sábado, 28 de maio de 2011

Regresso à Feira (e não é um post sobre a campanha eleitoral!)

Pois é, por motivos técnicos de avaria da minha máquina pessoal, estive arredado da vida laboral e social durante uns tempos. Recuperado, estou de regresso, de volta à Feira, aos livros e às leituras, aos leitores... A partir de hoje na Feira do Livro do Porto que já abriu na passada 5ª feira. A partir de hoje Livreiros na Avenida num frente-a-frente, literal com o Rodrigo Ferrão. Procurem-nos!

Sobre os livros e esta Feira ainda pouco a dizer já que só ontem é que dei uma passadela pelo espaço. Parece-me sinceramente mais pequena e mais apertada e acaba por ser um pouco vergonhoso o desinvestimento de algumas editoras em relação ao que é a segunda cidade mais importante do país. Numa altura em que se fala de crise como quem chuta pedras, em que se fala de potenciar investimento, procurar novas soluções e tudo mais. A diferença entre o investimento feito em Lisboa e no Porto, onde os stands têm até uma renda mais barata, é um sinal geral do abandono a que o norte do país está atirado. Faz-se quase por favor e para calar os tipos... sendo que houve mesmo ameaça de não se fazer a Feira no Porto este ano!
Mais uma vez e parecendo repetitivo nas coisas que se dizem, estes modelos de Feira têm mesmo que ser seriamente repensados, ou daqui a uns anos arriscamos uma Feira do Livro do Porto com meia dúzia de editoras a trazerem os restos da Feira de Lisboa.

A APEL precisa de sangue fresco e muita vontade de mudar que de certeza não vai passar pelas pessoas da actual direcção. É preciso agarrar os novos livreiros e editores e leva-los para os centros da decisão, Já!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Feira do Porto - algumas notas...

Ontem estreei-me a trabalhar na feira do livro do Porto. Os clientes comportaram-se de forma tímida. Muita pergunta sobre preços, alguns a investigar as promoções do 'livro do dia' - não só daquele como dos seguintes. Mas não foi um dia de encher o olho.

Facto engraçado: estou a trabalhar mesmo à frente do Pedro Ferreira (colaborador aqui do blogue). Acho que amanhã lhe vou atirar uns aviõezinhos de papel!


Hoje não trabalhei, mas passei por lá. Ainda sem comprar e com os olhos colados bem longe dali... Não chegou o dia para gastar.

Fui ter com o Ubik (outro ilustre colaborador). Pelo meio cumprimentos a antigos colegas, alguns livreiros, comerciais e editores.

A minha família...

O sol é grande, caem co'a calma as aves - Sá de Miranda

Dito por Mariana Reis.

Mundo fantástico: Shaun Tan

'Contos dos subúrbios' do australiano Shaun Tan (filho de pai chinês) é o livro mais bonito que tenho em casa.

Hoje vou deixar um pequeno aperitivo. Um dia prometo aprofundar o seu conteúdo...



'Contos dos Subúrbios é uma antologia de 15 contos ilustrados. Cada conto é sobre um estranho evento que ocorre no mundo normal suburbano: a visita de um estudante estrangeiro que é na verdade um extraterrestre, a descoberta de uma criatura marinha no jardim fronteiro de uma casa, um novo quarto recheado de mistérios numa casa de família, uma máquina sinistra instalada num parque ou um búfalo sábio que vive num lote vazio, são alguns dos pormenores incríveis destas histórias que crescem e ganham vida própria numa escrita subtil e em ilustrações deliciosas que leitores de todas as idades irão adorar.'

Percam um minutos... E percebam o estilo:



«Estes Contos dos Subúrbios encantarão leitores de todas as idades com o seu retrato de uma paisagem familiar, onde o quotidiano e o íntimo se misturam com o fantástico.»
L’ Express

«Cheio de grandeza e ao mesmo tempo tão subtil, este livro é uma obra única.»
Booklist

«Um livro de um encanto avassalador e intemporal.»
Publishers Weekly

«Shaun Tan escreve e ilustra com uma fantasia comovente e encantadora – um jogo cheio de melancolia e poesia.»
Die Zeit


Em Portugal foi publicado pela Contraponto, em Abril de 2011.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Eu estou na feira!

