sábado, 23 de novembro de 2013

Tiago na toca e os Poetas: Ary dos Santos, Tiago Bettencourt e Fernando Tordo


Cavalo à Solta

Minha laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve
Breve instante da loucura
Minha ousadia, meu galope, minha rédia,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa
Em ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha laranja amarga e doce
Minha espada, meu poema feito de dois gumes
Tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sussego
À desfilada no meu peito
Por isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo
Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura


*Ary dos Santos


MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).
NOTA: As receitas da venda do disco revertem para a associação solidária "Ajuda-me a Ajudar", por tal,se gostam,comprem o disco...
(publico na integra,com detalhe da capa original do disco/livro)

As primeiras palavras do livro «Eu, Malala»


Assim começa o livro que o Clube de Leitores tem feito destaque este mês. Espero que vos abra o apetite!

Sorey sorey pa golo rashey
     Da be nangai awaz de ra ma sha mayena

Mais vale receber o teu corpo cravejado de balas com honra
    Do que notícias da tua cobardia no campo de batalha

Dístico tradicional pastó.

1
Nasceu uma filha

   Quando nasci, os habitantes da nossa aldeia exprimiram o seu pesar à minha mãe e ninguém deu os parabéns ao meu pai. Cheguei de madrugada, quando a última estrela se extinguia. Nós, os Pastós, consideramos que isso é um sinal auspicioso. O meu pai não tinha dinheiro para pagar o hospital nem para uma parteira, por isso foi uma vizinha que ajudou no meu nascimento. O primeiro bebé dos meus pais fora nado-morto, mas eu saltei cá para fora a espernear e a berrar. Era uma menina nascida numa terra em que se disparam armas para celebrar o nascimento de um filho, enquanto as filhas são escondidas por detrás de uma cortina, sendo o seu papel na vida simplesmente fazer comida e parir filhos.

*in “Eu, Malala – A minha luta pela liberdade e pelo direito à educação”, Editorial Presença.

Porque não compra o livro já no site da editora? http://www.presenca.pt/livro/nao-ficcao-e-ensaio/politica/eu-malala/

Snobidando: Herberto Hélder

Sobre um Poema, Herberto Hélder 

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.



Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Abre brevemente, em Guimarães. Pode lá encontrar este e muitos outros textos. 

Os escritores de David Pintor chegam ao fim


Fizemos uma viagem incrível pelo mundo da ilustração do galego David Pintor, numa aventura que nos trouxe grandes escritores e os seus pensamentos. O David emprestou o seu olhar, o Clube foi buscar um excerto, um poema, um pedaço de escrita. Começamos por Clarice Lispector, passámos por Céline, Mark Twain ou até o nosso Torga... Foram tantos e tantos a entrar por nossa casa, aos fins-de-semana.

Esta série acaba aqui, mas não termina a vontade de continuar a apoiar o David. Não só pelo seu talento, mas também pela sua simpatia e a cada vez mais evidente relação com o nosso país. Prova disso é o magnífico trabalho que fez sobre Lisboa e que foi editado recentemente pela Kalandraka. É fabuloso ter este livro aqui em casa.

Se ainda não o conhecem, fica aqui o link: http://www.blogclubedeleitores.com/2013/11/david-pinta-lisboa.html

Quanto a nós... vamos continuar atentos. Sempre que houver motivo, voltaremos ao seu trabalho. Até já!

David Pintor em:
Bloghttp://www.davidpintor.blogspot.pt/
Facebookhttps://www.facebook.com/pages/David-Pintor-ilustraciones/197902626909227



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Lisboa, A Cidade Vista de Fora, 1933-1974 - Neill Lochery


Lisboa, A Cidade Vista de Fora, 1933-1974, de Neill Lochery

Lisboa - A Cidade Vista de Fora, 1933-1974 é uma obra que se debruça sobre as histórias dos estrangeiros que marcaram presença na cidade durante o período do Estado Novo. Reis e rainhas exilados, espiões, diplomatas, líderes mundiais e chefes de Estado, refugiados, estrelas de Hollywood e outras celebridades da época oferecem-nos uma perspetiva diferente e única do clima vivido em Lisboa durante quatro décadas, e da importância assumida pela capital em alguns momentos-chave da história europeia no século XX. Para quem considera que o contributo de Lisboa para o mundo terminou com o final da era dos Descobrimentos portugueses, esta obra torna-se uma leitura essencial, curiosa e surpreendente.

