em Gymmopédies. Esta referência incontornável à música clássica subjaz à paixão do escritor: o piano.

Deixo-vos, então, com "Um Piano para Cavalos Altosque nos dá todos os caminhos para uma Música que se ouve dentro de nós. Uma séria reflexão sobre "...o poder, o poder do controlo, o poder da comunicação, o poder do corpo." Universos que habitam em todos nós.

Para quem não se recorda, tive o privilégio de conversar com o Sandro um dia. O acaso levou-me a ele e o Sandro deixou umas breves palavras aqui no nosso blog. Não deixem de o conhecer um pouco melhor:

http://www.blogclubedeleitores.com/2012/06/conversa-beira-mar-com-sandro-william.html

Elsa Martins Esteves

1º Parágrafo: Os coxos dançam sozinhos


Estou no quarto e não estou sozinho. À minha frente, deitada ao comprido, de barriga para baixo, está a velha que matei hoje de manhã. Bem morta, nua de todo, as banhas esparramadas pela alcatifa. Um mimo. O problema foi terem destacado para o caso o inspector Brandão – e caso não saibam o Brandão sou eu, Porto Brandão, prazer em conhecer-vos.


* José Prata viveu um ano na Alemanha a vender queijos, hoje trabalha como jornalista freelance
* Os Coxos Dançam Sozinhos é o seu romance de estreia (2002)

Clube de Leitores está no Bairro dos Livros, a parceria que nos põe na rua

Clique na imagem para aceder à página do Bairro dos Livros, procure também no Facebook.

O blogue mudou, tem mudado e continua a mudar. Mudança porque é disso que a evolução é feita e, se queremos chegar a mais pessoas, também nós temos que mudar. Uns vão gostar, outros não. Uns vão gostar mais, uns vão e outros vêm. Continuamos a gostar de toda a gente, aqueles que amam os livros em todas as formas de os amar.

Nestas mudanças estão algumas novidades grandes para quem nos acompanha. O design do blogue mudou e ainda temos surpresas em carteira...

Agora outro tipo de novidades! Vamos chegar a mais gente e sair do espaço virtual para o físico. Vamos ver caras, cruzar-nos com estes nomes que por aqui andam e pelo Facebook e com quem cruzamos caminho todos os dias.

Quero saber quem são, quero apertar-vos a mão, dar um abraço, um beijo, quero cruzar olhares, quero-vos sentir. É este o novo grande passo do blogue - sair para o mundo.

Para já o mundo tem limitações geográficas, como será óbvio. Ficamos pelo Porto, ficamos pelo Bairro.
Pois é, para quem anda mais atento já reparou neste projecto de que temos vindo a falar e a anunciar.

Agora estamos aqui também como estamos nos outros espaços. Em breve esperamos estar ainda em mais sítios e nada seria melhor do que continuarmos a crescer assim, com vocês e para vocês, porque de outra forma não faz sentido.


O Bairro dos Livros - o movimento dos livreiros, que arrancou oficialmente em Abril de 2012, conta já com alguns anos de debate, preparação, coordenação de iniciativas, entre recuos e avanços. É no momento em que a cidade mais precisa que os livreiros se unam na Baixa do Porto - para fazer da rede de livrarias e alfarrabistas da cidade lugares de partilha de conhecimento, de celebração do livro e dos leitores e de programação cultural pensada para todos os públicos.

O projecto “Bairro dos Livros” é  o espaço geográfico e emocional em que se inserem mais de três dezenas de livrarias da cidade do Porto, com vários perfis e identidades – generalistas, tradicionais, alfarrabistas, especializadas, de grande e pequena dimensão – e que funcionam como pontos de encontro para os habitantes da cidade. São locais de passagem obrigatória no roteiro cultural da cidade, assim como um íman para turistas (os de fora e os de dentro).

A partir desse enorme potencial, que é um verdadeiro património imaterial gerador de produção e integração lúdico-cultural na vida da cidade, e da concertação entre os livreiros, o “Bairro dos Livros” assume-se como um projecto de desenvolvimento de estratégias e acções conjuntas para atingir dois objectivos principais:

1. Divulgar o livro e a leitura com base no conceito “Ler com prazer livros todos os dias”, dando ao mesmo tempo mais visibilidade às livrarias envolvidas;

2. Participar no fomento da dinâmica que vem surgindo nesta zona da cidade, com vista à captação, afluência e fidelização de novos públicos através de acções concertadas entre os livreiros aqui implantados.