'É já na próxima 5ª Feira que arranca a 81ª Feira do Livro do Porto. Ao longo de 18 dias, a Avenida dos Aliados será palco de conversas com autores, apresentações, lançamentos e sessões de autógrafos, mas também de concertos e sessões de cinema ao ar livre.', informa o site. »» ver aqui.


Este ano vai ter dois participantes activos aqui do blogue: eu no Grupo Almedina e o Pedro Ferreira na barraca da Companhia das Artes.

Visita impõe-se!

A Força da Vontade


'Tudo vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para cumprir a missão que a si próprio se impôs. Atento ao mundo exterior, para que não falte nenhuma oportunidade de pôr em prática o pensamento que o anima, não deixa que ele o distraia da tensão interna que lhe há-de dar a vitória; tem os dotes do político e os dotes do artista, quer modelar o mundo segundo o esquema que ideou. Não se trata, claro, de um triunfo pessoal; em história da cultura não há triunfos pessoais; ou a vontade é pura e generosa, nitidamente orientada ao bem geral, ou mais cedo, mais tarde, se há-de quebrar contra vontades de progresso mais fortes que ela. Que o querer tenha sua origem e seu apoio em coração aberto à nobreza, à beleza e à justiça; de outro modo é apenas gume fino e duro de faca; por isso mesmo frágil, na sua aparente penetração e resistência. Vontade inteligente, e não manhosa, altruísta, e não virada ao sujeito, pedagógica, e não sedenta de domínio; a esta pertencem os séculos por vir: é a voz a que surgem; a outra estabelece os muros que ainda tentam defender o passado.'

CLUBE DE LEITORES TRANSFORMADOS EM ESCRITORES

As palavras da Elsa (EME) traziam pimenta na língua:

'Por circunstâncias do acaso, ou talvez não, vieste ao meu encontro, tu que és o mentor deste extraordinário espaço, convidando-me a fazer parte deste grupo, possibilitando a partilha dos meus gostos de leitura.
A par da Leitura, a Escrita é para mim, um acto tão natural como o respirar.'

Fui puxando o cursor para baixo e acompanhando o que dizia...

(...) 'lembrei-me lançar um desafio, a meu ver, muito interessante aos membros deste Clube.
Escrevermos nós um livro para o Clube de Leitores.'


Algumas reacções:

Constança Barras Romana: Confirmadíssima!! :)
Raquel Serejo Martins: ok, alinho...

E assim nasce mais um projecto deste grupo - escrever um livro! Um desafio muito interessante e que vai testar a capacidade criativa de todos nós...

Não percam! Mãos à obra!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Citando... o livro do mês

Não sei se convenci alguém a ler o livro deste mês. Mas estou mais que contente por o estar a ler.


'(Depois de alguns mescais.) Desde o mês de Dezembro de 1937 e desde que te foste e me dizem que estamos na Primavera de 1938, tenho andado a lutar deliberadamente contra o meu amor por ti. Não me atrevo a render-me a ele. Tenho-me agarrado a todas as raízes ou ramos que me possam sustentar sozinho sobre este abismo da minha vida, mas já não consigo enganar-me a mim próprio. Se tiver de sobreviver, será só com o teu auxílio. De outra maneira, mais tarde ou mais cedo, acabarei por cair.' (...)

Súplica, Miguel Torga

'Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.'


(dito por Guilherme Gomes)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Revista Ler n.º 102

Há um aspecto que pode ser mal interpretado em Lídia Jorge: faz capa na revista ler de Maio dizendo que vende 'a Alma por um livro' e, em entrevista dada ao público no dia 21 já 'venderia a alma por uma página.'