Neill Lochery é professor catedrático de Estudos do Médio Oriente e do Mediterrâneo no University College London e é um conceituado especialista mundial em história moderna e política de Israel, do Médio Oriente e do Mediterrâneo. É autor de uma série de livros aplaudidos pela crítica sobre a região – que incluem o bestseller internacional Lisboa 1939-1945 - A Guerra nas Sombras da Cidade da Luz, já publicado pela Presença nesta coleção –, assim como de inúmeros artigos publicados em jornais e revistas. Para saber mais sobre o autor, visite o site www.Neill-Lochery.com


Porque não compra o livro já no site da editora? http://www.presenca.pt/livro/lisboa-1933-1974/

Entrevista a Carla Sá - autora da colecção «Detetive Psíquico»

Temos visto Carla Sá aqui pelo blog, com a sua colecção "Detetive Psíquico" -  lançada recentemente pela QuidNovi. Espaço agora para conhecerem a autora, espero que gostem desta entrevista. 


Rodrigo Ferrão: Como surgiu a ideia de escrever “Detetive Psíquico”?

Carla Sá: Eu queria escrever algo diferente do que existe actualmente, até porque a vida é feita de renovação e a literatura também. E esta série, a meu ver, contribui para essa renovação, pela originalidade de alguns aspectos. A opção pelo paranormal é um deles, mas plasmando-o no real, pois o personagem central está longe de ser um super-herói; pelo contrário, é um rapaz normal a quem acontecem coisas... anormais. Graças a elas, vê-se arrastado, sem remédio, para as suas aventuras e há mesmo alturas em que lamenta não ser normal, o que lhe facilitaria a vida. Na verdade, é um herói involuntário.
  
RF: Porquê uma personagem com capacidades psíquicas?

Carla Sá: A partir daí, é possível erguer o véu da aparência e da normalidade, penetrando em zonas que permanecem misteriosas. A literatura, sobretudo para os mais novos, tende às atitudes moralizadoras e normalizadoras, ou pedagógicas, mas aqui trata-se apenas de contar bem uma boa história e, em vez de ensinar o pouco que sempre se sabe, abrir para aquilo que se desconhece. A literatura, a imaginação, as histórias são um óptimo instrumento para lidarmos e questionarmos o que se desconhece, essa zona de mistério de que também é feita a existência.

E se há algo que desconhece são as capacidades cerebrais. Do que seremos capazes quando conseguirmos usar toda essa nossa potencialidade? Um novo mundo se abrirá para esses homens. Ora, o Gustavo do livro é apenas um dos que, por isto ou por aquilo, já está um passo à frente e vê um pouco mais do que nós ainda somos capazes. Como disse, William Buttler Yeats “o mundo visível é apenas a pele do mundo verdadeiro”. Nesta série, trata-se de levantar o véu da aparência e do que normalmente aceitamos por real, de modo a podermos ver, ao menos, um pouco mais além.
  
RF: Álvaro Magalhães ajudou na apresentação do seu livro. Como surgiu o convite?

Carla Sá: Eu sempre fui leitora e admiradora dos romances juvenis do Álvaro Magalhães, inclusive da sua série “Triângulo Jota” onde as histórias são frequentemente paranormais também. Talvez por isso, foi a pessoa em que logo pensaram, na editora, para essa apresentação. Ele leu os livros, gostou muito e aceitou o convite, o que me deixou muito feliz.

RF: Sempre teve vontade de escrever ou esse foi um desafio recente?

Carla Sá: Sempre tive o apelo da escrita, desde jovem. Passava tardes da minha infância, na biblioteca dos meus pais, esquecida de tudo o mais. Foi lá que li as minhas primeiras histórias e experimentei uma máquina de escrever que tinha pertencido ao meu avô e que está, agora, diante de mim, enquanto escrevo estas palavras.


RF: Porque escreve para um público mais jovem? Imaginava-se a escrever para adultos?

Carla Sá: Penso que estas temáticas, seja do paranormal, do poético, do fantasioso, são adequadas a um público mais jovem, que estão mais disponíveis para elas. Mas podem ser lidas, também por leitores adultos. Mas escrever exclusivamente para adultos? Fiquei feliz por poder publicar esta série e, para já, estarei ocupada a desenvolvê-la da melhor maneira que puder e souber. Um passo de cada vez.

RF: Quais são as suas influências na escrita. Pode dizer-nos escritores de que goste particularmente?

