sábado, 16 de novembro de 2013

Poema à noitinha... Mário de Sá Carneiro

Como Eu não Possuo

Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da côr que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lôdo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

* * * * *

Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emmaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d'harmonia e côr!...

Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases dourados,
Se fôsse aquêles seios transtornados,
Se fôsse aquêle sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destrôço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.

*Mário de Sá-Carneiro, in Dispersão
*Almada Negreiros retrata o poeta.

Joaquim Fernandes e «O livro do Universo - a revelação do Cosmos e a procura do Outro»


O problema essencial nas várias leituras e imagens desse “livro” das origens, no fundo, deste “Livro do Universo” tem a ver com o lugar da Humanidade, da sua razão de existir, do seu destino e finalidade na vastidão do Cosmos. Desde cedo esta interrogação emergiu no seio do pensamento filosófico universal antes de se transformar em tópico de investigação científica: a da identidade da espécie humana perante outras possibilidades e modalidades biológicas possíveis no universo. Primeiro, foram as elucubrações da Teologia, da Filosofia e da Literatura, que visaram responder ao desafio colocado pela consciência coperniciana; depois, à medida da consolidação do território da Ciência, autónomo da Filosofia, a busca do “Outro” adquiriu instrumentos cada vez mais sofisticados... e fascinantes.


O alvo deste livro é naturalmente bem mais modesto do que o inventário exaustivo dessa pergunta e propostas de resposta, residente no inconsciente humano desde que a razão habitou entre nós e se escreve a História. O trajeto que propomos nesta obra inicia-se na longínqua Grécia pré-socrática e desemboca nos contributos cosmopolitas que apostam na matematização do espaço e do tempo, antecedendo a construção do edifício mental racionalista das “Luzes”. De permeio, resta a longa travessia do tempo, imóvel e fechado, do medievo, até aos sobressaltos de uma Renascença que redescobre a excelência do Homem e o (re)liga ao todo cósmico.

Uma vez, num futuro indeterminado, mas certo, a natureza humana (ou as suas sucedâneas, seja que forma, estrutura e essência possam assumir...) virá a ser confrontada, pela primeira vez na sua história, com outras existências, realidades e dimensões exógenas, não-humanas, que muito provavelmente tornam anacrónico qualquer tipo de prognóstico ou antecipação das suas características. Poderemos dizer que assim deverá ser, não se sabendo quando.

Somos uma espécie de náufragos a bordo de uma jangada, mais ou menos esférica, que roda em torno da nossa estrela, mãe que nos alimenta. Até um dia…O estabelecimento de um “contacto”, por qualquer forma, por ora inimaginável, com o Outro, algures no cosmos sem limites, constituirá um momento único no processo civilizacional desta Humanidade e do seu processo de evolução. Talvez esse singular e extraordinário enlace venha a ser concretizado fora do nosso mundo, possa ser ele preservado ou não de alguma catástrofe natural ou outra, ou se e quando a cultura planetária se haja implantado, mais além das suas fronteiras originais, do seu berço, agora em oceanos outros, por outros Adamastores atormentados. Como qualquer criança, é legítimo pensar que um dia, a humana espécie acabe por abandonar o berço...

*o autor Joaquim Fernandes, acerca do seu trabalho - O livro do Universo, a revelação do Cosmos e a procura do Outro - edição QuidNovi.

Continuamos a descobrir Malala

Malala Yousafzai nasceu em Mingora, Paquistão, em 1997. No início de 2009 aceitou escrever um blogue para a BBC Urdu documentando a vida sob o regime talibã e a partir daí nunca mais deixou de se fazer ouvir em público em prol do direito à educação. Em 2011 recebeu o Prémio Nacional da Paz, no Paquistão. Pouco depois, tanto Malala como o seu pai, Ziauddin, ele próprio proprietário de uma escola e ativista social, começaram a receber ameaças de morte, que culminaram no atentado contra a jovem em outubro de 2012. Desde a sua recuperação, Malala tornou-se um símbolo da luta pelos direitos das crianças e das mulheres. Em 2013 foi considerada pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Em julho do mesmo ano, discursou perante as Nações Unidas, uma honra habitualmente destinada a altas figuras de Estado.

