sábado, 25 de agosto de 2012

Poema à noitinha... José Carlos Ary dos Santos

Auto-retrato

«Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
marciso de lombardas e repolhos.

Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.

Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.

Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.»


*Dizem que Ary dos Santos morreu cheio de álcool, de solidão e amargura.

Com Setembro a chegar vamos espreitar como foi em Junho

Em Junho participamos pela primeira vez na iniciativa do Bairro dos Livros. Depois de vos termos mostrado o vídeo de um excerto da nossa participação, aqui fica agora, o resumo do dia todo.

Em breve muitas novidades para o Bairro de Setembro!

a-ver-livros: o turbilhão com Yuko Shimizu

Enrodilhas-me em redondilhas
de que não descortino a meada

sou novelo
no teu livro


* para conhecer melhor o trabalho de Yuko Shimizu, ilustradora japonesa (a viver em Nova Iorque) é só seguir o link yukoart.com

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Clube de Leitores COM_vida... Ana Correia. Hoje com Firmin de Sam Savage. E miniaturas para descobrir...

Firmin nasce num ninho feito pela sua mãe com folhas de um romance de Charles Dickens no sótão de uma velha livraria. Como era o mais fraco e novo dos irmãos nunca chegava às tetas da mãe. Para sobreviver começa então a comer livros…

“De início eu limitava-me a comer, roendo e mastigando alegremente, guiado pelos ditames do paladar. Mas depressa comecei a ler aqui e ali os contornos das minhas refeições. E com o tempo passei a ler mais e a comer menos até dar por mim a gastar todas as minhas horas de vigília a ler, mastigando apenas as margens brancas.”

Torna-se assim um rato culto, contudo não consegue entender as regras do mundo e suas injustiças, decepcionado quando a sua única esperança é ser amado. É finalmente amado quando menos esperava isso acontecer, na sua amizade com um alfarrabista.

A tragédia de Firmin é sem dúvida a sua humanidade, uma alma presa num corpo de ratazana. Um livro cheio de humor e tragédia, como toda a vida é feita.


Miniatura realizada por mim e inspirada no livro. Se quiserem ver mais dos meus trabalhos visitem o meu site: http://mycupofteaminiatures.wordpress.com/

Ana Correia

*Firmin é um livro de Sam Savage. Publicado em Portugal pela Editorial Planeta. 

1º Parágrafo: Os Versículos Satânicos


“Para se nascer de novo”, entoou Gibreel Farishta, caindo dos céus, “é preciso primeiro morrer. Ho ji! Ho ji! Para se poisar na terra acolhedora, é primeiro preciso voar. Tattaa! Takathum! Como tornar um dia a sorrir, sem se chorar primeiro? Como conquistar o amor da mais querida, meu senhor, sem um suspiro? Baba, se queres renascer...” Pouco antes da alvorada, numa manhã de Inverno, por alturas do Ano Novo, dois homens adultos, vivos, de carne e osso, caíram de uma grande altitude, vinte e nove mil e dois pés, em direcção ao canal da Mancha, sem o auxílio de asas ou pára-quedas, atravessando um céu límpido.


* Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira
* Sir Ahmed Salman Rushdie, nasceu em Bombaím, Índia, em 1947
* Estreou-se na literatura em 1975 com o romance Grinus
* Porque o Aiatolá Ruhollah Khomeini considerou este livro um “blasfémia contra o Islão”. Assim, considerado ofensivo ao profeta Maomé, foi, a 14 de Fevereiro de 1989, foi emitida uma fatwa, ordem de execução, momento a partir do qual passou a viver na clandestinidade e sob medidas extremas de segurança.
* Foi condecorado em, 2007, como Cavaleiro Comandante do Império Britânico.


a-ver-livros: dia de procissão com Cynthia Orensztajn

Cada um com o seu livro
seguimos na procissão...

- e, em fundo, ou talvez apenas na minha memória, só consigo ouvir a voz do João Villaret, dizendo o poema de António Lopes Ribeiro. E imagino uma procissão de leitores, murmurando hossanas a Guttenberg e a todos os homens e mulheres que enchem páginas e mais páginas e mais páginas com salmos e orações ao Estro. Abençoados.