Carla Sá: Estão sempre na minha memória as leituras essenciais da juventude (e ainda hoje os releio, com prazer e com outro olhar, naturalmente) “Alice no País das Maravilhas” de Carroll, “A Ilha do Tesouro” de Stevenson, “As Viagens de Gulliver” de Swift…  Também li séries de aventura e mistério, as melhores e também as que nem por isso, e creio que aprendi com todas. Quase decorei o modelo porque a minha intenção era reformulá-lo. 

Do que goste particularmente? Da elegância da prosa de R.L. Stevenson, em que nenhuma palavra levanta a cabeça. Estamos a ler e esquecemo-nos que estamos a ler, que é o melhor elogio que se pode fazer a um livro e a um escritor.

RF: "Olho por olho, e o mundo acabará cego" de Gandhi é uma frase que lhe diz muito. Em que medida?

Carla Sá: É uma frase que dá que pensar. Na minha perspectiva, temos de repensar os nossos actos, rever o conceito de justiça ou corre-se o sério risco de a humanidade perder o bom senso.

RF: Em duas ou três frases... porque é que as pessoas devem comprar e ler os seus livros?

Carla Sá: Eu preocupei-me e concentrei-me apenas em contar bem uma boa história, com o máximo de eficácia e plasticidade possível, sem outra preocupação do que cativar e envolver o leitor. E usando dois dos principais ingredientes das boas histórias: estranheza e reconhecimento. Reconhecimento porque os personagens são construídos, não pela acção, mas pelo mundo interior e são reconhecíveis, reais; e estranheza porque o personagem principal, quando acorda do estado de coma, após um acidente, vê e ouve um homem que, vem a saber depois, tinha morrido no dia anterior.  

RF: Muito obrigado Carla e sucesso para os seus livros.

*Conheça os livros nestes links:

a-ver-livros: nesga e Catherine Mayet

Deixa a esperança lá fora
pode ser que chegue uma nesga
de sol
e um bater de asas
levíssimo
que desperte o sono
dos desapossados
e lhes dê castelos
mesmo que apenas na nuvem
que desenha os sonhos
enquanto desliza no azul

* para saber mais sobre a pintora francesa Catherine Mayet
siga o link http://mayet.avis-dexperts.com/

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

É do borogodó: o doce perfeito, goiabada com queijo

Narciso já tinha feito o trabalho da semana para passar o sábado terminando os detalhes da sua fantasia. Embora fosse um homem de corpo propício aos trabalhos mais árduos, Narciso abrigava uma alma delicada que transbordava naquele fio de prata.
- Eita, menino, deixa que eu memo faço esse serviço pra ti.
- Carece não, mãe… O que foi? Tá achando mesmo engraçado seu único filho macho cosendo uma fantasia de carnaval?

A mãe sorrindo deixou o terreiro e foi para dentro da casa.
Narciso foi para o baile com seus amigos de bairro. Havia uma intimidade de confraria, cresceram juntos e todo ano atravessavam aquelas ruas no cantarolar das marchinhas. Já na porta do salão, erguida num par de sandálias prateadas somente meias de seda e collant negro salpicado por pobres lantejoulas, Maria Dolores arrancou-lhes a última estrofe da marcha. Um gole seco que sem disfarçar perdia os olhos nos pés, nas coxas, nos seios, na boca e na bunda daquela morena.
Irretocável.

Os cabelos longos e cacheados caiam pelas costas estreitas, do lado esquerdo da cabeça um arranjo de flores fazia par com o brilho das sandálias prateadas. Os brincos de argola já pareciam gastos, mas a boca carnuda desenhada em batom vermelho compensava a miséria do metal. Os olhos negros contornados com traço de kajal e muito rímel olharam diretamente para os olhos de Narciso.
- Nego, parece que você se deu bem.
- Parem com isso…

Os garotos passaram pela porta e acenaram para ela, mas Narciso se dirigiu à moça:
- Não vai entrar?
- Depende.
- Depende? Do que?
- Você vai entrar?
- Depende.
Os dois sorriram desajeitados e entraram juntos na folia de sábado.
Seguiram bandeira branca e abre-alas sem que os dois se desgrudassem.
Os beijos de Narciso acabaram marcando o rosto de Dolores com um pequeno losango.
- Assim você fica minha columbina.
- Assim você me veste com sua melhor fantasia.
Saíram lá pelas tantas, enlaçados da cabeça aos pés.