Entre os diversos prémios com que até agora foi distinguida, destacam-se o International Children's Peace Prize, o Clinton Global Citizen Award e o Prémio Sakharov para a liberdade de pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu, em 2013. Malala tornou-se também a pessoa mais jovem de sempre a ser nomeada para o Prémio Nobel da Paz.

*in Eu, Malala - a minha luta pela liberdade e pelo direito à educação. 
Malala Yousafzai com Christina Lamb, Editorial Presença.

Porque não compra o livro já no site da editora? http://www.presenca.pt/livro/nao-ficcao-e-ensaio/politica/eu-malala/

Snobidando: Zbigniew Herbert

SOBRE TRADUÇÃO DE POESIA

Zumbindo um besouro pousa
numa flor e encurva
o caule delgado

e anda por entre filas de pétalas folhas
de dicionários
e vai direito ao centro
do aroma e da doçura
e embora transtornado perca
o sentido do gosto
continua
até bater com a cabeça
no pistilo amarelo

e agora o difícil o mais extremo
penetrar floralmente através
dos cálices até
à raiz e depois bêbado e glorioso
zumbir forte:
penetrei dentro dentro dentro
e mostrar aos cépticos a cabeça
coberta de ouro
de pólen


*Zbigniew Herbert - Mudado para português por outro grande Herberto (Hélder).




Acompanhe a página da Livraria Snob no Facebook. Abre brevemente, em Guimarães. Pode lá encontrar este e muitos outros textos. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Poema à noitinha: Hatherly 5

Poesia concreta.
Ana Hatherly - ensaísta, ficcionista, poetisa, artista plástica e professora universitária portuguesa, nascida em 1929, no Porto. Poesia que se vê. Acompanhou-nos ao serão durante esta semana vindo directamente do livro "Um Calculador de Improbabilidades", Quimera 2001.

Este último poema foi, na verdade, o primeiro poema concreto a ser publicado em Portugal, corria 1959 - de acordo com nota incluída no livro.
Espero que tenha sido uma viagem interessante.






Recordar Pina no Sabugal

Manuel António Pina, que faria 70 anos na segunda-feira, 18 de Novembro, é recordado e homenageado esta semana no Sabugal que o viu nascer, no distrito da Guarda.

"O escritor, poeta e jornalista Manuel António Pina nasceu no Sabugal, distrito da Guarda, a 18 de novembro de 1943, e morreu no dia 19 de outubro de 2012, no Porto.
Em comunicado, a autarquia do Sabugal informa que na tarde de domingo serão realizadas iniciativas que "pretendem tornar público o reconhecimento" que "é devido" ao escritor distinguido com o Prémio Camões 2011.

Assim, às 16 horas será descerrada uma placa evocativa, na Praça da República, que foi "recentemente requalificada e intervencionada", com a colocação de "um conjunto de esculturas alusivas a Manuel António Pina e que incluem o poema 'Os Gatos'", segundo a autarquia presidida por António Robalo.
Segue-se a inauguração da exposição "Lugares - Homenagem a Manuel António Pina", no Museu Municipal do Sabugal, que ficará patente ao público até 31 de janeiro de 2014.

Para a sessão de abertura da exposição estão previstas intervenções de António Robalo, presidente da Câmara Municipal do Sabugal, Luís Humberto Marques, diretor do Museu Nacional da Imprensa, Manuel Tavares, diretor do Jornal de Notícias, e Sara Pina, filha de Manuel António Pina.

Na ocasião, alunos do Agrupamento de Escolas do Sabugal farão a leitura de alguns poemas da autoria de Manuel António Pina, intercalados por momentos musicais pela Academia de Música local.

"A homenagem e a evocação do septuagésimo aniversário do nascimento de Manuel António Pina, que a Câmara Municipal do Sabugal e o Museu da Imprensa levam a cabo no dia 17, é o reconhecimento devido ao grande poeta, escritor e jornalista, que o Sabugal lhe presta", sustentam as entidades promotoras.

Em 10 de novembro de 2011 a Câmara Municipal do Sabugal também homenageou Manuel António Pina com a entrega da medalha de mérito cultural do município, na sessão comemorativa do Dia do Município, que assinalou os 715 anos da atribuição do foral pelo rei Dom Dinis.
Com a atribuição da medalha de mérito cultural a autarquia pretendeu reconhecer, em vida, a importância da figura e da obra do escritor.
Manuel António Pina foi autor de poesia, ficção, crónica, literatura infantil e de duas dezenas de peças de teatro. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi jornalista do Jornal de Notícias entre 1971 e 2001."