Mais do que isso, numa altura em que a crise afecta o estado de alma e a esperança dos portuenses, os livreiros do Bairro querem contrariar os sentimentos de apatia e de medo do futuro para continuar a fazer crescer a Baixa da cidade e acarinhar os leitores.


Para além da divulgação, estaremos a colaborar em actividades do Bairro dos Livros, já a começar neste mês. No blogue podem encontrar as entradas pela etiqueta / palavra-chave "Bairro dos Livros". Para já temos também um passatempo a decorrer relacionado com o tema deste mês - "Ler é o melhor remédio". Participem e venham ter connosco a este Bairro.

a-ver-livros: o dia cinzento de Brandon Smith

Pede-se encarecidamente à pessoa que levou o sol o obséquio de o devolver nas mesmas condições.
Há um dia que dele precisa.
Há um livro que a janela não ilumina mais do que o suficiente.
E ainda por cima diz que é Verão.



* para conhecer melhor o pintor californiano Brandon Smith é seguir o link www.brandonsmithpaintings.com/

terça-feira, 3 de julho de 2012

Morreu Jorge Figueira de Sousa, as palavras para o descrever não caberiam neste título...


Faleceu, vítima de doença prolongada, na madrugada de segunda-feira, o Jorge Figueira de Sousa, proprietário da Livraria Esperança, no Funchal.

Há mais de 65 anos ligado à livraria, fundada em 1886 e hoje considerada a segunda maior do mundo,com 1.200 metros quadrados e 106 mil livros expostos com a capa de frente. Foi por sua iniciativa que a Livraria Esperança, uma das mais conhecidas da Madeira, fundada em 1886 e situada na rua dos Ferreiros, passou também a Fundação, classificada como de utilidade pública e cujo principal objectivo é facultar livros a crianças da Região.

Jorge Figueira de Sousa venceu, em  Fevereiro passado o Prémio Especial de Livreiro, um dos Prémios de Edição LER/Booktailors.

Pormenor de uma vista da livraria

Em comunicado, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, recordou que Jorge Figueira de Sousa “em tudo foi criativo” e “foi pioneiro em muitas áreas dos negócios que dirigiu e inventou ao longo da vida, desde a impressão de bilhetes de transportes públicos até à ideia de organizar visitas de escolas às livrarias. Mais do que um labirinto de livros, um espaço de magia, a [livraria] Esperança é uma memória viva da edição e da bibliofilia portuguesa e, por si mesma, um lugar mítico para os leitores que nunca deixam de procurar os livros mais raros”, refere o secretário de Estado.

Não nos podia passar em claro e não podia deixar de não dar uma palavra de homenagem a alguém que tanto fez pelos livros e pela leitura, em especial numa região que continua a sofrer quer pelo acesso deficiente que ainda tem a muitos serviços, sendo uma espécie de filho bastardo deste país em que vivemos. Juntando a isso uma série de políticos dinossauros que permanecem no poder há mais de 38 anos e que fazem da Madeira e Funchal o seu jardim de brincadeiras e enriquecimento pessoal!

A Livraria Esperança está também disponível online.

1º Parágrafo: Memorial do Convento

             D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria, para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça. Além disso, quem se extenua a implorar ao céu um filho não é o rei, mas a rainha, e também por duas razões. A primeira razão é que um rei, e ainda mais se de Portugal for, não pede o que unicamente está em seu poder dar, a segunda razão porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber, há-de ser naturalmente suplicante, tanto em novenas organizadas como em orações ocasionais. Mas nem a persistência do rei, que, salvo dificultação canónica, ou impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal, nem a paciência e humildade da rainha que, a mais das preces, se sacrifica a uma imobilidade total depois de retirar-se de si e da cama o esposo, para que se não perturbem em seu gerativo acomodamento os líquidos comuns, escassos os seus por falta de estímulo e tempo, e cristianíssima retenção moral, pródigos os do soberano, como se espera de um homem que ainda não fez vinte e dois anos, nem isto nem aquilo fizeram inchar até hoje a barriga de D. Maria Ana. Mas Deus é grande.