Dolores virou a chave na porta e largou ali mesmo suas sandálias, enquanto apoiada no peito de Narciso ergueu-lhe a camisa de cetim azul claro. Ao tempo de fechar a porta, os dois já estavam vestidos com os restos dos confetes que se grudaram ao suor do carnaval. Narciso era tão teso por Dolores que quase lhe faltava o ar, mas teve tempo de afastar o corpo da morena perto da luz do dia que adentrava pelas frestas da varanda.
- Linda. Nunca vi mulher tão linda, minha columbina.
- Então venha se deitar comigo, Narciso, porque meu corpo inteiro chama por você.
E então pierrot levantou sua amada num golpe de abraço por sobre seus quadris, esfregando seu corpo forte entre as pernas que o enlaçavam.

E assim se deram pela madrugada do domingo e todo o dia, também na segunda esquecida, e na terça-feira de feriado a manhã tinha gosto de saudade do carnaval.
Narciso coava o café e preparava a mesa para servir Dolores.
- Goiabada com queijo, minha preta, somos assim eu e você.
Mordeu o doce e deu um pedaço para ela que sorriu agradecendo.
- Amanhã entrego o apartamento para o senhorio.
- Você vai se mudar? Aqui perto?
Um gole de café.
- Não, vou para Londres.
- Como assim, Londres? Vais trabalhar lá? Desiste logo disso, agora que…
- Vou me casar, Narciso.
- Casar? Você não me disse nada sobre noivado e casamento.
- Mas é isso mesmo, vou me casar com um gringo.
Os olhos de Narciso encararam firmemente o pequeno caco que faltava no chão da cozinha. A cera vermelha do piso estava opaca, totalmente sem brilho.

- Era carnaval, querido, passamos dias felizes de folia como havia de ser.
- Para mim foi mais do que isso, Dolores, para mim foi o despertar, foi a vida surgindo.
- Hei, você tirou no primeiro dia a fantasia de pierrot apaixonado, vê se para com isso.
Narciso calou na boca no seu último pedaço de goiabada com queijo.
- Vou ficar com o gosto do doce na minha boca, Dolores. A vida da gente juntos poderia ser essa combinação mais que perfeita. Não haveria do que se queixar.
- Não se vive de goiabada e queijo, Narciso, nem vestimos nossas fantasias de carnaval para sair à luta.
- Ele vai dar uma condição de vida melhor que isso?
- Sim, ele tem grana e é gentil comigo. Ele me quer bem.
- E os sonhos, Dolores? E o amor? O que você vai sonhar quando estiver rodeada de dinheiro e sem amor?

- Vou sonhar coisa que sonha gente que tem dinheiro e não tem amor, Narciso, e vou me acostumar com isso.
- E vai bastar?
- Vai bastar não ter que correr atrás da lotação, nem dormir num pulgueiro, nem contar as moedas para salvar um almoço miserável. Isso tudo vai bastar.
Narciso beijou Dolores um beijo agridoce, cristais de sal e açúcar, os olhos rasos deixaram correr um pingente que lhe consagrou a fantasia cerzida por suas próprias mãos.

Penélope Martins

Nuno Júdice: dois poemas do novo livro

"Navegação ao Acaso", o novo livro de poesia de Nuno Júdice, foi lançado ontem em Lisboa, numa edição da D. Quixote. 
Não tive oportunidade de ir até lá. Mas dois dos poemas que contém vieram até nós.


Júdice recebe o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana já no dia 27, no Palácio Real de Madrid. É o 23.º distinguido com o galardão e o segundo português a recebê-lo, dez anos depois de Sophia de Mello Breyner Andresen.

"Faz-me ouvir o teu canto, o eco
dos passos sob a negrura das abóbadas, e
o perfume de uma rosa de pele no fundo
dos tapumes. Envolve, ó deusa da tarde,
com a seda do teu corpo os corpos
que a noite deixou exaustos, e abraça
com um rumor de ausência os solitários
inquietos, como se tivessem perdido
o rumo do inverno nas linhas interrompidas
das suas mãos.
"