*in Jornal de Notícias.

a-ver-livros: sala secreta e Kathleen Lolley

No coração vazio
uma sala secreta
onde podes ir roubar
poemas escritos 
a mil mãos
quando sobra tempo
de regar espinhos

* para saber mais sobre a ilustradora norte-americana Kathleen Lolley
siga o link www.lolleyland.com

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Tiago na toca e os Poetas: Fernando Pessoa, Tiago Bettencourt, Camané e Pedro Castro

A morte é a curva da estrada

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto. 
Se escuto, eu te oiço a passada 
existir como eu existo. 

A terra é feita de céu. 
A mentira não tem ninho. 
Nunca ninguém se perdeu. 
Tudo é verdade e caminho. 

*Fernando Pessoa, Cancioneiro


MANIFESTO:

[...são os poetas que me fizeram começar a escrever. Eram no fundo os livros que tinha lá em casa e versões de fados que oiço desde que comecei a ouvir fado.Fui lendo o que tinha lá por casa. Fui roubar uns livros à biblioteca do meu pai. E depois fui marcando nos livros os vários poemas que gostava até ficarem dez. Depois mais duas ou três versões...] (Tiago Bettencourt).

NOTA: As receitas da venda do disco revertem para a associação solidária "Ajuda-me a Ajudar", por tal,se gostam,comprem o disco...

(publico o disco/livro na integra,com foto do poeta Fernando Pessoa)

Poema à noitinha: Hatherly 4

Poesia concreta.
Ana Hatherly - ensaísta, ficcionista, poetisa, artista plástica e professora universitária portuguesa, nascida em 1929, no Porto. Poesia que se vê. Para nos acompanhar ao serão durante esta semana vindo directamente do livro "Um Calculador de Improbabilidades", Quimera 2001.



É do borogodó: contar histórias

“A palavra escrita ensinou-me a apreciar a voz humana, tanto quanto a grande imobilidade das estátuas levou-me a valorizar os gestos. Em compensação, e no decorrer dos tempos, a vida me fez compreender os livros.”

Marguerite Yourcenar
in "Memórias de Adriano"


 (French cute kid tells a story - Winnie the pooh)

a-ver-livros: instante e François Fressinier

Esquece a hera
que desce a parede 
e rasga a caliça
vem tu entranhar raízes
no meu peito
de ardósia
escrever poemas
com a ponta dos dedos
sujos de beijos
roubados no pestanejar
do pardal
e senta-te depois
aqui, sem pressa
a esperar que o sol
tenha sono

* para saber mais sobre o pintor francês François Fressinier
siga o link www.francoisfressinier.com

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Poema à noitinha: Hatherly 3

Poesia concreta.
Ana Hatherly - ensaísta, ficcionista, poetisa, artista plástica e professora universitária portuguesa, nascida em 1929, no Porto. Poesia que se vê. Para nos acompanhar ao serão durante esta semana vindo directamente do livro "Um Calculador de Improbabilidades", Quimera 2001.


Carla Sá comenta um livro de Álvaro Magalhães

“O rapaz dos sapatos prateados” é uma novela narrada por um rapaz de 9 anos que apenas encontra consolo e redenção na fantasia, o seu instrumentos de navegação e de sobrevivência. Ele conta os episódios turbulentos de um período da sua vida, em que vive um enamoramento e se vê arrastado para o centro de uma investigação criminal; mas não se limita a narrar o que lhe acontece, e lança um olhar crítico e contundente ao que o rodeia e a cada um dos melhores mistérios da existência: o amor, a morte, a poesia, a existência de Deus. No final, ele consegue, enfim, libertar-se da lei da gravidade, seu grande anseio, e voa como o Rapaz dos Sapatos Prateados, o duplo que ele criara como personagem de ficção, no seu jogo de superação da realidade através do imaginário. Embora não se saiba, todos os rapazes têm à sua espera, em qualquer lado, um par de sapatos prateados que, uma vez calçados, os transformam em quem eles realmente são. E nós também, não? Em qualquer lado, deve haver uma asa qualquer com que possamos voar.