A escritora explica e desfaz a dúvida: “Fiquei muito surpreendida quando vi este título, foi como se fosse uma espécie de choque, porque eu não tinha ideia de a ter dito, mas na verdade, disse-a. Disse-a e ela resume a minha vida. Possivelmente, resumirá a vida de todos os escritores que fazem da escrita o seu meio de viver existencial, não falo do viver material, falo do viver anímico, interno, pessoal” - a propósito da frase 'Vendo a Alma por um Livro'. (in Público - 21.05)

Neste mês, uma pequena entrevista a J. Rentes de Carvalho. Nela é possível perceber a razão porque o escritor divide a sua vida entre Amesterdão e um pequeno refúgio em Portugal - Estevais de Mogadouro.

José Mário Silva fala da sua participação no primeiro encontro do Festival Literário da Madeira onde deixa um cheirinho ao resumo que faz mais à frente do livro 'sensação' no mundo literário - 'Contos Carnívoros' de Bernard Quiriny.

Rogério Casanova faz um trabalho interessante ao imaginar personagens famosas dos livros como potenciais ministros de um próximo governo: Capitão Ahab como Primeiro-Ministro, Dr. Victor Frankenstein como Ministro da Ciência e da Tecnologia ou Josef K. (O processo, Kafka) como Ministro da Justiça.

Casanova faz boa publicidade ao livro recentemente editado pela Dom Quixote - Os Budden Brook de Thomas Mann. Acho que fiquei convencido e vou comprar este romance de 'quatro gerações de uma decadente família burguesa de Lübeck', 700 páginas.


Francisco Belard intitula a sua crónica com 'Porquê escrever?'. Pergunta que merece várias respostas, das mais práticas - 'Porque gosto', Umberto Eco - às que expressam prazeres - 'perversa fruição das palavras', Barthes.

A não perder a entrevista a Howard Jacobson, novo Man Booker Prize 2010, que afirma: 'Peço desculpa, mas estou a gostar de ser uma estrela'. Acrescenta: 'Pensei que ia dar-me os parabéns pelo prémio. Ainda bem que é pelo livro.'

Nas últimas páginas, o destaque vai para mais um herói dos «livros ilustrados para adultos», Shaun Tan - o australiano filho de pai chinês.

Por fim, a animada crónica de Onésimo Teotónio Almeida - 'luso-brasilês'. Nela conta algumas histórias das nossas incompreensões entre irmãos: 'Ah! Onésimo você fala como Eça de Queirós!'. Ou esta, mesmo a terminar: 'No meu grego elementar, pedi, paguei e entreguei ao brasileirito que, de cara espantada e gelado na mão, se virou para mim e no tom mais nonchalant perguntou: «Como é que'cê falou p'ra ele aquela bobagem e ele entendeu sorvete?»'

A Leitura é a Maior das Amizades

No livro 'O Prazer da Leitura' encontramos este trecho:

'A amizade, a amizade que diz respeito aos indivíduos, é sem dúvida uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe algo de desinteressado, de quase tocante. E além disso uma amizade liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como não passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em funções, todas essas delicadezas, todos esses cumprimentos no vestíbulo a que chamamos deferência, gratidão, dedicação e a que misturamos tantas mentiras, são estéreis e cansativas. Além disso, — desde as primeiras relações de simpatia, de admiração, de reconhecimento, as primeiras palavras que escrevemos, tecem à nossa volta os primeiros fios de uma teia de hábitos, de uma verdadeira maneira de ser, da qual já não conseguimos desembaraçar-nos nas amizades seguintes; sem contar que durante esse tempo as palavras excessivas que pronunciámos ficam como letras de câmbio que temos que pagar, ou que pagaremos mais caro ainda toda a nossa vida com os remorsos de as termos deixado protestar. Na leitura, a amizade é subitamente reduzida à sua primeira pureza.