~~*~*~~

"Ao fazer a mala, tenho de pensar em tudo o que lá
vou meter para não me esquecer de nada. Vou ao
dicionário e tiro as palavras que me servirão
de passaporte: o equador, uma linha
de horizonte, a altitude e a latitude,
um lugar de passageiro insistente. Dizem-me
que não preciso de mais nada; mas continuo
a encher a mala. Um pôr-do-sol para que
a noite não caia tão depressa, o toque dos teus
cabelos para que a minha mão os não esqueça,
e aquele pássaro num jardim que nasceu
nas traseiras da casa, e canta sem saber
porquê. E outras coisas que poderiam
parecer inúteis, mas de que vou precisar: uma frase
indecisa a meio da noite, a constelação
dos teus olhos quando os abres, e algumas
folhas de papel onde irei escrever o que a tua ausência
me vem ditar. E se me disserem que tenho
excesso de peso, deixarei tudo isto em terra,
e ficarei só com a tua imagem, a estrela
de um sorriso triste, e o eco melancólico
de um adeus.
"


in "Navegação de Acaso", 2013



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Pretérito Perfeito


Terça-feira, 20 de Novembro

A cidade acordou cinzenta e fria, não sei se apenas nevoeiro ou se nevoeiro misturado com o fumo salgado das castanhas que, sem aviso e de um dia para o outro, em respeito pelo boletim meteorológico e não pelo calendário, o tempo não respeita o tempo, se substituíram aos gelados nos carrinhos e começaram a estalar por toda a cidade, obrigando as castanheiras a actualizar publicidade e pregões, substituindo nas vozes a lembrar varinas o estival é fruta ó chocolate pelo fadista quentes e boas, quentinhas(1).
Acordei amargo e cansado. A boca amarga, amargos os pensamentos.
Tomei um banho longo. Deitei-me na banheira. O meu corpo submerso em água morna, o conforto da água, a leveza do corpo o peso da alma.
Consegui equilíbrio suficiente para mais um dia.
Envelheci. Apenas eu consigo perceber como envelheci.
As minhas mãos inertes, asas partidas.
O meu corpo inerte, o meu sexo inerte, um corpo que já não consegue dar-me prazer, apenas dor… apenas dor.
O corpo não me responde, a vontade não me responde.
Depois de confirmar a apatia do meu sexo aos meus pensamentos mais sôfregos, percebo em mim um sorriso maroto, rio-me de mim, comovo-me comigo, sinto-me a afogar, quase choro, deslizo para debaixo de água, não choro, os peixes não choram, não cantam e não choram, sinto um conforto uterino até ao limite do desconforto, preciso respirar, preciso respirar, a tentação de deixar de respirar, apenas os meus braços fora de água, as minhas mãos abertas, os dedos afastados até magoar, asas partidas, olho para as minhas mãos, a pele, quase branca, encharcada, enrugada, a tentação de deixar de respirar, até que, as minhas mãos a decidir por mim, procuro onde me agarrar, agarro-me a uma memória, a única vez que fui apanhado em flagrante delito, eu, as mãos mecânicas e diligentes, mil metros barreiras, a meta a segundos de distância, o público eufórico e o meu avô a entrar no quarto imediatamente depois de ter batido à porta, eu de pau feito na cama, a camuflar o volume do meu sexo com um livro aberto e uma almofada, eu a travar a fundo a velocidade do meu respirar e o meu avô a dizer-me coisas de que não me lembro porque nada ouvia, apesar de abanar a cabeça em sentido afirmativo a tudo o que me dizia.
Sem se aperceber, o meu avô a sair do quarto, o tamanho da minha vergonha controlado, a minha respiração normalizada, a minha capacidade de audição de novo operacional.
- Esse livro parece-me interessante, fazes o favor de mo emprestar quando terminares a leitura. – As exactas palavras do meu avô antes de sair do quarto.
Percebeu tudo, eu vermelho como um tomate e a palavra tomate a deixar-me ainda mais envergonhado.
Dias depois confidenciou-me com graça, que no seu tempo, bater píveas era gesto que devia ser contabilizado e reconhecido pelo próprio arguido em acto de confissão, o qual, depois de proferida a sentença em julgamento sumário, era invariavelmente, em respeito pelos costumes e pela jurisprudência ao tempo, sujeito a pena variável entre a meia dúzia de padre-nossos ou a dúzia de ave- marias e o fogo eterno do inferno.
- Quantas vezes praticaste o vício solitário? – A pergunta era sempre a mesma e era sempre a última, a mais importante, a que mais intimidava e envergonhava.
A criança que foi o meu avô a sentir culpa de cada vez que tocava em si próprio, a sentir mais culpa ainda de cada vez que em palavras confessava que tocava em si próprio.
- Sabes, Vasco, estragaram-nos o prazer. Tudo o que supostamente dava prazer era pecado, até o canto IX d’Os Lusíadas nos proibiram. E os dias eram levados assim, com medo, sempre à espera que um raio divino nos acertasse no cocuruto e nos deixasse fulminados no chão. Se calhar ainda és muito novo para perceber o que te vou dizer, mas vou dizer-to na mesma: na vida, faz sem medo ou pena todas as coisas que te apeteçam ou dêem prazer, porque pecado, é apenas magoar as pessoas.
Foi a lição de vida mais precoce da minha vida. Lembro-me que me senti insultado quando me disse que ainda era muito novo para perceber. Estás a ver avô, não era muito novo para perceber.
Lembro-me de todas as palavras que utilizaste.
Lembro-me que passei a fechar a porta à chave.