*Texto e opinião de Carla Sá

a-ver-livros: exigências e Henry McGrane

Na exigência da felicidade
a ausência de liberdade
para saborear dias 
azuis e cinza

No quesito do êxito
o sumiço do que nos faz
feliz

* para saber mais sobre o pintor irlandês Henry McGrane
siga o link www.henrymcgrane.ie

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Poema à noitinha: Hatherly 2

Poesia concreta.
Ana Hatherly - ensaísta, ficcionista, poetisa, artista plástica e professora universitária portuguesa, nascida em 1929, no Porto. Poesia que se vê. Para nos acompanhar ao serão durante esta semana vindo directamente do livro "Um Calculador de Improbabilidades", Quimera 2001.

é do borogodó: espantos de Agosto, Garcia Marquez


http://www.youtube.com/watch?v=6VQYPcBSwQ8#t=131

* Gabriel García Márquez nasceu na Cidade de Aracataca, na Colômbia, em 1927. Gabo recebeu Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, pelo conjunto de sua obra, com o aclamado livro “Cem Anos de Solidão”.  Gabriel confessou seu encanto de leitor pelas “Mil e Uma Noites” e disse que imaginou personagens quando leu “A Metamorfose” de Kafka. Ele estudou Direito e Ciências Políticas mas não se graduou, mudou de ares e foi para o jornalismo. Como escritor publicou romances, contos e crônicas, sem nunca perder a profundidade para as questões que tumultuam e apaziguam a alma humana.

** Adaptación del cuento "Espantos de Agosto" para el curso Gabriel García Márquez. Semestre 2012-2, Universidad de los Andes Colombia (para ver o vídeo siga o link na legenda da foto)

a-ver-livros: circo e Maria Cuevas

Amo-te no desequilíbrio
aéreo do corvo
na figueira
e no malabarismo térreo
do lagarto que se esgueira
por entre as rimas
relvadas sob o sol

Amo-te balançando
entre as nossas janelas
o coração que é
trapézio dos dois

Amo-te na queda
desamparada
sem rede

* para saber mais sobre a pintora argentina Maria Cuevas
siga o link www.mariacuevas.net

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Poema à noitinha: Hatherly 1

O que é a chamada poesia concreta - ou visual?
Atiro-vos carinhosamente com esta definição, que me parece bastante clara:

"Poesia concreta é um tipo de poesia vanguardista, de caráter experimental, basicamente visual, que procura estruturar o texto poético escrito a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, buscando a superação do verso como unidade rítmico-formal. Surgiu na década de 1950 no Brasil e na Suíça, tendo sido primeiramente nomeada, tal qual a conhecemos, por Augusto de Campos na revista Noigandres de número 2, de 1955."

Em Portugal, ícone deste género é Ana Hatherly - ensaísta, ficcionista, poetisa, artista plástica e professora universitária portuguesa, nascida em 1929, no Porto.
Uma poesia que se vê. Para nos acompanhar ao serão durante esta semana vindo directamente do livro "Um Calculador de Improbabilidades", Quimera 2001.

Carla Sá sobre os seus Detetives Psíquicos


Em “Detetive Psíquico”, que é uma série juvenil, procurei um ponto de vista diferente e arrisquei o paranormal, centrando-a numa personagem com capacidades psíquicas. O Gustavo é um rapaz como outro qualquer (escola, amigos, desporto, paixões...), mas que, depois de um acidente de viação que o deixa em coma, descobre que já não é o mesmo. Ao seu lado, no quarto do hospital, está um homem que lhe pede um favor. Quando mais tarde, ele o vai fazer, descobre que, afinal, tinha falado com um morto... E daí até se envolver num complicado caso internacional, vai apenas um pequeno passo. E então, uma aventura começa...

a-ver-livros: apertadinho e Svetlana Rumak

Cinjo-te nos braços
que estavam vazios
aperto-te bem
não vás fugir com as nuvens
e a brisa gélida 
das horas
silenciosas
Cerco-te com o amor
que sobrou do verão
e recito o coração
em rondó num rendilhado
de letras que os pássaros
não levaram