* para conhecer melhor o trabalho da ilustradora argentina Cynthia Orensztajn é só seguir o link  www.orensztajn.com.ar

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Poema à noitinha... W. B. Yeats (descoberto pela Ana Almeida)

A uma criança que dança no vento

«Dança aí junto ao mar;
Que te importa
O rugido da água, o rugido do vento?
Sacode a tua cabeleira
Molhada de gotas de sal;
Tu que és tão jovem ignoras
O triunfo do néscio, não sabes
Que o amor mal se ganha e logo se perde,
Nem viste morrer o melhor operário
E todos os feixes por atar.
Por que hás-de temer
O terrível clamor dos ventos?»


*Obrigado Ana. Por tudo. Por nada.

Clube de Leitores COM_vida... Ana Correia. Hoje com T.S. Eliot

T.S. Eliot, Old Possum's Book of Practical Cats

«He is quiet and small, he is black
From his ears to the tip of his tail;
He can creep through the tiniest crack
He can walk on the narrowest rail.
He can pick any card from a pack,
He is equally cunning with dice;
He is always deceiving you into believing
That he's only hunting for mice.
He can play any trick with a cork
Or a spoon and a bit of fish-paste;
If you look for a knife or a fork
And you think it is merely misplaced -
You have seen it one moment, and then it is gawn!
But you'll find it next week lying out on the lawn.
And we all say: OH!
Well I never!
Was there ever
A Cat so clever
As Magical Mr. Mistoffelees!»  


      O livro é composto por quinze poemas com a temática "Gatos". Cada um dos poemas conta a história ou uma característica de um determinado gato. T. S. Eliot dava de presente aos seus afilhados estes poemas, enviando-os por carta - onde ele assinava como "o velho gambá". Aqui estão narradas histórias da vida de um grupo de gatos, do temível Mac Anália (o "Napoleão do crime") ao mágico Sr. Mistófelis, passando pelo velho Deuteronômio e pelo teimoso Rin Tim Tan Tam. Um livro delicioso, para miúdos e graúdos.
Ana Correia

1º Parágrafo: Berlim Alexanderplatz


Encontrava-se diante das portas da prisão de Tegel e estava livre. Ainda ontem tinha ancinhado batatas lá para trás nos campos com os outros, em vestimenta de prisioneiro, agora envergava um casaco de Verão Amarelo, eles continuavam a ancinhar, lá atrás, ele estava livre. Deixou passar eléctrico atrás de eléctrico, colou as costas ao muro vermelho e não saia dali. O guarda-portão, passeando para cá e para lá, várias vezes se abeirou dele indicando-lhe o carro a tomar, ele dali não saia. Chegara o momento terrível (Franze, pá, terrível porquê?) tinham expirado os quatro anos. As negras portadas de ferro, que vinha contemplando de há um ano para cá com crescente asco (asco, asco porquê?), tinham-se fechado atrás de si. Punham-no novamente fora. Lá dentro ficavam os outros carpinteirando, envernizando, separando, colando, ainda lhes faltava dois anos, cinco anos. Estava na paragem.


* Tradução de Sara Seruya e Teresa Seruya

a-ver-livros: lendo os pardais com a Amelia Dolezal

Leio-te em voz alta

E da minha boca saem letras 
como pardais 
chilreando poesia
pelos ares

Não há gaiola que as prenda 
Não há livro que as sufoque


* para conhecer melhor o trabalho da canadiada Amelia Dolezal é só seguir o link ameliadolezal.deviantart.com ou pelo Facebook

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Poema à noitinha... Miguel Torga

Poema Melancólico a não sei que Mulher

«Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...»


*Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, (São Martinho de Anta, 12 de Agosto de 1907 — Coimbra, 17 de Janeiro de 1995) foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatroe ensaios. (fonte: wikipédia)

Clube de Leitores COM_vida: Ana Correia. Hoje com Salman Rushdie e os U2

in O Chão Que Ela Pisa, Salman Rushdie

“Mas a verdade escapa-se nos nossos sonhos; sozinhos na cama (porque todos estamos sós na noite, mesmo quando não dormimos sós), elevamo-nos, pairamos, fugimos. E naqueles sonhos acordados permitidos pela sociedade, os nossos mitos, a nossa arte, as nossas canções, celebramos aqueles que não pertencem ao grupo, os diferentes, os fora da lei, os excêntricos. Aquilo que proibimos a nós mesmos, pagamos bom dinheiro para admirar num teatro ou nas folhas de um livro. Nas nossas bibliotecas, livrarias, cinemas ou locais de diversão fala-se verdade. O vadio, o assassino, o rebelde, o ladrão, o mutante, o banido, a máscara. Se não reconhecêssemos neles as necessidades que não podemos preencher, não os inventariamos vezes e vezes sem conta, em cada sítio, em todas as línguas, em todos os tempos, a cada passo.“

Inspirado pela leitura deste livro, os U2 trouxeram-nos esta belíssima musica, com uma pequena participação do autor no vídeo.




Ana Correia

1º Parágrafo: As Naus


Passara por Lixboa há dezoito ou vinte anos a caminho de Angola e o que recordava melhor eram as discussões dos pais na pensão do Conde Redondo onde ficaram entre tinir de baldes e resmungos exasperados de mulher. Lembrava-se da casa de banho colectiva, com um lavatório de torneiras barrocas imitando peixes que vomitavam soluços de água parda pelas goelas abertas e da altura em que topou com um senhor de idade, a sorrir na retrete de calças pelos joelhos. À Noite, se abria a janela, via os restaurantes chineses iluminados, os glaciares sonâmbulos dos estabelecimentos de electrodomésticos na penumbra, e cabeleiras loiras no lancil dos passeios. De forma que urinava nos lençóis por medo de encontrar o cavalheiro do sorriso atrás dos peixes oxidados que rebocavam notários corredor adiante baloiçando a chave do quarto no mindinho. E acabava por adormecer a sonhar com as ruas intermináveis de Coruche, os limoeiros gémeos do quintal do prior e o avô cego, de olhos lisos de estátua, sentado num banquito à porta da taberna, ao mesmo tempo que uma manada de ambulâncias assobiava Gomes Freire fora na direcção do Hospital de São José.


a-ver-livros: à mesa com Bryce Brown

Sentada à mesa azul
- desproporcionada -
entregue ao livro,
esquece os pés descalços
e a sua condição

é nova demais para abdicar
dos seus sonhos


* para conhecer melhor o trabalho do pintor Bryce Brown, da Nova Zelândia, é só seguir o link www.brycebrownart.com

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Poema à noitinha... José Saramago


Não me Peçam Razões...

«Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.»

*in "Os Poemas Possíveis"

Clube de Leitores COM_vida: Ana Correia. Hoje com «Horas Rubras», Florbela Espanca

Horas Rubras 

«Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...

Oiço olaias em flor às gargalhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas...

Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...

Sou chama e neve e branca e mist'riosa...
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!»

 

*A imagem é do filme «A Infância de Ivan», de Andrei Tarkovsky.

Ana Correia

1º Parágrafo: Alexandra Alpha


O anjo sobrevoou a cidade às 12.00-12.27 (hora solar). Era louro e de asas vermelhas e tinha um belo rosto triangular em nada semelhante ao dos querubins de igreja. Planou em lentas e tranquilas curvas por cima dos arranha-céus e das praias que contornavam a cidade, percorrendo-os com a sua sombra.




a-ver-livros: no jardim das borboletas de Natalie

Savannah está sentada no meio do jardim.
Quis rodear-se de flores para ler o seu livro.
As borboletas juntaram-se-lhe.
Saberão juntar letra com letra em segredo?


* para conhecer melhor o trabalho de Natalie Buske Thomas (escritora, artista e cantora, é ela quem o garante) é só seguir o link www.nataliebuskethomas.com

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Poema à noitinha... Tomas Tranströmer


Lisboa

«No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas
Subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!

"Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho como um afectado
"aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.

A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos depois, perguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei?»

*Tradução por Luís Costa. Tomas Tranströmer ganhou o Prémio Nobel de 2011.

Clube de Leitores COM_vida: Ana Correia. Hoje com Madame Bovary

Madame Bovary, romance escrito por Gustave Flaubert, resultou num escândalo ao ser publicado em 1857. 

A história de Emma Bovary, cuja única particularidade é sonhar com aventuras maravilhosas enquanto leva uma vida comum, ainda hoje exerce um fascínio imenso. A descrição dos seus estados de espírito é tão precisa que foi inventado um termo para designar o mal que a consome: o bovarismo (“estado de insatisfação crónica de um ser humano, produzido pelo contraste entre suas ilusões e aspirações, que geralmente são desproporcionadas tendo em conta suas próprias possibilidades e a realidade”). Todos nós temos um pouco de Madame Bovary.

Flaubert foi levado aos tribunais, onde todos lhe perguntaram quem era “essa” Madame Bovary, ao que Flaubert respondeu: "Emma Bovary c'est moi" …


*Renoir, La loge (The Theater Box), 1874

Ana Correia

1º Parágrafo: A Colmeia


-       Não perder a oportunidade, já estou farta de o dizer, é o mais importante.



* Tradução de Victor Filipe
* Camilo José Cela nasceu em Padrón, Galiza, em 1916
* Tornou-se conhecido com o romance A Família de Pascual Duarte (1942)
* Foi Prémio Nobel em 1989

a-ver-livros: no traço de David Blaine Clemons

Encontrei o teu diário e perdi-me nele. 
Li o que já sabia - e o que não queria saber. 
Li-te.
Já li livros bem piores, se queres que te diga.


* para conhecer melhor o trabalho do pintor David Blaine Clemons é só seguir o link www.dbclemons.com

domingo, 19 de agosto de 2012

Leitura conjunta Mês de Julho

(ao domingo) Letras Focadas

“Na ponta da pena, soltam-se letras conjugadas, bem focadas, para serem percebidas”

No mês de Julho propus a leitura conjunta do Livro "Um Piano para Cavalos Altos" de Sandro William Junqueira.

A escolha deste livro surgiu inicialmente devido à entrevista que o próprio escritor me concedeu e que foi publicada neste blog.

"Um Piano para Cavalos Altos" é, acima de tudo, uma alegoria onde se relevam os mais profundos dilemas da sociedade e do próprio individuo.

Sandro William Junqueira não nos oferece soluções, obriga-nos a enfrentar esses fantasmas, remetendo o leitor a um papel interventivo na própria historia. É uma leitura sem rede, fonte de reflexão.

Os valores, ou a ausência deles, quer ao nível da sociedade, quer ao nível individual são colocados no desenrolar do romance, onde a estrutura linguística e formal do livro são surpreendentes.

"Um Piano para Cavalos Altos" é muito mais um ensaio de cariz filosófico, que um romance. É, acima de tudo, uma metáfora sobre aquilo que somos enquanto agentes e sujeitos da acção... "e haverá sempre um cavalo que se liberta e consegue saltar o muro!"

Elsa Martins Esteves


Ainda amando Amado



Na Casa do Rio Vermelho é um documentário de Fernando Sabino e David Neves, gravado em 1974 pela produtora Bem-Te-Vi Filmes. No documentário podemos ver o quotidiano de Jorge Amado (1912-2001) na residência de Salvador em que viveu ao lado de Zélia Gattai, cercado dos filhos, netos e amigos. No filme aparecem Mario Cravo, Scliar, Mirabeau, Calazans Neto, Carybé, Dorival Caymmi, Mãe Menininha do Gantois e Camafeu de Oxóssi.

a-ver-livros: plano de domingo com Katja Spitzer

Só porque é domingo
vou ficar a ler na banheira
até a pele do dedo grande do pé esquerdo 
encarquilhar

e as letras saberem nadar

* para conhecer melhor o trabalho da artista Katja Spitzer é só seguir o link www.katja-spitzer.de