(1) Pregão que em que se inspirou a letra do fado O homem das castanhas de José Carlos Ary dos Santos

Os direitos da criança em notícia de Ana Cristina Pereira - do artigo ao prémio


A jornalista do jornal Público e autora, Ana Cristina Pereira, recebeu hoje o Prémio de Jornalismo "Os Direitos da Criança em Jornalismo", no dia em que se comemora o 24º aniversário da Convenção dos Direitos da Criança.

Temos o prazer de poder ter e publicar em primeira mão o texto na base da sua intervenção, que vos deixamos aqui. Vale a pena acompanhar o seu trabalho regular no jornal Público e ler os seus dois livros, "Meninos de Niguém" e "Viagens Brancas" que aliás já passou aqui no blogue.

Os direitos da criança em notícia – anatomia de uma reportagem

Ana Cristina Pereira

Discutia-se o caso de uma mulher a quem o Tribunal de Família e Menores de Sintra mandara retirar sete crianças. Esmiuçava-se o acordo de promoção e protecção, que contemplava uma laqueação de trompas. Pediram-me um artigo a esclarecer o que é isso do superior interesse da criança. 
Como explicar um conceito tão indeterminado?
Era preciso encontrar situações concretas. E, em cada uma, ouvir protagonistas, isto é, crianças e jovens em risco.

Ter acesso a crianças e jovens em risco pode ser o cabo dos trabalhos. Os adultos tendem a cortar-lhes a voz, inclusive os mais empenhados na sua defesa, apesar da Convenção sobre os Direitos da Criança lhes conferir direito de exprimirem opinião sobre questões que lhes dizem respeito.
Tenho de agradecer à presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens – Porto Oriental, Joana Trigó, e aos outros membros dessa estrutura, a começar pela assistente social Carla Carvalho, destacada pela junta de freguesia de Campanhã, a capacidade que têm de abrir a porta.
Estava reunida com Joana Trigó quando Carla Carvalho irrompeu. Havia uma emergência: era a vertigem da vida lá fora.
Escrever sobre risco e protecção não é a mesma coisa que escrever sobre o grau de dificuldade do exame de Matemática ou de Português. Há que ter mais cuidado, mais sensibilidade.
Mantive-me fora, junto a uma janela da escadaria do prédio, enquanto a técnica conversava com a rapariga, que saíra de casa da madrinha e se refugiara em casa do namorado. Falei com a mãe do namorado, que evidenciava preocupação com tudo aquilo. Quando saíram, já ela sabia quem eu era.
Ela concordou com a minha presença. Dispôs-se a falar comigo. Ainda a caminho da CPCJ expliquei-lhe bem quem era, o que estava a fazer, com que objectivo. Temos de ter a certeza de que a criança ou jovem entende que tudo o que disser pode ser publicado e em que moldes.
Quando já estava tudo encaminhado, sentamo-nos a conversar. Numa primeira fase, a rapariga, de 14 anos, falara na presença da técnica. Desta vez, preferiu estar sozinha.
Pode ajudar a presença de um adulto que transmita alguma segurança à criança ou jovem (como um familiar ou um técnico de referência). Mas os adultos podem sentir-se tentados a falar em nome dos menores de idade. Isso aconteceu num outro caso abordado na mesma reportagem.
As perguntas eram dirigidas à menina, de 12 anos. De vez em quando, a avó intrometia-se. Em várias ocasiões, a criança repreendeu-a. Recupero, a título de exemplo, o momento em que falava de quando foi levada para um lar por os pais estarem incapazes e os avós não terem condições.
- Como entendias o que estava a acontecer? – perguntei-lhe.
- Sentia-me abandonada – respondeu-me.
- Não! – cortou a avó.
- Sim!
- Eu nunca te abandonei.
- Ó avó! São os meus sentimentos! Eu é que estou a dar a entrevista!

A avó calou-se. Ao calar-se talvez estivesse a ouvir pela primeira vez alguns modos de encarar um drama que também era dela.