* para saber mais sobre a pintora ucraniana Svetlana Rumak
siga o link http://rumak.net/

domingo, 10 de novembro de 2013

Poema à noitinha... E. E. Cummings

O Primeiro de Todos os Meus Sonhos

o primeiro de todos os meus sonhos era sobre
um amante e o seu único amor,
caminhando devagar(pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra

até o meu segundo sonho começar—
o céu é agreste de folhas;que dançam
e dançando arrebatam(e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)

mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio:em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem (bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica

para sempre caindo neve.
E então este sonhador chorou: e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
—onde tu e eu estamos a florescer


*E. E. Cummings, in "livrodepoemas"
Tradução de Cecília Rego Pinheiro

«Eu, Malala» em destaque no Clube de Leitores


Malala Yousafzai é, contra sua vontade, filha do regime talibã paquistanês. Nascida a 1997, aceitou em 2009 começar a escrever um blogue para a BBC Urdu sobre o estilo de vida que estes terroristas impõem neste país. A partir daí, tanto ela como o seu pai, Ziauddin, tornaram-se alvos de inúmeras ameaças de morte, às quais foram fugindo como podiam.

A 9 de Outubro de 2012, Malala voltava da escola até que a carrinha onde viajava foi parada e sobre a jovem foram disparados três tiros. Mas Malala sobreviveu e continua a ser um alvo para os talibãs. Este é o livro sobre uma das heroínas dos tempos modernos – em 2013 foi considerada pela Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e discursou perante as Nações Unidas – e ainda do seu pai que sempre insistiu para que não deixasse de dizer aquilo que queria, para que não baixasse os braços na luta pela liberdade de uma sociedade que renega as mulheres e que continua a cometer actos de terrorismo.

“Eu, Malala – A minha luta pela liberdade e pelo direito à educação”, da editorial Presença, é uma obra escrita pela própria e contou com a participação de Christina Lamb, uma famosa correspondente de guerra que trabalha para o Sunday Times. Por último, de destacar ainda que Malala foi a pessoa mais jovem de sempre – 16 anos – a ser nomeada para o Prémio Nobel da Paz.


Porque não compra o livro já no site da editora? http://www.presenca.pt/livro/nao-ficcao-e-ensaio/politica/eu-malala/

Penélope Martins convida os amigos para cantar


Canção de ninar mamãe e papai

Ai, ai, mamã
Há um monstro aqui peludo, gordo e bobo
Ele ronca, ronca feito um porco
Desse jeito não posso dormir

Ajeite o cobertor
Desligue seu motor
Já fechei janela
O armário tem tramela
Controle sua risada
Já é de madrugada
O monstro já não está
Amanhã vou trabalhar...

Ai, ai papá,
Há um vampiro aqui dentuço, que me assusta
Ele suga, suga, suga e soluça
Desse jeito não posso dormir

Vire o travesseiro
Espante o seu medo
Ajeite o cobertor
Desligue seu motor
Já fechei janela
O armário tem tramela
Controle sua risada
Já é de madrugada
O vampiro já não está
Amanhã vou trabalhar...

Ai minha mãe, também meu pai,
Há uma bruxa verruguenta e voz de gralha
Ela se agita e solta gargalhadas
Desse jeito não posso dormir

Conte carneirinhos
Calmo e de mansinho,
Vire o travesseiro
Espante o seu medo
Ajeite o cobertor
Desligue seu motor
Já fechei janela
O armário tem tramela
Controle sua risada
Já é de madrugada
A bruxa já não está
Amanhã vou trabalhar...

Ai, ai alguém me acuda aqui
Há um fantasma com cara de doente
Ele chora, chora e range os dentes
Desse jeito não posso dormir

Pisque sete vezes,
Cheire o sabonete,
Conte carneirinhos
Calmo e de mansinho,
Vire o travesseiro
Espante o seu medo
Ajeite o cobertor
Desligue seu motor
Já fechei janela
O armário tem tramela
Controle sua risada
Já é de madrugada
O fantasma já não está, a bruxa já saiu,
Vampiro se mudou e o monstro
Dormiu...
Amanhã vou trabalhar...



letra de Penélope Martins
música de Joel Costa Mar 
no vídeo, Cláudia Lima Petini participa no backing vocal

** o registo áudio-visual é de Monika Tognollo


Apoie o projecto Mar de Palavras: 

www.projetomardepalavras.wordpress.com

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