Com os livros, não há amabilidade. Estes amigos, se passarmos o serão com eles, é porque realmente temos vontade disso. A eles, pelo menos, muitas vezes só os deixamos a contragosto. E quando os deixamos, não temos nenhum desse pensamentos que estragam a amizade: — Que terão eles pensado de nós? — Não tivemos falta de tacto? — Teremos agradado? — nem o medo de sermos esquecidos por um deles. Todas estas agitações da amizade expiram no limiar dessa amizade pura e calma que é a leitura. Também não há deferência; só rimos com o que diz Molière na exacta medida em que lhe achamos graça; quando ele nos aborrece, não temos medo de mostrar um ar aborrecido, e quando estamos decididamente fartos de estar com ele, pômo-lo no seu lugar tão bruscamente como se ele não tivesse nem génio nem celebridade. A atmosfera desta pura amizade é o silêncio, mais do que a palavra. Porque nós falamos para os outros, mas calamo-nos para connosco mesmos. É por isso que o silêncio não traz consigo, como a palavra, a marca dos nossos defeitos, das nossas caretas. Ele é puro, é verdadeiramente uma atmosfera. Entre o pensamento do autor e o nosso não interpõe elementos irredutíveis refractários ao pensamento, os nossos egoísmos diferentes. A própria linguagem do livro é pura (se o livro for digno desta palavra), tornada transparente pelo pensamento do autor que dele retirou tudo quanto não fosse ele próprio até o transformar na sua imagem fiel; cada uma das frases, no fundo, semelhante às outras, dado que todas são ditas através da inflexão única de uma personalidade; daí uma espécie de continuidade, que as relações da vida e o que estas associam ao pensamento como elementos que lhe são estranhos excluem e que permite muito rapidamente seguir o próprio fio do pensamento do autor, os traços da sua fisionomia que se reflectem neste espelho tranquilo. Sabemos apreciar os traços de cada um deles sem termos necessidade de que sejam admiráveis, pois é um grande prazer para o espírito distinguir essas pinturas profundas e amar com uma amizade sem egoísmo, sem frases, como dentro de nós mesmos.'

domingo, 22 de maio de 2011

Manias de leitor...

Quais são as vossas manias?

Tenho algumas. Não muito esquisitas, espero.

Por princípio compro livros em promoção. Por isso, as feiras são muito perigosas! Evito cair na asneira de comprar à tonelada, porque já trouxe alguns livros que já tinha. Isso só prova uma coisa: não tenho a biblioteca arrumada! Já aconteceu comprar o mesmo livro, mas em publicações diferentes. Ou mesmo o mesmo livro em inglês e em português.

Outro problema é fazer colecções de livros de bolso. Bons livros, na maioria dos casos. Mas, por vezes, acabo por trazer títulos que me desiludem. Ou, numa outra óptica, começo uma colecção antiga e depois falta um dos números. Grande sofrimento!

Livros assinados pelo autor! Quando vou a apresentações ou grandes encontros de Literatura, acabo por trazer mais do que esperava. Ter um exemplar assinado é um tesouro. Se for a 1.ª edição, ainda melhor!

Os meus livros têm uma marca pessoal - assino e ponho o ano em que os adquiri. Não penso na óptica de um dia os vender. Eles são um investimento emocional. E estão prontos a ser riscados, páginas dobradas... à disposição de fazer o que bem me apetecer com eles!

Marcadores de livros. Não colecciono. Mas tenho uns 15 para o que der e vier. Há quem faça colecção, existem mesmo alguns fanáticos! Admito que deve ser um bom passatempo...

Dobro as páginas que têm frases que interessam. Nunca se sabe se vale a pena partilhá-las. E servir de base aos textos que aqui escrevo...

Obrigatório e sempre à mão é um caderno pequeno de páginas em branco. Escrever é uma extensão normal de um bom amante de livros...


Estas são as minhas manias de leitor. Estou curioso por saber mais algumas!

(chuto a bola para esse lado)