Talvez tudo se resuma numa palavra: respeito.
Talvez valha a pena recordar meia dúzia de regras que, pelo menos nos meus tempos de estudante, não se ensinavam nos cursos de comunicação. Aprendi-as ao praticar um jornalismo atendo aos direitos humanos, mas constam nos princípios propagados por entidades como a Federação Internacional de Jornalistas e podem ser aprofundadas com gente que muito reflecte sobre estas coisas, como Mike Jempson, director da MediaWise.
1. - Não custa o jornalista colocar-se ao nível da criança. Há várias estratégias que o livram de olhar de cima para baixo. Basta arranjar um banco mais pequeno ou curvar-se sobre a mesa.
2.            Não é preciso fazer uma voz afectada. Ser criança não é ter défice cognitivo. Há que conversar com ela com naturalidade, mostrando um interesse genuíno pelo que ela tem para dizer.
3. - Não se deve julgar a criança, nem os adultos que fazem parte da vida dela. O melhor é abster-se de comentar, até por haver muita ambivalência nas histórias de abuso, mau trato, negligência.
4. - Funciona a regra básica: fazer perguntas simples, directas – mais abertas a arrancar, mais fechadas com o avançar da conversa. Se a criança der sinais de estar a ficar transtornada, o melhor mesmo é levar a conversa para outro lado e regressar por outra via.
5. - Há que respeitar o ritmo da criança. Se ela quiser parar, para-se.
6. -Não identificar não quer dizer usar nome falso.
Entre os direitos fundamentais da criança, está o direito ao nome. Ora, os jornalistas gostam de nomes. É uma forma de lembrarem que estão a falar de pessoas de carne e osso, com uma vida, como os leitores. Só que a ética manda não identificar crianças e jovens desprotegidos e/ou delinquentes.

Os três menores de idade citados no artigo “Em nome do interesse da Criança” – publicado no Público em Fevereiro de 2013, agora distinguido com o prémio “Os direitos da criança em notícia”, atribuído pelo Fórum sobre os Direitos das Crianças – queriam ver os seus nomes associados às suas palavras. Era a sua voz num artigo sobre um assunto de interesse nacional. Como compatibilizar essa vontade com a obrigação de proteger as suas identidades?
Citei cada uma daquelas crianças referindo apenas um dos seus nomes próprios, omitindo outros nomes próprios e todos os apelidos, não fazendo qualquer referência ao bairro ou freguesia de residência, nem à escola frequentada ou ao lar para o qual uma delas estava a ser conduzida.
Não ficariam mais protegidas se tivesse recorrido a um nome falso. Muito menos se, tendo feito isso, tivesse revelado o seu local de residência ou escola. Quem não conhecesse as suas histórias, não as identifica. O artigo não acarreta risco de estigmatização ou represália. Se acarretasse, debateria o assunto com elas até perderem a vontade de ver o nome impresso, como fiz, por exemplo, quando escrevi sobre dois bandos rivais – os Pasteleira Putos Rebeldes e os Estado Terrorista do Aleixo.

Este prémio é, para mim, uma oportunidade de sublinhar o direito que as crianças têm de exprimir as suas opiniões e o dever que todos nós temos de as ouvir, pelo menos, no que lhes diz respeito. Na certeza de que uma sociedade mais informada é uma sociedade mais consciente, parece-me que urge construir pontes entre organizações de defesa dos direitos da criança e os media, no sentido de umas serem mais abertas e outros mais respeitadores das crianças.


Amanhã é lançado "O livro do Universo - A Revelação do Cosmos e a Procura do Outro"


A mesma questão que ocupava Demócrito na Grécia antiga permanence intemporal e viva nos debates contemporâneos: «estamos sós no Universo?». Esta é porventura a pergunta que há mais tempo perdura, suspensa no quadro das angústias humanas, ao longo das civilizações e culturas que se têm sucedido, uma após outra, no nosso planeta.

O trajeto que propomos nesta obra inicia-se na longínqua Grécia pré-socrática e desemboca nos contributos cosmopolitas que apostam na matematização do espaço e do tempo, antecedendo a construção do edifício mental das Luzes. De permeio, resta a longa travessia do tempo, imóvel e fechado, desde a Idade Média até aos sobressaltos de uma Renascença que redescobre a excelência do Homem e o (re)liga ao todo cósmico.