* Autor José Saramago
* José Saramago foi Prémio Camões em 1995 e Nobel da Literatura em 1998

a-ver-livros tão urbano: Andrej Mashkovtsev

Nas tuas páginas encontro o tempo que perco nos transportes.
E sonho. De olhos abertos.
Com máquinas que andam e navegam e voam. Todas juntas numa só.



* para conhecer melhor o pintor russo Andrej Mashkovtsev é seguir o link www.artlondon.com

Música de Adele... versão «If you love to Read»

"Rolling In The Deep" de Adele dá lugar a «If You Love to Read», um projecto da The New York State Reading Association. Podem acompanhar a letra no Youtube e visitar o website do projecto: http://nysreading.org/NYSRAConference2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

1º Parágrafo: Sob o Olhar de Medeia


A pequena Marta viveu na grande casa de família como se estivesse em permanente exílio, como se do quarto de sua mãe a tivessem levado para longínquos quartos e não soubesse a razão e o tempo da mudança. Também a pequena alma de Marta, à força da crueldade mortal desses corredores e quartos, se exilava a pouco e pouco na Natureza viva. O testemunho dessa entrega, muito variado e longo, desde os cuidados dispensados aos pequenos coelhos nas luras, esfregando as mãos com funcho para que a mãe não os enjeitasse, até à contemplação imóvel de qualquer das árvores ou ervas é, em parte, este relato.


“Este é um romance desconcertante, que reclama do leitor uma espécie de despojamento compreensivo, uma aceitação sem preconceitos, das narrativas primordiais, como se o mundo pudesse voltar a ser concebido numa linguagem eminentemente simbólica e um saber trágico, próprio do mito, estivesse a ser descoberto pela primeira vez.”
António Guerreiro, Expresso 08-08-1998

Poemas que dão música - Chico Buarque e «Bom Conselho»

Não é preciso deixar palavras de apresentação. Basta escutar.


«Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade»

a-ver-livros: João Vaz de Carvalho

Sobre todos nós paira um livro.
Aquele livro. O outro livro. O Livro.
O livro que ainda vamos escrever - ou aquele que nunca lemos.
Ou nunca leremos, já que falamos nisso.
Sobre todos nós paira um livro. E o jeito que isso dá nos dias de sol.


* para conhecer melhor o pintor e ilustrador português João Vaz de Carvalho é seguir o link www.jvazcarvalho.com

Poema à noitinha... Jorge Luis Borges

Os Justos


«Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.»

In "A Cifra". 


domingo, 1 de julho de 2012

Ler é mesmo o melhor remédio...


Para os que sofrem de corações partidos, entorses filosóficas, indigestões poéticas, insónias gramaticais, dores de consoantes, descalcificações sintácticas, neuroses verbais, stress pós-acordo ortográfico, alergias românticas... aconselha-se a toma diária de várias palavras. Em casos graves, pode mesmo exceder alguns capítulos sem prejuízo para a saúde do leitor.

E o Clube de Leitores e o Bairro dos Livros desejam-lhe as melhoras.

Já agora, um DESAFIO aos nossos leitores. 

- Que livro recomendam como posologia para cada doença? 


I
ndiquem exactamente uma doença que exista ou que seja inventada e a sua respectiva cura através de um livro específico.
Os mais criativos serão aviados pelos livreiros/farmacêuticos desta casa com um medicamento à altura.


As respostas devem ser enviadas para:
clubedeleitores @ blogclubedeleitores .com


Ah! E não se esqueçam de que, para participar, têm que Gostar! na página de Facebook do Clube de Leitores
 
Participem!

a-ver-livros: pelo prisma de Vladimir Volegov

O olhar atravessa o prisma e espanta-me a miríade de cores que acaba na tua tela, numa harmonia quase sinfónica. Sim, que há música nas tuas telas. E cheiro a tardes de domingo num parque qualquer, com um livro nas mãos.


* para conhecer melhor o pintor russo Vladimir Volegov, autor deste quadro intitulado "Sunday in the Park", é seguir o link www.volegov.com