Joaquim Fernandes é professor na Universidade Fernando Pessoa e co-fundador do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência (CTEC). É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e mestre em História Moderna. Doutorou-se em História, com a tese "O Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa - do fim da Modernidade até meados do século XIX", a primeira no seu género a ser apresentada numa universidade portuguesa e europeia.

a-ver-livros: apenas com Taija Vigilia

Sem tempo para a poesia, deixo a infância, na recriação de uma ilustradora finlandesa.
Pronto.

* para saber mais sobre a ilustradora finlandesa Taija Vigilia
siga o link taijavigilia.tumblr.com

terça-feira, 19 de novembro de 2013

É do borogodó: era uma vez

eis que trançam cabelos, muitos bolsos de levar coisas, vestidos leves e suspensórios,chapéus malucos e a aritmética do universo já faz zumbido nos ouvidos nossos. são tantas as estrelas do céu, já sabemos até com quanto pó de luar se faz uma porção de encantar. cantam fadas, torcem rabos de porquinhos no salão e a bruxa, toda enfeitada de saiote rodado, batom vermelho na boca imensa, só quer se divertir. cachimbo sopra. eis que somos todos crianças na melhor forma de subir em árvore, até mesmo a avó. eis que somos incontroláveis, inesgotáveis, incompreensíveis, insubstituíveis, inquietos de infinito para tudo imaginar.

a-ver-livros: entre tanto e Victor Nizovtsev

Entre o ar 
e o mar
Entre mim 
e o que sou
Entre os mistérios
das ninfas
e as penas que soltam
os pássaros 
no voo
Entre o dia
e a noite
as luzes
dos que passaram
por nós
entre a vida
e a morte

* para saber mais sobre o pintor russo Victor Nizovtsev
siga o link www.facebook.com/victor.nizovtsev

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Tiago na toca e os Poetas: Sophia de Mello Breyner Andresen, António Ramos Rosa, Tiago Bettencourt e Pedro Gonçalves

Data

Tempo de solidão e de incerteza 
 Tempo de medo e tempo de traição 
Tempo de injustiça e de vileza 
Tempo de negação 
Tempo de covardia e tempo de ira 
Tempo de mascarada e de mentira 
Tempo de escravidão 
Tempo dos coniventes sem cadastro 
Tempo de silêncio e de mordaça 
Tempo onde o sangue não tem rasto 
Tempo da ameaça.

*Sophia de Melo Breyner Andersen


NÓS SOMOS


Como uma pequena lâmpada subsiste
e marcha no vento, nestes dias,
na vereda das noites, sob as pálpebras do tempo.

Caminhamos, um país sussurra,
dificilmente nas calçadas, nos quartos,
um país puro existe, homens escuros,
uma sede que arfa, uma cor que desponta no muro,
uma terra existe nesta terra,
nós somos, existimos

Como uma pequena gota às vezes no vazio,
como alguém só no mar, caminhando esquecidos,
na miséria dos dias, nos degraus desconjuntados,
subsiste uma palavra, uma sílaba de vento,
uma pálida lâmpada ao fundo do corredor,
uma frescura de nada, nos cabelos nos olhos,
uma voz num portal e a manhã é de sol,
nós somos, existimos.

Uma pequena ponte, uma lâmpada, um punho,
uma carta que segue, um bom dia que chega,
hoje, amanhã, ainda, a vida continua,
no silêncio, nas ruas, nos quartos, dia a dia,
nas mãos que se dão, nos punhos torturados,
nas frontes que persistem,
nós somos,
existimos.

*António Ramos Rosa



MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).

NOTA: As receitas da venda do disco revertem para a associação solidária "Ajuda-me a Ajudar", por tal,se gostam,comprem o disco...

(publico o disco/livro na integra,com foto da poetisa Sophia de Mello Breyner)

Passatempo «O livro do Universo - a revelação do Cosmos e a procura do Outro»

A editora QuidNovi e o escritor Joaquim Fernandes têm dois exemplares para oferecer aos seguidores do Clube de Leitores. 

Para participar, basta responder ao seguinte: Imaginam a existência de vida além do planeta Terra e, se sim, que argumentos encontram nesse sentido?

As melhores respostas enviadas em comentário a este post (tanto aqui no blog, como na página do facebook, na página da QuidNovi ou também no grupo) vão a uma finalíssima de 3 dias a ser votada pelos membros do blog e seguidores. 

O concurso é válido para Portugal e o envio das frases deve ser feito até Domingo, dia 24 de Novembro. Nesse dia anunciaremos as frases que vão seguir para a finalíssima.

Boa sorte!